segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Derrotas

A necessidade de reorganizar a direita em Portugal é um imperativo! Para quem é, como eu, avesso a partidos, esta surgirá como a derradeira esperança. A punição do eleitorado é evidente. A derrota supera os partidos e penaliza um conjunto de valores civilizacionais.
Em Portugal há alguns partidos “com” direita. Digo “com” direita porque é frequente, e quase geral, que esses partidos não tenham um claro ideário de direita, mas apenas facções ou sectores com pensamento ou “inclinações” de direita.
Desses projectos políticos há um que me parece ser chave. O PSD aglomera uma pluralidade de bichos-raros no seu seio. Monárquicos, liberais, sociais-democratas, cavaquistas, conservadores, oportunistas e outros que tais. A única coisa que une esta gente é um projecto de Poder. Não houvesse perspectiva de Poder e nada existiria que unisse aquelas gentes. A amálgama ir-se-ia desfazendo, como se desfez numa guerra intestina de todos contra todos, como observámos com Pôncios, Cavacos, Marcelos, Chaves… Cada um por si! Sem um projecto, sem ideias e concepções a defender, é nesta vergonha que se cai. O PSD revelou a sua essência… O Povo não gostou!
Suspeito que muitos monárquicos terão ficado em casa. O PPM mostrou-se, na linha do PSD, um partido afastado de uma concepção tradicional de Portugal e mesmo de um qualquer conceito que não seja a Causa Monárquica. Uniu o seu vazio ao vazio do ideário do PSD…
Penso e espero que se tenham afundado de vez!
Não deixa de ser também interessante que este Partido de Eleitores ande sempre com o Sá Carneiro na boca… Sá Carneiro, segundo nos dizem alguns historiadores, estaria com vontade de sair do PSD, por achar que ainda havia muitos Sociais Democratas no Partido… Queria unir-se com alguns membros do CDS e formar um novo partido, liberal-conservador! Dá que pensar, não dá?!


Há ainda o CDS-PP, que parece ter sido quem menos perdeu, apesar do enxovalhamento constante das sondagens… Portas traçou um diagnóstico e deixou caír a pose de Estado (o que parece significar que se prepara para um regresso “sebástico”). Lançou duas ou três ideias importantes…
Culpou os traidores… Culpou-se a si pelo discurso de “catch all”… Culpou a direita toda pela perda dos “media”! Já muitas vezes o nosso amigo Manuel Azinhal reflectiu sobre o problema da tomada gramsciana da comunicação social e não vale a pena voltar a ele!
Certeiro no assumir de culpas e na demissão…

Há ainda os secessionistas do PND. Um projecto claramente falhado. Com recursos e caras razoáveis (como a da nossa amiga Sara), a coisa falha pela base. Primeiro tentou ser um partido do Centro, um partido liberal à “moda antiga”, mas com um discurso anti-federalista… A malta não percebeu! Depois passou a reformista… a redentor do sistema político, cheio de ideias democratistas. Tem gente de direita, mas não tem ideias de direita! E agora já nem tem o élan de ser novidade…
Agora mais parece um ressentimento! O Garcia Pereira tem mais hipóteses de lá chegar que o Monteiro. Um partido não deve ser apenas em torno de uma pessoa! E o que acontece é que o PND não parece ter também um projecto existencial… Pelo menos tem pouco de distinto do CDS!
Nada mais que um ressentimento de alguns…
Pede-se sacrifício a esta gente!

Há ainda a derrota da Igreja Católica Portuguesa, que parece não conseguir actuar, em virtude da revolução que está a sofrer, e que deixa ao critério dos seus membros a actuação sobre problemas centrais das sociedades cristãs…
Deixou os “padres vermelhos” fazerem o jogo que queriam, como se o corpo e o espírito estivessem dissociados! Criaram a ideia de que é possível ser socialista e católico… Sobretudo quando o PS tem uma posição contrária sobre as mais importantes questões civilizacionais de hoje!
E quando a alma se ajoelha perante o corpo…
Para mim é esta a principal derrotada das eleições de ontem!

É isto que acontece quando não se tem ideias…

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