sexta-feira, maio 15, 2009

Cidadania Cristã














A Magdalia colocou-me o desafio de explicar a estranha relação entre o catolicismo e a sociedade democrática. Obviamente que o tema não cabe nesta pequena coluna. Há apenas algumas coisas que deveriam ser evidentes para todos os católicos e que o não são, dada a ânsia de fazer, o sonho de mando ou a superficialidade das crenças dos que dispõem de posições de relevo na nossa sociedade.
O Catolicismo não é uma mera fé individual, mas uma proposta relacional. Por isso, aqueles que pretendem aceitar a suposta neutralidade do político (quer como resultado da vontade social, quer como norma que existe em formulação abstracta que derrama sobre a ordenação) para determinar que a norma cristã apenas vincula aqueles que voluntariamente a perfilham, aceitam que a comunidade política tem o direito de restringir ou mesmo proibir a Caridade. Ao aceitarem a divergência entre a comunidade política e qualquer princípio fundado na ontologia, aceitam viver numa comunidade onde a força legítima vive em esquizofrenia, defendendo uma coisa e o seu contrário, restringindo coercivamente a acção independentemente da benevolência da mesma.
As consequências desta acção são a catástrofe dos massacres e a dissolução da própria comunidade. O massacre vem na capacidade de cada uma das comunidades de possuir uma visão própria da justiça (aceitar a morte como pena para transgressões menores, a dotação jurídica do valor de vida humana apenas a partir do nascimento, da puberdade ou da maioridade, etc.). A destruição da comunidade, vem, por consequência lógica, da destruição do sentido comum que tal cisão acarreta. Onde o que era nosso semelhante comete os actos mais bárbaros, o seu carácter civilizacional degrada-se e a “semelhança política” dá lugar à indiferença.
A incapacidade de perceber a não-neutralidade do nosso estado liberal «de facto» (do nosso socialismo constitucional nem vale a pena falar) e a forma como este degrada as relações entre os homens de uma comunidade, com a sua formulação de amor bidireccional (Homem-Homem, em vez de Homem-Homem-Deus) tem como consequência a aceitação do plano político absoluto. Aí encontramo-nos no domínio da concepção política protestante: a salvação como questão individual, a independência política de qualquer concepção de Bem (a redução do Bem ao poder e à quantidade), a política como artefacto humano.
Esta é a escolha que todo o “cidadão cristão” tem de fazer...


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