sexta-feira, julho 25, 2008

Os Julgamentos do Povo no Pós-Comunismo

Em Portugal tem se escrito muito pouco sobre a detenção de Radovan Karadzic. Tal é normal numa nação dormente em que o “canudo” se ganha por absorção de uma mensagem e não pelo estudo rigoroso de problemas. Num país com milhares de licenciados em Relações Internacionais não há uma voz discordante, não há uma reflexão sobre a legitimidade de instituições “neutras”, não existe alguém que questione como é que no caso da “pequena Maddie” todos sejam inocentes até prova em contrário e como é que se prepara uma repetição na Haia do sucedido com Milosevic.
Há um equívoco enorme nos nossos dias criado pela “mentalidade dicotómica”: ou se defendem os tribunais internacionais ou se pactua com os crimes de guerra. Esta ideia reflecte uma concepção ridícula de Justiça que se apoia em premissas grosseiras, que seriam humorísticas se não fossem tão perigosas.
O internacionalismo da decisão judicial como característica legitimadora ou geradora de uma melhor decisão (mais próxima da verdade) é ridículo e lembra os tribunais populares do PREC em que a inclusão da decisão a santificava, mesmo quando eram visíveis erros grosseiros. Para mais, a ideia de que a norma internacional, porque partilhada, consentida e pactuada por todos os Estados, reflecte algo superior aos interesses do forte e tem um carácter que lhes é superior (nem todos os conjuntos são superiores à soma dos seus membros), é também ridícula, sabendo nós que o entendimento que lhe subjaz é tudo menos uma reflexão ou aceitação de normas de justiça, mas uma troca de favores e lealdades por dinheiro e apoios, que faz dessa justiça uma anedota. Um tribunal militar americano seria muito mais justo que este simulacro.
Constituir um tribunal internacional é apenas uma tentativa de disfarçar a justiça parcial sob a guisa de uma aceitabilidade geral. Existisse uma verdadeira “comunidade internacional” e todos os países e respectivas opiniões públicas, estariam felizes e a dizer “já apanhámos Milosevic e Karadzic, agora falta apanhar os criminosos bósnios e croatas” que procederam a violações sistemáticas e a homicídio de não-combatentes. Sobre isto, nada. As indignações selectivas do costume.
Para além disso, a Nova Sérvia demonstra não ser um país de confiança, porque aceita a incapacidade da sua estrutura judicial para julgar um presumível criminoso e prostrando-se perante os donos do entendimento internacional que lhe infligiram a sua mais recente amputação.
Deve ser esta a elite pró-europeia que recebe a confiança dos nossos governantes…

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O Blogue Mais Blogue

Só com muito atraso dou aqui nota do fim do Afinidades Efectivas.
Era dos meus três ou quatro blogues preferidos e insubstituível.
Acabou-se o tempo dos blogues?
O Paulo vai fazer muita falta.

segunda-feira, julho 21, 2008

Prudência como Virtude e a Reeducação do Professor Hess
















Talvez a mais importante virtude do recente livro de Pat Buchanan tenha sido o recentramento da discussão da política externa nos aspectos prudenciais. Pode não se concordar que a Churchill deva ser assacada a responsabilidade pela queda do Império Britânico, da mesma forma que se pode criticar algumas insuficiências no tratamento de alguns pontos importantes. O certo é que, exceptuando alguns histerismos, toda a discussão interessante se tem centrado na decisão política, na definição de males maiores e menores, ou seja, naquilo que deve ser a política em sentido puro (definição dos elementos a preservar e ordenação da acção nesse sentido). Essa é já uma grande vitória de Buchanan.

O que Buchanan realizou no seu último livro não foi uma reequação das finalidades da comunidade ou uma interpretação do Ocidente. Buchanan esteve sempre do mesmo lado. Na sua obra, a Civilização Ocidental, composta pela tradição judaico-cristã e por uma estrutura de legalidade e constitucionalidade, é um dado. O que Buchanan questiona é, tão simplesmente, a forma como uma política de absolutos (guerra total, disponibilidade total) gera compromissos absurdos, que servem tudo menos para a prossecução das finalidades da comunidade, dessa forma tentando demonstrar como as políticas de "democratização" e "progressificação" ocidentais conduzem a uma situação insustentável e que periga a justiça interna das comunidades.
Em lado algum se ouviu santificar o comunismo ou o nazismo, da mesma forma que em lado algum se ouve Buchanan reduzir a norma da acção inspirada pela prudência a um mero jogo mecanicista de forma de obtenção de desejos.

Só uma caracterização muito boçal, vinda, por exemplo, de um nazi-arrependido e apostado em ficar nas graças dos poderes que o rodeiam, pode reduzir uma ética de lealdade à institucional e prudência (a tal de Aristóteles, São Tomás de Aquino, Burke…), a uma imoralidade e aceitar como argumento difuso a salvação de vidas para desrespeitar todos os juramentos e obrigações de obediência feitos anteriormente. Imagine-se o que aconteceria se um Primeiro-Ministro, decidido a salvar vidas em África, desviasse a receita pública para o Burundi. Isso é que seria ganhar prémios e comendas dos humanitários de serviço…
A incapacidade de compreender que as questões morais são mais complexas do que a "salvação de vidas", revela uma mentalidade simples, disposta a fazer o “jeitinho” aos detentores do poder. O argumento do esclavagista é sempre “lembra-te de quem te salvou a vida”, como se a vida fosse, em si, o mais elevado dos bens.

É evidente que o argumento de Buchanan não é que “só pode intervir num conflito quem é ameaçado directamente”, como afirma o plagiador-mor da New York Review of Books, – sempre apostado em deformar a realidade para servir os recados que deseja enviar – mas que na altura da intervenção, os custos não podem exceder os benefícios, deitando a perder o “longo prazo” e as finalidades que a comunidade prossegue internamente. Tal descrição é triste imagem de gente que deveria ter a obrigação de interpretar um texto e um argumento (e que parte daí para falar em direitos de ingerência humanitária, imagine-se).
Um retrato bem bonito do nosso país...

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Cu de Judas

A paródia que tem sido ver a comunidade cigana da Quinta da Fonte a reclamar por habitações paga com o dinheiro dos contribuintes é uma bonita demonstração dos resultados do Estado Social e do socialismo. Gente que não apresenta rendimentos, deve muitos meses de renda e tem viaturas e bens, armas e sei lá mais o quê, apresenta ao Estado a reivindicação de uma habitação que mais lhe convenha, longe de vizinhos indesejados a expensas do contribuinte.

Não sei o que se diria de populações que pedissem para ficar longe da comunidade cigana, mesmo depois de se ter visto que a dita se encontra pronta para fazer uma “Intifada” em qualquer bairro deste país. A certeza de que deve ser a comunidade a dar aos ciganos uma nova habitação, em vez de estes adqurirem uma com os seus rendimentos ou voltarem à vida nos típicos acampamentos, mostra que não há fim para o problema social. Quando todos têm casas, ou se importam mais comunidades ou se aceitam como legítimos anseios reclamações que nada são senão desculpas para se manter o sistema de financiamento à construção e o sistema clientelar de voto.

Qualquer apelo ao Estado Social é, neste momento, uma forma de pactuar com esta vergonha...

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quinta-feira, julho 17, 2008

O Jornalismo de Agora















Adquiri hoje por cinco euros um pedaço de lixo a que se decidiu chamar Visão História. Os artigos não chegam a ser maus. Temos por exemplo um senhor chamado Filipe Luís que acha que o facto de Salazar ser do signo zodiacal Touro (e de o partilhar com Saddam Hussein e Hitler) é matéria relevante. Calculo que para este senhor as colunas de Maya ou Amarilis Taveira nas “revistas do coração” sejam historiografia fundamental do século XX.
Esta Visão História faz-se também de grandes tiradas como “Se Salazar tivesse feito psicanálise…” ou Salazar era “receoso”, “saloio”, “atrofiado”, que não fazem mais do que demonstrar a pequenez intelectual do sujeito que as profere e que ainda se encontra a ler pela cartilha psicologista da década de setenta, entrecortada com a mentalidade do peri-urbano que se julga um cosmopolita.

No caminho, alguns disparates ridículos como chamar a Salazar um “autocrata”, ignorando que Salazar nunca (ao contrário de outros ditadores do seu tempo ou Napoleão) reclamou a ordem política como emanada da sua pessoa, ou chamar delfim de Salazar a Marcello Caetano.

O melhor de toda a revista é o artigo de Miguel Carvalho. Segundo esta eminência, antes do 25 de Abril “o pão sabe a merda, mas ninguém diz nada”. Claro que ninguém diz nada por causa da repressão. Esta era tão grande que “A PIDE sufocava o choro das mães” na partida dos filhos para África. Falta fazer essa contagem dos mortos...
Ainda do mesmo artista (articulista, leia-se) deve ter-se em atenção a tentação de olhar para o passado com os olhos do presente. A IGAE era a ASAE de então, cheia de capacidade repressiva. As prisões do Estado Novo, que foram alvo de rigorosas inspecções de vários organismos internacionais, são comparadas a Guantanamo (onde os prisioneiros se encontram agrilhoados todo o dia e detidos sem acusação há vários anos).
A falta de imaginação para compreender o passado sem as muletas do presente, sem as “causas” que preenchem o jornalismo dos nossos dias, é bem ilustrativa da destreza mental e escola ideológica do senhor.

Em toda a publicação não há uma novidade, uma ideia original, algo que se destaque.
Fala-se de "pobres e ricos", mas não se fala da vida da gente comum, que habitava a cidade e o campo, tinha trabalho, tinha dinheiro para viver sem luxos, não tinha a vida empenhada ao banco, que estudou e pôs os filhos a estudar para serem os jornalistas de hoje. Esta gente virá toda da Musgueira e não conhecerá outra realidade que não seja a miséria?
Portugal é retratado como um país de patrões e serviçais, esquecendo que havia nesta época maior percentagem de gente a trabalhar por conta própria do que nos dias de hoje.
Fizessem estes senhores psicanálise e veriam, porventura, que o obliterar da sua memória se deve a um esforço sobrehumano de serem bons aprendizes de feiticeiro. Não muito diferentes da rapaziada que enfileirava pela Mocidade e sonhava com outras recompensas...

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terça-feira, julho 15, 2008

Sexo, Amor e o Fim do Preconceito

Insurge-se o Luís Aguiar Santos contra os preconceitos da sociedade e de algumas tradições religiosas contra a homossexualidade. O argumento é interessante e recorrente no pensamento moderno: se fossem retirados alguns preconceitos da discussão sobre o Amor poder-se-ia criar uma nova interpretação Cristã.
É claro que esse argumento se depara com um conjunto de problemas. Primeiro porque concentra o Cristianismo no fenómeno e não no númeno. Segundo, porque não consegue proceder à compreensão do Cristianismo enquanto experiência histórica.

Quando se fala em dar um sentido novo ao conceito de Amor, que abarca todas as suas formas, é preciso ter consciência de que nenhum sentido existe sem o preconceito. Quando alguém se diz Cristão, inspirado por um conjunto de preceitos que provêm de uma Entidade Divina que se revelou aos homens, não pode prescindir da compreensão dos elementos que fazem parte da interpretação humana desses elementos. Nesse ponto é fundamental perceber que nem toda a ânsia de unidade com um objecto é amor, a não ser que possamos falar de amor ao dinheiro, a animais ou a coisas inanimadas. Caso aceitemos que se possa falar de Amor nestes casos, estamos a utilizar uma palavra para definir algo que na Civilização Cristã tem dois sentidos: Amor e Desejo.

O Desejo no Cristianismo, ao estilo do Eros grego, significa toda a força que impele os seres humanos ao contacto. O Amor, por seu turno, implica a ordenação dessa força vital no sentido do cumprimento de um conjunto de preceitos que correspondem, como já Aristóteles havia compreendido, ao cumprimento da verdadeira natureza humana. Nesses preceitos estão incluídos alguns deveres e a concepção fundamental de que a vida humana é fruto de uma conjugação de duas formas sexuais, duas “naturezas” unidas no mesmo propósito. Tentar eliminar a questão do “género”, uma das mais evidentes realidades humanas, da “equação” sexual implicaria um processo de invalidação de toda a “experiência cristã”. Aceitar-se que toda a relação entre dois seres humanos pode ser de Amor conduz-nos a um mundo em que tudo pode ser amor, mas nada o é. Reinventando-se o significado do amor segundo os termos humanos e da sociedade (dizendo, p.ex., que o Amor é deixar o outro à sua autonomia), poder-se-á citar as Escrituras para defender que a virtude moral se encontra no pai que deixa o filho drogar-se à vontade ou a filha prostituir-se.
Se se podem escolher os significados da Revelação, com base na Razão Humana, resta saber quais os preceitos morais que ficam a salvo desta.

É evidente que aqui estamos a falar de uma Nova Revelação de autoria humana, símbolo de uma vaidade desmedida e que leva o Senhor Arcebispo de Armagh (num texto citado pelo LAS) a declarar “inadequada” a posição de São Paulo sobre a Natureza Humana (quinto parágrafo a contar do fim). Fica apenas por saber o que irá acontecer se, por acaso, o Senhor Arcebispo se lembrar que a Bíblia é constituída por relatos e que muitos poderão estar adulterados pelos homens, encontrando-se ao alcance da sua pena e dos seus desejos alterá-los de forma mais “adequada”...

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quinta-feira, julho 10, 2008

Sobre a Tal Religião Política das Ilhas











(futuros representantes de Deus na Terra?)

Diz o amigo Luís Aguiar Santos que nas sociedades católicas o secularismo penetrou com maior violência e com maior sucesso que nas anglicanas. Não me parece que tal seja verdade, ainda que exteriormente assim pareça.
O anunciado cisma na Igreja Anglicana sobre a ordenação de “bispas” é o regresso a uma secularização encapotada que é o traço essencial do anglicanismo. Se uma pessoa se quer divorciar e o direito canónico não permite, declara-se que o Rei tem capacidade para o fazer. Se a sociedade acha que um segmento da população tem o direito ao sacerdócio, ainda que não exista nenhuma boa razão para tal, muda-se a lei, ainda que não exista no seio da reflexão religiosa um argumento interno (uma interpretação coerente das Escrituras ou uma melhor compreensão da doutrina) que tenha alterado o papel ou a natureza desse género. O que existe são apenas elementos exteriores e societários forçados e sobrepostos à doutrina. É perfeitamente evidente que a ideia de que o papel da mulher pode ser igual ao homem, não provém de qualquer reflexão doutrinária, mas de uma adaptação aos tempos da doutrina. Que Revelação será essa?
Isto (juntamente com uma religião que mistura obediência política e religiosa e como substrato comum um conjunto vazio que vai da High Church a formas religiosas de uma vulgaridade assustadora) é suficientemente grave para percebermos como se pode chamar religião a um projecto político que é secular, mas que pretende manter vestes cristãs.

A aceitação do bispado feminino teve uma feliz consequência. Mostrou que não é através da diluição do Catolicismo que a unidade dos crentes se fará.

terça-feira, julho 08, 2008

Sinais Exteriores de Vazio















Num recente artigo de opinião João Carlos Espada fez a perfeita demonstração da inutilidade do pensamento dos conservadores-liberais. Para além de expressões de horror como “good lord”, tão enraizadas na tradição do bom povo português, JCE explica que a maravilha da tradição britânica consiste na manutenção de um conjunto de práticas do tempo em que a cortesia imperava e os modos eram doces.
Para além de uma visão distorcida da liberalidade vitoriana, o que o texto demonstra é a superficialidade dos elementos a preservar. O importante a preservar em Wimbledon ou em Ascot são os elementos exteriores, indumentárias e um certo ambiente nobiliárquico.
JCE não se insurge contra a indisciplina, contra a transformação de uma prática desportiva num negócio em que ganhar é o mais importante (sacrificando-se a honestidade ou a saúde, como nos casos de “doping”, aos resultados) ou contra a perda da verdade desportiva (a excelência da própria prática), uma vez que “numa sociedade livre, as coisas mudam, e ninguém pode controlá-las artificialmente.” O que preocupa JCE é a perda dos sinais exteriores de identidade, ainda que absolutamente desligados da nobreza da prática, como se um assassino de cartola e fraque fosse melhor que um esfarrapado.

Esta ideia de “gentlemanship”, absolutamente absorvida por maneirismos e códigos de conduta é uma ideia britânica e que se deve sobretudo à criação nobiliárquica da “Glorious Revolution”. Com a erosão da ideia e sociedade Cristãs em Inglaterra e a subordinação ao poder temporal do Cristianismo, a sociedade de obrigações morais e espirituais foi substituída por uma virtude de serviço à sociedade e por um código de conduta social sobreposto às virtudes do catolicismo. Esta habilidade de servir o Rei, mesmo contra os fundamentos cristãos, tornou-se bastante útil, sendo uma das principais armas para o aburguesamento da nobreza britânica que permitiu que esta permanecesse sem sobressaltos até ao século XX, embora absolutamente reduzida a um carácter de empregadora de província, de proprietária de “sweat shops” e despida do seu sentido primordial.

No fim do texto JCE dá-nos a chave para compreender a sua mensagem. Se deixarmos coexistir as tradições e o progresso, as pessoas vão escolher o que preferem. Esquece JCE que se assim for, nenhuma tradição existirá. Amanhã os tenistas irão para Wimbledon em roupa interior e, segundo JCE não haverá qualquer tipo de problema porque a população assim deseja.

É evidente que estamos a falar de Tocqueville e do problema da modernidade trazer consigo as sementes da destruição da sociedade, facto que só pode, segundo o autor francês, ser impedido por um conjunto de mitos religiosos, científicos, económicos que impeçam a dissolução dos laços comunitários. É nisso que JCE, com os seus incessantes apelos à tradição britânica e a sua incapacidade de aceitar qualquer elemento perene ou superior à vontade popular, tem falhado redondamente (Tocqueville é curto). Um cristianismo sem Fé, que serve apenas para manter a comunidade e o progresso económico é tudo menos a voz segura da perenidade a que Burke se referia.


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quinta-feira, julho 03, 2008

É Subjectivo

Esperei dois dias. Nem uma palavra vi escrita sobre o assunto. Esperei as gargalhadas histéricas do público ou um “sketch” humorístico. Em vão. A linguagem política degradou-se de tal forma e a mentira tornou-se tão frequente em “politiquês” que o população, os jornais e os opositores políticos já nem dão por ela.
Nas “Notas Soltas” desta semana, em jeito de conclusão, António Vitorino brindou o povo português com o que de pior têm os políticos deste tempo. Quando Judite Sousa o questionou sobre como irá ser a vida dos portugueses com o barril de petróleo a 200 USD, António Vitorino excusou-se a responder. Perante a insistência da jornalista e a afirmação desta de que a vida iria piorar para os portugueses com tal evento, Vitorino respondeu “não vai ser pior, vai ser diferente”.
Prometido o paraíso, este agora é remetido para o domínio da subjectividade. Pagar 50€ por uma refeição numa tasca pode não ser mau para um obeso crónico, assim como pagar 10€ por um bilhete da Carris pode ser bom para os defensores do ambiente ou para quem precise de andar a pé.
Ainda dizem que o português é pessimista....

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quarta-feira, julho 02, 2008

Monomanias e outros defeitos














Há uma diferença entre este aspirante a plagiador de baixo QI e outros plagiadores de índole mais profissionalizada. Este fala sobre livros e artigos que leu e dá os links para a recensão da New York Review of Books e até para o artigo que supostamente plagiou. Outros lêem recensões da NYRB e escrevem artigos (sobre livros emprestados...), não referindo a fonte. Já não percebo nada disto! Plagiador é que cita, ou o que não cita? Sobre plágios, ficamos conversados...

Também recorrente no segundo tipo é a projecção que faz de si nos outros. Acham que os outros escrevem para fazer frete a terceiros. Habituados a uma racionalidade instrumental, subordinando a razão aos desejos mundanos, acham que só por encomenda alguém pode escrever algo que os contradiga, uma vez que é esse o critério que lhes conduz a acção. Daí imaginam amplas reuniões de trabalho onde um sujeito encapuzado distribui sinistras missões a bloguistas de serviço. Para teoria da conspiração não está mal, mas para quem se diz guiado por elevados padrões morais, avançar que pessoas, que não se conhecem, se encontram a soldo de outras (vá-se lá saber quem...) é um toque infeliz. Uma mancha que só parece atingir os que têm uma referência moral extrínseca.

A utilização da imagem e do título é o toque final de “finesse”. Ataca-se como revisionista uma pessoa que afirmou não concordar com a tese exposta no referido livro “revisionista”, que já escreveu amplamente sobre a natureza do regime nazi e a quem é reconhecida a intolerância com esses erros. Dir-se-ia que o autor do ataque só conhece um tipo de insulto e um tipo de caracterização do oponente, mas tal é impossível dados os enormes recursos intelectivos da pessoa em questão. "Saber" não é o mesmo que ser "sabido".

Ao contrário do que diz o Jansenista, não me parece que o problema seja de QI. Não sei de onde surgiu a ideia de que o insultei. Denunciei apenas a obsessão de uma pessoa que vê nazis e revisionistas em todo o lado e que por isso tomou Pat Buchanan, um respeitado comentador político americano, por George L. Rockwell ou David Duke. Uma confusão que se poderia compreender em pessoas menos ilustradas ou em bloquistas mais exaltados, mas não em pessoas educadas, eruditas e de elevado QI.
O problema é de “ego” quando um reparo é tido por insulto, mas passa a ser de “alma” quando se reduzem os argumentos dos outros a meros obstáculos no caminho do próprio “ego”.

A educação é muito mais que a escolha de botões-de-punho...

terça-feira, julho 01, 2008

Modern Age Nº.49


























Com quase um ano de atraso foi lançada em formato electrónico a Modern Age nº49.
Podem ver em cima a lista dos artigos e autores que, como habitualmente, é do melhor que se pode arranjar.

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Explicação Necessária














Após o lançamento do livro de Pat Buchanan “Churchill, Hitler, and "The Unnecessary War": How Britain Lost the Empire and the West Lost the World”, surgiram enormes discussões sobre Churchill e o seu papel na História. Tornou-se rapidamente o grande tópico de conversa e debate entre “as direitas” e um interessante elemento diferenciador entre as várias sensibilidades “conservadoras”.

Ainda não concluí a leitura da obra, mas o argumento não me está a impressionar, porque me parece claro que a reformulação europeia que a Alemanha Nazi queria realizar seria suficiente para, em poucas décadas, destronar a hegemonia britânica.
Para além disso o problema da Paz de Versalhes é tratado por Buchanan de um ponto de vista infelizmente esquerdista, ao defender que a Alemanha não teria outro caminho que não fosse a guerra. A análise da natureza do regime nazi é também pouco cuidada na obra, sendo que merecia alguma sustentação mais sólida. A crítica nunca vai para além de algumas frases de descontentamento ou de desprezo. Ou seja, encontramo-nos longe do melhor de Buchanan.

Existem algumas boas críticas ao livro de Buchanan. A de Lukaks (apesar do erro final), publicada na revista de Buchanan, é bem apanhada e percebe que o erro do livro consiste numa sobreposição de W. Bush a Churchill que tem demasiados borrões. A de Weatcroft, na NYRB, também percebe o mesmo e percebe-lhe os méritos e os erros (as inconsistências de Churchill e a incapacidade de prever a extensão e consequências da guerra à partida, respectivamente). Só o Jansenista é que não percebeu isso e de maneira leviana levou a sua caçada ao nazi a Pat Buchanan (nem o Prof. Espada, filho afectivo de Churchill e de um austríaco de que não me recordo o nome, caiu em tamanho disparate), utilizando frases retiradas de panfletos protestantes do século XIX como “Buchanan parece, além disso, viver num mundo de obscuridade e de ignorância”, que ilustrariam melhor um filme de “cowboys e índios”, do que uma reflexão séria sobre um livro. Não sei se o Jansenista o leu, mas já começa a parecer um menino que só sabia uma música.


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Reciclagem














Ando há uns tempos a tentar escrevinhar alguma coisa sobre o fim do comunismo e sobre o elemento essencial deste mundo pós-comunista que reside no “comuna reciclado”. Quase todos os que governam a Europa lá andaram em maior ou menor conluio, durante mais ou menos tempo. Compreender o que é que mudou nas suas mentes e que reformulações dos seus quadros conceptuais sofreram, é o grande trabalho para os sociólogos dos próximos vinte anos.

Peter Hitchens foi mais esperto e foi observar o fenómeno macro, onde o pós-comunista não é uma casta governante, mas uma nação. Conhecedor da realidade soviética, Hitchens traça com mestria o retrato da “wasteland” comunista que propiciou a entrada e predomínio na cultura russa dos mais baixos elementos da cultura ocidental, a massificação e ganância.

Deixo-vos algumas citações, na esperança de que leiam a totalidade do artigo. Para que o povo nunca esqueça...

"Partly thanks to us, partly thanks to the horrible moral consequences of totalitarian socialism and the near extermination of God by systematic commissars, the new Russia is a lawless snake pit. It is dominated and populated by men stripped of morality by more than 70 years of cynical Leninism. But though the new rulers are the products of Marxism, they lack its driving purpose—or any real purpose except the gaining and keeping of wealth and power.
So Moscow, once the sacred heart of world Communism, has become a sort of Babylon, the most exhilarating, tasteless, and expensive city in the world, where you can procure anything for money and the nasty negative charisma of gangsters and spivs is on constant display. I cannot think of any other advanced capital in which you can see, side by side, all the manifestations of modern civilization and the symptoms of anarchy—ostentatious bodyguards, fenced-off compounds."


"And I remembered coming back to the West, full of optimism, in 1992. And then I remembered seeing, year by year, in my own country and the U.S., new versions of all these subtle horrors: the “children’s rights” movement that encourages denunciation and sets children against their parents, the shoving of infants into daycare from an incredibly early age, the need for two salaries to pay the basic bills, the epidemic of divorce, the pandemic of abortion, the growing spiteful rage against faith. I saw all around me the construction of a system of thought that dismissed conservative, individualist points of view as intolerable and pathological. I saw public servants, academics, and broadcasters having their careers ruined—and in Britain being questioned by the police—for expressing incorrect opinions. Private life, in the modern West, is now becoming significantly less free than it is in post-ideological Moscow. "

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