quarta-feira, março 14, 2007

Para um Movimento Conservador (II)

A pedido da atentíssima Cristina Ribeiro volto a falar dos escritos do Henrique Raposo, que, na minha presciência, ilustrei no primeiro texto. Antes de tudo é preciso dizer que considero que o dito articulista é um dos grandes candidatos a sucessor do Prof. Espada no lugar de pai espiritual dos conservadores luso-britânicos. É que fala muito do conservadorismo, como se este fosse um braço do liberalismo, não compreendendo que ali existe uma tradição intelectual própria... Paciência. Tal ignorância chega a confundir a tradição liberal clássica (do jusnaturalismo secularizado e contractual), com o conservadorismo de Burke (jusnaturalista clássica), julgando até que Burke se encontra na linha de Maquiavel, Hobbes, Hume e mais não sei o quê...
É de notar que Henrique Raposo acha que ser conservador é ter medo do Estado e do Bem (Strauss deve ser socialista...), ou seja, ser liberal, ignorando que Burke não imaginava uma comunidade política que não estivesse vinculada às verdades da religião, que chamava à sociedade contractual, com escárnio, “o governo dos simples”, que considerava a Revolução Francesa um Mal Absoluto a que todos os povos civilizados tinham o dever de fazer a Guerra.
Se isto não são posicionamentos político-morais, não sei o que poderá ser.
Não é só a esquerda que aprende filosofia através de súmulas e resumos...
Em relação ao Bentham está certo! É como um relógio parado...

Para um movimento conservador é preciso liberais, mas não liberalistas (liberais existenciais ou ideológicos). É preciso ter gente que compreende a necessidade de economias prósperas, mas subordinadas à Verdade e a uma moral pública que não seja apenas um reflexo das vontades individuais. É só dar um pequeno passo do jusnaturalismo secular ao tradicional... Como escreveu muito bem o HO na caixa de comentários

“É claro que a prossecução de vidas boas implica a realização de valores conflituantes e aí não vejo que o caminho seja estatuir uma série de valores incondicionais, permanentes e invariáveis, um princípio ordenador absoluto, uma visão de Bem intemporal. Isto não é admitir a visão relativista que todos os valores dependem do indíviduo. Pelo contrário: há valores com autoridade moral, mesmo que impliquem a cerceação da autonomia. Deve ser aplicados com razoabilidade e conciliação (Burke). Mas, no limite, a distinção é feita apelando as característas da natureza humana, conforme retratadas na prática - culturalmente invariáveis e historicamente constantes, ou seja as tradições.”

É precisamente esse o meu conservadorismo (que só encaro enquanto conservação da Tradição comunitária), que não é muito distinto da fase madura de Sardinha, uma vez depurados os elementos que são meros traços do “contingente”.

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