terça-feira, dezembro 15, 2009

A Paisagem Desoladora do Liberalismo

Nestes últimos tempos tenho rido o bastante com os disparates que se escreveram a propósito dos minaretes na Suíça. Uns acham que há graves atropelos à liberdade individual quando não existe num Estado o direito irrestrito a atropelar aquilo que é o espaço público. Para estes o espaço público nada é senão o resultado das várias expressões privadas e as próprias pré-condições da liberdade. Esquecem, porém, que segundo esta mesma perspectiva, a liberdade será o resultado daquilo por que as várias perspectivas individuais a tomarem. Quando a liberdade for tomada por outra coisa qualquer (bem estar, liberdade do sofrimento), restará a estes defensores da liberdade lamentar a ausência de um conjunto de pressupostos comuns que deveriam impedir a degenerescência e adulteração do conceito.
Depois há os outros, que lamentam a perda desse “common ground” liberal. Estes ainda me divertem mais. Dizem que se perdeu o espírito liberal, quando eles mesmos o amputam, retirando-lhe a imprescritibilidade e a perenidade do jusnaturalismo liberal e apoiando-se na democracia. Criticam o referendo e as suas decisões, mesmo sem qualquer ferramenta conceptual que lhes permita colocar um limite superior ao jogo democrático. Atiram o constitucionalismo aos pés da democracia e depois choram porque esta o pisa.
Aqueles que olham para a Suíça como grande solução de liberdade na Europa, deveriam escrever e reflectir um pouco sobre a forma como o cidadão suíço é todo-poderoso e se isso é compatível com a liberdade que dizem defender. Uma mentira a justificar uma metafísica falsa.

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