O Império da Moda e as suas Técnicas
Uma das grandes ilusões europeias é a miragem de um mundo sem soberania.
Evidentemente que este sonho faz parte da moderna utopia unificadora, da substituição do papel do Papado na ordem internacional, por uma ideia participada e partilhada de unidade humana, prostrada perante o vazio de si próprio. Uma Europa que decidiu tornar-se luz do mundo, mas que decidiu que a única coisa que a une é a ausência de autoridades substantivas no seu modo de vida, depara-se com o problema eterno de tudo o que é vazio. A Democracia, a crença de que a comunidade será aquilo que se quiser e puder, os Direitos Humanos, a ideia de que a autoridade pode não ter fundamento, o Culto da Diversidade, um estranho fetichismo que acredita que o valor se encontra na diferença de propostas e não na sua validade, são expressões da forma como o império pós-religioso se apoia em expressões sem qualquer substância, para prosseguir finalidades que variam consoante o Poder. Nada na Democracia, nos Direitos Humanos ou no Multiculturalismo é fixo ou pode conduzir a qualquer proposição moral. Pelo contrário, todos os valores ou princípios que podem ser considerados na Democracia, nos Direitos Humanos, ou na defesa da multiculturalidade, repousam noutras fundamentações, mais elevadas.
O desprezo pela Soberania ou pelo valor intrínseco da comunidade, é apenas mais uma dessas formulações vazias, que esconde uma realidade bem mais prosaica. É frequente ouvir-se falar do federalismo como solução para os problemas do mundo, para dar resposta à “complexidade crescente” do mundo. A resposta é lamentável. A União Europeia não consegue dar resposta aos vários problemas do mundo moderno (a crença de que existe solução para esses problemas é também uma característica desse projecto). Então por que estranha razão andou a União Europeia em conflito com os EUA, a Rússia, em vez de os tentar aglutinar no seu projecto político? Por que estranha razão a UE não aplicou fora da Europa a solução que encontra dentro das suas fronteiras, a partilha de Poder? A resposta é simples. Toda a ideia de que a cooperação internacional e a “partilha de soberania” são uma forma excelente forma de resolução de problemas, esconde um problema existencial. A UE não o faz, porque não partilha os valores ou o sentimento de comunidade dos outros. Precisamente o oposto da versão UE para consumo interno, que sempre alardeou que a comunidade política europeia, o Estado-Nação, tinha os dias contados e que a bem da funcionalidade e bem-estar dos povos europeus, estaria na altura de passar a certidão de óbito ao Estado-Nação e transformá-lo em componente de uma nova máquina, mais forte. O Estado-Nação estava obsoleto pelo seu carácter soberanista. Contudo criou-se uma máquina nova, cheia de componentes antigos, que herdou as características das máquinas antigas e que se considera, ou pretende considerar, um interlocutor dos Estados. Uma máquina que assume liberalismo económico quando lhe convém e proteccionismo quando a ocasião muda. Mudou o tamanho. Um Estado Grande e não um Supra-Estado, como é evidente.
Entretanto, a Europa e os seus “valores” afirmam tudo e o seu contrário, escondendo a falta de identidade que os leva a perseguir valores mudanos como se algo de elevado se tratasse. Desligados de qualquer noção de Justiça, os cidadãos da Europa vão achando normal que as leis e sanções sejam feitas com vista ao lucro e ao poder e não a qualquer norma que transcenda a comunidade. O shopping chegou ao gulag.
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