quarta-feira, novembro 30, 2005

O Conservador Acidental

São sem dúvida bizarras algumas afirmações sobre o Conservadorismo que vamos lendo aqui e além. Hoje deparei-me com este texto em O Acidental que pretenderia demonstrar uma certa posição conservadora, mas não fez mais que mitificar um pensamento, ajudando os seus inimigos e fazendo o serviço do costume à pós-modernidade.
Diz Henrique Raposo que a posição conservadora se funda numa desconfiança do Poder e do Bem. O argumento é recorrente e interessa, por essa razão, revê-lo.
Diz HR que a preocupação do conservador é com o “Poder saudável”. Diz muito bem! A reflexão do conservador é sempre uma reflexão sobre a saúde da comunidade. Na linha de Platão, Aristóteles, Aquino, Burke ou Voegelin, a ciência da polis é sempre uma ciência da saúde, que no domínio político recebe o nome de Justiça. Por isso se estranha a afirmação posterior de que o conservador é contra uma moralidade colectiva ou societária. Esta ideia choca claramente com a ideia de um comunitarismo conservador. Assim sendo ficaríamos a saber que Burke, fervoroso defensor da concepção de uma moralidade cristã e da Igreja estabelecida, ou Nisbet, ou Scruton, ou MacIntyre, que aceitam as obrigações herdadas do passado, não seriam conservadores.
O conservador não defenderia uma moralidade comunitária e por isso não defenderia uma “lei estática”. Sobretudo quando a lei não é justa… Mas se existe uma Justiça, uma concepção de Bem na mudança legislativa é porque existe uma concepção de justiça no domínio político e, portanto, uma moral comunitária.
As restantes considerações de HR resvalam sempre nas mesmas afirmações confusas, que levam ao extremo da confusão entre liberalismo e conservadorismo. O conservador desconfia do Poder sobretudo porque acha que o Poder vem de um contrato entre indivíduo e Estado… O conservador para além de liberal é, por natureza, um contratualista! Será que Burke era um contratualista? Obviamente que não… Burke exprimiu várias vezes que o único contrato que existe é a tradição do Bem, que engloba o passado, presente e futuro! Herança e tradição! Nada tem a ver com indivíduos e com a manutenção de direitos pré-políticos.
Da mesma forma que a justiça não é determinada pelo progresso material. Essa diferença entre materialismo progressista e conservadorismo não se compadece com afirmações de que a Europa tem de mudar porque está a produzir menos riqueza que o Chile…

Semibreves

Já devem ter reparado na menor regularidade das actualizações deste blogue.
Não é grave. Pior (para mim) é o decréscimo de tempo que tenho vindo a ter para ler os blogues do costume, que se transformaram na minha principal forma de informação sobre a actualidade e de reflexão sobre a mesma. Uma brecha matinal permitiu-me actualizar algumas leituras.
Realço o centenário do nascimento do Arcebispo Marcel Lefévre, aproveitando a data para enviar ao JSarto e ao RCS um forte abraço e o desejo que se mantenham inabaláveis sob esse elevadíssimo exemplo.
Gostaria também de notar a forma como um blogue "laico" traçou o retrato à ofensiva maçónica na formação dos jovens. Excelente síntese do Combustões, que também tem um texto de enorme qualidade sobre Franco e a propaganda contra o Generalíssimo.
O regresso de Alexandre Franco de Sá é também uma excelente novidade. Os artigos recentes do Caminhos Errantes têm a qualidade habitual... Nada melhor que este regresso após a excelente apresentação das obras do autor na FNAC.
Há ainda que celebrar a apresentação do sítio electrónico da Sociedade Histórica de Independência de Portugal. Um espaço que promete lutar pelas liberdades (as verdadeiras) dos portugueses...
Reitero ainda a minha completa disponibilidade para tratar do leitão o mais depressa possível!
Neste mundo não há espírito sem corpo... Nem coração sem estômago!

terça-feira, novembro 29, 2005

Hoje os Crucifixos...

O episódio da retirada das Cruzes nos estabelecimentos de ensino público é bastante reveladora da forma como o nosso Governo faz política.

Primeiro lançam um boato pelos canais normais. Comentam-no com reservas, posteriormente, afirmando que não existem razões para alarme, que tudo se encontra na estrita legalidade e no âmbito de uma prática governativa que pugna pela igualdade.

Depois vêm os protestos da sociedade, as ameaças da Igreja...

Recentemente um conjunto de desmentidos confusos da Administração Pública vêm fazer crer que não existe qualquer directriz para proceder à retirada dos ícones.

Creio que faltará muito pouco para que venha um conjunto de estudos, sempre de entidades independentes, garantir que as crianças apresentam melhores índices escolares nas salas onde não existem crucifixos...

Dessa ciência experimentalista, desse culto da eficácia, desse altar do utilitarismo, têm vindo as últimas reformas educativas, os sucessivos embrutecimentos mentais da camada estudantil e as sucessivas melhorias nos “ratings” internacionais, através da retirada de matérias lectivas elementares das programações.

Em 2008 teremos um referendo nacional sobre o Cristo-Rei! Escolher-se-á que adereço colocar no Redentor. Algo que lhe dê um carácter mais laicizante, mais em sintonia com os valores do nosso tempo...

Não tenho dúvidas que a opção estará entre uma opção mais cavaquista, onde se acrescentará um telemóvel e uma “suitcase” à imagem sacra, ou uma opção mais hedonista onde deverá pontificar uma camisa havaiana, uns “Ray-Bans”...

A opção C, defendida pelo Bloco de Esquerda, consistirá apenas no acrescento à proposta anterior de um “charrinho” luminescente...

Ao abrigo da sacrossanta liberdade religiosa a Igreja abster-se-á de apresentar qualquer proposta. No fim de contas foi essa ideia de igualdade de credos que moveu a assinatura da nova Concordata e é esta que gera a confusão de ideias (ou ausência delas) que tem assolado a Igreja Portuguesa. Por isso continuam a reiterar a adesão aos ideais da igualdade confessional, para depois defenderem a manutenção dos crucifixos nas paredes das escolas públicas.

Sejam os que aceitaram pela Concordata tornarem-se iguais aos islamitas, aos IURD´s e Manás...

Sejam os que fazem constantes apelos ao voto nos socialistas...

Sejam os franciscanos que estão nos conselhos de administração de instituições bancárias...

Sejam os que andam de mãos dadas com a maçonaria e em especial os que facilitam os templos para a prática de rituais de magia em Funerais de altas-individualidades do Estado Português...

Sejam os que fazem parte de “comissões de direitos humanos e minorias” que pregam aos microfones da Rádio Renascença que “a igualdade de que Cristo falava é outro nome para Igualdade de Oportunidades” (sendo talvez a Segunda Vinda de Cristo na pessoa de Rawls, Sen ou Dworkin).

Depois não adianta dizer que a culpa é do Sócrates!

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quinta-feira, novembro 24, 2005

Abrir a Igreja, Perder a Palavra

Recebendo honras de abertura nos canais de TV a Igreja Católica emitiu um documento que visa vedar a entrada na carreira sacerdotal de homossexuais. Tarefa ciclópica, ao que me parece. Há, contudo, uma medida que me parece ser de importância preponderante no combate à infiltração da sodomia nos muros de São Pedro. A partir de agora a entrada em seminários católicos está vedada, não apenas aos sodomitas, mas aos que professem a tolerância com tais práticas.
Acho notável que uma situação que deveria ser óbvia em todas as instituições (que exista concordância nos pressupostos básicos dos membros com a estrutura que a constitui) seja manchete de telejornais. Talvez a nossa sociedade, cativa de um concepção errónea de pluralismo, onde não existe lugar para uma “ideia directriz”, um propósito fundamental e fundamentador, encontre surpresa numa instituição que ainda tem critérios de admissão.
A mentalidade moderna impele o sacrifício da identidade (ou “constituição”, ou “essência”) ao altar dos números e recursos. A Igreja deveria destruir a sua essência, de modo a recrutar mais membros para o seu seio.
É nesse processo que a instituição se deteriora.
Rapidamente a instituição é esvaziada do seu conteúdo essencial (tradições, instituições, regras de pertença, mínimos de concordância, estrutura hierárquica, “telos”), dando lugar a um conjunto de crenças e justificações que a destroem.
A situção da Igreja é muito semelhante à das nações europeias no século XVII e XVIII.
Como bem observaram Burke, Voegelin, Burkhart, a Revolução não começa em França, nem sequer com Rousseau, Voltaire e D`Alembert, mas com a Reforma.
As “ideias modernas” atacaram a concepção de integralidade das “constituições históricas”. Substituíram os alicerces tradicionais das sociedades por uma obediência cega e inquestionável ao Rei (despotismo iluminado), às maiorias (soberania popular), aos consensos (vontade geral). Com isso despreza a integralidade da existência de uma comunidade por um símbolo parcial. Essa parcialidade conduz rapidamente à subversão da vida da comunidade, à desagregação das crenças que permitem um “sentido de justiça”, submetendo-as às concepções dominantes, do Poder e da Sociedade.
A perda da essência de uma instituição implica a sua igualitarização a todas outras instituições que se encontram em estado semelhante de degradação. Sem “telos” e tradições nada distingue uma instituição das outras. A instituição fica refém da vontade de seus membros. Daí a que a Igreja passe a associação filantrópica, a assembleia de culto, a sociedade anónima desportiva, resida apenas num acto de seus membros.
Sem o repositório tradicional e institucional das constituições não há resistência possível à dominação ideológica.
Essas são as razões de tanto escândalo!
Uma instituição que parece recomeçar a blindar-se contra a ditadura secularizante que só admite a pluralidade no âmbito de instituições vazias de tradições, de instituições de portas escancaradas à destruição dos seus próprios princípios. Quem se esquecer da discussão sobre a estrutura interna dos partidos e da iniciativa do Bloco Central em impor uma estrutura interna (democrática) a todos os partidos, não poderá compreender que tipo de pluralismo é defendido pelos donos da democracia portuguesa.

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quinta-feira, novembro 17, 2005

A Voz do Diabo

Foi com enorme gosto que vi dois textos meus publicados no semanário O Diabo.
Gosto redobrado por me encontrar entre textos acutilantes de Soares Martinez, Walter Ventura, de uma excelente recensão de Pinharanda Gomes...
Saliento ainda uma magnífica entrevista do Professor Veríssimo Serrão onde traça os erros estruturantes da democracia portuguesa e se centra, curiosamente, nas mesmas questões que focámos nos textos publicados.
O primeiro dos textos publicados por O Diabo pode ser lido aqui.
O segundo texto é o que se segue.


Os Paradoxos do Regime

No regime social-democrata que nos norteia existe um conjunto de adjectivos derrogatórios que têm como intuito afastar os visados do eixo de entendimento “politicamente correcto”. Seja o “fascista”, o “demagógico”, o “conservador”, todos servem para repelir o alvo, seja do consenso dos noticiários, dos “talk-shows” conduzidos por iletradas (sempre repletos de citações famosas), dos jornais dirigidos a futuros pertencentes da classe média, sempre ávidos de ecoar as últimas mediocridades e chavões dos seus medianos ídolos.
Nos últimos tempos surgiu o impensável.
Há cerca de dois anos Pacheco Pereira iniciou uma caça aos “populistas” da cena política nacional. Paulo Portas por um certo apelo nacional-cristão, Santana Lopes por uma “sede desmedida de poder pessoal”, mereceram o epíteto.
As considerações, amplamente difundidas pela comunicação social, revestem-se de uma bizarria quase anedótica.
O populismo é, por definição, concepção subjacente a qualquer regime social-democrata, uma vez que identifica o fundamento da comunidade com a causa do povo, com as suas condições de vida, com a igualdade (ou igualitarização material), com a identificação do público com o privado. O retrato perfeito do nosso regime!
A celeuma não pode, portanto, ser quanto à distribuição de dinheiros públicos em habitação gratuita, em incentivos à indigência e marginalidade, sejam eles designados por rendimentos mínimos ou sociais de inserção, ou apoio aos que voluntariamente se colocaram à margem da sociedade por via de crime, toxicodependência, ou associabilidade, uma vez que este é o principal traço do nosso desgoverno.
Não se compreende a surpresa nas últimas eleições autárquicas, pelas vitórias de Felgueiras, de Gondomar e Oeiras. Os “papões” que venceram o regime são a essência do próprio regime. Em nada diferem das posições partidárias, no propósito de dizimar dinheiros públicos em troca dos tão necessários votos. Isto tudo com o beneplácito maquiavélico dos que reduzem a acção política a uma busca de apoios “com vista à aquisição, manutenção e exercício do Poder”.
Nem se pode afirmar que seja uma questão de legitimidade e lisura, pois que muitos dos candidatos-arguidos menos mediáticos se mantiveram nas listas dos partidos para as autárquicas (em juntas de freguesia que não passam na TV).
O grande ponto que distingue os populistas dos democratas é a subordinação da sua acção política às estruturas partidárias, como se pode observar na total identificação de medidas de gestão autárquica perfilhadas entre os candidatos renegados e os candidatos oficiais dos partidos.
O problema do regime não será a forma como os políticos vendem a causa pública em troca de apoios, mas a forma como essa venda escapa ao escrutínio das lideranças partidárias.
A partidocracia blinda-se.

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segunda-feira, novembro 14, 2005

Allô, Presidente!

Estive há dias à conversa com um amigo que estranhava o facto de eu, monárquico assumido, votar nas Presidenciais.
A razão essencial prende-se com a necessidade que reconheço de, mesmo num regime degenerado como este, fazer o que está ao nosso alcance para encontrar um caminho menos mau para os nossos dias. Embora não concordando absolutamente com a Constituição de 1933, acreditando que as Constituições dos povos são princípios gerais que infundam um modo de vida e não uma disposição programática, poderia ter votado a favor no plebiscito. Da mesma forma que teria votado no Almirante Américo Tomás perante o perigo à soberania nacional que constutuia a candidatura “americanizada” de Humberto Delgado.
Infelizmente não existe neste momento um candidato menos mau às Presidenciais que se avizinham. Todos defendem o mesmo. Este regime, esta maneira de interpretar a Constituição, a venda de direitos sociais em troca de votos e silêncios dos sindicatos. Todos pactuam nisso. Uns até fazem dessa “igualdade material” ideologia...
Nas entrevistas os candidatos esforçam-se por nada dizer, tentando branquear as suas ligações com os partidos. Todas as entrevistas são más, sem ideias ou soluções... “Educação, competitividade, progresso... o nosso futuro e o das nossas crianças!”
Todas as banalidades do mundo concentradas em meia-dúzia de sujeitos...
Só a vontade de desferir um último golpe num velho criminoso, a vontade de matar o demagogo com o ferro com que este matou a pátria, pode levar um português de bom-senso a fazer uma cruz lá por alturas de Fevereiro...

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quarta-feira, novembro 09, 2005

Pátria Pateta

Foram sem dúvida caricatas as declarações de Manuel Alegre sobre a Pátria.
Num dos momentos humorísticos que vão sendo hábito na candidatura do Pateta-Alegre, o sujeito quis vender a ideia de patriota, soberanista e protector da Constituição, ideia que vai ganhando forma e que se vai começando a sedimentar no jargão político português.
Resta saber onde estaria Alegre no momento em que foram aprovados os tratados internacionais que remeteram a soberania nacional para uma existência residual.
Resta também saber onde estaria Alegre no momento em que se procedeu ao “orçamento limiano”, o mais grave atentado à ordem constitucional e violadora do espírito da dita (nomeadamente ao estruturante artigo 152º nº2).
Suspeito que tenha suspendido o seu mandato, votado contra, abandonado a votação...

No que respeita à Pátria o exemplo de patriotismo é Álvaro Cunhal.
Sim, esse mesmo! O que deu laudas à Primavera de Praga, até ter recebido ordens de Moscovo, passando assim a ver a acção como uma vergonhosa subversão do marxismo-leninismo. O que defendia o internacionalismo proletário na Europa, mas defendia os tribalismos-racistas assassinos (dos seus compatriotas) em África. Exactamente o mesmo indivíduo que apodava de antidemocratas todos os que se lhe opunham, sendo ele próprio um defensor do modelo leninista. O sujeito que ofereceu os ficheiros da PVDE a uma potência que lançou fogo a meio-mundo!
O tal que agora todos dizem ser um exemplo de coerência...

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terça-feira, novembro 08, 2005

Uma Nova Discriminação Positiva

O fenómeno mais interessante das Revoltas Francesas desta semana é a inexistência de um conjunto de propósitos e reivindicações. Cada vez que os jornalistas questionam os revoltosos a reivindicação é diferente. Respeito, integração, bom tratamento nas entrevistas de emprego, tudo serve para os meliantes justificarem as suas acções.
De estranhar os baixíssimos níveis de repressão empregues pelas forças policiais, apesar da utilização de armas de fogo. Parece que existe uma estranha auto-limitação, com vista a uma proporcionalidade de forças entre as partes. Proporcionalidade absolutamente injustificada, a não ser que se considere que deva existir um equilíbrio de forças entre crime e legalidade (como propõe o Reverendo Louçã).
A solução para o problema será sempre temporária.
A repressão, no caso de não conduzir a uma recondução moral, a uma defesa do bem comum que não permita uma pluralidade associativa que lhe seja prejudicial, será sempre um paliativo.
A implementação de medidas sociais vai resultar apenas em maiores crispações.
Se vier na forma de obrigatoriedade de servir um café de cortesia aos imigrantes candidatos a um emprego será cumprida a grande reivindicação dos revoltosos. Toda a gente já percebeu que os revoltosos não querem um tratamento igual. Querem viver à sombra do Estado Social. Querem preferência nos empregos (por deterem menores capacidades académicas). A integração só poderá ser feita à custa de gente mais capaz que será preterida na busca de emprego, e dos trabalhadores e empresas que serão onerados.
Resta saber se a integração social e laboral de imigrantes é uma prioridade para a comunidade, ou apenas para os que lucram com o aumento exponencial de oferta de mão-de-obra que. Também interessa saber de que forma os rendimentos laborais dos trabalhadores imigrantes que se transformam em remessas para o estrangeiro prejudicam a capacidade económica, de investimento e aforro, da comunidade portuguesa.

Falta relembrar, por muito que custe à mentalidade dominante, que “o querer não é razão”.

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sexta-feira, novembro 04, 2005

O Que Está em Causa nas Revoltas em França?

Acredita-se que os países europeus têm obrigação de ter portas abertas a todos os estrangeiros que queiram melhorar a sua vida (anti-xenofobia).
Acredita-se que o Estado tem obrigação de dar habitação, trabalho, alimentação e saúde a todos (socialismo).
Acredita-se que o Estado não possui orientações morais, estando por isso vedada qualquer proposição de virtude política e cívica, porque isso poderia colidir com as crenças de cada indivíduo (Estado neutro, Estado liberal, Estado multicultural).
Impede-se qualquer ideia de legalidade e ordem pública ao considerar que a intervenção policial é uma perseguição aos mais fracos (anarquismo).
Junta-se tudo e afirma-se em “mesas-redondas” que o Estado-Nação está a falhar!
Obviamente que falha...
Quando se pretende dar direitos sociais a todos e trabalhar 30 horas por semana, quando se quer baixar impostos e se insiste em sobrecarregar o Estado com tudo, desde a vacinação a seguros de culturas, a incentivos à reciclagem de plásticos, quando se quer contrariar a hegemonia dos Estados Unidos na cena internacional e depois se destroem as forças armadas ou não se faz um investimento militar (ou pior ainda se faz o apelo do pacifismo)...
Quem falha é o Estado ou é a mentalidade de quem quer tudo?... e o seu contrário!

quinta-feira, novembro 03, 2005

Recebido por SMS

“Boas amizades, bons tratados, boas alianças entre nações unidas por afinidades reais, são mais capazes de refazer a Europa do que a reunião amorfa e privada de qualquer vida profunda, à qual nos pedem para nos sacrificar as nações que a compõem.”

Salazar- Entrevista a Henri Massis in Salazar Face a Face, p.131.

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O Dito Fundamentalismo Cristão

Acho sempre interessante a forma como se retratam os tradicionalistas nos segmentos liberais da nossa direita. É de facto revelador da estrutura mental da “direita acidental” a forma como são retratados todos os que não pertencem à família politicamente correcta da pós-modernidade.
Ontem queixava-se um amigo da dita “direita” que os tradicionalistas estariam muito perto de posições teocráticas e seriam pouco mais que uns talibãs ocidentais.

Sempre achei o argumento bastante curioso, até pela recorrência com que a encontramos nos mais diversos “salões” culturais. Apesar de ser um argumento inválido, a ideia é bastante apelativa à mentalidade mais situacionista[1].
O erro na análise da pespectiva cristã (católica) deve-se ao pendor positivista na ciência política, na redução da ciência ao “palpável”[2], que destruiu a filosofia e o conhecimento do Bem (ou das directrizes de uma sociedade) em prol de concepções weberianas de Poder. A suposta neutralidade da ciência política weberiana traduz-se numa incapacidade de aferir a logicidade dos argumentos. Tudo é igual. À política concerne o estudo do Poder em vez da estrutra filosófica que o subjaz. Sobre essa matéria há apenas silêncio.

Essa destruição do pensamento estrutural tem levado a uma incapacidade de projecção do pensamento tradicional. A frequência com que se observam comentadores americanos insultar Pat Buchanan afirmando que este defende o estabelecimento de uma Teocracia tornou-se habitual. É a incapacidade ignorante dos que desconhecem como concepção fundamental do Cristianismo a existência de duas esferas interdependentes, política e religiosa. Digo interdependentes porque não existem esferas independentes. A existência de diferentes esferas da acção é assim uma salvaguarda da própria forma de vida cristã.
A política tem como objecto a realização da Natureza Humana, encontrar a vida colectiva (por norma política ou moral) que realize perfeitamente[3] essa sociedade. Isto não significa (pelo contrário) que o Cristianismo tenha uma tendência imanentista. O Homem é um ser incompleto, por natureza. Não tem, por isso, conhecimento absoluto da natureza das coisas. Essa incompletude é traço marcante do nosso ser e do nosso mundo. Por isso é que para um Cristão (católico, como já disse) a tentativa de mover uma guerra ao Pecado é um pecado contra-natura. Tanto os calvinistas, como os puritanos, como os modernos (subprodutos desta revolução gnóstica-reformista) insistiram na guerra contra um traço permanente da humanidade. Lançaram-se na guerra contra o Homem por visarem e acreditarem que a incompletude da sua existência poderia ser resolvida através da vontade colectiva (Rousseau e Herder), da racionalidade (Kant e Marx) ou pela irracionalidade (Nietzsche e o Hitlerismo).
O Cristianismo não pode deixar de repudiar todas estas concepções, uma vez que estas violam a essência do conjunto de crenças em que este se baseia. Repudia essa tentativa de destruír o pecado. Tenta reprimir o pecado que impossibilita a vida da comunidade e a consecução das suas finalidades, mas não tenta realizar uma formatação do Homem à imagem dos anjos, não tenta criar o paraíso terrestre quer pela eliminação da existência de pecado, quer pela ideia de que tudo é pecado (ver Voegelin, The New Science of Politics) .
O homem é perfectível, mas incapaz de ser perfeito.

Por isso são, como sempre, inestimáveis os contributos do Aquinense.
A política lida com a virtude, mas deve preocupar-se com as virtudes políticas que possibilitam o Bem Comum. O Estado deve consagrar a prossecução de finalidades cristãs, mas nunca se constituir como fonte de espiritualidade, ou como parte da Igreja. A autoridade política não é religiosa, embora os seus fins tenham de ser a realização do Espírito e estejam, por isso, intrinsecamente ligados à comunidade de crenças. Só através dela se poderá compreender o lugar do Homem na ordem das coisas...
E para que o sujeito se englobe neste Bem Comum não é necessário que seja Cristão, basta apenas que se considere mais um elo numa cadeia de gerações que engloba passado e futuro, a que chamamos Nação.


[1] O culto da moderação é uma das marcas principais das nossas sociedades. Mais interessante por não possuír uma estrutura analítica que permita aferir onde está o “justo meio”, calculando assim os extremismos exagerados...

[2] Ainda estarei para saber de que forma é que o Bem Comum é algo de etéreo e a vontade individual é tangível.

[3] Entenda-se “perfeitamente” no sentido de completude. A doutrina aristotélica coloca a realização política como suprema por ser ela a mais elevada expressão de um colectivo, unido num poder através de vínculos espirituais de amizade política.

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quarta-feira, novembro 02, 2005

O Nortenho Montaignista e Outras Histórias Antigas

O Buiça parece o Montaigne que, após ver a variedade das formas de vida no mundo salta para a conclusão de que não há verdade, que é mais importante conhecer os processos de conhecimento do que os objectos.

Também existem muitas formas de executar operações matemáticas e nem por isso deixa de existir um raciocínio lógico que permite aferir a sua validade ou invalidade. Isto é óbvio e demonstra que esse argumento não é um argumento, mas propaganda!

Não, Buiça, nem todos os portugueses das ex-colónias lutaram contra Portugal! Foram abandonados pelos portugueses de cá. Os portugueses tinham obrigações das quais não podiam prescindir… Da mesma maneira que o Estado português não pode prescindir de qualquer cidadão! Essa ideia de que os angolanos queriam ser independentes tem a mesma veracidade que a afirmação de que os portugueses da metrópole ansiavam pelo socialismo…

O que o Chesterton afirma sobre as nações é que toda as discussões sobre as origens tribais das nações são irrelevantes. O que interessa são as tradições culturais…

Chesterton diria certamente que a nossa cultura está ameaçada… mas não me parece que estaria preocupado com a cor dos olhos ou a tez da população! O argumento de Chesterton é precisamente que a Nação e sua cultura foi o factor de integração (deValera, Burke (anteriormente deBurgo), Nagel (deAngelo), são todos nomes de imigrantes na Irlanda que se tornaram famílias tradicionais e influentes na Irlanda)… O que temos de assegurar é que existe de facto essa aculturação! Para isso é fundamental evitar uma imigração massificada e evitar o estado multiculturalista (salvaguardando as diferentes culturas no seio de uma sociedade, num mesmo telos).

Depois existe a questão da análise de um pensamento…

Mas tal análise pressupõe no objecto uma coerência que não se compadece com o diz e desdiz, que é niilista à segunda, pagão à terça, liberal-clássico à quarta. Requer um pensamento ou um qualquer escrito em que se explane uma perspectiva...

terça-feira, novembro 01, 2005

O Espírito de uma Nação


Quando um simplista quer complicar alguma coisa bastante simples, de modo a passar por mais inteligente do que é, recorre frequentemente à definição. Por isso define o outro de maneira superficial e prossegue no seu erro elaborando toda uma teoria recorrendo aos aparelhos conceptuais que conhece. Quem se habitua à realidade das cores, uma realidade superficial, nunca conseguirá compreender o que se esconde atrás delas (a refracção da luz, o valor da estrutura material). Para os simples o branco é branco, o preto é preto, o violeta é violeta, e “porque sim”.
A invenção dos nacionalistas “Minho Timorenses” é um fruto de inteligências (fica ao vosso critério o uso da palavra) mal-formadas, que consideram que as ideias se moldam aos nossos desejos. Antes éramos um Império e como fôssemos poucos tínhamos que convencer os outros que os acolhíamos no nosso seio... A ideia é um regresso da concepção utilitária-marxista. Estes neo-marxistas são duplamente desonestos. Primeiro porque se encontram imersos numa teoria materialista, claramente vinculada ao materialismo marxista (Marx era àvido leitor de Hume). Em segundo lugar porque querem saber mais das escolhas dos nossos antepassados do que eles próprios, afirmando que estes não acreditavam nos princípios professados, mas que olhavam para as ideias da mesma forma que eles, tendo em conta os seus interesses materiais (algo absolutamente insustentado).
É por isso fundamental insistir na não existência de um pensamento do passado e outro do futuro, mas de um pensamento cristão e outro que se lhe opõe.
Uma Nação que é mais que uma Tribo! Que é espírito e não corpo...
Que rejeita o racismo, como sempre rejeitou (como é facilmente demonstrável pela existência na Cristandade de escravos brancos e negros, de negros possuidores de negócios e mesmo de escravos, de escravos por motivos espirituais, no caso os judeus), por ver que a fixação no corpo impede o florescimento do espírito.
Não é possível ser cristão, ou defender os valores cristãos, e fazer a apologia de que o mais importante é o corpo!
Em boa verdade não se apresentam face a nós duas alternativas de espírito. Apresenta-se um racismo-materialista e uma espiritualidade que prossegue a tradição filosófica clássica-cristã, anti-materialista e anti-imanentista!
Está fácil de ver que a questão nada tem a ver com o Minho, Timor, o Cabo Horn ou o Bangladesh, mas com saber “quem somos nós”.

Deixo-vos este texto de Chesterton sobre a inutilidade das questões raciais.
A nação transcende a raça, como o espírito transcende o corpo!

“As I have said above, these defences generally exhibit themselves most emphatically in the form of appeals to physical science. And of all the forms in which science, or pseudo-science, has come to the rescue of the rich and stupid, there is none so singular as the singular invention of the theory of races.
When a wealthy nation like the English discovers the perfectly patent fact that it is making a ludicrous mess of the government of a poorer nation like the Irish, it pauses for a moment in consternation, and then begins to talk about Celts and Teutons. As far as I can understand the theory, the Irish are Celts and the English are Teutons. Of course, the Irish are not Celts any more than the English are Teutons. I have not followed the ethnological discussion with much energy, but the last scientific conclusion which I read inclined on the whole to the summary that the English were mainly Celtic and the Irish mainly Teutonic. But no man alive, with even the glimmering of a real scientific sense, would ever dream of applying the terms “Celtic” or “Teutonic” to either of them
in any positive or useful sense. (…)

That sort of thing must be left to people who talk about the Anglo-Saxon race, and extend the expression to America. How much of the blood of the Angles and Saxons (whoever they were) there remains in our mixed British, Roman, German, Dane, Norman, and Picard stock is a matter only interesting to wild antiquaries. And how much of that diluted blood can possibly remain in that roaring whirlpool of America into which a cataract of Swedes, Jews, Germans, Irishmen, and Italians is perpetually pouring, is a matter only interesting to lunatics. It would have been wiser for the English governing class to have called upon some other god. All other gods, however weak and warring, at least boast of being constant. But science boasts of being in a flux for ever; boasts of being unstable as water. (…)

And England and the English governing class never did call on this absurd deity of race until it seemed, for an instant, that they had no other god to call on. All the most genuine Englishmen in history would have yawned or laughed in your face if you had begun to talk about Anglo-Saxons. If you had attempted to substitute the ideal of race for the ideal of nationality, I really do not like to think what they would have said. I certainly should not like to have been the officer of Nelson who suddenly discovered his French blood on the eve of Trafalgar. I should not like to have been the Norfolk or Suffolk gentleman who had to expound to Admiral Blake by what demonstrable ties of genealogy he was irrevocably bound to the Dutch. The truth of the whole matter is very simple.
Nationality exists, and has nothing in the world to do with race. Nationality is a thing like a church or a secret society; it is a product of the human soul and will; it is a spiritual product. And there are men in the modern world who would think anything and do anything rather than admit that anything could be a spiritual product. (…)

Now, of this great spiritual coherence, independent of external circumstances, or of race, or of any obvious physical thing, Ireland is the most remarkable example. Rome conquered nations, but Ireland has conquered races. The Norman has gone there and become Irish, the Scotchman has gone there and become Irish, the Spaniard has gone there and become Irish, even the bitter soldier of Cromwell has gone there and become Irish. Ireland, which did not exist even politically, has been stronger than all the races that existed scientifically. The purest Germanic blood, the purest Norman blood, the purest blood of the passionate Scotch patriot, has not been so attractive as a nation without a flag. Ireland, unrecognized and oppressed, has easily absorbed races, as such trifles are easily absorbed. She has easily disposed of physical science, as such superstitions are easily disposed of. Nationality in its weakness has been stronger than ethnology in its strength. Five triumphant races have been absorbed, have been defeated by a defeated nationality.
This being the true and strange glory of Ireland, it is impossible to hear without impatience of the attempt so constantly made among her modern sympathizers to talk about Celts and Celticism. Who were the Celts? I defy anybody to say. Who are the Irish? I defy any one to be indifferent, or to pretend not to know. Mr. W.B. Yeats, the great Irish genius who has appeared in our time, shows his own admirable penetration in discarding altogether the argument from a Celtic race. But he does not wholly escape, and his followers hardly ever escape, the general objection to the Celtic argument. The tendency of that argument is to represent the Irish or the Celts as a strange and separate race, as a tribe of eccentrics in the modern world immersed in dim legends and fruitless dreams. Its tendency is to exhibit the Irish as odd, because they see the fairies. Its trend is to make the Irish seem weird and wild because they sing old songs and join in strange dances. But this is quite an error; indeed, it is the opposite of the truth. It is the English who are odd because they do not see the fairies. It is the inhabitants of Kensington who are weird and wild because they do not sing old songs and join in strange dances. In all this the Irish are not in the least strange and separate, are not in the least Celtic, as the word is commonly and popularly used. In all this the Irish are simply an ordinary sensible nation, living the life of any other ordinary and sensible nation which has not been either sodden with smoke or oppressed by money-lenders, or otherwise corrupted with wealth and science. There is nothing Celtic about having legends. It is merely human. The Germans, who are (I suppose) Teutonic, have hundreds of legends, wherever it happens that the Germans are human. There is nothing Celtic about loving poetry; the English loved poetry more, perhaps, than any other people before they came under the shadow of the chimney-pot and the shadow of the chimney-pot hat. It is not Ireland which is mad and mystic; it is Manchester which is mad and mystic, which is incredible, which is a wild exception among human things. Ireland has no need to play the silly game of the science of races; Ireland has no need to pretend to be a tribe of visionaries apart. In the matter of visions, Ireland is more than a nation, it is a model nation.”

in Heretics, cap.XIII “Celts and Celtophiles”

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