segunda-feira, julho 06, 2009

A Democracia Cristã – Convencionalidade e Natureza










Depois de ler com atenção o texto de José Silva sobre a Democracia Cristã, sobram-me as questões. Nunca apreciei muito a Democracia Cristã ideológica, por esta ser mais uma forma de encontrar justificação para o tempo presente nas diversas tradições cristãs, do que uma séria reflexão política de inspiração cristã.
A questão pode ser resumida numa observação do estado presente dos partidos democrata-cristãos. Os que não desapareceram transformaram-se em partidos populares (partidos sem inspiração ideológica marxista, mas que representam as classes médias num contexto progressista, desenvolvimentista, capitalista-moderado, social), abandonando a sua matriz pretensamente cristã. As causas para este processo são, como é costume, a falta de solidez matricial do seu pensamento.
No caso da democracia cristã protestante a causa é evidente. A transformação de cada cristão num Papa, numa entidade máxima de interpretação lícita dos princípios do Cristianismo, cria uma total incomunicabilidade entre as várias interpretações. Residindo na leitura o reduto máximo da inteligibilidade, cada uma das leituras torna-se incomensurável, resultando daí o esvaziamento total do elemento substantivo (o Cristianismo). Tudo pode ser Cristão. Daí que qualquer das propostas de sociedade, mesmo as que violam mais gritantemente todo o princípio cristão, possam ser apelidadas de Cristãs. Nestas sociedades cristãs, a própria inversão de tudo o que é tido como Cristão é feita a partir do Cristianismo. Um dos exemplos mais evidentes foi a recente afirmação da “homossexualidade como dom”, por um pastor protestante no programa de Oprah Winfrey. Qualquer apelo a um princípio cristão no protestantismo é impossível.
Já no Catolicismo, a Democracia Cristã nunca deixou de ser um conjunto de premissas não-cristãs (protestantes), mascaradas pela referência católica. A máxima “Deus e Liberdade” de Lamennais esconde a realidade sombria de que para os seus proponentes Deus não é Liberdade, aceitando-se a concepção moderna de libertação autonómica como máxima social. O Personalismo de Mounier separa a pessoa do conjunto conceptual que permite afirmar o que é a Pessoa, ao tomar a possibilidade de um Estado Neutro muito semelhante ao liberal. O Maritanianismo parte da soberania da Vontade Humana na Política, aceitando que o critério do político seja o “querer” em vez do “dever” fundado na ontologia católica. Em suma, Revolução e não Cristianismo.
A fundamentação da Revolução na Teologia, através da amputação do Cristianismo.
Mais importante do que a democracia cristã é o Catolicismo na democracia e saber o que ainda têm os católicos como projecto de sociedade, como bem escreveu o José Silva. O Cristianismo nunca foi o actuar em mundos perfeitos.

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