O Papel da Hereditariedade
Uma monarquia não precisa de ser hereditária. Basta que um único soberano seja eleito, apontado, nomeado, cooptado, para que um regime não corresponda ao que se tornou pedra-de-toque da nossa concepção de Monarquia.
A hereditariedade, porém, é a essência da Monarquia Cristã que é, salvo refutação que não conheço, a melhor das formas de Governo para uma comunidade cristã. A melhor Forma de Governo porque apresenta como essência a defesa do Perene, porque representa uma continuidade que não se limita à chefia de Estado, estendendo-se à essência da comunidade, a sua Constituição. Esse elemento, tradição verdadeira de uma comunidade política, é o testemunho legado pelos soberanos, a herança que um rei tem de aceitar para que adquira legitimidade.
Quando se fala na imparcialidade do Rei surgem argumentos, difundidos pelo neo-monarquismo dos anos 60 e 70, que por vezes confundem a verdadeira doutrina. A imparcialidade de um Monarca resulta da aceitação da herança de que falamos.
Não é uma aceitação de que todas as posições defendidas pelos portugueses são legítimas (o argumento de uma monarquia geométrica e neutra) pois bem sabemos que também há corruptos portugueses, pedófilos portugueses, homicidas portugueses.
A acção de um Rei não é, também, uma mera defesa da estabilidade dos interesses e razão estatais. Para isso não é preciso um monarca hereditário, que a História de Portugal e do Mundo está cheia de heróis que interpretaram o bem e interesse comum.
A Monarquia é a celebração do imutável, o elemento ao qual a mudança se deve subordinar, que a única tradição de uma comunidade é a sua submissão ao Bem, que não é criação humana ou fantasia-mito. Essa é a verdadeira constituição de uma Nação ou Povo e a sucessão é uma aceitação dessa Tradição.
Se a Monarquia liberta não o faz por ser um ponto culminante e inapelável da decisão política, mas porque esta se afasta das vontades individuais, em prol do estatuído pela ordem da realidade.
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