terça-feira, maio 31, 2005

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Strauss e os Neos

O Batalha Final apresentou um texto muito interessante sobre o “Neo-Conservadorismo, Neo-Liberalismo e o Lobby Judeu”. Existem porém alguns pontos que será fundamental precisar, particularmente em torno da figura de Leo Strauss e do seu envolvimento com o ideário neo-conservador.

A identificação de Wolfowitz com Strauss é uma identificação manifestamente insuficiente e uma extrapolação desprovida de sentido.
Politologicamente não é possível imaginar duas concepções tão distintas como a posição neo-conservadora e o jusracionalismo político de Strauss. O neo-conservadorismo apresenta-se como uma ideologia provinda do cepticismo e das teorias do conhecimento prático e tácito, muitas vezes mal imputadas a Burke, que provém de Polanyi e da filosofia britânica do séc. XIX, que desembocaram no pragmatismo americano, ideário que faz a ponte filosófica entre o neo-conservadorismo e a esquerda (“liberal” e “democrat”) americana, de que provêm originariamente os “esquerdistas reciclados” que agora se chamam neo-conservadores…
É por demais evidente que a perspectiva racionalista de Strauss é radicalmente incompatível com estas concepções pragmáticas e anti-clássicas. Strauss é talvez o maior ressuscitador da concepção clássica de filosofia, radicalmente oposta ao pragmatismo americano.

Strauss era também um grande opositor do liberalismo. Só desconhecendo a sua obra se poderá considerar o autor alemão um neo-liberal… É patente a visão pós-liberal da obra straussiana, a tentativa de “revolução conservadora” que o identifica como pensador da tradição prática alemã e fervoroso apologeta da tradição clássica da filosofia ocidental.
Nessa medida se inscreveu sempre num combate anti-moderno. Em “The Three Waves of Modernity” diagnostica o erro da Modernidade e o erro de Maquiavel (não era um maquiavélico, deixando esse traço para Harvey Claffin Mansfield, que também não é neo-conservador sendo straussiano), que consiste numa obsessão com a prudência (a “vertú”) que olvida a concepção do Bem. Assim inscreve a sua teoria numa certa forma de aristotelismo renovado. A modernidade é um facto que tem de ser lidado de forma a reconduzir o Homem à “felicidade”.

Esta revitalização da cultura como caminho para a “felicidade” e o “justo” é um traço distintivo da obra de Strauss, que é manifestamente oposta a qualquer concepção liberal que se possa imaginar (conhecerá alguém um liberalismo teleológico?).
A identificação de Strauss com os Neo Cons reside essencialmente no ponto platónico da Nobre Mentira. A reivindicação de Kristol, p.ex., a essa concepção reabilitada por Strauss é em nada identificável com o straussianismo.

A Nobre Mentira de Platão, recuperada por Strauss, reivindica a defesa de uma “verdade insuficiente” como forma de preservar a mais elevada existência dos homens, da sua vida no Bem.
A Nobre Mentira deve estar ao serviço do espírito, algo que é impossível numa oligarquia como a americana.
O ponto que o Rebatet observa como ponto de contacto entre os neo-conservadores e os straussianos é o elitismo. É sem dúvida bem observado, mas também insuficiente, uma vez que o elitismo é, por natureza, transversal a movimentos de esquerda e direita, populares e aristocráticos… O socialismo foi elitista (veja-se a maçonaria socialista em exercício), como o comunismo(veja-se o papel do “intelectual” na teoria de Lenin), o integralismo, o nazismo.
Há variadas teorias que defendem o uso de mentiras e a maior capacidade das elites em prover para a “besta”… A “Razão de Estado”, pós-maquiavélica, é muito mais facilmente adequável a esta perspectiva pragmática, pois inclui uma doutrina anti-clássica que lhe é muito semelhante.

Os neo-conservadores falam de Strauss como os marxistas falam de Jesus…

No restante congratulo-me bastante com o apreço que os Conservadores Tradicionais suscitam ao Rebatet, e solidarizo-me com a preocupação, expressa tantas vezes por Pat Buchanan, com o excessivo poder do lóbi sionista no Governo dos Estados Unidos.

segunda-feira, maio 30, 2005

Que se unam os Blogues pelo Não!

Mais sobre o Distributismo

Muitas respostas às nossas questões sobre o Distributismo estão aqui.
Um texto que merece bem a sua leitura. Enquanto isso vamos conhecendo novos autores...
A Casa de Sarto em versão internacional.

Movimento do Nunca!

Seria bom que os soberanistas se unissem num Não português, num não que não seja marxista, socialista ou social democrata, num não que não esteja colado à esquerda do Pacheco, do Garoupa (Jerónimo), do Reverendo Anacleto.
Seria também bom que o CDS não estivesse nas mãos do PPE e que se assumisse como um partido português, seguindo as inclinações eurocépticas dos seus líderes…
É um contra-senso a existência de uma direita federalista na Europa!

Que Medo

Com o Não da França a União Europeia irá sofrer enormes abalos económicos, as instituições ficarão bloqueadas, os países entrarão em crise política… virão pestes e fomes, mulas-sem-cabeça e, por fim, o ataque final dos vampiros!

Déjà Vu!

O Santos da Casa relembra os caminhos do 28 de Maio...

Nunca

O Não ao Tratado Constitucional da União Europeia é um ponto de partida fundamental para Portugal. Mas o Não não é resposta suficiente. Há que traçar razões para o Não, razões reais, razões que defendam a essência de Portugal, fito essencial da direita portuguesa, num mundo cada vez mais avesso a tudo o espiritual, a tudo o que possui uma tradição, um enquadramento.

Terá de ser dito que o Não da esquerda não é um Não, mas um Sim. A esquerda concorda com os pressupostos de uma Constituição Europeia. Concordam com a fusão de todos os povos da Europa numa União Proletária, numa Federação Socialista Revolucionária, numa Europa Social. O problema é que o Tratado não é assaz comunista, socialista ou esquerdista, para eles.

Todas as instituições têm um fundamento constitutivo, por esse facto não existe qualquer escândalo em que exista um Tratado Constitucional Europeu, algo que já existia nos Tratados de Roma, Paris, Amesterdão… O problema surge quando se pretende pegar num tratado internacional e dotá-lo de um poder político autónomo, de uma capacidade política e uma personalidade política própria.
Uma União Europeia dotada de personalidade jurídica, independente das suas partes constitutivas, gerará uma Europa esquizofrénica.
Um país conduz a sua política externa, mas a que predomina é a do Ministro dos Negócios Estrangeiros da União.
Um país está dotado de capacidades legislativas, mas apenas as que estão subordinadas à ordem jurídica da União são válidas.
O que sucede é, basicamente, que o poder formal fica nos Estados, o real na União, que agora ganha personalidade superior à dos seus constituintes.
Absolutamente todos os actos dos Estados ficam à mercê da Europa. A União poderia até boicotar todas as actividades de um governo, ao legislar sistematicamente contra ele.

A contribuir para esta farsa reinventou-se o conceito de subsidiariedade. Um conceito absolutamente estéril no contexto dos tratados europeus. O princípio consagra que deve ser responsável pela decisão política e pela sua aplicação aquela instituição política que tem capacidade para a aplicar suficientemente e que esteja mais próximo dos cidadãos.
Enquanto que a subsidiariedade medieval dava poderes à instituição subsidiária para determinar a sua esfera de influência e esse “contrato” se tornaria parte da constituição política, a subsidiariedade eurocrática arroga-se no direito de determinar absolutamente os poderes dos órgãos que lhe são subsidiários, bem como os critérios de avaliação da suficiência da acção política.

Os países da União Europeia encontram-se num impasse. O Sim é a vitória de uma Europa inconcebível, o Não levanta muitos problemas. A Europa não pode ser mais socialista do que é agora. É uma impossibilidade material que a Europa progrida economicamente e seja mais “social”. Os eurocratas têm de forjar uma aliança…
E têm de escolher entre a extrema esquerda e os soberanistas e eurocépticos.

A União Europeia é um Tratado Internacional, não é um projecto civilizacional ou espiritual. É uma união de interesses de várias nações e não uma personalidade superior à dessas partes constituintes.

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terça-feira, maio 24, 2005


Um Amor

Quando um amigo meu vem ao Pasquim estranha sempre a ausência de uma palavra que repito incessantemente no meu dia-a-dia. Raras vezes a proferi aqui. Guardo-a. Fica para o presencial, como todos os sentimentos bons.
Hoje partilho-a aqui convosco!

Cessem os que repetem os estafados lugares-comuns.
Uns dizem-no Estadonovista, outros dizem-no velho símbolo do antifascismo. Uns dizem-no popular, outros fidalgo arruinado…
Só algo muito forte e viçoso pode sobreviver a esses ataques, à tentativa de aproveitar o que é total para o que é parcial…

A bandeira não é um fim, mas uma representação! Quem a ergueu como estandarte da União Soviética nada mais fez que uma idiótica associação vexilógica…
O vermelho é a cor predominante do escudo português, da Cruz de Cristo, a cor dos tradicionalistas Miguelistas, a cor da lealdade a Cristo…
Um clube que persistiu nos ideais do espírito, da verdade e justiça, na tradição portuguesa, no fomento do desporto português e para os portugueses, em levar o nome de Portugal a todo o mundo.

O Benfica é Portugal!

BENFICA!!!

Um Ano de Geraldo

A ausência de um terminal impossibilitou-me de escrever, em tempo útil, um post de agradecimento ao Geraldo. Digo de agradecimento e não de parabéns, porque se o valor das coisas se pode aferir pela repercussão positiva que tem em nós, o Geraldo encontra-se na causa mais directa de uma das actividades mais importantes da minha vida, que é o Pasquim.
Foi no meio das nossas discussões das terças-feiras que surgiu a ideia de fazermos um blogue. O Luís com um caminho vedado pela cretinice partidocrática, eu pelo ódio às ditas agências de colocações e emprego, resolvemos que iríamos fazer qualquer coisa juntos, que nos levasse a dizer o que nos parecia mais importante, sem problemas de censuras, sem a necessidade de bajular editores… Nas nossas cabeças o Geraldo e o Pasquim eram, na altura, um só projecto.
Por oportunidade o Pasquim e o Manuelinho (o precursor do Geraldo) avançaram em dois sentidos diferentes (não divergentes), mas pode dizer-se que o Pasquim é uma versão informatizada das nossas discussões, no meio de perguntas e respostas.
O Pasquim e o Geraldo continuam fiéis à sua causa de dizer o Bem, de cumprir de Portugal, de serem vozes independentes…

O Tirapicos diz que o Pasquim é o melhor blogue da sua geração… Eu não acredito, mas pergunto apenas, em forma de elogio, quantos blogues haverá por aí de putos (como nós) que têm a devoção que nós temos pelos nossos projectos?
"Lutaremos sem medo, sem espetáculo, orgulhosamente sós"

Um enorme abraço

sexta-feira, maio 20, 2005

Corporativismo, Distributismo e Igualdade

É curioso que A Casa de Sarto publique nestes dias um texto sobre o Distributismo. Parece-me que existem poucas ideias político-económicas verdadeiramente humanas nos dias que correm e por isso é absolutamente louvável a difusão dessa poiética Chesterbelloquiana. Mais importante quando se compreende que a estrutura política e social portuguesa está absolutamente esgotada

Há ideias fundamentais que ressaltam no texto publicado pelo Rafael Castela Santos, que são centrais nos nossos dias e que não se enquadram apenas no sentido das doutrinas católicas, mas em todo o pensamento das “direitas”.

— A Superação Filosófica —

Muitos vêem na direita a apologia da desigualdade. É uma ideia falsa, mas compreensível. Ao passo que a esquerda[1], a força desagregadora da sociedade, luta por uma ideia de igualdade para coisas que não são iguais, precisamente por haver destruído o critério (o ponto central de onde ver aquilo que de si está afastado), a direita (ou o que deveria ser a direita) luta pela diferença, mas não por uma diferença absoluta. A direita deve lutar por justiça, que não passa pela igualitarização do todo, como a esquerda pretende, dando o mesmo ao que contribui com 1 e ao que contribui com dez[2], mas dando proporcionalmente à contribuição. Neste ponto o fundamental é encontrar o critério e esse é o papel do filósofo, em auxílio do político.
O Filósofo viu o problema com profética limpidez no Livro IV da Política. De um lado encontram-se os extremados defensores da Liberdade, que reclamam para si os direitos de posse da coisa pública para atacar os ricos, igualitarizando (quer moral, quer materialmente), servindo-se da riqueza das classes abastadas para sobreviver…
No outro lado está a “classe dos ricos”, que defende o direito à sua propriedade, tomando a posse como valor absoluto, considerando-se desobrigada perante os restantes membros da sua “polis”, sendo proprietária, pelo seu contributo, da Pólis.
Poucas análises serão tão actuais quanto esta reflexão de há vinte e três séculos. Poucas terão traçado tão perfeitamente o sentido da época de decadência da “polis”…

Como viu Aristóteles, o impasse que ocorre nas sociedades centradas entre estas duas perspectivas de sociedade, inconciliáveis, só pode ser resolvido pelo filósofo, na sua acção revitalizadora dos princípios. Toda a Justiça é uma “relação de igualdade”, o critério e aplicação que permitem a distinção valorativa dos objectos. Toda a busca política deve ser essa.
Esse foi o papel de Chesterton e Belloc.

—Uma Terceira Posição—

A solução de Chesterton e Belloc foi uma posição de recrudescimento do critério, do fundamento. Essa via verdadeira do reavivar da Tradição opõe-se à mera vontade de uns ou outros, nem sequer tentando arranjar compromissos (são loucos perigosos os que tentam arranjar compromissos onde eles não são possíveis, como observamos nas amálgamas de Partidos Populares que encontramos pelos países da Europa, grandes responsáveis pela vitória do socialismo nesta parte do globo) entre ambas as partes. Pretende um olhar para o caminho e não para os desvios…
Ao invés de pretender prosseguir o caminho trilhando os caminhos do populismo-nacional-social (como Khadaffi ou José António, que muitas vezes se entrecruzam com o socialismo, a grande doutrina populista do século XX), ou do conservadorismo-populista (de Disraeli, do século XIX, de de Gaulle), prossegue nos difíceis caminhos da Tradição, do intemporal, da Filosofia Perene.
Tanto ataca o liberalismo e o privatismo elevado à categoria de religião, como ataca a concepção de totalitária de domínio público, que se consagra numa sociedade de massas, no centralismo absolutista, no indivíduo vazio e submetido à ditadura do déspota (maquiavélico, hobbesiano, nietzscheano, schmitiano), ou do proletariado…
Ataca-os de forma a remover a ditadura do “homem-vazio”, reinserindo-o na tradição que permite o “dever ser”, que preenche o homem com uma concepção superior de estruturação e ordenação do mundo.

— Organicismo —

A preocupação em reinfundir os princípios orgânicos da sociedade é um princípio primordial na teoria distributista. O renascimento dos corpos intermédios (associações de moradores, mutualistas, corporações profissionais, etc.) é pedra-de-toque do restabelecimento de um pensamento anti-igualitário, não centralizado.
Como Evola diagnosticou com propósito, o igualitarismo massificante foi culminado pela destruição da estrutura descentralizada da Idade Média. Acrescentamos nós que esse ataque é anterior à Revolução Francesa (que não foi mais do que a consagração completa das ideias que já grassavam em França) e que provém da supremacia dos Pombal, Richelieu, Cromwell e da divinização da “razão de Estado”, sucedâneo do maquiavelismo.
Uma sociedade saudável passa pela aceitação das diferenças das diferentes parte das sociedades, pela especificidade da sua função para o todo. Encontra-se aí precisamente o inverso da nossa sociedade, em que o “Estado todo-poderoso” estrutura todos os organismos, mesmo os mais insignificantes. Veja-se, por exemplo, o combate da pseudo-democracia abrilina em ataque cerrado ao Partido Comunista Português por fazer “eleições de braço-no-ar”. A seguir obrigarão todos os partidos a realizar primárias… Depois a que os líderes dos partidos sejam eleitos por toda a população!
É o Estado quem manda nos partidos, o que corresponde a uma limitação da escolha, não só limitando as ameaças ao sistema, mas a qualquer concepção divergente…


—O Poder contra o poder—

O Distributismo é também uma reafirmação do político contra o económico. É uma afirmação do que temos vindo aqui reiteradamente a afirmar, o predomínio da justiça sobre o privatismo procedimentalista e o conceito de “fairness” como fuga do político à dificuldade da escolha entre certo e errado, entre moral e imoral, entre Bem e Mal.
O Liberalismo exime-se de emitir um juízo sobre a acumulação de riqueza e sobre a distribuição da mesma, porque não considera que exista uma ideia superveniente que a regule, que estruture o conjunto de relações privadas dos indivíduos.
O Distributismo afirma a preferência pela propriedade (especialmente a terra) fraccionada, uma forma de responsabilizar e dar à sociedade a possibilidade de uma produção real, não fundada na especulação, mas na utilidade directa do producto.
A propriedade é um meio e não um fim, estando por isso subordinada ao Bem da comunidade política, na linha do afirmado pelo pensamento conservador (em sentido lato, mas não liberal).

—Desafios—

O Distributismo não é, contudo, um mar de rosas.
Primeiro porque o poder central está inquinado pelo germe do igualitarismo. Por isso é muito difícil estabelecer desigualdades forais entre instituições, ainda que umas funcionem bem e outras mal, umas respondam às necessidades e outras não. A dificuldade é ressurgir o espírito ageométrico dos “forais”, das liberdades que eram privilégio e recompensa…
Desafio mais interessante e custoso quando a realidade se apresenta como um deserto, incapaz de florescer qualquer ideia que não seja total. Qualquer sindicato ou união laboral se encontra impregnada de uma concepção total da sociedade. Ao invés de apresentar e defender os interesses corporativos, defendem uma concepção política, como se de partidos se tratassem (sabemos todos os partidos que estão por detrás dos nossos sindicatos). Assim vemos os sindicatos a defender a diminuição do desemprego, a aceitação de imigrantes, ou a defender um direito abstracto à reforma e a subsídios públicos…

Por outro lado existe a necessidade de conseguir equilibrar o progresso material com a vida plena de valores. O ruralismo a que Chesterton e Belloc aludiam tem de ser repensado à luz da corrida material em que vivemos, compreendendo que só uma sociedade altamente desenvolvida em termos técnicos pode sobreviver neste mundo.

São desafios para uma Justiça no século XXI.

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[1] Utilizo esta forma em sentido muito lato, uma vez que compreendo nela os bloquistas, os sartreanos, os heiddeggerianos (de esquerda ou direita), os nihilistas…

[2] Justiça aritmética.

Bolas de Isaiah

O Presidente de todos os socialistas esteve no Wolfson College a proferir uma palestra...
Não se via nada tão mau no dito local desde a Festa Grega de Dezembro!
E nesta não houve copos à borla...

Já está!

Em resposta à solicitação do Rafael e do FG Santos, já se encontram novos links na coluna...
E mais o Aringa do Macombe e Arte da Memória!

quinta-feira, maio 19, 2005

Perdão Três Vezes

Encontrei com muito atraso o Aringa do Macombe! Que tristeza...
Ainda por cima reparei agora que me foi solicitada uma questão!
O Aringa parece muito familiar...
A gozar com oxionenses, a ler Strauss!... Seremos amigos?

Votos de permanência na blogosfera!

E aguente um bocado quanto ao esoterismo e exoterismo do Strauss, que eu depois lhe digo alguma coisa...

Devem já ter reparado na minha falta de tempo...
Vem já aí um post fresquinho!

Sobre o post "Episódios da Vida Sexual"

Não resisto a transcrever um comentário do JRA no Nova Frente, que sintetiza tudo o que me apetecia dizer sobre os incentivos estatais à sexualidade adolescente.

"Meu caro Nelson

Eu até compreendo a sua preocupação que é, aliás, a mesma dos bem intencionados "modernaços" que exigem uma "educação sexual despida de tabus". O problema é não saberem as causas das tais taxas de SIDA e de DST's, bem como das razões porque as nossas adolescentes engravidam. E neste ponto, deixe-me dizer-lhe você é CULPADO pelo seu liberalismo que atinge, por vezes, a libertinagem. A razão não está na falta de conhecimentos dos nossos adolescentes(ainda recentemente um inquérito, acerca do uso de preservativo e da possibilidade de apanhar SIDA, feito em Portugal, provou isso mesmo). A razão não está na falta de educação sexual. A razão está no hedonismo praticante que a sociedade portuguesa adoptou. A razão está na falta de educação para os valores. A razão está na falta de educação cívica e moral e, principalmente, na falta de educação para fortalecer a força de vontade (estas faltas não são, de modo nenhum, culpa dos adolescentes, mas da sociedade que os educa e acha esse ensino retrógrado, conservador e , nalguns casos, fascista). Enquanto o hedonismo se mantiver na nossa sociedade, não haverá aulas de educação sexual que nos livrem do flagelo. E, já agora, deixe-me dizer-lhe que o problema não é assim tão antigo. Nas quantidades de hoje (e refiro-me, obviamente, à gravidez na adolescência, visto a SIDA ser um fenómeno ulterior)só apareceu depois do 25 de Abril. Mais um malefício do golpe do pré.
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Nota: não é a inteligência que diferencia o Homem dos animais; é a capacidade de resistir às forças instintivas, é a força de vontade."

terça-feira, maio 17, 2005

Uma boa malha do Geraldo

Excelente ideia, agradeço a inclusão (imerecida)!

segunda-feira, maio 16, 2005

Garantia Socrática

1. Quando tomar posse não irei falar sobre o passado e as dívidas dos anteriores governos.

2. O problema do país é o clima de alarmismo acerca do défice.

3. Como diz o Presidente, há vida para além do défice…

4. Os impostos não subirão neste biénio.

5. O que é preciso é pensamento positivo…

6. Não faremos como o anterior governo que destruiu a confiança dos investidores ao incumprir as promessas eleitorais.

7. O problema do país é a Pobreza. Prometo uma prestação suplementar para todos os reformados…

8. Não seremos reféns da esquerda radical.

9. Destruiremos a evasão fiscal.

10. Tomaremos medidas enérgicas desde o início do mandato…

Jorge Sampaio

“O primado do Direito Europeu já existia! (antes do hipotético, futuro, incerto, Tratado Constitucional Europeu)”

Actualizações na Revista

Um teste de posicionamento político, (mais) uns textos sobre o conservadorismo e livros gratuitos...

sexta-feira, maio 13, 2005

Poema Pós-Moderno ao Pateta Alegre

(A métrica, a rima, o interesse deste verso que compus são de gosto duvidoso, mas isto da pós-modernidade dá sempre certo!)


Velho combatente das Praias de Argel
Como sol de Verão manso
O calor que na manteiga dá,
Dá em nós o sabor a ranço
Do teu versejar

Estava fresco na sombra de África,
Punhas gelo na bebida,
Sabias a Pátria caída
E estavas-te bem a cagar,
Teus amigos a tombar,
E à conta da tua “querida”
Andavas-te a bronzear

Agora está cá mais frio,
Mas um frio que mal se sente!
Se o Sampaio lá chegou,
Pode lá ir toda a gente!
E cumprirás o sonho,
Sem saber ler nem escrever,
de Pateta a Presidente.


O Corcunda

Modernidade, Liberalismo e Racismo

O nosso amigo Buiça achou um pouco fantasiosa a identificação que fiz da sua religião, o liberalismo, e do racialismo biologista. Achou uma “novidade na ciência política”!
De facto não existe qualquer novidade na coisa…

É com a grande desagregação do institucionalismo que emerge a concepção liberal, desagregadora da ordem, sempre ladeada de novas reformulações de critérios de pertença política.
Uma determinada posição política implicou, constantemente, uma reequação da problemática da pertença comunitária.
O institucionalismo postulava a participação (consciente ou não) numa ordem, um conjunto de pressupostos obrigatoriamente subordinados ao topo hierárquico. A modernidade veio trazer a erosão dessa concepção, ao considerar que a pertença comunitária seria independente da ordem. Ao tradicional que considera o homem como peça na engrenagem dos tempos (inserção numa continuação histórica), o esquerdismo moderno tentou fazer prevalecer o indivíduo como reduto essencial da comunidade política.
À medida que se desagregou esse conjunto de tradições, tentou-se substituir essa pertença institucional por um conjunto de ideias novas. Assim surge a tentativa de Saint-Simon, um dos fundadores do esquerdismo europeu e precursor do marxismo, de definir como pertencendo à comunidade os indivíduos com uma mesma origem racial.
É um factor demonstrativo da desagregação da ordem que se “dispa” o homem da sua existência institucional, histórica e tradicional e passe a ser caracterizado por um conjunto de genes ou características fisionómicas.
Esta concepção perdurou no ideário de esquerda por muito tempo.
Os esquerdistas da I República fizeram esta mesma apologia…
Tentaram, como grande parte dos utilitaristas da monarquia republicana do século XIX, restringir a pertença política a uma massa informe de gente com as mesmas origens, mas não inserida num contexto filosófico.
Esta descontextualização do homem é um ponto essencial da “política de massas” e do totalitarismo, ponto observado por Burke, Tocqueville e Gassett e no facto já muitas vezes referido da impossibilidade de julgamento moral do homem do Homem desenraízado.
É o assumir completo de que a política não deve ser uma partilha noética, uma partilha do “ser”, e não uma partilha do que é inferior, como características genotípicas. Pobres dos que encontram como fundamentalidade do seu ser, as características do seu corpo, porque estão condenados a viver na “Cidade dos Porcos” a que aludia Platão, a cidade da materialidade, do efémero e do passageiro…
Pobres dos que não conseguem encontrar na “teleologia”, a ciência dos fins, o espírito que os insere, que os faz grandes no serviço do eterno!
Como sempre a tradição aristotélica-tomista apresenta a solução, contra os disparates da modernidade…
A essência do objecto está nos seus fins e não na materialidade que a compõe!
A essência está sempre na realidade, porque é nela que existe a “ideia”!
Cabe-nos cumprir essa natureza, revelando e realizando a “ideia” de Homem!

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Racista de Esquerda

Um esquerdista qualquer que escreveu um livro sobre a descolonização acabou de dizer que a mesma foi uma benção, porque demonstrou uma sociedade dinâmica, e fez reconciliar a posição de Portugal com o seu Europeísmo. “Portugal é aqui e não em África”, dizia…
Pelo mesmo raciocínio os pretos têm de voltar todos para África, ou não?

Cumprem-se 30 anos do Êxodo de Angola e Moçambique!

Há quem não se cale e ainda diga na comunicação social que Soares, Costa Gomes, Coutinho são o que são... Filhos da Puta!

Magia Rosa

Há uns meses atrás tínhamos um governo fraquito, fragilizado por ataques constantes dos media, por falta de coesão e invejas. Tínhamos uma oposição que apresentava muitas ideias, em geral irrealistas, e que tinha como bandeira uma suposta partidarização das forças policiais e do aparelho jurisdicional.
Hoje temos um governo que opera sob a máxima guterrista (menos acção, menos erros, menos visibilidade, menos crítica), que apesar de todos os diagnósticos dos erros da anterior governação, nada mudou, à excepção de concursos públicos (esses que dão sempre direito a uma “lembrancinha”)!
Pior ainda é a total inoperância no desmantelamento dessa rede de influências, que gerou cabalas e manipulou a investigação policial para destruír o PS…
Ou será que manda quem pode?

quinta-feira, maio 12, 2005

Fascismo Sem Rede

O termo Fascismo englobou um conjunto de sentidos que, em grande medida, não encerraram uma mesma essência. É muito difícil encontrar em todos os movimentos e grupúsculos um traço de identidade subjacente. O que parece evidente, sem entrar em grandes teorizações sobre o fenómeno, é que o fascismo é uma resposta moderna a alguns problemas que a própria modernidade colocou. O fraccionamento das sociedades causada pelas ideologias modernas e pelo individualismo atomista e massificador, a destruição da religião e dos seus pressupostos de justiça e comunidade, a emergência de um cosmopolitismo racionalista destruidor da virtude comunitária e dos sentimentos…

A resposta fascista emergiu em várias direcções, mas em particular na formação de uma Religião do Estado. O Estado emergiu assim como entidade total, abrangendo o espiritual e o terreno, apresentando-se como inquestionável e indisputável por colocar na actividade governativa o poder de uma religião secular, de colocar a decisão como auto-justificada pela sua própria acção. Este imanentismo estatista é a essência do fascismo, no dizer do Prof. António José de Brito. Pela mesma razão o referido professor aceita com naturalidade os epítetos de “totalitário” e “imanentista” com naturalidade, não os usando como arma retórica, mas em propriedade terminológica.

Nesses dois pontos reside grande (mas não toda) medida do meu desacordo com o fascismo.
Uma sociedade pode encontrar apenas a Justiça, a realização de uma ideia superior ao contingente, compreendendo a natureza, e portanto a vocação, do ser humano, se interpretar a ordem das coisas. Como a realismo tomista bem compreende, observar a natureza das coisas e o seu lugar na cadeia da existência, a partir do real. Essa realidade escapa absolutamente a um Estado que torna a sua organização e decisão uma religião, e único critério do “político”. Qualquer teorização de um “dever ser” se encontra impossibilitada, uma vez que qualquer teorização se encontra subordinada à norma jurídica…
O Estado fascista é imanentista, porque toma o aqui e agora como horizonte máximo da sua existência, porque toma uma unidimensionalidade terrena limite da acção humana.
É totalitário porque destrói a existência escatológica do Homem, colocando “terreno” como máxima aspiração da existência humana, colocando o político no pedestal do religioso, fechando o Homem na sua existência circunstancial e material.

O Fascismo teve também um espírito regenerador, que me parece cristalizar-se sobretudo no pensamento e vida de José António. Uma tentativa de resolução da dicotomia direita/esquerda, de ressurgimento da Nação e dos seus princípios estruturantes, da emergência de uma nova justiça. Infelizmente a síntese resultou sempre numa contaminação irremediável de esquerdismo totalitário e imanentista (andou sempre aí a pairar Hegel), a justiça acabou por ser mais socialista (quasi-marxista) que nacionalista tradicional, e a Nação resultou numa confusão estatista, num argumento modernista (um Estado distribuidor de direitos individuais e não portador de uma moral e acervo de obrigações superiores à vontade de seus membros).
Por isso, como já disse muitas vezes, considero o fascismo uma excelente intenção, a tentativa de superar o impasse despótico do Ocidente, que englobou o excelente diagnóstico da “Revolução Conservadora”, mas que errou nas soluções, em particular por se ter embrenhado demasiado no seu “espírito do tempo”.

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quarta-feira, maio 11, 2005

Integralismo

O Rafael queixava-se da inexistência de um local onde estivessem as grandes obras do Integralismo Lusitano. O Unica coloca ao dispôr esta página com muito material!

Com Bonecos

Os amigos do Causa Liberal e d´O Insurgente queixaram-se da ausência de livros sobre Edmund Burke "com bonecos"... Suprindo esta lacuna existe o livro de Nicholas Robinson "Edmund Burke: A Life in Caricature", que mostra a evolução da vida política de Burke através das caricaturas feitas por várias publicações do seu tempo.
Vale bem os onze contos...
E se forem a alfarrabistas de Londres arranjam por quatro!

Mais uma "boa malha" do Absonante

terça-feira, maio 10, 2005

Edmund Burke

Quem quiser ficar a conhecer mais sobre o "whig" contra-revolucionário pode visitar esta página, que apresenta um conjunto de links para recursos sobre o autor. É nesta página que vou colocando links para textos que me parecem úteis sobre o anglo-irlandês, portanto espero a vossa colaboração, caso encontrem páginas ou textos interessantes sobre o autor...
Agradeço desde já algumas contribuições do Rafael, que já estão linkadas!

Falta de Vergonha!

Estupidamente Exemplar

A Esquerda, do BE ao Padre Malícias, anda em polvorosa por causa das tendências totalitárias da Igreja Católica em Timor.
É óbvio que Timor está em pré-guerra civil e que mais uma vez os culpados são os descolonizadores. Andaram os palhaços abrilinos a brincar às “Obrigações Imperiais” há meia dúzia de anos para conseguir a independência de Timor-Leste…
Infelizmente não pensaram (como é seu apanágio) nas consequências dos seus actos…

Alguém pode explicar que tipo de existência ou projecto político original tem o Povo de Timor-Leste, para além da relação cultural com Portugal e da Fé Católica?
Se retirarmos ambas as coisas (a primeira já foi extirpada com o fim do domínio português) o que poderá distinguir o lado Leste do lado Oeste da Ilha?
Será uma língua que só os velhos falam? Na Indonésia existem várias línguas… Porque é que o Português de Timor haveria de dar direito a independência?

Governado por socialistas Timor é igual ao outro lado da ilha… E por este andar nem a sua identidade restará!
Bastou ver como os socialistas se apressaram a negociar com a Austrália o idioma inglês como oficial, que logo se viu o futuro e as razões da independência de Timor!
Foi só uma mudança de moscas…

Tanta militância, tanto minuto de silêncio, tanta gente vestida de branco, para isto!
Mas foi uma palhaçada onde a malta se divertiu e conheceu gajas nas vigílias...
Pensar é que não!

domingo, maio 08, 2005

A Direita do Futuro- Rumo ao Fundamento


O Problema

Vemos por aí a direita almoçadeira. Como dizia Miguel Esteves Cardoso, esta direita almoçadeira é filiada no Partido Comodista Português. A “situação” é forte. A direita enquistou-se na esquerda, uma direita filha do MFA. A “direita que convém à esquerda” é esta! Não só por proximidade, mas por ter abdicado de ser direita…
Mas se o referencial muda, porque mudam as alianças estratégicas, é forçoso que exista essência, mesmo num conceito sobretudo prático, uma essência que defina o conceito. A pureza de uma ideia é melhor servida com o dogmatismo na verdade (não há, nem pode haver, meio-termo no sentido da Verdade), com prudência na acção. Essa acção será boa enquanto for no sentido dos bens finais da Ideia. Por isso o dogmatismo político é contraproducente, como observa Nuno Rogeiro, no que toca à praxis política.
Por outro lado temos no Portugal pós-Abril uma ditadura mental de esquerda, ditadura que se serve da grande ilusão de um consenso do Centro, como viu bem o Prof. Rui Ramos, que ajuda a que a direita almoçadeira e a direita menos corajosa, talvez mais sub-reptícia, se alinhe no discurso esquerdista-progressista[1]. Talvez por isso o Prof. Nogueira Pinto considere que a verdadeira batalha se situa hoje em dia nas Universidades, talvez esquecendo que em Portugal é o Estado que manda e desmanda em todas as Universidades.

Temos por isso um conjunto de problemas da Direita, mas poucas soluções.
Uma direita derrotada, desideologizada, interesseira, que desistiu de qualquer convicção, que desistiu dos grandes traços da civilização portuguesa e que aceita o predomínio do económico sobre o político (rejeitando assim qualquer concepção nacional ou comunitária de justiça), ou, pior ainda, colando-se às concepções de Justiça socialistas[2].
O problema é metapolítico[3], num ambiente que é preciso mudar, definir, elucidar os seus fundamentos. Esclarecer a falácia tecnocrática, expor a filosofia social-democrata e a sua amálgama amoral e pseudo-caritativa, denunciar a falsidade de um Estado que se esconde numa neutralidade ilógica para ser Injusto, para defender a causa das clientelas e a partidocracia.

Presente, Passado, Futuro de Portugal

Vasco Pulido Valente encontra na Direita Portuguesa uma deficiência genética. Não sabe ser liberal[4], nada tem para conservar. A coisa até pode ser verdadeira, dependendo do que se toma por liberal, ou conservador.
Se se tomar por liberal o jacobino, o abstraccionista, o sacerdote ou crente da religião fundamentalista dos Direitos Humanos, é bem verdade. Se se tomar como conservador o que pretende a manutenção da ordem vigente, o que acha que só o presente é seguro, o que acha que se deve manter o que existe sem razão para tal, é também verdade! A direita nada tem a aprender com eles. O futuro dispensa-os.
Mas existe no futuro uma necessidade liberal e uma necessidade conservadora.
No plano liberal é imprescindível a consciência da liberdade como valor a defender. A compreensão de que a autonomia individual é uma riqueza da sociedade, é uma das mais importantes necessidades das sociedades que desejam ser competitivas economicamente, saudáveis espiritualmente. Há que estar, contudo, sempre contra a idolatria da liberdade. Esta não pode ser nunca a finalidade da sociedade! Uma sociedade que se funda na liberdade, funda-se naquilo que deve ser “uma maravilhosa decorrência de uma justa ordem política”, mas não o seu fim! Recorrendo aos exemplos que já neste blogue estafámos, um Estado que promovesse a liberdade individual[5] como seu fim último, teria forçosamente que abolir o Código da Estrada e deixar o tráfico fluir como uma “ordem espontânea” hayekiana[6].
A necessidade de ordem de que as nossas sociedades carecem não é, nem pode ser, uma reafirmação dessa tentação liberal de divinização da liberdade/autonomia, mas a compreensão de que só na ordem pode florescer essa liberdade, que é da ordem e da aceitação do peso do passado, que pode existir tanto a Liberdade, como a Justiça.
Que sociedade poderá ser livre e ter cidadãos livres sem ter um fundamento?
Como se organizará uma sociedade onde o reconhecimento da vida humana não esteja harmonizado num fundamento?
Poderá existir livremente uma sociedade onde os indivíduos tenham a liberdade de reconhecer como seres humanos vivos apenas os que têm mais de trinta anos?
Se a liberdade autónoma dos indivíduos fosse suprema e inquestionável[7], porque não haveria qualquer pessoa de justificar um homicídio pelo facto de não considerar a vítima um ser humano, quer pela sua pele, pela sua voz, pela sua capacidade intelectual, ou pela falta de qualquer membro do corpo?
O fundamento é essência!

E se a liberdade individual é inferior à Ordem, a Ordem só pode ser Ordem e não ordem, como a Lei só poderá ser Lei e não lei, quando tomado o caminho verdadeiro[8].
Esse é o horizonte de Justiça que é necessário, que só pode ser Restaurado por um regresso à tradição, àquilo “que faz de nós o que somos e não outros”. É a restauração desses fundamentos que nos tornará mais livres, verdadeiramente filhos e netos da civilização.
Verdadeiramente livres, porque só pode ser livre quem tem no horizonte algo superior ao que vê, ao que é. Esse “dever ser”, o horizonte, só pode ser encontrado naquilo que é enformador do Homem, a cultura.
A Grécia e Jerusalém, concertadas em Roma e na mensagem de Aquino, a necessidade de regeneração do século XIX.

Só esta síntese pode afirmar a Liberdade! A Liberdade da autonomia justa do indivíduo face à sociedade política.

A Justiça não pode ser, como observámos, um mero ditame da vontade. Pelo contrário. A sua existência pressupõe a sua contradição com a vontade. É a Justiça que pode ditar a justeza, ou não, de uma vontade.

Tem de haver ordem justa, para que haja liberdade, tem de haver tradição, para que haja justiça, tem de haver justiça para que eu não seja um mero escravo das minhas vontades, para que não exista a tirania, seja ela colectiva ou individual, e para que assim se cumpra a Justiça, que é o Bem de todos[9].

O Velho Novo, O Eterno

Para que exista um retorno aos valores da Justiça, a uma “idade de ouro”, onde o homem, sempre na dúvida, como é da sua natureza e sempre na esperança, como é sua vocação, se bate contra o vazio do relativismo, é necessário um regresso à busca do Absoluto.
E se Nietzsche, Spengler, Mohler ou Junger repetiram a necessidade de regresso a uma Idade Homérica, onde a Vontade dos grandes homens[10] marcaria as gerações no “ethos” do futuro, teremos nós de compreender os perigos do regresso a essa coincidência da Vontade e da Justiça[11]. Não precisamos de cair no nihilismo para erguer a moralidade do futuro. Pelo contrário, só é possível atingir essa “aurea aetatis” se trouxermos para o começo os ensinamentos do que constitui uma verdadeira justiça. Não precisamos de “bater no fundo”, i.e., no “Nada”, para daí reconstruirmos a nossa sociedade. A Cultura e a História, sedimentadas na Tradição, fornecem-nos a Luz sobre a qual nos poderemos renovar.
Sabemos que uma Justiça é forçosamente superior à Vontade, e que, quando o não for é degeneração, tirania, escravatura.
Sabemos que a Revelação é a forma segura que permite a existência de um conjunto de princípios que não estão sujeitos ao domínio do político[12].
Temos Saudade do passado e do futuro.
Temos de ressuscitar o que é eterno no Homem.

Comunitarismo

A ênfase na necessidade de um referencial ético colectivo é uma necessidade cada vez mais urgente. Desfazer uma concepção de sociedade fundamentalista individual, que encara a sociedade política como mero ponto geométrico de convergência de insondáveis desejos individuais, é uma necessidade urgente, que resulta obrigatoriamente no recrudescimento virtude.
Essa virtude é a concepção oposta ao abstracionismo. É esta que pode conduzir à tão necessária oposição às concepções de liberais de uma sociedade de indivíduos dotados apenas de fins autónomos, que prejudicam a vida comunitária dos povos, que atacam a existência de um bem comum, superior às vontades dos seus indivíduos. É neste aspecto que se encontra a superioridade da tese comunitarista face à liberal. Os indivíduos encontram-se, no domínio político, subordinados a princípios que lhes são anteriores, que não dependem da sua vontade, estando a eles subordinados por inclusão nas suas instituições.
Alguns autores apontam, por isso, algumas críticas ao comunitarismo. Consideram-no quase como algo encerrado e ensimesmado, a subordinação a uma ordem que se auto-justifica numa cultura, cultura essa que é inquestionável. Esse erro é verdadeiro, embora apenas parcialmente. Nem todos os comunitaristas são relativistas[13]. Em boa verdade nem se pode falar no comunitarismo como um movimento político coeso, ou com um projecto político coeso. O comunitarismo é uma resposta a um problema teórico-político liberal, a abstracção cosmopolista e universalista. O liberalismo toma o homem como subordinado a uma concepção individualista de Natureza, desenraízado de tradições, de comunidades, de ideias. O homo-liberalis encontra na comunidade apenas o bem-estar necessário à preservação dos seus bens materiais. Ao não separar o Poder dessa materialidade, predispõe-se a abandonar a comunidade ou a cedê-la a alguém que a garanta com maior efectividade. Por isso observamos o culto, quase judeu, do emigrante, da queda das soberanias, do cosmopolitismo urbano.
A existência de um referencial comunitário apresenta-se assim como a grande solução para uma sociedade que abandonou a Justiça e a Virtude (concepções indissociciáveis), para uma sociedade que deixou de estar ao serviço do Ser Humano e passou a ser escrava do indivíduo e da sua parcialidade.


Justiça Social contra o Socialismo

E se a Liberdade só pode ser efectiva quando não prejudica o Bem da comunidade, que se funda sempre na herança do Povo, é necessário que exista uma concepção subordinadora da sociedade. Nessa concepção se pode aferir o que é devido a cada um.
O herói (o soldado, o trabalhador honesto, a mãe extremosa), caído em tempos infelizes por acaso ou acidente, não é igual ao toxicodependente, ao proxeneta, à prostituta.
O empresário que reinveste os seus lucros na criação de condições de trabalho para os seus empregados, não é o mesmo que o que os gasta em futilidades.
Uns contribuem mais, na sua preocupação pelos outros. Esses merecem mais. Merecem que o Estado supere o mero “governo dos simples”, a mera retribuição pecuniária.
Esta justiça não corresponde, de forma alguma, à amoral concepção marxista de “necessidade”. O marxismo encontra no Estado um meio de prover para que cada um tenha o que precisa. A concepção cristã, tradicional portuguesa, encara o auxílio e a assistência como uma forma de conduzir à saúde física e moral. Por isso não deve encorajar a prática de actividades imorais, destrutivas da pessoa e dos que o rodeiam.
O marxismo e o esquerdismo pós-moderno são textuais na sua amoralidade relativista. O Estado esquerdista deve prover as necessidades dos indivíduos, mesmo que estas sejam salas de extermínio asseptico para toxicodependentes (salas de chuto), a venda facilitada da intimidade das mulheres (prostituição), ou famílias arbitrárias onde não existe qualquer critério para o desempenho da actividade parental. Este tipo de Estado demite-se do estabelecimento de normas, ou de um modelo de virtude… Tudo é relativo!
É fundamental que se reflicta sobre o problema do socialismo, sobre a forma como o socialismo tem sido sucessivamente derrotado no combate à pobreza. Como os realojamentos dos “bairros de lata” têm sido, nada mais, do que a troca de um gueto por outro. A mudança é moral.
As sucessivas tentativas de colocar dinheiro na pobreza, não geraram uma classe média no gueto. Pelo contrário, geraram um aumento dos meios dos criminosos, um aumento exponencial do consumo de drogas (mais dinheiro, maior procura).
Será tempo de reequacionar o distributivismo social e reforçar os poderes correctivos do Estado. Maior liberdade contractual, intervenção estatal no que prejudica o Bem Comum.


Um Projecto Político

Uma concepção de sociedade como esta não é uma forma extremista de existência (talvez o seja sob a perspectiva do esquerdismo que domina a nossa comunicação social). Pode englobar gente das mais variadas origens políticas.
Os nacionalistas encontrarão nesta concepção o retorno ao espírito da Nação e dos seus valores.
Os liberais, os que não caiam no abstracionismo e relativismo, congratular-se-ão com o reforço das tradições e das instituições, pois que são estas que permitem a verdadeira liberdade, a liberdade que se encontra enquadrada, face à liberdade anárquica dos indivíduos que se submetem apenas à sua vontade.
Os conservadores encontrarão algo, em fim, que merece a pena conservar.
Os tradicionalistas encontrarão o regresso aos princípios que os norteiam, a luta contra a tirania das maiorias, a compreensão do que é transmitido como ponto de partida para qualquer ordem justa.

Portugal Primeiro, acima dos Portugueses!


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[1] Os liberais do PSD pedem desculpa por serem liberais, afirmam o liberalismo como um mal necessário para o progresso
[2] Já escrevi extensamente sobre o problema igualitarista da concepção socialista de justiça.
[3] Talvez a própria essência do político.
[4] Que para liberais já bastaram as décadas da monarquia constitucional em que a educação modelo provinha dos manuais e método do senhor Pestalozzi. Como observa o Prof. Rui Ramos, desde 1820 a 1926, Portugal encontrou-se sob o domínio do progressismo liberal.
[5] Liberdade aqui tomada no seu sentido de AUTONOMIA INDIVIDUAL.
[6] Um conjunto de convergências momentâneas de vontades.
[7] Como querem fazer crer os “pro-choice” sobre a questão do aborto.
[8] O princípio consagrado neste manifesto integralista é, na boa tradição portuguesa, uma asserção desses princípios sadios da organização cívica Unica Semper Avis.
[9] Ver o meu texto sobre o Bem Comum.
[10] Que se tornam deuses.
[11] Que, como já vimos, elimina qualquer miragem de justiça.
[12] Aí se encontram os erros do estoicismo.
[13] Relativistas como Benoist, Kymlica, Sandel.

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sexta-feira, maio 06, 2005

Sucursal do GOP?

Portas está nos EUA a ver se arranja uns cobres para refundar a direita.
Se for para a continuação da direita que temos não vale muito a pena gastar o dinheiro. Se for para continuar a confusão da esquerda liberal, com laivos de conservadorismo social, e da direita que é esquerda nos seus fundamentos, não vale a viagem…

A vontade de refundar o conservadorismo liberal em Portugal depende da compreensão de alguns pontos centrais.
Se a tradição política a que se pretende apelar é a portuguesa ou a americana, se se apela à tradição conservadora cristã ou ao neo-conservadorismo privatista, ex-esquerdista e judaico.

Sabendo que as “conquistas de Reagan”, que os conservadores tradicionais aclamaram como uma vitória parcial, foram absolutamente dizimadas pelo “jacobino-em-chefe”, resta saber que tipo de “restos” vão chegar…
Ajuda para uma direita nacional e portuguesa, ou algumas assinaturas da “National Interest”?

quarta-feira, maio 04, 2005

A Democracia segundo a JCP

É elucidativo que se vejam nos últimos dias alguns indivíduos, por esses blogues afora, a congratularem-se com agressões a membros de uma associação identitária recém-formada…
Ficámos a saber que o 1º de Maio é propriedade dos comunas. Já sabíamos…
Felizmente que existem estes guardiães da ortodoxia abrilina!
É ver como se gabam desavergonhadamente da prática de um crime.
Ficámos a conhecer o verdadeiro sentido da democracia segundo a JCP!
A doce face do lixo comuna mostra-se, debaixo da capa tolerante e paternal dessa canalha…

Da minha janela do quarto pôde-se ler, durante muitos anos, uma inscrição numa parede que dizia:

SE O ABORTO É PROIBIDO, O CUNHAL É ILEGAL!

É bem verdade…

Ao Amigo Pimenta

Um site com grande parte dos escritos de Voegelin.
Sugiro que passem todos por lá para compreender a abrangência e magnificência da obra do filósofo.
A ler com tempo, sobretudo pelo estilo de Voegelin que complica o cerne da questão para obrigar a releitura para melhor compreensão.

Esmaga qualquer um...

terça-feira, maio 03, 2005

O Nacionalismo Folclórico

Já disse aqui amiudadas vezes que não me revejo no nacionalismo que por aí polula, sobretudo porque o nacionalismo que encontro hoje em dia é um nacionalismo europeu, um nacionalismo estéril. Não faço, felizmente, parte deste grupo, máximo expoente da forma como Portugal se encontra morto e enterrado, como viu o Prof. A. J. de Brito.

Felizmente que a história das instituições é uma história de mortes e ressurreições…

Este dito nacionalismo, que é o nacionalismo dos que quiseram destruir as várias nações da Europa enferma de um erro primordial: É absolutamente desprovido de qualquer interesse!

Mais uma vez encontramos neste nacionalismo o problema de que enferma a modernidade. Na ausência de capacidade espiritual, de compreender as realidades do espírito, faz se a defesa do corpo como primordial na aferição das diferenças dos homens. Também por isso se observa sem estranheza que grande parte dos liberais (como o Buiça, nos últimos tempos), tenham sucumbido à primariedade deste nacionalismo de jardim zoológico, revelando a proximidade gritante entre o liberalismo e o nacionalismo-racialista, que é bem patenteadora dos erros de ambos.

A unidade em torno do símbolo, em detrimento da Ideia, é a mais lamentável confusão que qualquer ideologia pode fazer, por ser uma ideologia que se demite de ser ideia, que se auto-exime pela descrença no poder da própria Palavra.

Por isso defende uma unidade que é estéril. Uma unidade que afirma que a sua unidade provém do instrumental. Uma língua é instrumental… mesmo uma língua que contém um acervo histórico e cultural, um conjunto de símbolos únicos que transmitem ideias que só podem ser compreendidas no seio dessa unidade espiritual (como a língua portuguesa). Essa língua é o reflexo de uma vivência e partilha espiritual, propagada na história, que constitui vocábulos próprios e sentidos próprios em virtude da vivência comum e particular. A história e a verdade a constituem, de modo a que se formem em alguma coisa de único, não só na ferramenta (vocábulos, expressão plástica, música e dança), mas na Ideia.

A unidade de um povo pela existência de uma língua comum é uma superficialidade errónea, uma vez que qualquer pessoa pode constituir uma código simbólico com os amigos, só por diversão. Dizer alguma coisa original dessa comunidade, ter uma filosofia e objectivos de vida comuns e próprios é que já é mais difícil… Não bastam ferramentas!

Esses apologistas do nacionalismo galego (que se estende a Portugal, os galegos do Sul) ignoram 1143! Ignoram a formação de uma entidade autónoma, com uma concepção original de justiça, com um conjunto de obrigações históricas e morais que desse ponto decorreram. A miopia tolda-lhes a visão de que a cultura que obriga moralmente o povo português é a Portuguesa e não a galaica (onde está essa filosofia?) ou a estupidez da cultura ocidental (a dos Direitos Humanos? a utilitarista? A hedonista?).

É um nacionalismo que renega o espírito comum das vivências de tantos séculos!

Um nacionalismo para gente simples e de vistas curtas…

É o nacionalismo peculiar dos que acham que o único erro de Vasco Gonçalves foi não ter mandado os pretos para África… De resto esteve tudo bem!

Libertou-se a comunidade das suas obrigações e direitos territoriais, lutou-se contra o Cristianismo, socializou-se Portugal, até se voltou à iconografia do Fundador para legitimar “nacionalisticamente” a acção socialista do PREC.

Para os galegos, que não portugueses (evidentemente), fez-se tudo bem, à excepção da omissão de um branqueamento cutâneo da população…

A grande vitória de Bruxelas é criar nacionalismos vazios!

O ódio da Europa ao homem contextualizado, enraízado, aculturado, moral, é proporcional ao medo que esta tem dele.

O combate é entre o homem europeu, o homem da livre escolha sexual e cultural, o homem sem obrigações morais com a comunidade, o “consumidor”, a grande arma da Europa, e um homem nacional, que se aceita como subordinado de uma moralidade que o transcende e que até agora só conseguiu aperfeiçoar no contexto tradicional de nação!

O problema estratégico é simples. A Europa divide para conquistar, justificando a sobreposição às obrigações tradicionais das populações com uma necessidade de aproximação às populações dos “auxílios comunitários”.

Esse “nacionalismo” economicista ganha força nos movimentos que consideram que as necessidades económicas devem determinar as estruturas políticas, um marxismo revisitado por tecnocratas escondidos sob uma capa de “conservadorismo social”.

Ganha a Europa com essas invejas regionalistas, criando a ideia de que as nações nada mais são que “empresas” solúveis por questões materiais…

Bastar-lhe-á acenar depois com uns “cobres” para que todo o “poder real” lhe seja ofertado…

O mesmo princípio que divide a Espanha agora, esventrará Portugal no futuro, com regiões económicas artificiais e invejas Norte/Sul…

É o princípio que temos de combater, bem como os sequazes desses nacionalismos vazios!

Estranhas “nações” que surgem com a modernidade e se alicerçam em economicismos e marxismos-leninismos, que não encontram fundamento que não seja um ressentimento ou numa proximidade fisiológica entre indivíduos.

Servem bem os interesses do costume…

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segunda-feira, maio 02, 2005

Fantástico artigo do BOS! Um artigo daqueles que não cabe num blogue… e não é pelo tamanho!

O 25 de Abril está na Língua!

É muito agradável ver o Presidente da República na TV a dizer "A gente todos!". Sintomático da doença de Portugal...

As Atrocidades do Simplismo

O que detecto aqui nos comentários do Pasquim é que existem pessoas que acham que as discussões se ganham pelo maior número de linhas… Preferem dizer pouca coisa, ou mesmo nada, mas não se coíbem de partilhar connosco os seus pensamentos mais inócuos, sob a capa de uma incisividade e de uma combatividade que não é senão demonstrativa das suas próprias incompreensões.

O BOS percebeu perfeitamente a maleita (na caixa de comentários anterior). Achar que a própria liberdade acaba no início da do Outro é uma fórmula vazia. É absolutamente desinteressante dizer isso sem explicar que limites separam a liberdade de uns e de outros.
Podem dar as voltas que quiserem, mas esta fórmula não é liberal, ou democrática, ou socialista, ou fascista ou comunista… É uma fórmula vazia, que tem de ser preenchida com a delimitação de direitos, de quais são as liberdades de cada! Por isso calem-se com essa conversa! Ou acharão que estão a fazer um grande avanço na Filosofia Moral ao repetir isso até à exaustão?

Quando o disparate passa para o teclado e resulta em sentenças como “todos devem abster-se de adoptar comportamentos que possam afectar os outros”, é tempo de pensar se quem as profere conhecerá a “teoria da gravidade”… É que a nossa existência física afecta todos os objectos físicos do Universo! Deveremos deixar de existir para não afectarmos os outros?
Mais candidamente é de perguntar: Se existe essa esfera, como pode ser justa a cobrança de impostos? Ou existir uma lei que obriga o pagamento de um serviço prestado?
A circularidade da resposta denuncia o simplismo do raciocínio! É a cultura, estúpido! Não se pode ir contra a cultura… Mas que cultura, se somos apenas indivíduos livres, unidos por laços de utilidade ou fins materiais? Se essa cultura precede a liberdade dos indivíduos (como nas teses comunitaristas) é ela que subordina a liberdade, sendo então ela a Ordem… (o que ando aqui a dizer há muito tempo)
Mais importante ainda é saber porque é que não se pode ir contra essa cultura…
E diz o comentador “Pode por isso, com o seu gesto, prejudicar gravemente a filha, tornando-a gravemente anormal”. O problema então é uma questão de normalidade! Elucidativo! Fosse a prática “normal” e disseminada e não haveria qualquer problema, o que diz tudo sobre os sólidos fundamentos de quem elabora desta forma.
O argumento é visivelmente débil que estas linhas explicativas não são mais que uma mera advertência aos mais incautos.

Há, aliás, uma convergência em todo o tipo de argumentos sobre estas questões morais.
Grande parte dos que comentam estão curvados perante uma falsa noção de normalidade!
Mas o culminar vem na forma de uma asserção contraditória. Escreve o Holandês que:

1. Tudo é relativo. “Mal e Bem, a menos de uma "ideologia", sem pre são relativos. P. ex. para um árabe muçulmano, dar um enxerto de porrada na mulher porque ela chegou tarde a casa é um bem que ele lhe faz. Para mim, e para a maior parte do mundo ocidental é um mal.”

2. A normalidade tem de ser preservada. “Como já disse, a curva de Gauss existe para nos proteger desses desvios muito, mas mesmo muito minoritários.”
3. Que o que se deve fazer é combater o desviante e defender o que é generalizado.

Eu não sei até que medida compreenderá o Holandês a teoria disparatada que arguiu…
Sei bem que o Buiça o considera um génio, mas será que um génio pode confrontar-se contra as regras da lógica?

Se tudo é relativo, porque é que se há de reprimir o que é minoritário? (Não foi para isso que serviram as câmaras de gás?) Que valor tem essa normalidade? Porque é que devemos punir o homem que espanca a mulher, se o homem não está a ser injusto? Se isso não existe… E que estranha noção de Natureza foi enfiada “à pressão” pelo Holandês para justificar as injustificadas perseguições à prática pedófila? Mais um disparate… Não estará essa noção de Natureza sujeita também ao relativismo dos tempos e modos?
A debilidade é a mesma do raciocínio anterior. Porque é que se há de defender uma normalidade ou uma cultura se ela não tem valor? Se ela ou outra têm o mesmo valor…

No caso da primeira concepção, a de que não podemos violar a nossa cultura para não sermos, ou fazermos, anormais, até uma criança de quarta classe pode observar a inconsistência. Ainda para mais, quando se afirma que o grande legado cultural do Ocidente, ou Europa, é a Liberdade, falta saber que liberdade é essa que tem uma noção de normalidade? Será uma liberdade que é superior à ausência de coerção? Se radica aí essa concepção este blogue já terá conseguido uma grande vitória! Ou será que a cultura e o acervo histórico patrimonial é superior a essas concepções de liberdade e que ela própria subordina a associação livre dos seus membros? Esta última ainda maior vitória para o Pasquim, por lograr a adesão a tudo aquilo que aqui já defendemos em matéria politológica.

É com felicidade que vejo as incoerências destes pensamentos explanadas nos seus próprios termos! Está tudo nas caixas de comentários…
Um reduz-se ao totalitarismo das maiorias, outro ao totalitarismo de um acervo cultural e civilizacional ocidental que ninguém sabe onde se encontra…

Ou será que se sabe onde está o fundamento espiritual, mas não se gosta do que se encontra?