Contra as Fonias
Um dos grandes disparates do pós-colonialismo em Portugal é a defesa da Lusofonia. Sempre me pareceu disparatado fazer a apologia de uma ferramenta, como se o legado de Portugal por esse mundo se reduzisse a um mero número de fonemas partilhado. A língua é uma ferramenta sublime, mas não deixa de ser uma ferramenta. E se a língua portuguesa contém um conjunto de palavras que são veículo de ideias, que dessa forma se perpetuam em comunidades de significado, é preciso dizer que sem essas ideias a linguagem fica mais pobre. Despojado desses significados o veículo torna-se banalizado, igual a todas as formas mais simples e não-articuladas de transmissão de conhecimento. É esse fenómeno que temos vindo a observar na simplificação e oralização da língua, para que certa “democratização linguística” tem vindo a apontar, tantas vezes com o propósito de integrar e socializar.
Ao invés de integrar pela difusão de ideias, a língua esvaziou-se de seus conteúdos para poder abarcar até as suas formas mais limitadas. Faz-se a defesa do Português de Cabo Verde e Angola como formas tão completas de linguagem como o Português da Universidade de Coimbra de outros tempos.
É evidente que da defesa do Português no mundo há vantagens para Portugal, mas vantagens meramente materiais. Enquanto não se tomar a Língua-mãe como veículo de ideais universais, de uma forma de sentir peculiar e concreta, como expressão particular de uma visão e enquanto se continuar a fazer a coincidir Portugal com um regime, nenhum significado se poderá reencarnar no instrumento linguístico.
Até lá a Lusofonia é um conceito vazio, uma negociata para uns, uma nostalgia imperial desprovida de significado real. Uma unidade na diversidade, onde não existe um ponto comum, é coisa para os que querem fugir à triste realidade dos humilhantes trinta anos de relação pós-colonial...
Etiquetas: Pensamento Tradicional
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