quinta-feira, outubro 22, 2009

O Mais Santo dos Santos


















As declarações de Saramago são uma das últimas páginas da história do marxismo. O Cristianismo é mau, porque na história da relação entre o Homem e Deus nem todos foram santos. O problema é sempre o mesmo. A mesquinhez de Deus vem de não ter distribuído democrática e igualitariamente a santidade, por nesta Terra não pairarem anjos, mas homens, por a história da relação com Deus estar limitada à falibilidade da compreensão humana.


O marxismo deu resposta a tudo isto. No mundo marxista todos são santos, porque não dispõem da capacidade de escolher o seu destino. No mundo marxista todos os que partilham da visão divina são santos, não por se comportarem em perfeita moralidade, mas porque as próprias finalidades humanas santificam toda e qualquer acção (o bombista comunista ou o ditador são o perfeito caso de santidade). No marxismo o Homem Novo é santo por partilhar a linguagem de Deus, a ciência positivista, que não lhe dá a possibilidade de errar.


A revolta de Saramago contra Deus é a revolta contra a imperfeição, contra a Criação. É a verdadeira revolta de um Homem Santo. De Deus aceita tudo, até as próprias categorias com que O ataca. Critica Deus por permitir o parricídio e o incesto, mas silencia o facto que a moralidade de onde obtém a repulsa máxima por essas práticas vem dessa mesma visão do Divino (escolhendo como crimes repugnantes aqueles que representam o máximo da censurabilidade social judaico-cristã). O problema de Deus não é o Princípio, mas a criação de um mundo imperfeito que Saramago e os seus comparsas se destinaram a aperfeiçoar, através de todo o tipo de crimes santificados pela sua identificação com a sua mais perfeita percepção do Divino (as leis imutáveis do materialismo e a sua relação com o último estádio histórico da humanidade).
É mais santo que o Santo Deus.


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