terça-feira, maio 05, 2009

Coisas Gastas - O Novíssimo Poder Moderador
















Os textos do Rui A. sobre a Monarquia não me suscitam qualquer indignação, simplesmente por não existir nelas qualquer ponta de apologia da instituição monárquica. Mascarado, o erro é sempre o mesmo e pode ser já encontrado nas velhinhas obras de Silvestre Pinheiro Ferreira. Destroem-se as instituições para que estas sirvam os propósitos do Progresso, para que se dobrem às mãos dos novos ditadores colectivos e individuais, mas, ao bom estilo meias-tintas luso, mantêm-se as estruturas de obediência para que a Revolução seja mais fácil. Num povo ritualista e absorvido com a magnificência do Poder, esta estratégia continua a ser a mais frequente para a imposição de novos diktats.

O Rui A. nada escreve que seja diferente da ofensiva liberal de Pinheiro Ferreira. Imitar os outros (Constant, Locke), mas utilizando a estratégia de conquista do povo pela sua absorção com a pompa e circunstância da Instituição. Inventar poderes inexistentes (o Poder Conservador que defendia caber ao Rei) para lhe retirar o verdadeiro poder. Adulteração das características existenciais da representação (o homem que encarna a constituição) para a sua transformação em mandato popular (ao bom estilo da melhor esquerda, o povo é o melhor julgador). Mascarar o mais absoluto utilitarismo na concepção de felicidade da Nação.
Tudo isto não é novo. É uma estratégia liberal bem antiga. E por isso, quando o Rui A. considera que os monárquicos não evoluíram muito desde 1834, é caso para indagar se os liberais o fizeram.

O Rui estranha a forte presença dos legitimistas na blogosfera. Eu não. Os monárquicos que defendem a indiferencialidade política da Monarquia Portuguesa são os descendentes dessa linhagem pouco nobre, dessa absorção com a Forma que lhes oblitera o pensamento sobre a Realidade. Podem ter escrito coisas de valor sobre o liberalismo, sobre a democracia, sobre a autonomia individual. Sobre Monarquia escreveram, quanto muito, coisas úteis. Para eles, é claro...
Já os outros, os legitimistas, foram os que não se renderam à mentalidade do resultado e, por isso, mantêm-se na certeza de que a Monarquia ou é, ou não vale a pena. Os que são indiferentes politicamente, simplesmente nada têm a dizer. Por isso escrevem livros de banalidades, acham mais importante o ecossistema monárquico de ascensão social, discutem formas de organização em vez de princípios, bandeiras em vez de fé. Culpam Salazar por não lhes ter dado um Rei, mas vivem felizes sem ter uma sociedade com os princípios de Justiça e Portugalidade que a Monarquia representa.
A vida corre sempre bem aos que nela não encontram sentido.

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