quinta-feira, maio 12, 2005

Fascismo Sem Rede

O termo Fascismo englobou um conjunto de sentidos que, em grande medida, não encerraram uma mesma essência. É muito difícil encontrar em todos os movimentos e grupúsculos um traço de identidade subjacente. O que parece evidente, sem entrar em grandes teorizações sobre o fenómeno, é que o fascismo é uma resposta moderna a alguns problemas que a própria modernidade colocou. O fraccionamento das sociedades causada pelas ideologias modernas e pelo individualismo atomista e massificador, a destruição da religião e dos seus pressupostos de justiça e comunidade, a emergência de um cosmopolitismo racionalista destruidor da virtude comunitária e dos sentimentos…

A resposta fascista emergiu em várias direcções, mas em particular na formação de uma Religião do Estado. O Estado emergiu assim como entidade total, abrangendo o espiritual e o terreno, apresentando-se como inquestionável e indisputável por colocar na actividade governativa o poder de uma religião secular, de colocar a decisão como auto-justificada pela sua própria acção. Este imanentismo estatista é a essência do fascismo, no dizer do Prof. António José de Brito. Pela mesma razão o referido professor aceita com naturalidade os epítetos de “totalitário” e “imanentista” com naturalidade, não os usando como arma retórica, mas em propriedade terminológica.

Nesses dois pontos reside grande (mas não toda) medida do meu desacordo com o fascismo.
Uma sociedade pode encontrar apenas a Justiça, a realização de uma ideia superior ao contingente, compreendendo a natureza, e portanto a vocação, do ser humano, se interpretar a ordem das coisas. Como a realismo tomista bem compreende, observar a natureza das coisas e o seu lugar na cadeia da existência, a partir do real. Essa realidade escapa absolutamente a um Estado que torna a sua organização e decisão uma religião, e único critério do “político”. Qualquer teorização de um “dever ser” se encontra impossibilitada, uma vez que qualquer teorização se encontra subordinada à norma jurídica…
O Estado fascista é imanentista, porque toma o aqui e agora como horizonte máximo da sua existência, porque toma uma unidimensionalidade terrena limite da acção humana.
É totalitário porque destrói a existência escatológica do Homem, colocando “terreno” como máxima aspiração da existência humana, colocando o político no pedestal do religioso, fechando o Homem na sua existência circunstancial e material.

O Fascismo teve também um espírito regenerador, que me parece cristalizar-se sobretudo no pensamento e vida de José António. Uma tentativa de resolução da dicotomia direita/esquerda, de ressurgimento da Nação e dos seus princípios estruturantes, da emergência de uma nova justiça. Infelizmente a síntese resultou sempre numa contaminação irremediável de esquerdismo totalitário e imanentista (andou sempre aí a pairar Hegel), a justiça acabou por ser mais socialista (quasi-marxista) que nacionalista tradicional, e a Nação resultou numa confusão estatista, num argumento modernista (um Estado distribuidor de direitos individuais e não portador de uma moral e acervo de obrigações superiores à vontade de seus membros).
Por isso, como já disse muitas vezes, considero o fascismo uma excelente intenção, a tentativa de superar o impasse despótico do Ocidente, que englobou o excelente diagnóstico da “Revolução Conservadora”, mas que errou nas soluções, em particular por se ter embrenhado demasiado no seu “espírito do tempo”.

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