quarta-feira, setembro 23, 2009

À Mesa do 25

Diz-se muito por aí que não existe Direita em Portugal. É uma verdade inegável, mas falta esclarecer o que seria necessário para termos verdadeira Direita. Em Portugal temos um partido não-socialista, um partido popular, um partido monárquico que quer ajudar a República, um partido nacionalista que aceita todo o sistema de garantias do 25 do A.
É claro que todos falam de Valores. O PSD fala de direitos consagrados por Abril e numa nova forma de os conseguir. O CDS de um conjunto de valores liberais com a mesma veemência de quando eram democratas-cristãos. O PPM dos valores da República. O PNR de direitos para os portugueses.
O que nenhum partido da “Direita” faz, infelizmente, é expor um conjunto de valores perfeitamente articulados. Por mais estúpidos que estes fossem, poderiam ser discutidos e analisados, fariam história e ficariam como uma proposta. Assim, ficamos pelos aumentos dos pensionistas, pelo preço do leite, pela garantia de trabalho, na habitual carta ao Pai Natal alusiva a esta época.
Quando os pretendentes a doutrinadores e spin doctors do rumo da Direita Portuguesa se juntarem para discutir a próxima crise da dita, seria interessante que, em vez de atirarem ideias absolutamente avulsas ou de apenas pretenderem ecoar os interesses que os sustêm (o funcionário público, a PME, a Lavoura, meia dúzia de titulados com atrasos mentais diagnosticados e certificados, o desempregado de trabalho não-qualificado), pensassem em elaborar um catálogo de princípios que sirvam de lente para a compreensão da vida comum deste povo.
Tantos anos a servir acéfalamente o modelo ocidental de democracia e os nossos letrados ainda não conseguiram perceber que a parte essencial desse mesmo modelo sempre foi que este nunca foi uma finalidade. São pobres servos estes que tratam a democracia como algo passível de ser desligado de um conjunto de valores, que tomam a democracia como o sistema em que cada um é dono do seu próprio voto, que acreditam que uma constituição pode ser algo menos que o verdadeiro sentimento e estrutura moral de uma comunidade.
Enquanto não houver uma discussão séria de propostas de sociedade, algo que só poderá advir de uma discussão séria das condições da democracia sob o leito das condições valorativas da comunidade, não só continuaremos a viver uma justiça de mentira, como não haverá Direita. É altura dos que rebolam ao som da palavra “América”, começarem a pensar nessa cultura constitucional onde a Democracia foi sempre um reflexo de uma concepção própria de liberdade, ou aceitarem o seu atlântico esquerdismo.

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