quarta-feira, janeiro 27, 2010

MacIntyre


segunda-feira, janeiro 25, 2010

Plataforma Pensar Claro

Três Anos de Saudades do Futuro

Uma data para insistir em persistir.

Uma Excelente Leitura

Mar d'Outubro

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Mais Autogestionários que os GDUP’s

Uma das máximas da direita presente é a ofensiva anti-Estado. Libertária, anarco-capitalista, clássica ou simplesmente oportunista, a nossa nova direita gosta de falar sobre as vicissitudes do controlo estatal, sobre a forma como a auto-regulação é a solução para todos os males. Segundo estes estranhos credos, a Providência dotou o mundo de duas fórmulas de resolução fácil de todos os problemas. A primeira, vinda de uma péssima interpretação de Adam Smith, consagra que tudo o que for livre de se organizar irá florescer. A segunda, panglossiana-darwiniana e ainda mais optimista, revela-nos que aquilo que não florescer, realmente o não merecia e não faz falta. Ora digam lá que não vivemos no melhor dos mundos...
É claro que toda esta perspectiva da auto-regulação é uma corruptela moderna da independência da sociedade face ao político da sociedade cristã. E, como sempre na Modernidade, caracteriza-se por ser uma cópia eficaz no acessório e absolutamente desligada do essencial. Uma sopa à qual alguém se esqueceu de acrescentar água...
É verdade, como afirma o leitor CN, que idealmente a liberdade de organização da família e a sua independência face ao Estado é um bem fundamental. Mas o que o CN esquece é que existem regras sobre o que é uma Família, sobre como a mesma se constitui, sobre como ela se diferencia de um conjunto de pessoas que dispõem de outras finalidades e mesmo, como ela se diferencia de meros aglomerados de pessoas sem desígnio. Da mesma forma, a ideia de que tal matéria pode ser meramente privada e que a constituição de uma família pode ser mero acto voluntário entre elementos livres, esquece que a formação dessas unidades está subjugada a um princípio que transcende e deve transcender os contratantes. Se deixássemos que o critério definidor dessa relação jurídica e social fosse meramente tutelado pelos contratantes em bases absolutamente voluntárias, que razões teríamos nós para não aceitar a inviolabilidade da Família no caso de sado-masoquistas que se vêem enquanto tal, ou para não libertar o manicómio da imposição socializante ou fascista dos terapeutas que pretendem dobrar a vontade dos pacientes?
Bem sei! Quando os corpos já estivesses suficientemente mutilados ou os dementes aniquilados, apareceria algum liberal a falar sobre como as regras do mercado os haviam excluído do direito à existência.
Vejo por aí muita gente a falar sobre o municipalismo, sobre as associações livres de operários e cidadãos, sobre mercados e capitais, sobre desregulamentações, auto-gestões, free-enterprise. Todas estas podem ser coisas estimáveis, quando respaldadas por um Elemento superior. Ou podem ser apenas armas de guerra, se insistirmos em trazer para a família, para a aldeia e para a cidade, o paradigma voluntarista.
Como em tudo, se o Princípio está vivo e forte, é possível dar autonomia. Mas se Este se encontra anulado, predomina a força das vontades e a “guerra-de-todos-contra-todos”. E a Guerra é o oposto da Família...

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Não há Estado sem Colher








Inadvertidamente, o Primeiro Ministro demonstrou não só as suas insuficiências, mas as de toda a forma de pensar as relações humanas através do prisma igualitário. Falando sobre a adopção por parelhas homossexuais, José Sócrates explicitou que a questão central no tema será, não os direitos dos casais, mas a felicidade das crianças.
A afirmação é bombástica, mas passou pela oposição, pelos jornais e pela blogosfera sem um arranhão.
José Sócrates, que tem vindo a ser a face mais visível de uma retórica igualitária desprovida de quaisquer critérios que não a vontade das elites socialistas, vem desta forma reconhecer que a vida sexual dos progenitores é algo com consequências na felicidade dos filhos. Ora, isto é obviamente inaceitável. Quando alguém nos andou anos a fio a dizer que as relações entre duas pessoas eram mera questão privada, aparece o senhor PM a explicar que as relações de amor entre duas pessoas têm consequências para terceiros.
Há aqui uma desigualdade gritante, também, que urge combater. Se os filhos adoptados têm direito a estar a salvo da sexualidade anormal dos pais, porque raio os filhos naturais não podem desfrutar dessa benesse e serem, também, vozes a ouvir na relação entre esses dois “consenting adults”? É evidente que, ao contrário do que o leitor Nuno ou o Miguel Castelo Branco pretenderiam, não há nada mais público que os afectos, porque toda a estrutura política pretende salvaguardar determinadas formas de afecto.
Curiosamente, esta sociedade que faz gala do carácter privado das relações entre duas pessoas, é a mesma que transforma em crime público a violência doméstica, que tem polícias a investigar crimes de violência psicológica e todo o tipo de disparates que mais contribuem para sabermos que ou o Amor é regulado (e, segundo creio, terá de ser aceite uma regulação externa ao próprio Estado para que o Amor não se transforme numa política pública), ou descambará em tortura, em condicionalidade ou violação.
Afirmar que, no meio de tudo isto, o Amor não deve ser discutidoe consagrado e que os que estão fora de uma relação nada têm a ver com os laços entre duas pessoas, não é só uma banalidade como um profundo acto de falta de Caridade. Se aceitamos que a mulher que é agredida, sob o seu consentimento, no lar familiar é vítima de um crime público (um crime contra a Cidade e todos nós), não temos pela mesma bitola de interpretar as relações em que os indivíduos, fragilizados por quaisquer questões pessoais, aceitam submeter a sua vida a relações que os afastam das suas finalidades humanas?

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domingo, janeiro 03, 2010

Lutar pelo Amor em 2010

Estou consciente de que o título anterior poderia encimar uma qualquer obra de fusão entre Danielle Steele e Arthur C. Clarke. Ainda assim, creio que o desafio do ano em que agora estamos será precisamente esse e que o este título dificilmente se aplicará de forma tão precisa a outro tempo e outra circunstância.
O problema com que lidamos foi sintetizado numa afirmação pela deputada Marta Rebelo num programa sobre o divórcio. Dizia que nenhuma sociedade saudável deveria permitir que duas pessoas que não se amam pudessem manter-se casadas, chegando mesmo a perguntar qual dos restantes representantes dos grupos parlamentares se oporia a este princípio. O silêncio do outro lado do espectro político demonstrou a qualidade argumentativa e a ausência de fundamentos da direita. Adiante.
A ideia desenvolvida pela deputada do PS é um lugar-comum, mas não por isso uma ideia desprovida de riqueza conceptual. Encerra em si as confusões típicas do nosso tempo e um processo de erosão do conceito de amor que interessa compreender.
Falar de amor como algo que vai e vem, um sentimento ou uma emoção provocada pelo outro é o contrário do seu significado mais profundo. Gostaria de saber o que a senhora deputada acharia se, numa conversa com Adolf Hitler, este lhe confessasse a perda do seu sentimento de amor pela Humanidade... Seria essa emoção e a sua insondabilidade um dogma que a ninguém compete questionar? Resumindo, o que é que é preciso para que a relação de Amor entre duas pessoas seja encarada como uma mera questão privada, sendo os mesmos intérpretes e juízes únicos dos laços que unem os dois seres?
Obviamente que a transformação do laço de Amor numa emoção e o facto desta degeneração se dever à afirmação de um sistema que recusa o carácter transcendente do Amor, é um ponto de partida. Mas esta concepção secularizada ou materialista de amor não explica todo o fenómeno. A transformação do Amor numa matéria contratual, ainda guardava a possibilidade das obrigações contratuais e suas quebras serem dirimidas pelo Estado. Este amor, sucedâneo cristão, mas desprovido do seu carácter transcendente (adquiriu como finalidades a manutenção das estruturas sociais e a saúde do Estado), perde o lugar para a ideia de que já nem as finalidades biológicas que sustentam a Sociedade e o Estado têm carácter autoritário, e que cabe ao indivíduo o poder soberano de determinar por completo a forma como se relaciona com os demais, podendo o mesmo determinar o que é o contrato de amor (o Casamento) e quais as obrigações que este comporta.
Este é um erro evidente de uma perspectiva de que pretende ser pós-moderna. A possibilidade de o indivíduo ou a democracia disporem do sentido do contrato de casamento para determinar o que é o Amor na sua forma legalmente reconhecida, esconde a realidade muito sombria de que, pelo mesmo raciocínio, o casamento pode deixar de ter como substância uma relação positiva (um sentimento bom) e adquirir um significado desligado dessa benevolência. Os sócios de um clube, os funcionários de uma empresa, as pessoas que vão fazer uma viagem, ou até mesmo pessoas que não se conhecem de lado algum, podem casar-se, dado que a insondabilidade das suas relações pessoais e a obrigatoriedade do Estado em reconhecer o significado para o indivíduo destas, assim o permite e reconhece socialmente. Daí a termos contratos de servidão voluntária ou de canibalismo, sob as vestes de insondabilidade dos afectos e da obrigação do seu reconhecimento pelo Estado, não vai distância nenhuma, dado que ao se aceitar a premissa do amor libertário, se aceita a insondabilidade da vontade individual e o seu carácter primacial.
Quando o Miguel CB escreve que “Era o que falatava o Estado legislar sobre o amor e a felicidade”, é caso para perguntar se pode fazer alguma coisa que não isso...
Mais importante do que a luta contra um casamento que tem o sentido que a democracia lhe quiser dar, é a luta pela refundamentação do Amor segundo um paradigma não contratual-biológico e socialmente orientado. A primeira é crítica a segunda é fundamento.