segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Europeu ou Português? Escolham!

O amigo FG Santos escreveu este texto muito interessante sobre a Independência Nacional. Acerta em cheio em tudo!
Parece-me apenas interessante acrescentar que num momento em que o problema da economia portuguesa é a sua falta de competitividade internacional (falta de exportações) e num momento em que toda a gente (tirando a esquerda e Santana Lopes) já percebeu que é preciso estimular a produção e não o consumo, seria essencial uma desvalorizaçãozita da moeda. Esta desvalorização da moeda é impossível porque não convém aos grandes países que já dominam os mercados e que assim impedem a concorrência dos países emergentes.
É que de facto a União Europeia não é uma obra de beneficiência e nós estamos a ser pagos para ficarmos de lado da corrida…

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Inequívoco…

No dia 31 de Dezembro 2003, quando a República Checa entrava para a União Europeia, Romano Prodi congratulava o povo checo, “parabéns pela entrada na Europa!”. O Presidente checo replicou “Estamos na Europa desde sempre”…

domingo, fevereiro 27, 2005

A Verdade

Questionar algo que não presenciámos é algo de corriqueiro, algo que a nossa vida não permite que não façamos. Dizer que não existe verdade é aproximarmo-nos um passo mais do “Nada”.
Ao dizer que existem várias verdades estamos a negar a actividade de qualquer acção mental que ultrapasse o aqui e agora… É absolutamente insustentável!

Um juiz que julga um homicídio tem de buscar a verdade. É por demais evidente…
Quando ouve as testemunhas não está a avaliar várias verdades, mas a tentar destrinçar a verdade da mentira. Estabelece por esse facto um processo dialéctico que terá de ser coerente.
Acima de tudo um juiz não pode considerar que está a julgar várias verdades…
Se assim fosse, encontrar-se-ia livre para escolher a que melhor lhe aprouvesse!
Não é contudo isso que terá de fazer!
Terá de aferir a verdade factual, através dos dados de que dispõe. Tem de presumir que num homicídio alguém terá de ter realizado a acção, mesmo que ninguém, para além das partes, a tenha presenciado. Por isso dispõe de um processo de avaliação da verdade (métodos científicos e lógicos), que o permita avaliar aquela PARTE da Verdade.

Uma árvore que caia numa floresta isolada sem que ninguém a observe pode ter caído de diversas maneiras. Ainda que não a presenciemos a Verdade está lá… Caiu pelo vento, por acção de extraterrestres, por obra de castores… Não se pode dizer é que não teve uma causa! Essa é a Verdade!

A ideia de que existem várias verdades é assim uma incompreensão filosófica…
Pode haver várias compreensões da Verdade, umas mais completas outras mais incompletas. O que é certo é que a compreensão completa nos está vedada pelas limitações do nosso próprio ser! O Homem não é tudo. Pode apenas ser pouco, mas fazer desse pouco um pouquinho mais.

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sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Bem Comum

A concepção de Bem Comum não é nada de nebuloso, nada de místico, nada de ilógico, nada de confuso.
A analogia somática de Platão ajuda a perfeita compreensão do conceito.
O objectivo do “corpo humano” é sempre a “saúde”.
Esta asserção não é de forma alguma variável… Poderá o corpo ter como “ideal” uma situação de doença? É óbvio que não… Ninguém pode, no seu perfeito juízo, almejar a obtenção de um corpo débil, de um corpo hemorrágico, de um corpo deformado que não permita ao indivíduo alcançar os seus objectivos de vida.
Esta concepção é evidente e clarificadora.
A medicina nada mais deve ser senão a busca dessa saúde. A filosofia médica, a compreensão do que é essa saúde.
O mesmo se aplica à política…

Nesta analogia ressalta evidentemente o papel de duas coisas.
A Saúde é anterior ao seu postular pelo ser humano… Antes de o Homem pensar a Saúde, já esta existia. É por isso independente da sua articulação pelos seres humanos. Por isso é também independente das suas vontades. A Saúde é um Bem que, como todos os bens superiores, não está dependente das considerações a seu propósito (o mesmo se aplica à Justiça, à Verdade). Não é pela maioria das pessoas acharem que é saudável possuir uma perna amputada, uma gangrena, um tumor, que esta passa a ser um requisito do ser saudável…
No mesmo sentido é fundamental a existência de uma tradição provinda de experiência e teoria, que dota o Homem de capacidade de reflexão sobre a sua própria concepção de saúde, que envolve uma mesma reflexão (a narrativa colectiva de que MacIntyre e nós aqui já muito falámos). Só esta tradição pode formar um ideal a que aspirar. Tradição que é um diálogo histórico constante (poder-se-á dizer que se trata de uma essência) e não uma forma pura, originária e estática. É um conjunto de ideias que perdura no processo dialético… Uma Verdade!

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Com o Devido Agradecimento ao Causa Liberal

Recomendo vivamente a leitura deste artigo de Pat Buchanan, do mesmo AntiWar, onde pudemos encontrar o artigo “Kantianos com Mísseis de Cruzeiro”.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Visto daqui

O Problema Liberal

Para um conservador a grande tensão que resulta do liberalismo é a conflitualidade entre Liberdade e Autoridade[1]. O conservadorismo, essencialmente anti-moderno, encontra no combate aos ideais revolucionários a sua razão de ser[2].
O liberal foca a sua atenção no problema do indivíduo, na vontade, no consentimento. Nesta concepção a sociedade a vontade individual é a fonte de todas as coisas, atingindo o seu apogeu no atomismo de Locke, individualismo deísta de Thomas Paine, nos apriorismos kantianos, autênticos vícios de forma de uma teoria que se pretendia universal.
O conservadorismo apresenta uma resposta simples ao conflito Liberdade/Autoridade.
Edmund Burke refere variadas vezes a sinonímia entre Liberdade e Justiça. Em Burke não existem duas concepções conflituantes de liberdade[3], mas uma complementaridade. A liberdade não é uma religião individualista, mas parte essencial de uma ordem. Ela não é o fim da sociedade política, mas uma “maravilhosa decorrência” da boa ordenação da mesma[4].
Em toda a medida esta concepção de ordem só pode ser encontrada nos fundamentos[5]. Ao contrário do democrata ou do liberal que considera que esta se encontra no indivíduo, efeito para o qual inventou o absurdo contractualista.
É a existência dessa norma, de um acervo fundamental de princípios, dessa tradição, que distingue a essência do conservadorismo. Só ela permite que o homem encontre em si o utensílio central para um “dever ser”. Só ela permite a verdadeira essência da tradição política ocidental, a distância entre o “ser e o dever”, entre o positivo e o natural, a presença de um Bem Comum.
É com isto em mente que a concepção conservadora, os novos conservadores[6], sabem da necessidade de avançar para uma ordem verdadeiramente livre, uma ordem que se funda no justo e não na propriedade privada da vida colectiva[7]. O colectivo que encontra o seu fundamento nas vontades dos homens não poderá jamais arrogar-se de Bem Comum e gerará sempre a obediência do Homem ao Homem, o que significa a escravatura. Por mais doce, e portanto mais porcina, que seja a submissão do homem à mera vontade de outro homem, esta não deixa de ser uma “gaiola dourada”. O Poder que não caminha no Bem Comum é esta ditadura dos vulgares…
Para esse efeito é fundamental o regresso à "narrativa colectiva", aos assuntos que fazem de nós o que somos… Só a equação desses pontos pode permitir o abandono das teorias morais que nos vão corroendo pela confusão, destruindo pela base os fundamentos de uma Nação antiga, seguindo o exemplo de 1789.
História, Filosofia, Moral!


[1] Utilizando aqui a distinção de Robert Nisbet entre as grandes famílias ideológicas Conservadorismo, Liberalismo, Socialismo, segundo os seus propósitos finais: o conservadorismo na tradição, o liberalismo no indivíduo, o socialismo no povo, são essencialmente definidos pela sua preocupação ou fundamento último.
[2] Distinguindo-se assim claramente este conservadorismo (ou tradicionalismo) do conservadorismo-liberal, estrutura teórica que visa conservar o liberalismo e a sua estrutura metafísica
[3] Como é o caso da concepção de Isiah Berlin em que se postulam dois conceitos de liberdade. De um lado a liberdade negativa, a ausência de exterioridades coercivas a um acto, e a liberdade positiva, a capacidade para executar um acto.
[4] Como bem colocou Lord Halifax em “The Character of a Trimmer”.
[5] Fundamento esse que não deve ser confundido de forma alguma com os modernos pensamentos imanentistas. O fundamento socialista-marxista, ou a teoria dos direitos humanos, são doutrinas geometristas que não permitem a existência de compromisso pois encaram a necessidade de estabelecimento absoluto de princípios gerais. Opõem-se assim à doutrina aristotélica que estabelece um eixo circunstancial, definindo o mundo material como limitado, devendo a acção política ser movida pela “phronesis” (prudência), que se constitui como a capacidade de realização do Bem face aos circunstancialismos e limitações do domínio material em que vivemos.
[6] Não confundir com os neo-conservadores republicanos.
[7] Como reflectem Strauss e Voegelin a propósito das concepções modernas de representação política.

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Um Blogue sobre Salazar

Não há nada mais importante na vida que dar a cada um o que lhe pertence... Chama-se a isso Justiça! Superior à propriedade, porque fundamento da mesma, é obrigação superior de todo o homem.
Que se faça justiça...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

A Raiz do Problema

Tive um Professor que fez a sua tese de mestrado sobre Alasdair MacIntyre. A sua tese versava essencialmente os problemas da conversação do “tomista-revolucionário” escocês.
Uma vez, no meio de uma acalorada discussão nos intervalos de um congresso internacional de Ciência Política, apercebi-me que o professor olhava para mim de forma reprovadora… Perguntei-lhe que erro estaria a cometer no meu argumento!
A resposta condensou a problemática da sua tese numas frases.
“O problema desta discussão é esta acontecer quando só uma parte está interessada em atingir verdade e enquanto a outra manipula a verdade para obter um objecto”.
Tinha razão… É impossível a argumentação com quem não vê na razão um serviço à verdade, mas uma mera equação para a obtenção da sua vontade.
O professor repreendia-me por enveredar numa conversa em que o objectivo (ficarem os dois a ganhar) estava viciado à partida…
Se queremos uma Europa unida, porque não negar o seu atraso face aos Estados Unidos? Porque não dizer que basta desviar o dinheiro da NATO para a Defesa Europeia que alcançamos os EUA? Porque não dizer que esse desenvolvimento militar não iria afectar a economia europeia? Porque não dizer que os cruzados defendiam a Europa e não a Cristandade? E porque não insultar toda a gente?
Quando existe um desejo “a priori” e depois todo o pensamento se molda a ela, não existe pensamento, mas uma máquina de calcular.
Não é possível o diálogo entre pensamento e cálculo…
Não o faremos mais!

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A Grande Vitória

Nos anos posteriores ao PREC era Álvaro Cunhal o eterno vencedor das eleições! Era sempre uma vitória da Democracia. Sempre olhei com desconfiança este tipo de vitória... O erro era meu! As vitórias são proporcionais às ambições de quem as procura. Foi preciso algum tempo após isso para que percebesse que as vitórias são proporcionais ao Bem que atingem ou permitem atingir.

Esmorece quem se observa ao espelho dos escrutínios em busca de apoio. O povo não dá razão porque não a possui! Assumindo a razão das urnas o PS seria o detentor da mesma! Assumir-se-ia o BE como o futuro de Portugal (ou deste território europeu)...

Por esse facto assumo, como sempre assumi, que a grande vitória é a coerência das ideias. É ver mais além... Por isso aqui analisámos ideias e estratégias!
Eu não conheço as ambições políticas do PNR! Fico na impressão, pelos discursos triunfalistas de alguns visitantes deste blogue, que essa força política atingiu os seus objectivos...
Como me são indiferentes estes ritos eleiçoeiros, como em nada contribuem para saber onde me posicionar e quem apoiar...

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Quando a coisa chega ao insulto de "amante de pretas", é chegada a hora dos homens de boa vontade se retirarem...

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Derrotas

A necessidade de reorganizar a direita em Portugal é um imperativo! Para quem é, como eu, avesso a partidos, esta surgirá como a derradeira esperança. A punição do eleitorado é evidente. A derrota supera os partidos e penaliza um conjunto de valores civilizacionais.
Em Portugal há alguns partidos “com” direita. Digo “com” direita porque é frequente, e quase geral, que esses partidos não tenham um claro ideário de direita, mas apenas facções ou sectores com pensamento ou “inclinações” de direita.
Desses projectos políticos há um que me parece ser chave. O PSD aglomera uma pluralidade de bichos-raros no seu seio. Monárquicos, liberais, sociais-democratas, cavaquistas, conservadores, oportunistas e outros que tais. A única coisa que une esta gente é um projecto de Poder. Não houvesse perspectiva de Poder e nada existiria que unisse aquelas gentes. A amálgama ir-se-ia desfazendo, como se desfez numa guerra intestina de todos contra todos, como observámos com Pôncios, Cavacos, Marcelos, Chaves… Cada um por si! Sem um projecto, sem ideias e concepções a defender, é nesta vergonha que se cai. O PSD revelou a sua essência… O Povo não gostou!
Suspeito que muitos monárquicos terão ficado em casa. O PPM mostrou-se, na linha do PSD, um partido afastado de uma concepção tradicional de Portugal e mesmo de um qualquer conceito que não seja a Causa Monárquica. Uniu o seu vazio ao vazio do ideário do PSD…
Penso e espero que se tenham afundado de vez!
Não deixa de ser também interessante que este Partido de Eleitores ande sempre com o Sá Carneiro na boca… Sá Carneiro, segundo nos dizem alguns historiadores, estaria com vontade de sair do PSD, por achar que ainda havia muitos Sociais Democratas no Partido… Queria unir-se com alguns membros do CDS e formar um novo partido, liberal-conservador! Dá que pensar, não dá?!


Há ainda o CDS-PP, que parece ter sido quem menos perdeu, apesar do enxovalhamento constante das sondagens… Portas traçou um diagnóstico e deixou caír a pose de Estado (o que parece significar que se prepara para um regresso “sebástico”). Lançou duas ou três ideias importantes…
Culpou os traidores… Culpou-se a si pelo discurso de “catch all”… Culpou a direita toda pela perda dos “media”! Já muitas vezes o nosso amigo Manuel Azinhal reflectiu sobre o problema da tomada gramsciana da comunicação social e não vale a pena voltar a ele!
Certeiro no assumir de culpas e na demissão…

Há ainda os secessionistas do PND. Um projecto claramente falhado. Com recursos e caras razoáveis (como a da nossa amiga Sara), a coisa falha pela base. Primeiro tentou ser um partido do Centro, um partido liberal à “moda antiga”, mas com um discurso anti-federalista… A malta não percebeu! Depois passou a reformista… a redentor do sistema político, cheio de ideias democratistas. Tem gente de direita, mas não tem ideias de direita! E agora já nem tem o élan de ser novidade…
Agora mais parece um ressentimento! O Garcia Pereira tem mais hipóteses de lá chegar que o Monteiro. Um partido não deve ser apenas em torno de uma pessoa! E o que acontece é que o PND não parece ter também um projecto existencial… Pelo menos tem pouco de distinto do CDS!
Nada mais que um ressentimento de alguns…
Pede-se sacrifício a esta gente!

Há ainda a derrota da Igreja Católica Portuguesa, que parece não conseguir actuar, em virtude da revolução que está a sofrer, e que deixa ao critério dos seus membros a actuação sobre problemas centrais das sociedades cristãs…
Deixou os “padres vermelhos” fazerem o jogo que queriam, como se o corpo e o espírito estivessem dissociados! Criaram a ideia de que é possível ser socialista e católico… Sobretudo quando o PS tem uma posição contrária sobre as mais importantes questões civilizacionais de hoje!
E quando a alma se ajoelha perante o corpo…
Para mim é esta a principal derrotada das eleições de ontem!

É isto que acontece quando não se tem ideias…

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A Católica

As sondagens da Católica erraram em tudo. Deram PS a mais, e BE a mais, PSD e CDS a menos… Só acertaram na CDU!
Depois não se venham gabar…

Quem é o Professor?

Da noite eleitoral ficam os comentários de António Barreto… Deu 10-0 ao Professor Marcelo, apesar da subserviência da Judite, que tratou Marcelo por Professor e Barreto por António! Certeiro e descomprometido foi o ponto alto de uma noite negra!

sábado, fevereiro 19, 2005

Politeia

Os clássicos falam connosco. A reflexão aristotélica ecoa com maior acuidade que nunca. Num momento em que o “ser” e o “nada” são o mesmo, em que a destruição da filosofia é, mais que nunca, uma realidade, é fundamental regressar aos clássicos.
É evidente para quem conhece os clássicos que o rumo relativista que levamos é um mero desconhecimento dos clássicos, da ignorância dos seus pressupostos, da ignorância das premissas da existência da filosofia e da sua subordinação a lugares-comuns básicos sobre a inexistência de verdade, cuspidos com a mesma veemência de há 2400 anos atrás. Seria bom que todos esses relativistas, de modo a aclarar a discussão, se afirmassem de vez, ao lado de Górgias, ao lado dos sofistas, contra a tradição filosófica de Platão e Aristóteles.

O legado político de Aristóteles tem uma particularidade que originará toda um concepção fundamentadora e estruturante do pensamento político ocidental, a subordinação ao “bem comum”. É esta subordinação que reveste o pensamento ocidental de uma originalidade própria. Ao invés da filosofia oriental onde existe, por norma, uma mera obediência legalista (onde o horizonte do “dever” é a própria lei e não a justiça dessa mesma lei —aquilo a que os gregos consideravam ser a escravatura essencial e natural dos povos bárbaros— o que seria sinteticamente o que hoje apelidamos de “positivismo”, a obediência à lei pelo simples facto de esta ser lei.

Na sua estrutura das Formas de Governo, apresentada em “A Política”, Aristóteles apresenta essencialmente uma dicotomia entre formas rectas e formas degeneradas de governo[1]. Essa é a mais importante distinção entre as várias formas. Poder-se-ia dizer que a reflexão aristotélica apresenta esta dicotomia como sua própria inovação à “teoria das formas de governo”. A tipologia, que Aristóteles aproveita e dá importante destaque, da divisão tripartida (monarquia, aristocracia, democracia) já era referida por Heródoto na sua História, onde conta o episódio da discussão da sucessão Persa em que Otanes, Mecambises e Dário defendem cada qual, com sua respectiva argumentação, a sua forma de Governo.
Aristóteles estabelece como distinção essencial a subordinação ao Bem Comum.
É esse o factor diferencial entre monarquia e tirania, entre aristocracia e oligarquia, entre a politeia e a democracia.
É nesta última que nos deteremos com maior atenção, fruto dos “séculos do povo” que vivemos.

Existem na concepção aristotélica dois tipos essenciais de poder popular.
O poder popular, fundado no Demos, é na sua forma degenerada, a Democracia. Ela é por excelência o regime dos sofistas, onde a conquista de apoios é desligada do interesse de todos.
Um político que pretenda conquistar o Poder recorrerá à distribuição das honrarias e do erário de forma a maximizar os seus apoios, ignorando as necessidades públicas. O caso é evidente quando numa campanha não se apresentam propostas de resolução de problemas públicos, mas uma mera distribuição de dinheiro pelos que, com votos ou apoios, fazem ascender a facção à preponderância na cidade.
É esta a concepção denominada habitualmente de populismo, que se apoia nos desejos e apetites das “massas” para fins próprios, submetendo o domínio público ao domínio privado, sacrificando a causa de todos às causas de alguns.

Só os espíritos mais toldados ou néscios poderão negar que existem critérios que tornam possível distinguir a verdade da mentira neste campo. Alguém que prejudica a causa pública sob propósitos individuais é um demagogo e um traidor.
Imaginemos que o irascível inimigo Mongol se encontra na fronteira. Um rei que negociasse a escravatura do seu povo como forma de manter suas prerrogativas e aumentar os seus poderes sobre os indivíduos só poderá ser um traidor.
Isto demonstra que o Poder está sempre subordinado a concepções que são superiores a um mero mandato… que se funda no Bem do seu povo. Bem que, como bem se demonstra neste caso, é bastante superior à mera soma de opiniões dos membros da sociedade.

É por isso que Aristóteles toma a Politeia como um regime “mínimo virtuoso”. Um regime que encontra os seus princípios salvaguardados das paixões individuais. Por esse facto encontra a sua razão de ser no interesse comum da manutenção de princípios (uma constituição, escrita ou tácita), que podem ter uma boa ou má índole, mas em que a sua manutenção preserva o colectivo das tentações individualistas da facção.
Esta grande oposição perdurará até aos dias de hoje na dicotomia entre o ideal Republicano e o ideal Democrata.

O ideal Republicano centra a sua existência na estrutura institucional da comunidade. Centra-se nos princípios originários (constitucionais). O Republicanismo possui um conjunto de valores invioláveis que se constituem como a sua própria base. Pode ser, portanto, uma república fundada no progresso, numa religião, numa tradição cultural, num anseio de Poder, numa concepção de humanidade…
Ainda que uma república possa reinterpretar os seus princípios, não pode reinventar os seus princípios segundo a sua vontade. Essa é a sua maneira de ser e o que a distingue da outra forma de governo popular (a democracia). Encontra-se assim a salvo dos exploradores de desejos, dos sofistas, uma vez que as concepções gerais da sociedade estão cristalizadas, salvaguardando o Poder dos interesses particulares.

O contrário desta concepção é a visão democrática, que se destaca pela sua apologia voluntarista. Para a Democracia toda o Poder provém de um acto positivo de aceitação. Os fundamentos da sociedade são ditados pela vontade comum e são modificados segundo essa vontade. O Poder é assim nada mais que um argumento de Força (ou a força do Sofista que se traduz pela persuasão e a subordinação dos interesses do outro aos meus, o que constitui a própria base da tirania e da servilidade). Fundando-se no “apetitivo” e não no “racional” não se estabelece como um regime duradouro ou sequer coerente. Desta concepção absolutamente variável da lei resulta uma existência errática, uma lei que não apresenta fundamentos. Apenas a justificação de que o legislador assim o quis… A lei é assim instrumento de maiorias, afastando-se da concepção de justiça que a deveria presidir.

Desta parcialidade do Poder se parte para uma completa manipulação dos pressupostos da vida colectiva. Se alguns podem trocar a soberania nacional por uns cargos em Estrasburgo ou Bruxelas, porque não rever o documento fundamental? Se pretender manipular a constituição para obter hegemonia para a minha clientela, porque não o hei de fazer?
Não é difícil observar como o regime mais desprezível para os pensadores gregos é hoje tido como o grande marco da civilização ocidental…
Quem terá falhado?


[1] A escolha do termo “recto” não é inocente pois sintetiza bem a diferença entre “orthos” e “kakos”, aquilo que se submete, ou não, a uma ordem pré-estabelecida.

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quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Dúvidas

Li muitos encómios a esta distinção entre o PND e o PNR. O que mais me preocupou foi a posição do Prof. Humberto Nuno de Oliveira de apoio e aceitação destas posições… Será mesmo verdade que:

1. O PNR está contra a especulação bolsista e imobiliária, bem como a favor de uma economia produtivista.

Não quero acreditar nessa afirmação. Uma ideia de produção industrial está radicalmente afastada das possibilidades de Portugal, um país da Europa sem especialização ou extensa demografia. A única esperança para Portugal são os serviços, actividade em que a produção é especulação…
Não acredito que ainda exista a mentalidade do Aço dos anos 30, que tão bons resultados trouxe… à URSS! Vem 70 anos atrasada esta concepção, mas não acredito que seja verdade…

2. O PNR também parece ser, segundo este texto, um partido preocupado com a “imigração extra-europeia”.

Fosse isto verdade e implicaria uma selecção racial da imigração. O problema da imigração seria, não o perigo à cultura nacional, mas a existência de gente de outras raças… Para quê insistir então na soberania nacional!? Se somos da mesma nação europeia…
Será que a existência de imigração romena ou búlgara não é tão perigosa como de chineses, ou angolanos?
Fica isso por esclarecer… como já ficou antes! Deve haver confusão…

3. O PNR é um partido europeísta que defende a saída da NATO e a formação de uma nova Iniciativa de Defesa Europeia.

Esta concepção levanta duas vertentes essenciais. A incongruência e a loucura.
Porque é que Portugal tem obrigações especiais com a Europa? Não deverá Portugal zelar pelos seus interesses? Porque iria então Portugal sujeitar-se aos custos incomportáveis de uma iniciativa de defesa incapaz de defender as suas próprias fronteiras (caso não saibam, toda a tecnologia informática e manutenção dos exércitos europeus é mantida pelos EUA)? Os custos de uma defesa mínima (equivalente a um país como Israel, p.ex.) iriam, obviamente destruir o crescimento económico dos últimos cinquenta anos… Isto para não falar nos custos de ID que seriam necessários e, como toda a ID, incertos, para levar essa Europa a um nível de 1/3 da capacidade tecnológico-militar dos EUA.
Afirmar isto é fazer o mesmo que o Bloco afirma quando pugna pela aliança com Kaddafhi.
É uma irresponsável loucura.
Esta, infelizmente, li no programa do PNR. Não queria acreditar…
Nem se percebe essa obsessão com o pilar europeu! O que iria Portugal lucrar com isso?

4. Por fim gostaria de perceber que “peça única” é essa que é o ideário do PNR, que toma a nação por algo quase religioso.

Falta explicar o mais importante. Quais são as coisas que é preciso proteger?
A Língua? O património do humanismo cristão português? Uma cultura que é mãe de culturas? O fado, o folclore, os Delfins, os Madredeus, o Punk Português? A espiritualidade que é fonte da Justiça e da Virtude Portuguesa através dos séculos? A pálida cútis da população?
Não pode explicar-se a “quasi-religião” da nação sem explicar a fonte desse pensamento, o que visa preservar. A não ser que seja uma defesa da “nação pela nação”, o que seria o regresso ao irracionalismo e aos apriorismos que já conhecemos bem. Também pode ser que não exista resposta para esta questão, mas não seria lógico falar de uma “peça única” sem um conjunto de princípios unificadores dessa “proto-religião”.

São respostas que me parece não poderem estar ausentes do debate político. Pelo menos as mais essenciais…

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quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Do Outro Lado...

Orgulhoso pela sua Comunión Tradicionalista está o nosso amigo Rafael Castela Santos que encontra no combate contra a Constituição Europeia o renovar da vitalidade do movimento carlista. Iremos dando aqui as notícias que o nosso amigo nos envia (enquanto não temos tempo para lhe escrever um mail condigno).
"Nos entretantos", fiquem com o blogue do Círculo António Molle Lazo, para quem quiser compreender como vai a tradição em Espanha.

Sugestões

Com muito interesse (ainda não meti a "colherada") a reflexão de FG Santos no Santos da Casa sobre o Homo Economicus de Adam Smith. Um dos temas que mais deve interessar à malta que defende a integralidade do Ser Humano, como o são todos os homens "às direitas".
Sugere-se ainda que comprem o Diabo para ler o artigo do Pedro Guedes. Para os mais forretas fica a reprodução do texto pelo Nova Frente.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Má-Fé

Fico com a firme convicção de que alguns diálogos são impossíveis...
Há dias li nas caixas de comentários a afirmação de que a fundamentação da sociedade política era em Platão e Aristóteles a "etnia".
Não se pode tentar dialogar com quem não pretende dizer verdade, recorrendo assim a qualquer afirmação de forma a obter adesão a suas ideias!
Qualquer conhecimento, mesmo epidérmico, das obras dos autores, revela a filosofia como fundamentadora da cidade. Só apoiando-se nas "ideias", aquilo que é essencial, pode o Homem criar algo de superior, de natural, cumprindo-se assim a sua Natureza. Essa natureza humana é a vocação do político. Não o seriam de certeza quaisquer justificações "etnicas".
Para mais Aristóteles explica com profundidade a diferença entre a etnia e a cidade (Política, Livro II). A "etnia" origina um poder familiar, onde as relações de sangue e afinidades de hábitos, prosseguem interesses materiais. É um poder INFRAPOLÍTICO!!! Não tem qualquer fundamento (para além da contingência) ou relevância política, para além da sua subordinação à esfera superior. Esse eixo superior, onde se busca o Bem Moral (político) da comunidade é o POLÍTICO, que é, acima de tudo, uma partilha noética (homonoia), não tendo por isso qualquer fundamento no sangue.
Mais grave ainda no caso de Platão que desprezava a família e pretendia uma rígida ditadura do Ideal, que a todos demanda obediência. Esta obediência ao Ideal é um dever fundamental do Ser Humano.
Só assim se explica que exista Filosofia Política. Uma concepção de sociedade que prossegue o Bem e não uma qualquer partilha sanguínea (isso respeitava, em Atenas, às aldeias, algo que caiu em desuso com a mobilidade hodierna).
São as ideias que comandam as pertenças políticas!
Ver mais que isso na Filosofia de Platão e Aristóteles é má-fé e falta de leitura ou compreensão...

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Neste dia de luto é fundamental ler o artigo de Rafael Castela Santos sobre a Irmã Lucia e Fátima!

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Eleições

A entrevista de SAR ao Diabo traça um diagnóstico preciso do problema nacional de hoje, da dissolução de Portugal na Europa, da destruição do ideal Português pelo Homo Economicus... Interessante o apelo do Senhor Dom Duarte em "reaportuguesar Portugal"! Tentamos fazê-lo aqui...
Falham, porém, as respostas, que são quase democratistas de esquerda!
Subscrevo também a análise do Santos da Casa a propósito das eleições...
Ainda não escolhi o "sapo" para o almoço de dia 20!
Interessante repto de ACR no Aliança Nacional... Definam-se!

domingo, fevereiro 13, 2005

Rei e Sovietes

Depois de ler esta notícia do Sexo dos Anjos é caso para pedir ao FG Santos que tire os links que tem para a soturna Associação Monárquica Tradicionalista.
Não me parece que o Santos da Casa tenha como lema “Rei e Sovietes”.
Já aqui tivemos ocasião de responder às falácias de Nuno Cardoso da Silva…
Nem vale a pena repetir!

A AMT que, ao que parece, partilha o meu interesse pela vexilogia, poderia fazer um novo estandarte. Agora perfilha uma bandeira republicana com uma coroa (ignorando o mais belo elemento da bandeira republicana, a esfera armilar). No futuro terá de pôr colocar o fundo todo em vermelho… E que não se esqueça da foice e do martelo!

Assim se demonstra mais uma vez a ideia (ou falta dela), que esta gente faz da monarquia. Um reizinho populista, uma mera figura de corta-fitas, subordinado à ditadura do proletariado. Nada muito diferente do que já afirmavam, ao defenderem um rei submisso aos partidos…

Para isto já chegam os outros!!!

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Memória Curta

Há em Portugal um canal que se diz Memória. É um canal público. Espelha o nosso sector público, os seus interesses e preocupações, em suma, os seus fins.
Não é por isso de estranhar que se apresentem noticiários anteriores a 74 em que não existem quaisquer referências políticas. É esporadicamente visto nesses noticiários algum, fugaz, responsável do Estado-Novo. O contraste é evidente com os noticiários posteriores a 74, em que qualquer Ministro ou Secretário de Estado é retratado no meio de altas individualidades estrangeiras, nos esforços de legitimação do regime do PREC!
Só mais tarde percebi que o critério de selecção das notícias não tentava rivalizar com a BBC ou a CNN, mas com o Tal Canal e Eu Show Nico… É um programa de humor como outro qualquer!

O Direito ao Contraditório

Os esquerdistas mais hegelianos sempre tiveram a obsessão da discussão. Nos últimos dias a nossa “elite” descobriu o “princípio do contraditório”. Em qualquer discussão ou apresentação de ideias num órgão público, dizem, teria de existir um contraponto de ideias. É uma ideia colorida…
Falta aferir então qual o grau de diferença necessária para que este contraponto exista.
Eu percebo bem o PS. O que desejavam era que, cada vez que um comentador de direita estivesse presente, o seu partido lá tivesse alguém.
Mas se existe um direito ao contraditório seria fundamental que houvesse contradição verdadeira. Discutindo, por exemplo, a questão da Contituição, não seria fundamental ter alguém que defendesse a sua eliminação? Na verdade não existiria um contraponto completo de opiniões, mas um repetir dos consensos que já existem na sociedade. A discussão seria a repetição ad aeternum dos chavões de classe-média a que estamos habituados… O lixo do costume!

Carlos Magno e a Igreja

Um dos maiores atrasados mentais do país é o comentador Carlos Magno. Este reputado atrasado mental afirmou que a Igreja Católica é uma das instituições que mais alterou a sua posição relativa ao aborto. Diz o comentador que a Igreja evoluiu muito…
Engraçado como a sua concepção de evolução democrática vai no sentido de aceitar o referendo como uma forma legítima de decisão de algo que não é referendável. O palhaço-comentarista, que tanto afirma colocar-se numa posição neutral perante a questão, acaba por denunciar a sua visão. Evolução é a perda de posições que se consubstanciam em posições amalgamadas do processo de discussão democrático. A perda de identidade valorativa de cada instituição.
Essa neutralidade não é mais que a repetição dos lugares comuns da tolerância democrática.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

A Cartilha Maternal

Tenho um amigo que está a tentar entrar para o Centro de Estudos Judiciários, com o intuito de ser juiz. No meio dos exames encontra-se uma Prova de Conhecimentos Gerais. Apresentam a esse propósito uma bibliografia geral com alguns livros que nenhum futuro juiz deve olvidar.
A lista poderia ter sido retirada da bibliografia básica da Universidade de Verão do Bloco de Esquerda e de uma qualquer cadeira de Pós-Modernidade Simpática para Idiotas II.
Não é de estranhar por isso que o autor mais referido seja… Boaventura Sousa Santos!
Todas as suas teorias cosmopolitanas de Direitos Humanos são profusamente analisadas. Um homem e pensador de muita dignidade… Como já vimos anteriormente!
Depois temos obras portuguesas e estrangeiras (mais de dez) sobre reinserção social (onde se destaca a “imparcial” reflexão de Pedro Pedroso. Estranhamente não temos nenhuma obra que explane o caracter punitivo da Pena como sanção moral (isso da moral é passado)… Bizarro!
Encontramos depois o grande timoneiro Chomski. Esse pai dos “Forum Social”, autor de imbecilidades como o Sindicato dos Contribuintes, Manifs anti globalização e livros (mais que muitos) sobre a correlação entre o esquerdismo e as liberdades!
Para os mais moderados temos uma análise intensiva da obra desse grande sociólogo (estes tipos nunca são filósofos!!!)… Anthony Giddens!
Curiosamente, a única obra de filosofia que se encontra é “O Príncipe” de Maquiavel. A filosofia do cálculo, da esperteza… Uma escolha curiosa para quem deveria penetrar os segredos da Justiça! Uma obra que faz a apologia do predomínio do expediente sobre o imutável! Perfeito para os servos da Besta… Uma justiça que seja apenas o que o mantém à tona! Uma marioneta da massa ou do sistema!
Mais umas tretas sobre inserção de ciganos (ignorando assim uma cultura que se afirma e sempre se quis afirmar, como separada da cultura principal), mais umas conversas cosmopolitas sobre migrações e obrigações humanitárias dos países hospedeiros e está completa a formação extra-judicial de um futuro magistrado português…

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quinta-feira, fevereiro 10, 2005

De Volta

Agradeço muito a todos os que persistem em visitar o Pasquim, em particular aos amigos cá da casa.
No meio da tristeza (a morte de Jacobo San Miguel, que tínhamos o prazer de ler nos comentários da Casa de Sarto), das interrogações sobre o cada vez mais certo destino da Pátria Portuguesa (rumo ao esquecimento), da certeza das nossas obrigações, cabe-nos erguer a cabeça... mais uma vez!

Esqueçamos o vazio das campanhas, o futuro abortado que nos espera, governos que querem estabilidade parlamentar para obter a instabilidade pelo Referendo!
Pensemos!

Aguardem actualizações para breve!

No entretanto podem ir lendo as reflexões do Sexo dos Anjos, a análise social do Porta Bandeira e as reflexões monárquicas do Último Reduto!
E já não é pouco...

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Inquietude

Já nos inquietamos pela inactividade da Casa de Sarto...

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Não Paga Mais Nada


Sem custos adicionais, cá fica este esclarecimento.
Para aclarar ideias.

A Soberania Nacional que o Abade de Siéyès cunhou é um tipo de legitimidade que se funda na representação directa da totalidade da população, de forma igualitária (um homem, uma vontade, um voto), em que todas as forças orgânicas da comunidade política foram destruídas e reduzidas a um estatuto individualista. Só é legítimo o que encontra a sua vontade expressa numa Assembleia (continuando Rousseau).
Aquilo a que o nosso interlocutor se refere (“Quererá dizer que, antes disso, não existia a ideia de que uma etnia/nação tinha o direito a ser livre?...Pense bem no que vai dizer...”) é, não “soberania nacional”, mas “soberania”, pura e simples, a concepção (cunhada por Jean Bodin) de que o Estado é uma “entidade que não reconhece igual na ordem interna, nem superior na ordem externa” (na sua forma simplificada), e que é finalmente consagrada na ordem europeia que se estabelece na Paz de Uestefália.
Pense bem no que disse e, se possível, corte na arrogância…
Dir-se-ia que serve para disfarçar outras lacunas!

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Mais Sobre o PND

Já deixei aqui um post de críticas ao PND. São críticas que dirijo ao PND como a todos os partidos! Odeio em particular os “partidos de eleitores”, os partidos que nada defendem. Sou contra essas massas informes, contra a escolha de pessoas sobre ideias, contra as aglomerações de gente de interesses diferentes, contra partidos populistas.
Para massas informes, onde pessoas se aglomeram no intuito de chegar à teta, já há o PS e PSD. São uniões sem pólo que não seja o Poder. Conheço-os bem…
Estes partidos fazem o apelo a personagens e não a ideias, não têm uma ontologia própria. E já chegavam…

Quando um partido se vangloria de dispor de gente de todos os quadrantes ideológicos, fico com a ideia de que não vale a pena existir… Deve acreditar em pouca coisa!
Pior ainda quando um partido se assume como “aproximador” dos eleitos e eleitores, quando defende a democracia directa, como se não fosse mais do que “porta-voz” do povo! Não só não lidera, como afirma o “político” como mero receptáculo da sociedade. Um mecanismo vazio, sem identidade, sem valores que não sejam os da maioria.

É essa perspectiva, errónea aliás, que conduz a que se tome os valores como mera questão passageira, os homens como mero fruto dos tempos. Toda essa perspectiva é um erro. É um erro e deprecia os “valores”. Olha para os valores como dependentes da maioria, como se a Justiça não fosse independente da sua postulação. E assim será que se fala mesmo de valores? Essa é uma perspectiva abjecta e perigosa! Lembre-se que o nazismo também era uma concepção de classe média… e popular!

Neste caso o exemplo paradigmático é Salazar! Salazar não foi, de forma alguma, um “homem do seu tempo”… Salazar não se movia nesse puro eixo de interesses em que o populismo democrático impera. Para ele o Bem Comum de Portugal, sempre subordinado à moral, era a lei suprema! As maiorias uma questão de contingência, uma questão prudencial. Não fosse assim e Salazar talvez “vendesse” as colónias, talvez aceitasse a descolonização, como todos os Impérios já o estavam a fazer…
Afirmar que Salazar hoje seria liberal é não lembrar a introdução do Estado-Providência pelo Professor. Também é de validade duvidosa (“se a minha tia tivesse rodas talvez fosse uma trotineta”)…

Salazar foi um génio da prudência, mas um homem de valores…
E é uma perspectiva muito limitada afirmar que era um mero demagogo, um mero defensor de Ordem, Pão e Segurança (vontade do povo), é perder o essencial.

Para minha grande tristeza o PND em nada rompe com os partidos que temos. Defensor da maioria, das classes médias, do “cada um que se desenrasque” (neo-liberalismo), dos referendos abortivos…
Mais um partido atrás do Mundo!

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