quarta-feira, janeiro 20, 2010

Mais Autogestionários que os GDUP’s

Uma das máximas da direita presente é a ofensiva anti-Estado. Libertária, anarco-capitalista, clássica ou simplesmente oportunista, a nossa nova direita gosta de falar sobre as vicissitudes do controlo estatal, sobre a forma como a auto-regulação é a solução para todos os males. Segundo estes estranhos credos, a Providência dotou o mundo de duas fórmulas de resolução fácil de todos os problemas. A primeira, vinda de uma péssima interpretação de Adam Smith, consagra que tudo o que for livre de se organizar irá florescer. A segunda, panglossiana-darwiniana e ainda mais optimista, revela-nos que aquilo que não florescer, realmente o não merecia e não faz falta. Ora digam lá que não vivemos no melhor dos mundos...
É claro que toda esta perspectiva da auto-regulação é uma corruptela moderna da independência da sociedade face ao político da sociedade cristã. E, como sempre na Modernidade, caracteriza-se por ser uma cópia eficaz no acessório e absolutamente desligada do essencial. Uma sopa à qual alguém se esqueceu de acrescentar água...
É verdade, como afirma o leitor CN, que idealmente a liberdade de organização da família e a sua independência face ao Estado é um bem fundamental. Mas o que o CN esquece é que existem regras sobre o que é uma Família, sobre como a mesma se constitui, sobre como ela se diferencia de um conjunto de pessoas que dispõem de outras finalidades e mesmo, como ela se diferencia de meros aglomerados de pessoas sem desígnio. Da mesma forma, a ideia de que tal matéria pode ser meramente privada e que a constituição de uma família pode ser mero acto voluntário entre elementos livres, esquece que a formação dessas unidades está subjugada a um princípio que transcende e deve transcender os contratantes. Se deixássemos que o critério definidor dessa relação jurídica e social fosse meramente tutelado pelos contratantes em bases absolutamente voluntárias, que razões teríamos nós para não aceitar a inviolabilidade da Família no caso de sado-masoquistas que se vêem enquanto tal, ou para não libertar o manicómio da imposição socializante ou fascista dos terapeutas que pretendem dobrar a vontade dos pacientes?
Bem sei! Quando os corpos já estivesses suficientemente mutilados ou os dementes aniquilados, apareceria algum liberal a falar sobre como as regras do mercado os haviam excluído do direito à existência.
Vejo por aí muita gente a falar sobre o municipalismo, sobre as associações livres de operários e cidadãos, sobre mercados e capitais, sobre desregulamentações, auto-gestões, free-enterprise. Todas estas podem ser coisas estimáveis, quando respaldadas por um Elemento superior. Ou podem ser apenas armas de guerra, se insistirmos em trazer para a família, para a aldeia e para a cidade, o paradigma voluntarista.
Como em tudo, se o Princípio está vivo e forte, é possível dar autonomia. Mas se Este se encontra anulado, predomina a força das vontades e a “guerra-de-todos-contra-todos”. E a Guerra é o oposto da Família...