sexta-feira, março 30, 2007

Leituras


- Eufemismos

- Lições do Concurso

- 50 anos de Europa: do Gana ao Zimbabwe

quinta-feira, março 29, 2007

A Problemática do Cartaz

















Não sei em que países um cartaz consegue consegue importância suficiente para receber uma censura do Parlamento. Não conheço os casos, mas parece-me que deve ser um sintoma de assembleias com pouco que fazer. A censura parlamentar e os argumentos utilizados por todos os partidos políticos devem, contudo, fazer-nos pensar um bocado no caminho que estamos a trilhar.
Dizer que se é contra a imigração não significa que se seja xenófobo. Ao contrário do que se quer fazer parecer há muitas situações económicas, políticas e sociais que não implicam xenofobia e que requerem que se fale em controlo da imigração. É o caso de Pat Buchanan e de Roger Scruton que defendem o mesmo que eu, nada mais que a política de imigração de um país seja uma defesa das expectativas das populações, dos valores de cada país, dos interesses da comunidade.
Sob o pretexto de combater o racismo e a xenofobia, o que os partidos no Parlamento português pretendem é criar um clima onde a dissenção sobre o assunto da imigração é impossível. O que mais evidencia essa ideia e essa estratégia é a forma como qualquer pessoa que se refira ao assunto e que denuncie esta tentativa de abafar os que mencionam o problema, acabará sempre por ser apontado como defensor do PNR, quando está apenas a dizer que os interesses de Portugal deveriam ser a suprema norma dos nossos governantes.
Como escreveu Scruton

"It is not “racist” to draw attention to this kind of fact. Nor is it racist to argue that indigenous people must take precedence over newcomers, who have to earn their right of residence and cannot be allowed to ap- propriate the savings of their hosts. But it is easier for me to write about these matters in an American intellectual journal than in an English newspaper, and if I tried to write about these things in a Belgian newspaper, I could be in serious trouble with the courts. The iron curtain of censorship that came down in the wake of Powell’s speech has not lifted everywhere; on the contrary, if the EU has its way, it will be enshrined in the criminal code, with “racism and xenophobia”—defined as vaguely as is required to silence unwanted opinion—made into an extraditable offense throughout the Union. "

"Cóltivado em Alto Grau"

















Ando com medo de escrever... Não são ameaças (quem é que manda o MCB ser fascista?) ou falta de tempo que o andam a causar. É sobretudo a minha falta de educação. Descobri nos últimos dias que fazer a apologia da obra de Salazar significa falta de instrução e grosseira incultura, segundo os editores e opinadores dos principais jornais do país. Perante os vultos da cultura que assim se pronunciaram que pode um rapaz fazer?

Resolvi assim “cóltivar-me”, abordando um texto de um verdadeiro “enteléctual”, daqueles que têm prémios e tudo... Filosofia da primeira água!
Alcei-me a ler algumas reflexões políticas do que é o primeiro homem-de-letras cá do bairro. Ora o sujeito, como todos já devem imaginar é o nosso Nobel (diz-se Nóbéle!!!), aquele senhor venerando que era torneiro mecânico não sei do quê (o seu galão proletário é inquestionável) e que os nossos novos educadores resolveram elevar ao estatuto de maior pensador português de todos os tempos.

O texto que analisei foi “Reinventar a Democracia”, que os mais atentos se recordarão, era o mesmíssimo título que Boaventura Sousa Santos nos quis impingir no texto sobre os oito mil quatrocentos e vinte seis tipos de “fascismo” que encontrou no mundo. A coisa promete desde logo...

Basta ler as primeiras páginas para entrarmos numa reflexão profunda sobre os clássicos. Na realidade alternativa em que Saramago vive a Democracia Ateniense era um modelo de participação cívica e democracia directa, onde as posições políticas electivas e sorteadas tinham enorme relevância para combater o predomínio económico de facção. É evidente que no mundo de Saramago nunca existiu Péricles, nem este foi alguma vez declarado “princeps”, nem o seu poder se alicerçava na casta comerciante que beneficiava do seu expansionismo a expensas de um exército popular. É evidente que aqueles trinta anos que perfazem a “Idade de Péricles” são uma mancha na História da Democracia Ateniense e são apenas uma excepção. Infelizmente M.I. Finley (insuspeito de ser “inimigo do povo” como este que vos escreve) descreve a forma como a proclamada Democracia Directa de Atenas era apenas um subterfúgio para a manutenção dos poderes das grandes famílias e como os “trabalhadores manuais” vendiam os seus votos e direitos governativos aos que possuíam ócio. Infelizmente o livro não chegou a Lanzarote...

Diz Saramago que a Democracia que chegou até nós foi de vertente romana, a temperada pelos grandes capitalistas e pelos poderes que estão. Eu que sou rapaz inculto julgava que a democracia era isso mesmo... É que já desde o diagnóstico aristotélico, aplicável também à Atenas em que vivia, se sabe, sem razão para dúvidas, que o poder nesse regime estava nos sofistas e que estes, por inerência do profissão e ideologia, se vendem ao mais alto licitante. Será que Saramgo não sabe isto? É claro que sabe, como calculo que saberá que Platão e Aristóteles eram os principais opositores do que ele qualifica como o Sonho Grego de um poder popular.
Passar uma mentira como verdade, sem a dizer, é uma arte que deixo à análise de gente mais preparada que eu. Talvez os editores dos nossos diários de referência nos queiram ajudar na exegese...

A importância deste texto é fundamental no conceito de Democracia dos sábios líderes da nossa intelectualidade. A Democracia é um conceito mutável, segundo nos ensina Saramago. E quando se fala na Democracia Económica não podemos deixar de pensar que tipo de estrutura é essa.
Duas coisas são perfeitamente evidentes. Funda-se numa sobreposição à ideia de democracia como sistema proveniente da vontade dos cidadãos. Ao recorrer ao conceito de “alienação” pela estrutura, sobrepõe-se uma vontade superior à vontade dos cidadãos. Por outro lado regressa-se à retórica do termo “democracia”, para reingressar no sentido que lhes deram as "democracias populares" do século XX, com as medidas terapêuticas que todos os “incultos” estão sempre a empolar. E eu a pensar que a RDA tinha sido isso mesmo...

Quando acabei de ler o texto deste meu novo mestre senti-me mais culto. Ganhei confiança em mim mesmo. Logo me abalancei à leitura de outros clássicos!
Por isso vos digo, citando Maiakovski, que “só aqui vim, porque achei que era tempo de vos falar de José Saramago”.

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quarta-feira, março 28, 2007

As Mulheres do Estado Novo

















Não é verdade que o Estado Novo tenha sido totalitário. Para isso teria de possuír uma pretensão de reinventar a Natureza Humana ou de a tornar perfeita, o que não era manifestamente o caso.
E no caso particular das mulheres essa atitude perante a sociedade é ainda mais evidente. O Estado Novo não inventa nenhuma posição para as mulheres portuguesas. Pelo contrário, funda-se apenas no que é a tradição de pensamento cristão, aplicada à realidade portuguesa. Não foi Salazar quem inventou a mulher como igual ao homem, mas com uma função social diferente. Eram uma realidade anterior ao Liberalismo e mantiveram-se nesse período, num Estado que só era confessional para manter o jugo no povo. Com o barulho republicano e as suas proclamações balofas veio o voto de Carolina Ângelo, que chegou ao voto por ser chefe de família e viúva. A seguir o Regime fez questão de especificar que só os chefes de família masculinos poderiam votar...
Tantas vezes se mostra a cinematografia do Estado Novo como exemplo do Portugal retrógrado e provinciano. Pena que não se mostre a forma como as heroínas, as mulheres desejáveis e desejadas, são sempre meninas bonitas e modernas, que trabalham fora de casa e ajudam a mãe nas tarefas domésticas. E o que dizer das mulheres que Salazar apreciava? Só alguém muito maldoso poderá dizer que correspondiam ao propalado lugar da mulher no Estado Novo...
Apesar disso continua-se por aí a dizer que o Estado Novo glorificava a mulher de avental. Os exemplos não servem para aprender, apenas para confirmar o que algumas pessoas querem dizer, segundo a ciência destes fazedores de história.
De relembrar que em 1931 o Estado Novo concedeu, pela primeira vez em Portugal, voto às mulheres e em 1935 foram eleitas as primeiras representantes do sexo feminino na Assembleia Nacional.
Que grandes fascistas...

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terça-feira, março 27, 2007

Novidades Blogosféricas

Depois do Euro-Ultramarino vem o Correctamente Político. Um excelente nome, para um blogue que se adivinha de sucesso.
E descobri este Afinidades Efectivas, que acredito será uma referência na blogosfera. Tem qualquer coisa de familiar...
E o Cruz y Fierro está como uma biblioteca impressionante...

Mais Inspirações

Um dos pioneiros leitores deste blogue e outra das principais inspirações deste blogue, fez o favor de me dedicar este trecho de F. Fortunato de São Boaventura. Tanto Frei Fortunato, como o grande pensador Boaventura, grande acusador dos joaquinitas (precursores dos erros modernos que hoje chamamos comunismo, fascismo e nazismo), são leituras que interessam a todos os que desejam transcender o seu tempo.
Um abraço amigo ao JSarto pelas lembranças!

segunda-feira, março 26, 2007

Autoridades















De ontem não me fica qualquer triunfalismo. Apenas muitos sorrisos...
Como me alertava um amigo, grande parte dos votos vêm do “salazarismo de taxista”, dos que acham que a autoridade é indisputável e que é preciso “um salazar” para restabelecer a segurança e o equilíbrio nas contas do Estado. Se é evidente que estes são elementos necessários a qualquer vida em sociedade, é também evidente que este é o tipo de pensamento que faz com que achem que Cavaco e Salazar são um mesmo fenómeno. E o deslumbramento com a Autoridade do Estado cria um deslumbramento para com o Estado que é apanágio do totalitarismo e não dos regimes saudáveis.
Aí reside um ponto importante nestas distinções. Muita gente fala do totalitarismo sem ter uma ideia do que é. O totalitarismo não é um gradiente de violência aplicada pelo Estado, mas uma concepção do Estado como ordenador, por vontade própria, de todas as realidades da vida humana. Não é um Estado que bate mais do que o Estado Autoritário! Até porque a Auctoritas é uma característica de todos os Estados Soberanos, que corresponde à atribuição de Legitimidade com a sua acção ordenadora. Tanto é assim que não existiu nenhum sistema político que dela tenha prescindido. Mesmo os Estados Liberais não podem prescindir da Autoridade. O que se diria de um Estado Liberal que achasse que um plebiscito possuisse a possibilidade de abolir a propriedade privada?
Salazar não vivia no tempo deste comunismo inofensivo e meramente sindical de redistribuição. Vivia num tempo em que a única alternativa política era a reformulação totalitária da sociedade, como bem atestam os últimos anos de Afonso Costa e o seu deslumbramento com o Socialismo...
Salazar não defendia neutralidades estatais, porque sabia perfeitamente que estas são a pior das mentiras. Sabia que um Estado sem valores não tem possibilidade de se defender, da mesma forma que o Estado/Regime que vivemos sabe que só pode viver se inculcar nas mentes a falsa tolerância, uma democracia que não conhece limites e o mito do antifascismo, como ontem à noite tivemos ocasião de ver nas proclamações de Elisa e nos planos de realização.
O Estado Novo era autoritário, porque defendia um conjunto de valores e os inculcava na sociedade, punindo os que agem para os subverter. Lamento desapontar os mais desatentos, mas na maior parte da Europa, ainda depois da II Guerra Mundial, se mantinham severas restrições penais a crimes de sedição...

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Restauração da Memória











Cria-se um programa que pretende ser “uma grande sondagem de opinião”, e “dar a palavra aos portugueses”. No fim do programa apresenta-se como um "mero passatempo", igual a todas aquelas xaropadas que dão à tarde no Canal 1. Há duas conclusões a retirar! Ou o programa foi um rotundo falhanço e ninguém nele participou (o que não é, manifestamente, o caso), ou alguém anda a diminuir o seu trabalho, com algum objectivo.

Se alguma coisa teve de bom este programa foi a possibilidade que nos deu de ver a forma como a nossa televisão faz política. A RTP não aprende... Depois de tantos anos como voz do regime, não conseguiu aprender a fazer outra televisão!
Apagou Salazar da História e depois não conseguiu que se falasse doutra coisa. Juntou gente para falar de grandes figuras da nossa história e só conseguiu que estes falassem das virtudes do actual regime. Colocou “pobres diabos” a falar de alguns dos nossos maiores heróis, como é o caso do pífio plumitivo Gonçalo Cadilhe que chamou ao “seu” Infante D. Henrique “Bin Laden” e fundamentalista. Chamou Ana Gomes, uma odiadora do legado ultramarino português, para fazer a defesa de Vasco da Gama... E o que dizer de Leonor Pinhão, que nem a história do seu “grande” sabia? Nenhum sabia do que estavam a falar. Nenhum acreditava de facto na heroicidade da sua “dama”.

No fim do programa recebemos uma grande lição de democracia!
A apresentadora substituiu a Nação e a Independência, que foram apanágio da RTP durante o Estado Novo, pela orientação ideológica da Liberdade e Democracia. É bonito!
Entre o esbracejar de Odete Santos (um rebuçado para quem souber que tipo de dejecto lhe saiu da boca enquanto falava) que clamava a ilegalidade dos resultados e a consternação geral dos circunstantes, houve apenas falta de vergonha. Foram tantas horas a lutar contra o “fascismo”...

O plano final de uma imagem de Zeca Afonso veio em tom de aviso...

- O Impronunciável Ganhou

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domingo, março 25, 2007

Moço de Frete

Fernando Madaíl é uma grande referência do jornalismo português, porque a coisa é hoje medida em favores ao sistema político. Depois do assomo de civismo em que denunciou as perigosas ligações da campanha pró-vida à extrema direita, vem agora minimizar os votos em Salazar, dizendo que afinal não há perigo, que a votação não tem nenhum critério selectivo.
Não sei se o dito senhor será daqueles que imaginam os “fascistas” a marchar sobre Lisboa, mas achar que uma votação não é importante porque não enche o Estádio da Luz é, para dizer o mínimo, ridículo.
O melhor de tudo é, porém, o argumento de invalidação dos resultados. Diz o sujeito que no Dança Comigo foram recebidos em 20 minutos 60 mil votos. O que o Nando não se lembra é que, para evitar votações repetidas, como as registadas no programa Big Brother, se limitou a um voto o número de telefone.
Já sabíamos que era culto, que não sabia da existência de dois Primos de Rivera importantes na história de Espanha, mas agora ficámos a saber que é inteligente.
E se quiserem ler um livro de enorme isenção, como tudo o que o Nando escreve, podem espreitar aqui. Não se pode dizer que aquele sorrisinho não é de inteligente...

Patrícia Lança

"Desmistificar a Longa Noite" I e II.

Recursos

Já referi aqui muitas vezes o ISI e a quantidade de recursos que este coloca ao dispor do leitor.
Para mais fácil leitura recomenda-se este índice de autores que inclui os textos da Modern Age, da Intercollegiate Review e as palestras conservadoras (convém fazerem o download do Real Player para as poderem ver) que o Institute promove.
Era o que precisavamos, António.

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A Vossa Ajuda, Mais Uma Vez...

Não tenho forma de agradecer a gentileza e amizade com que me brindaram pelo aniversário desta casa. Para além da caixa de comentários anterior ainda recebi a honra de ser destacado pelo Pedro, pela Gazeta, pelo Restaurador, pelo Miguel e pelo AAA n'O Insurgente, pelo Jorge Ferreira, pelo Vitório, pelo Francisco, pelo Miguel Castelo Branco, pelo FSantos.
Só me resta continuar e tentar sempre fazer melhor. Por isso vos pedia o favor de me ajudarem, e darem o vosso "bitaite". Acham que devo mudar o template aqui do Pasquim?
Agradeço o vosso conselho e desde já vos agradeço a disponibilidade mental.

sexta-feira, março 23, 2007

Mais Um























Quando comecei este espaço tinha apenas o objectivo de escrever algumas coisas que fui aprendendo ao longo dos meus estudos. Não tinha leitores para além de alguns amigos, sempre dispostos a contradizer ou apoiar as minhas bizarrias e devaneios, nem esperava sequer vir a fazer leitores, comentadores e amigos por entre gente que não conhecia. Foi estranho quando o Nélson começou a deixar aqui as suas exclamações quanto às minhas ideias “passadistas” e a trazer, com as polémicas, mais assuntos para debater. Com tempo e com o auxílio de amigos como o Rafael e o FSantos (na altura com G), com o exemplo do Manuel e do PG e de muitos outros, fui encontrando a minha própria narrativa e o meu próprio caminho.
Parte importante desse caminho tem sido, nos últimos tempos, a conquista de leitores e comentadores notáveis pelo espírito aberto. Se me permitirem o straussianismo, creio que a maior parte dos leitores não vêm a este espaço apenas para confirmar as suas ideias e sancionar os seus desejos. Isso é muito mais do que alguma vez esperei e conta mais que as não-sei-quantas mil visitas que não conseguia imaginar serem possíveis.
Houve momentos maus, grandes chatices e discussões que não deveriam ter sido travadas, nestes últimos três anos. Posso dizer-vos que quase todos os dias esmoreci, por achar que não estava a conseguir dizer o que queria e que me parecia ser necessário.
E se me propus a acabar com o blogue quando não tivesse mais nada para dizer, parece que neste país não há forma de encontrar repouso.
Este página tem um presente, porque tem leitores e é por isso que vos agradeço por este terceiro aniversário.

quinta-feira, março 22, 2007

Os Limites Orgânicos da Aceitabilidade Democrática























Muita gente fica surpresa quando lhe digo que não sou contra algumas formas de "governo popular". Não sou contra algumas concepções de democracia porque não acredito que exista, em si mesmo, um regime melhor aplicável a todo o tempo e em todo o lugar. A forma não é independente da matéria, sobretudo porque está relacionada com uma finalidade interna que é dependente das finalidades da comunidade. De imutável há apenas o Bem, aquilo que não se encontra debaixo do Sol...

O problema está no sentido das palavras, como sempre. Quando falamos de Democracia podemos fazê-lo em vários sentidos. No sentido tradicional e aristotélico o poder democrático estabelece um regime que se funda apenas na vontade dos indivíduos, que se justificam para tal nos iguais direitos de cidadania (a liberdade). Esta ideia é prosseguida na concepção de Rousseau em que para que um regime se considere lícito basta que o Poder englobe a vontade de todos os cidadãos, unidos por essa característica dos homens livres. Esta Democracia é de tal forma existencial ou ideológica que não reconhece, antes se funda na concepção, de que nada pode existir numa sociedade para além da vontade dos cidadãos.

A esta Democracia opõe-se a República, o regime constitucional de governo popular, que se funda na existência de um Poder limitado por instituições e princípios de vida em comum. Na formulação moderna o regime republicano é, muitas vezes, confundido com a Democracia. Quando se afirma que a Democracia se caracteriza pelo “rule of law” e pela existência de um conjunto de princípios de direito impossíveis de derrogar pela lei e pelas instituições, estamos a falar de um princípio republicano e não de uma Democracia em sentido verdadeiro. Onde as leis são perduráveis e fundadas em mais que mera convencionalidade entre indivíduos livres, estamos a falar de uma forma de governo constitucional, tal como foi apreendido à luz dos clássicos pelo republicanismo americano, devotado à sua própria idée directrice, reflexo da sua história e condicionalismos (verdadeiros traços definidores da estrutura da matéria do regime, os cidadãos).

Esta conceptualização é importante. Pode haver um regime (forma política menos degenerada) onde todos são responsáveis pela decisão política, sem que se perigue a existência dos pressupostos comunitários. Nela as partes actuam dentro de um enquadramento comunitário que lhes é prévio e que as estruturam.
Esse fundamento de organicidade, oposto ao atomismo, uma concepção justificadora de um livres e iguais que pode ser subvertido pela própria cedência da liberdade (própria ou de outros), é a linha que separa a República, regime de todos em que é possível a liberdade, da Democracia, situação em que o único limite é o desejo e a força.

A Democracia é inimiga de qualquer lei incontrovertível e portanto inimiga de qualquer Liberdade.

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terça-feira, março 20, 2007

A Chamada da Ideologia


Quando vejo os neo-monárquicos falarem da Democracia como única solução para os problemas do Mundo não consigo deixar de esboçar um sorriso. Alguns são gente de respeito e que respeito, quase todos bem intencionados e quase todos cultos. Outros são malta das modas, ansiosa por ser diferente e por carregar em si as marcas de distinção. Criou-se a ideia de que todos os monárquicos são aristocratas...

Leio os lamentos de SAR, leio os artigos de Fernanda Leitão. Só vejo Democracia!
Também eles fazem um diagnóstico grave do que o regime nos trouxe, mas não consigo vislumbrar as razões da sua brandura. Diz SAR, num doce e ledo engano de alma, que a Democracia serve para nos proteger do Totalitarismo. Não sei que sistema não totalitário permite que a vida de terceiros dependa da vontade da maioria, ainda para mais sem estabelecer qualquer reflexão sobre a Vida e o seu começo.
Se SAR compreende que o Totalitarismo entrou em Portugal sob a forma de Democracia, porque é que acha que se impõe a sua defesa? É isso o que pergunto a todos os cristãos, sem ainda ter obtido qualquer resposta...

A Ideologia é o elemento que se sobrepõe à realidade. Quando se sobrepõe uma certa forma política, seja ela a Monarquia ou a Democracia, à realidade e às finalidades da política temos ideologia. Era esse o erro dos que defendiam a Monarquia independentemente dos resultados por ela produzidos. É isso que os “monárquicos” do nosso tempo defendem, sob a forma de Poder do demos.
Dizem eles que falta ideologia!

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Lá Para Dezembro, Quando as Coisas Acalmarem

Há gala ou não há gala?

Para Quando?

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Contra as Fonias





















Um dos grandes disparates do pós-colonialismo em Portugal é a defesa da Lusofonia. Sempre me pareceu disparatado fazer a apologia de uma ferramenta, como se o legado de Portugal por esse mundo se reduzisse a um mero número de fonemas partilhado. A língua é uma ferramenta sublime, mas não deixa de ser uma ferramenta. E se a língua portuguesa contém um conjunto de palavras que são veículo de ideias, que dessa forma se perpetuam em comunidades de significado, é preciso dizer que sem essas ideias a linguagem fica mais pobre. Despojado desses significados o veículo torna-se banalizado, igual a todas as formas mais simples e não-articuladas de transmissão de conhecimento. É esse fenómeno que temos vindo a observar na simplificação e oralização da língua, para que certa “democratização linguística” tem vindo a apontar, tantas vezes com o propósito de integrar e socializar.

Ao invés de integrar pela difusão de ideias, a língua esvaziou-se de seus conteúdos para poder abarcar até as suas formas mais limitadas. Faz-se a defesa do Português de Cabo Verde e Angola como formas tão completas de linguagem como o Português da Universidade de Coimbra de outros tempos.
É evidente que da defesa do Português no mundo há vantagens para Portugal, mas vantagens meramente materiais. Enquanto não se tomar a Língua-mãe como veículo de ideais universais, de uma forma de sentir peculiar e concreta, como expressão particular de uma visão e enquanto se continuar a fazer a coincidir Portugal com um regime, nenhum significado se poderá reencarnar no instrumento linguístico.

Até lá a Lusofonia é um conceito vazio, uma negociata para uns, uma nostalgia imperial desprovida de significado real. Uma unidade na diversidade, onde não existe um ponto comum, é coisa para os que querem fugir à triste realidade dos humilhantes trinta anos de relação pós-colonial...

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sábado, março 17, 2007

Mero Senso Comum

Patrícia Lança sobre a Censura e o Liberalismo

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Peter Hitchens













Boas leituras para o fim de semana.

- Correspondence with contributors

- Gun law and common sense

- Monarchy in the age of New Labour

- Your questions answered...

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sexta-feira, março 16, 2007

O Vómito















Saberão escrever GULAG?

Aquela escória (URAF) que fez a manifestação contra o Museu Salazar escreveu um mail ao meu amigo LTN e que ele fez o favor de ma reencaminhar. Devo dizer que não esperava que a reflexão fosse profunda ou sequer articulada, mas a missiva que faz parte do abaixo-assinado inclui reflexões de gravidade tal que aqui temos de a denunciar.

1. – “Uma perspectiva científica e objectiva só poderia sustentar-se, necessariamente, inapelavelmente, partindo dos valores e princípios da Lei fundamental – a Constituição da República -, que exactamente caracteriza o regime deposto pela Revolução Democrática de 25 de Abril de 1974, como um «regime fascista» de «ditadura, opressão e colonialismo» derrubado pelo «Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos»”

Ficamos a saber que toda a ciência em Portugal está vinculada pelos princípios da Constituição de 74. Qualquer oposição à caracterização do Estado Novo que não se enquadre no Preâmbulo da CRP não é científica e objectiva. Resta saber se não será criminosa...

2. - É óbvio que qualquer outro ângulo de abordagem – que buscasse uma qualquer indefinida «neutralidade» - seria estranho a esse escopo de valores, não seria nem objectivo, nem científico, além de estar ferido de ilegalidade à luz da Constituição e da Lei;

É pelo menos ilegal...

3. - A conjuntura é a da família, dos objectos pessoais, da casa, das terras, da rua, da aldeia, da paisagem, da árvore, do banco, do carro, da Escola, do cemitério e da campa de Salazar. Os valores são o de «filho ilustre da terra», «o que fez de bom», «o que as pessoas querem ver». Estes são naturalmente valores de identificação claramente apologética, que excluem drasticamente qualquer abordagem objectiva do regime fascista de Salazar, naquela situação;

É evidente que se impõe uma revisão do Preâmbulo do Texto Fundamental. Para além do Fascismo de Salazar é preciso criar Dogma. Salazar não teve terra, nem aldeia, nem foi filho da terra. Nasceu de uma serpente e de uma cabra. A forma humana era para disfarçar...

4. “certamente poria Santa Comba Dão no mapa do saudosismo fascista e das excursões nada pacíficas dos «Skyn heads».”

Sei que a literacia não abunda naquela banda, mas não eram os tais “Skinheads” (é assim tão difícil) quem insultava a memória de Salazar atacando o luso-tropicalismo e a ideia da Nação Pluricontinental? Não são esses que dizem na tv “não foi para isto que fizemos o 25 de Abril”?

A URAF propõe a ilegalização de todas as propostas científicas que não se coadunem com a Constituição. É esta a liberdade dos amigos do Vasco, do Álvaro e da Odete. Liberdades de Abril, pois então!!!

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quarta-feira, março 14, 2007

Para um Movimento Conservador (II)

A pedido da atentíssima Cristina Ribeiro volto a falar dos escritos do Henrique Raposo, que, na minha presciência, ilustrei no primeiro texto. Antes de tudo é preciso dizer que considero que o dito articulista é um dos grandes candidatos a sucessor do Prof. Espada no lugar de pai espiritual dos conservadores luso-britânicos. É que fala muito do conservadorismo, como se este fosse um braço do liberalismo, não compreendendo que ali existe uma tradição intelectual própria... Paciência. Tal ignorância chega a confundir a tradição liberal clássica (do jusnaturalismo secularizado e contractual), com o conservadorismo de Burke (jusnaturalista clássica), julgando até que Burke se encontra na linha de Maquiavel, Hobbes, Hume e mais não sei o quê...
É de notar que Henrique Raposo acha que ser conservador é ter medo do Estado e do Bem (Strauss deve ser socialista...), ou seja, ser liberal, ignorando que Burke não imaginava uma comunidade política que não estivesse vinculada às verdades da religião, que chamava à sociedade contractual, com escárnio, “o governo dos simples”, que considerava a Revolução Francesa um Mal Absoluto a que todos os povos civilizados tinham o dever de fazer a Guerra.
Se isto não são posicionamentos político-morais, não sei o que poderá ser.
Não é só a esquerda que aprende filosofia através de súmulas e resumos...
Em relação ao Bentham está certo! É como um relógio parado...

Para um movimento conservador é preciso liberais, mas não liberalistas (liberais existenciais ou ideológicos). É preciso ter gente que compreende a necessidade de economias prósperas, mas subordinadas à Verdade e a uma moral pública que não seja apenas um reflexo das vontades individuais. É só dar um pequeno passo do jusnaturalismo secular ao tradicional... Como escreveu muito bem o HO na caixa de comentários

“É claro que a prossecução de vidas boas implica a realização de valores conflituantes e aí não vejo que o caminho seja estatuir uma série de valores incondicionais, permanentes e invariáveis, um princípio ordenador absoluto, uma visão de Bem intemporal. Isto não é admitir a visão relativista que todos os valores dependem do indíviduo. Pelo contrário: há valores com autoridade moral, mesmo que impliquem a cerceação da autonomia. Deve ser aplicados com razoabilidade e conciliação (Burke). Mas, no limite, a distinção é feita apelando as característas da natureza humana, conforme retratadas na prática - culturalmente invariáveis e historicamente constantes, ou seja as tradições.”

É precisamente esse o meu conservadorismo (que só encaro enquanto conservação da Tradição comunitária), que não é muito distinto da fase madura de Sardinha, uma vez depurados os elementos que são meros traços do “contingente”.

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terça-feira, março 13, 2007

Cantam as Nossas Almas

O Horizonte faz um ano. Gosto muito do blogue, gosto mais do bloguista, que é para mim alto exemplo. Quando me lembro dos comentários amigos, da forma como não deixou a nossa companhia blogosférica (apesar das adversidades da vida), da forma como sempre se manteve independente e impassível aos insultos com olhos no Ideal Português, não posso deixar de pensar o que seria do país se tivesse homens-comuns como ele. Inundem-lhe o blogue com as vossas leituras...

Para um Movimento Conservador




















Em Portugal o conservadorismo é uma ideia perigosa, porque abre portas a toda a aquela gente acomodada com tudo o que está mal. Se queremos falar de conservadorismo teremos de ser mais específicos e explicar que não estamos a falar de oposição à mudança, à boa maneira do oakeshottianismo instalado, ou de uma defesa da tradição liberal ou utilitarista, desprovida de valores que não sejam os individualismos e as religiões do mercado. As razões são óbvias, no Portugal em que vivemos não há uma Constituição, um elemento de coesão e que funcione como horizonte e limitador de Poder. Logo, a ideia de que em Portugal o papel de alguém que se considere como conservador é defender o que existe tem a mesma lógica que afirmar que um conservador russo em 1981 teria de ser defensor do comunismo.
Por outro lado (que talvez seja o mesmo) temos uma afirmação do conservadorismo-liberal que é oposto a tudo o que deve interessar. Começa por não ter um fundo cultural, um substrato existencial. Não é jusnaturalista clássica, moderna ou juspositivista. É apenas um conjunto de gente que acha que deixar à vontade individual algumas prerrogativas do Estado representaria uma significativa melhoria na vida das pessoas. Grande coisa! Se assim fosse eu também seria um liberal, pelo simples facto que desprezo o modelo de Estado social-democrata. O problema é que ali não há uma visão da Justiça, um critério que permita distinguir entre o que deve ser privado ou público. Qualquer posição que se fundamente na justiça ou numa concepção de Bem e não na vacuidade da vontade arbitrária, igual a qualquer outra, está vedada a esses auto-proclamados conservadores. Conservadores sem tradição, sem certo ou errado, sem uma proposta de defesa da civilização ou sequer de uma ideia de que valores sejam esses. Concordam com Durão Barroso que o Ocidente é tributário da Revolução Francesa e da apologia moderna da Vontade. Acham que Burke defendia uma posição mais moderada para a Revolução Francesa e o Iluminismo (ele que achava que a Guerra contra a França Revolucionária era o único imperativo comum a todos os povos cristãos da Europa). Acham que é de direita quem a ela pensar pertencer. Acham que esta tem o Poder pelo Poder como horizonte, como alternativa à esquerda e acima de qualquer princípio.
E o que dizer dos políticos da direita que temos, que combatem sem apresentar uma ideia? Um diz que é bom na oposição, o outro que é vítima dos esquemas do outro, não apresentando uma ideia política a defender.
Não se pode dizer que exista muita matéria para trabalhar...

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domingo, março 11, 2007

As Banalidades do Mal


















O relativismo é uma consequência de vários caminhos. O fechamento ou abertura historicista é um dos seus lógicos antecedentes, e um dos mais sofisticados, porque gera a ideia de que esconde uma moral que de facto não está lá.
Por um lado o historicismo encerra o homem na prisão do Outro. Os outros, passados e presentes, comandam o Homem moralmente, estando este absolutamente incapaz de determinar o bom e o mau, para além do seu circunstancialismo. A consequência política desta ideia é a absolutização do Poder, realizada segundo os convencionalismos ou o poder fáctico, onde o Homem está despido dos recursos morais que lhe permitam resistir. Este historicismo vive constantemente “no melhor dos mundos possíveis”, onde nada é superior ao tempo presente.
Por outro lado o historicismo possui a patologia inversa, que crê que, por existirem no mundo diversas posições sobre o conhecimento, nenhuma delas tem qualquer validade. Ideia de e para gente simples ou de interesse na mentira, este axioma consiste em afirmar que por uma pessoa no mundo ter errado na soma 1+1=2 esta perde qualquer validade, ou que qualquer que seja o resultado este será válido. Esta abertura a tudo como verdadeiro recua à velha crença panteísta, precursora do Totalitarismo e de despotismos vários.

Será que o Daniel Oliveira acha que está a fazer um grande avanço quando professa tais banalidades? Será que compreende que ao fazer a apologia de que o Bem está nas circunstâncias e na Vontade está a recorrer à mesma sofística que o III Reich e, consequentemente, a aceitar que o Nazismo e o Socialismo que ele preconiza não possuem um ponto externo que permita distinguir um melhor e um pior?
E se assim é, a perseguição aos fascistas que o Daniel conduz poderá ser considerada algo mais do que um fruto do seu desejo individual ou do colectivo de seus comparsas?

No Daniel Oliveira, como é habitual no espaço político a que pertence, a única posição admissível é a de Pilatos. “O que é a verdade?” pergunta a todo o tempo.
A herança de Trasímaco e Pilatos pesa-lhe na argumentação...

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Alameda Digital Nº6









Proporciona um leitura dominical muito mais interessante que as restantes.


Destaco as análises de Carlos Bobone, Miguel Castelo-Branco, Pedro Guedes da Silva, bem como a do Rafael que merecerá aqui outra atenção mais cuidada.

sexta-feira, março 09, 2007

Descrença Religiosa
















Antes as religiões eram normas que se procuravam. Agora está tudo dentro do Homem. Em cada simplório um sumo-sacerdote da vulgaridade. É só escolher o que lhe apetece. No Paganismo procurava-se a trancendência a partir do mundo. No Neo-Paganismo procura-se destruir a transcendência para que predomine o Mundo. Inventam-se deuses da cidade, não para que o seu exemplo os inspire (tradição que foi prolongada no exemplo dos Santos), mas para que o exemplo seja coincidente com os desejos de cada um. Inventa-se um outro mundo, mas só para justificar este e as suas falhas. Inventa-se um culto, mas nenhuma norma externa que não seja a Vontade, deixando o Homem sem qualquer farol para o Dever Ser. Inventa-se um Panteão, para se esquecer a unidade da Verdade. Inventa-se um Mito, para que se possa dizer que há várias verdades.
Como dizia Dostoyevski acerca do Comunismo pela boca de Aliocha Karamazov, não é tentar atingir o paraíso na terra, mas apear o paraíso, vulgarizando-o...
O Neo-Paganismo não é uma crença. É uma descrença!

quinta-feira, março 08, 2007

Destaques

O Manuel com Salazar e Pessoa.
As memórias do Francisco Múrias.

Inquinado

























Há muito tempo atrás o nacionalismo era uma ideia fundada no pensamento elevado. Fundava-se numa relação política, onde a pertença se consubstanciava na participação numa relação de amizade política em torno de uma sujeição ao Bem. Agora os grandes exemplos são povos sem filosofia, povos que consideram que a pertença à comunidade política é uma questão genética. A substituição da Nação pela Tribo.
Resta saber como se pode falar de Nacionalismo, quando nos encontramos num ponto em que uma parte da população referenda o direito de outra parte da população a pertencer-lhe.
A Nova Direita europeia sempre foi abrilina.

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quarta-feira, março 07, 2007

O Futuro do Liberalismo (II)



















Não é verdade que não existam conservadores em Portugal. O que não existe é pensamento conservador-tradicional que os enquadre. Assim, ao invés de um enquadramento conservador há apenas uma vontade de limitar os danos da Modernidade ou a necessidade de cavalgar a onda para evitar males menores. O problema é a falta de um equivalente à Utopia nos conservadores portugueses. Um destino político que não seja fundado no inexistente ou no paraíso terreno, mas um ponto onde se promova uma boa ordem, o respeito pela continuidade da nossa civilização, a liberdade que foi a dos nossos antigos, é a única esperança contra a dissolução das ideias que sustentam a sociedade.

É evidente que o Liberalismo é, por isso, um projecto falhado, quando não a origem do problema. Crer que a comunidade política se funda na vontade dos indivíduos, ou que esta união não é precedida de obrigações anteriores, como se a política fosse mero domínio do convencional. Os resultados estão à vista...
A remoção do jusnaturalismo clássico, da comunidade política como natural e subordinada à realização da sua natureza que reside no Bem Político (Comum), causa indiferença da comunidade perante o melhor e o pior. Essa redução, que já havia sido operada pelo próprio liberalismo na formação do jusnaturalismo secularizado (uma ficção, como veremos), conduz à aceitação do canibalismo como mera questão de gosto pessoal ou matéria a ser dirimida pelo direito privado de convergência de vontades.

A incapacidade de defesa do Bem, ou mesmo de qualquer bem, é o fim do Liberalismo.
Ao contrário do que o leitor CN afirma, a sociedade, com as suas exclusões e sanções, não é suficiente para afirmar o Bem. Essa posição é inaceitável para qualquer pessoa que recuse inserir-se na tradição “atomista” do liberalismo. O facto de uma mulher matar uma criança no seu ventre é questão minha, como uma relação sexual consentida (por si ou pelos pais) entre um homem e uma criança de cinco anos é questão minha, como a aceitação de um sacrifício pela vítima para um macabro ritual sexual é questão minha. São questões de todos os que aceitam olhar para além de si. Pensar que o Poder pode virar costas a esta situação é pouco menos que suicídio, como testemunhamos todos os dias nas progressivas igualitarizações anti-discriminatórias a que estamos sujeitos.

É por isso que creio que em Portugal há mais conservadores do que os auto-proclamados. Quando vejo a posição política do AAA em relação ao Aborto tenho a certeza disso. Li os seus textos sobre o assunto e não me ficou qualquer dúvida de que os argumentos não eram liberais (que o Liberalismo não chega a tanto que consiga proclamar juízos sobre o que é a Vida Humana), de que aí se defendia a imperatividade de valores mais altos a enformar a estrutura liberal da sociedade. Ficou-me a sensação de que o liberalismo ali não era uma proposta existencial (uma ideologia), mas uma posição político-económica inserida numa comunidade que preserva os seus valores essenciais.
Onde quer que a verdadeira Fé esteja...

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segunda-feira, março 05, 2007

Salazar e o Mito do Século XX













No meio de tanta coisa criticável na obra de Salazar as críticas que se ouvem são somente de índole historicista.
Salazar não era um democrata... mas também não o era qualquer dos outros finalistas do concurso da RTP. No entanto é Salazar quem apanha.
Salazar defendia um Estado com repressão da sedição perigosa para o corpo político, assim como Afonso Henriques, D. João II, o Infante. Já o Marquês e Cunhal defendiam a punição de toda a sedição, perigosa ou não, real ou não. E Salazar apanha...
Em Portugal celebra-se todos os dias a gesta heróica dos portugueses, dilatando a Fé e o Império, dando novos mundos ao mundo. Por outro lado massacra-se a memória de um português por ter decidido continuar essa mesma acção dos portugueses no mundo.

É óbvio que Salazar é culpado. A sua culpa foi não ter visto a luz da História. É culpado de não se ter prostrado perante os poderes do mundo, por mais que estivesse contra eles. Como se um homem tivesse de se prostrar perante os que antevê serem vencedores. Bonita moralidade...
Salazar é culpado de não ter implantado uma democracia, porque a revelação do século XX obriga, ao contrário do que é a tradição de pensamento ocidental, a que um governante se subordine a votos e não ao Bem Comum. As razões para isso são escassas, mas impostas por uma estranha revelação. Quantos sabem os seus pressupostos racionais?

É esta gente que nos fala dos heróis Cunhal, Zeca Afonso e Otelo (enquanto que o 1º de Dezembro é silenciado nos telejornais), que nos diz que Salazar deveria ter “aberto” o sistema político. Como se a abertura de Portugal a Moscovo, na altura em que o PCP era a estrutura política mais organizada do país, fosse um acto de pouca monta. Como se o PS sem apoio americano (até aos anos 70) fosse um partido democrático e como se houvesse ala liberal anterior à morte de Salazar...
Alguém duvida que em caso de democratização ou morreria a democracia ou morreria a independência?

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O Papel da Hereditariedade


















Uma monarquia não precisa de ser hereditária. Basta que um único soberano seja eleito, apontado, nomeado, cooptado, para que um regime não corresponda ao que se tornou pedra-de-toque da nossa concepção de Monarquia.
A hereditariedade, porém, é a essência da Monarquia Cristã que é, salvo refutação que não conheço, a melhor das formas de Governo para uma comunidade cristã. A melhor Forma de Governo porque apresenta como essência a defesa do Perene, porque representa uma continuidade que não se limita à chefia de Estado, estendendo-se à essência da comunidade, a sua Constituição. Esse elemento, tradição verdadeira de uma comunidade política, é o testemunho legado pelos soberanos, a herança que um rei tem de aceitar para que adquira legitimidade.

Quando se fala na imparcialidade do Rei surgem argumentos, difundidos pelo neo-monarquismo dos anos 60 e 70, que por vezes confundem a verdadeira doutrina. A imparcialidade de um Monarca resulta da aceitação da herança de que falamos.
Não é uma aceitação de que todas as posições defendidas pelos portugueses são legítimas (o argumento de uma monarquia geométrica e neutra) pois bem sabemos que também há corruptos portugueses, pedófilos portugueses, homicidas portugueses.
A acção de um Rei não é, também, uma mera defesa da estabilidade dos interesses e razão estatais. Para isso não é preciso um monarca hereditário, que a História de Portugal e do Mundo está cheia de heróis que interpretaram o bem e interesse comum.

A Monarquia é a celebração do imutável, o elemento ao qual a mudança se deve subordinar, que a única tradição de uma comunidade é a sua submissão ao Bem, que não é criação humana ou fantasia-mito. Essa é a verdadeira constituição de uma Nação ou Povo e a sucessão é uma aceitação dessa Tradição.
Se a Monarquia liberta não o faz por ser um ponto culminante e inapelável da decisão política, mas porque esta se afasta das vontades individuais, em prol do estatuído pela ordem da realidade.

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domingo, março 04, 2007

EWTN, Global Catholic Network

Aqui podem assistir à emissão.

A Cura do Câncer, por Cláudio Tellez.

Perguntas






















A Torre volta ou não volta?

sexta-feira, março 02, 2007

O Regresso do PP




















Se alguém na Direita tinha esperança no regresso de Paulo Portas pode-se desenganar. Portas mostrou a sua verdadeira face. A direita de Portas é uma direita mediana, porque quer ser das classes médias, um centro-direita, porque quer ser de centro e apanhar os nostálgicos, uma direita do Poder, porque não conseguiu retirar da rapaziada a ideia de que há coisas mais importantes do que andar lá em cima.

O maior problema é o reenquadramento sistémico. O aborto passou... para alívio dessa direita do Poder que em nada acredita. Agora têm o caminho livre para marcar o fulcro da direita nas liberdades do mercado ou em qualquer outra treta de ocasião.
Vamos regressar ao PP do Governo. Um partido sem programa, um “catch-all” com o horizonte a 10%, sacrificando-se às frivolidades da gente banal.

No dia em que Portas se foi embora já sabíamos que voltaria assim. Deixou Ribeiro e Castro, que havia sido o maior defensor do soberanismo e da integração num bloco conservador-anti-federalista, preso à banalidade e disciplina do PPE. Deixou os militantes com o gosto do Poder na boca. Deixou muitos a sonhar ser o seu número dois, lugar que dá direito a Ministério num máximo de quinze anos.

Voltou sem razão e sem programa, a contar com os telejornais.

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