segunda-feira, junho 01, 2009

Domenico Fisichella e o Elogio da Monarquia














Por sugestão do Afonso debati-me no fim-de-semana com a dita obra.
O livro debate alguns dos principais pontos da posição monárquica actual e que serão de extrema utilidade para a miríade de doutrinadores democráticos da blogosfera e dos principais círculos actuantes do movimento.
Fisichella descreve com acutilância as vantagens da Monarquia no contexto do mundo moderno, consistindo isso na possibilidade de evitar a total desagregação do político no pluralismo moderno (a inexistência de referência agregadora e posição pública concreta) ou a emergência de tendências oligárquicas que desvirtuem a liberdade (bem-comum) da comunidade. Significa isto o contrário do que os nossos monárquicos têm vindo a afirmar nos tempos mais recentes, ou seja, que o Rei e a Instituição terão de ser sempre um contra-poder contra o povo, a ofensiva desagregadora, e contra os que gerem a desagregação no interesse próprio, a ofensiva oligárquica.
Contra o provedor popular que os neo-monárquicos da democracia coroada pretendem promover, Fisichella vê na independência real a incorporação do Estado e dos seus princípios perenes numa personalidade e a mais importante fonte de estabilidade do Bem Comum num procedimento político e jurídico que rejeita a submissão ao critério numérico e quantitativo da oligarquia e da demagogia.
Ainda assim, neste livro muito fica por dizer, nomeadamente na forma como a política que rejeita a submissão ao princípio da Igualdade Imaginária (a falsa igualdade de condições) pode e tem de se submeter a uma concepção do real que não é compatível com o anti-fundacionalismo e o liberalismo de serviço em que se funda o momento contemporâneo que os nossos monárquicos tanto veneram e dão por adquirido.
Se é certo que a Monarquia é aristocraticamente servir, para que o servir não seja obedecer, mas buscar o Bem de algo, é fundamental um catálogo de Bens, uma concepção do que este é (uma forma exterior ao indivíduo de selecção entre finalidades), e tal não se encontra explícito no texto. Tudo isso, sendo o mais importante, escapa completamente ao autor que se refugia num poder moderador que, em consonância com o disparate modernista, dispensa as finalidades na determinação dos excessos e defeitos. Fisichella afirma que o Rei deve evitar os excessos de democracia e das várias oligarquias, mas infelizmente não explica o critério para que o faça (se o critério for a democracia dificilmente qualquer demagogia deverá ser suprimida, p.ex.).
Apesar de ecoar muito do silêncio dos monárquicos modernos sobre o que deve ser a monarquia (o autor escreve sobre os benefícios da moderna visão pluralista, mas esquece-se de discorrer sobre como a existência de limitação das finalidades privadas é semelhante na política antiga e moderna) o livro de Fisichella tem a excelente função de nos fazer aperceber a pobreza da reflexão dos monárquicos portugueses que desejam a monarquia mesmo onde esta confirma as piores tendências demagógicas do regime.

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