Imaginação
Diz-se que a Conferência Episcopal Portuguesa prepara um documento onde irá explicar por que razão os católicos não devem votar por políticas que confrontam a Doutrina. É estranho que a CEP tenha de referir algo que deveria ser evidente para qualquer católico, mas nos tempos que vivemos, em que há empresários comunistas, socialistas-católicos, social-democratas liberais e democratas-cristãos a favor do socialismo, a coisa pode ter algum préstimo.
A advertência é bem estranha, dado que, ao que se diz, incluirá uma referência ao dever (religioso?) de votar.
Não vale a pena entrar nas especificidades da relação entre o voto e o descalabro em que Portugal se encontra, na forma como durante tantos anos o silêncio da Igreja parece ter permitido a crença de que as políticas e as concepções religiosas estariam desligadas ou na forma como a CEP achou que o regime que referenda a vida de terceiros seria matéria susceptível de votação. Só iríamos chegar onde chegámos.
Vale a pena, sim, analisar de que forma as propostas dos vários partidos podem ser susceptíveis de qualquer compatibilização com a Doutrina da Igreja.
Sobre a Esquerda dos direitos ao aborto, da destruição da família, da transformação do amor em desejo, não preciso de falar. Mas será que falar de um PSD que toma o preservativo panaceia para a felicidade humana (é só ver qual o partido que defendeu o plano de luta contra a SIDA sem uma palavra sobre qualquer preceito Cristão)? Será que vale a pena falar de um CDS que afirma que se afirma como pós-ideológico e possui nas suas fileiras apologistas dos casamentos homossexuais, defensores do paraíso anarco-capitalista, gente que acredita que o Mercado é a melhor forma de obter o paraíso do progressismo mercantilista? Será que vale a pena falar do MEP que se apresenta como uma comunidade de santinhos a defender exactamente o mesmo que o PS, mas com pedigree na acção social? E do PNR, onde o seu líder afirma que o facto de ser católico é irrelevante para as políticas que defende? E do MMS, em que se escondem dezenas de charlatães endinheirados a falar sobre mérito, solidariedade, contra o neo-liberalismo, num emaranhado de idiotices sem nexo?
O facto da CEP fingir que existe alguma proposta consentânea com a Doutrina no panorama político, quer dizer que não a têm em apreço suficiente ou que sobrestimam os partidos e a democracia portuguesa? Nunca o saberemos, provavelmente.
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