quarta-feira, março 07, 2007

O Futuro do Liberalismo (II)



















Não é verdade que não existam conservadores em Portugal. O que não existe é pensamento conservador-tradicional que os enquadre. Assim, ao invés de um enquadramento conservador há apenas uma vontade de limitar os danos da Modernidade ou a necessidade de cavalgar a onda para evitar males menores. O problema é a falta de um equivalente à Utopia nos conservadores portugueses. Um destino político que não seja fundado no inexistente ou no paraíso terreno, mas um ponto onde se promova uma boa ordem, o respeito pela continuidade da nossa civilização, a liberdade que foi a dos nossos antigos, é a única esperança contra a dissolução das ideias que sustentam a sociedade.

É evidente que o Liberalismo é, por isso, um projecto falhado, quando não a origem do problema. Crer que a comunidade política se funda na vontade dos indivíduos, ou que esta união não é precedida de obrigações anteriores, como se a política fosse mero domínio do convencional. Os resultados estão à vista...
A remoção do jusnaturalismo clássico, da comunidade política como natural e subordinada à realização da sua natureza que reside no Bem Político (Comum), causa indiferença da comunidade perante o melhor e o pior. Essa redução, que já havia sido operada pelo próprio liberalismo na formação do jusnaturalismo secularizado (uma ficção, como veremos), conduz à aceitação do canibalismo como mera questão de gosto pessoal ou matéria a ser dirimida pelo direito privado de convergência de vontades.

A incapacidade de defesa do Bem, ou mesmo de qualquer bem, é o fim do Liberalismo.
Ao contrário do que o leitor CN afirma, a sociedade, com as suas exclusões e sanções, não é suficiente para afirmar o Bem. Essa posição é inaceitável para qualquer pessoa que recuse inserir-se na tradição “atomista” do liberalismo. O facto de uma mulher matar uma criança no seu ventre é questão minha, como uma relação sexual consentida (por si ou pelos pais) entre um homem e uma criança de cinco anos é questão minha, como a aceitação de um sacrifício pela vítima para um macabro ritual sexual é questão minha. São questões de todos os que aceitam olhar para além de si. Pensar que o Poder pode virar costas a esta situação é pouco menos que suicídio, como testemunhamos todos os dias nas progressivas igualitarizações anti-discriminatórias a que estamos sujeitos.

É por isso que creio que em Portugal há mais conservadores do que os auto-proclamados. Quando vejo a posição política do AAA em relação ao Aborto tenho a certeza disso. Li os seus textos sobre o assunto e não me ficou qualquer dúvida de que os argumentos não eram liberais (que o Liberalismo não chega a tanto que consiga proclamar juízos sobre o que é a Vida Humana), de que aí se defendia a imperatividade de valores mais altos a enformar a estrutura liberal da sociedade. Ficou-me a sensação de que o liberalismo ali não era uma proposta existencial (uma ideologia), mas uma posição político-económica inserida numa comunidade que preserva os seus valores essenciais.
Onde quer que a verdadeira Fé esteja...

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