terça-feira, março 13, 2007

Para um Movimento Conservador




















Em Portugal o conservadorismo é uma ideia perigosa, porque abre portas a toda a aquela gente acomodada com tudo o que está mal. Se queremos falar de conservadorismo teremos de ser mais específicos e explicar que não estamos a falar de oposição à mudança, à boa maneira do oakeshottianismo instalado, ou de uma defesa da tradição liberal ou utilitarista, desprovida de valores que não sejam os individualismos e as religiões do mercado. As razões são óbvias, no Portugal em que vivemos não há uma Constituição, um elemento de coesão e que funcione como horizonte e limitador de Poder. Logo, a ideia de que em Portugal o papel de alguém que se considere como conservador é defender o que existe tem a mesma lógica que afirmar que um conservador russo em 1981 teria de ser defensor do comunismo.
Por outro lado (que talvez seja o mesmo) temos uma afirmação do conservadorismo-liberal que é oposto a tudo o que deve interessar. Começa por não ter um fundo cultural, um substrato existencial. Não é jusnaturalista clássica, moderna ou juspositivista. É apenas um conjunto de gente que acha que deixar à vontade individual algumas prerrogativas do Estado representaria uma significativa melhoria na vida das pessoas. Grande coisa! Se assim fosse eu também seria um liberal, pelo simples facto que desprezo o modelo de Estado social-democrata. O problema é que ali não há uma visão da Justiça, um critério que permita distinguir entre o que deve ser privado ou público. Qualquer posição que se fundamente na justiça ou numa concepção de Bem e não na vacuidade da vontade arbitrária, igual a qualquer outra, está vedada a esses auto-proclamados conservadores. Conservadores sem tradição, sem certo ou errado, sem uma proposta de defesa da civilização ou sequer de uma ideia de que valores sejam esses. Concordam com Durão Barroso que o Ocidente é tributário da Revolução Francesa e da apologia moderna da Vontade. Acham que Burke defendia uma posição mais moderada para a Revolução Francesa e o Iluminismo (ele que achava que a Guerra contra a França Revolucionária era o único imperativo comum a todos os povos cristãos da Europa). Acham que é de direita quem a ela pensar pertencer. Acham que esta tem o Poder pelo Poder como horizonte, como alternativa à esquerda e acima de qualquer princípio.
E o que dizer dos políticos da direita que temos, que combatem sem apresentar uma ideia? Um diz que é bom na oposição, o outro que é vítima dos esquemas do outro, não apresentando uma ideia política a defender.
Não se pode dizer que exista muita matéria para trabalhar...

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