quinta-feira, maio 31, 2007

Já Saiu a Intercollegiate Review















Podem lê-la toda aqui.

A Um Ignorante Auto-Induzido



“When people stop believing in God,
they don't believe in nothing –
they believe in anything."

G. K. Chesterton






A ignorância do Mundo Moderno vê-se pelo número de certezas que este criou.
Por cansaço, não consigo mais olhar para o lado para as crassas manifestações de ignorância dos que insistem em identificar a religião do materialismo como relação normal do Homem com a Verdade. Este texto impõe-se para que não tenhamos de voltar a explicar tudo de novo, para que possamos voltar a traçar as linhas do conversável e a definir as fronteiras do argumentável.

Surgiu aqui na Gazeta um sujeito que regressa à pergunta de Pilatos, tentando fazer vingar a ideia de que:

- todo o bem é convencional e situado socialmente

- que a Verdade é aquilo que é possível provar materialmente

- que a lógica é uma criação humana

Comecemos por um pormenor de ignorância. Diz o sujeito que não duvida da existência histórica de Cristo ("Eu disse que Cristo nunca existiu, seu mentiroso???"). Ora como Cristo é sinónimo de Messias, ou se acredita em Cristo e se defende o seu carácter divino, ou se acredita na existência de Jesus. São coisas bem diferentes que demonstram a forma como ignorantemente se usam as palavras. Quem depois de tal disparate ainda se alcandora a raciocínios metafísicos e epistemológicos, deve aguardar o tombo seguinte.

Comecemos pela Lógica. Diz o sujeito que tal é apenas produto da criação humana e que é

“Método criado por homens, conforme acharam mais correcto. Nada tem de divino”

para em seguida dizer

“Éu não disse que a lógica é um acto criativo. Eu disse que a lógica é um método que foi criado pelos homens para distinguir os discursos bem enunciados dos mal enunciados. Não há uma lógica por pessoa, mas a lógica que existe foi criada por pessoas.”

Ora aí está um belo exemplar de disparate. Se a lógica fosse matéria empírica, haveria uma capacidade de pensar para além dela. Porque é que não se consegue, então, postular que A maior que B e B maior que C, resulta num C maior que A? Se esta é apenas uma coisa verificável e construída pelos homens, deve haver capacidade de raciocinar de outra forma. Infelizmente ainda ninguém explicou que extra-racionalidade é essa... Continuamos então com a ideia de que na lógica há uma imperatividade que é exterior à vontade humana.

A ideia de que existe um conhecimento científico de que se pode fazer prova é também uma paródia da religião positivista de Comte. Ora diz o desarticulado senhor

“Acho que a astronomia já provou que a Terra gira em torno do sol, a Geografia já provou que depois dos Pirenéus fica a França, a Hitória já demonstrou que o primeiro Rei de Portugal foi D. Afonso Henriques, a Física já concluiu que para cada acção existe uma reacção em sentido contrário: espero não estar a dar-lhe noidade nenhuma...”

Toda esta concepção é uma distorção do que é o conhecimento científico. Quando Newton postulou a lei da Gravidade todos andavam a dizer que aquilo era verdadeiro e apareceu Einstein a demonstrar as insuficiências e a falta de veracidade da teoria. Da mesma forma existem físicos que consideram que a Terra é plana e que são as dimensões paralelas em que o Universo se divide, que criam a uma percepção de circularidade. Ignorar que as verdades da Ciência de há dois séculos já foram todas refutadas é ter muita fé.
Da mesma forma que existem pessoas que afirmam que Jesus nunca existiu, que Afonso Henriques não era de facto o filho do Conde, todo o conhecimento é refutável. E como se prova que não vivemos no Matrix (e existem de facto os Pirinéus e o Marquês de Pombal? e se a convenção decidir que não existem?), onde toda a história nos é induzida? Só há uma forma de o fazer, através da Verdade e da compreensão da realidade como externa ao que é convencional. A verdade que existe na lógica não está apegada à materialidade do que nos rodeia...
Todas essas “evidências” do materialismo, não são senão expressões de uma racionalidade própria, que à partida determina a irracionalidade de tudo o que não obedece a esse método. O Facto é um Mito e dos menos sofisticados...
É curioso como se aceitam as evidências de que Jesus existiu de facto, e depois não se aceitam as que afirmam a sua Divindade. Não preside a essa racionalidade de escolha das fontes uma racionalidade que pressupõe que todas as formas de homem da História, foram meros seres humanos? E não é esse pressuposto uma presunção de materialismo?
Esse materialismo é mais dogmático que qualquer religião, porque pressupõe antes de tudo que não existe mais nada para além do seu horizonte.

Dessa castração espiritual vem a ladaínha habitual de que todos os valores são criados pelo Homem, de que são apenas “costumes”, de que a diferença entre um homicida e um filantropo é mera questão de perspectiva (e avisa-se o dito senhor que a palavra “concedência” não existe). Então porque é que não se pode matar, estropiar? E porque é que se fazem concessões (santa ignorância...) ao fazer o pacto social?
O resultado é evidente... Tudo o que a sociedade convencionou é bom. Como dizia Platão esta é uma cidade de porcos e não de homens.
A estupidez atinge limites quando o dito considera que o facto Deus ser um ente metafísico ou um animal deste mundo é mera construção social. Se a sociedade acha que se devem matar velhos e incapazes, se a sociedade acha que se devem matar comunistas ou nazis, está livre para o fazer. O dito sujeito ainda acha que

“Duvido que as pessoas vissem qualquer utilidade, para a sua satisfação, de um Estado policial, violento, arbitrário”

como se o facto de o tipo não estar a ver a acontecer de novo o que já aconteceu no Reich e na URSS, resolvesse o problema...

Deus não entra na cabeça e no coração dos que não o desejam. Para os que não anseiam por uma Norma que não seja produto humano Deus não interessa. Mas como já Aristóteles descobrira, esses nasceram para a Escravatura. Uns nasceram para servir Normas, servindo assim a Humanidade, outros nasceram para servir Desejos e ao fazê-lo serão Escravos dos outros ou de si próprios.

É só escolher entre filosofia e sofística....

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terça-feira, maio 29, 2007

Os Gnósticos Britânicos

















(Com leitores como o HO como é que alguém pode perder o vício de blogar)

Para Oakeshott a sociedade funda-se em convenções, convenções que são insondáveis e impenetráveis, não podendo ser analisadas com um qualquer critério humano externo. A religião não tem, por isso, qualquer validade na determinação do que é justo ou injusto, sendo matéria do foro privado. O homem não era mata-frades, defendia apenas que a religião era matéria irrelevante politicamente...
Daí passa a considerar que a existência da lei é determinada pela convencionalidade e pela capacidade da lei de obter elementos que são independentes da esfera transcendente. O problema que isto gera é fundamental. Se os bens políticos estão desligados de uma concepção mais elevada apresentam-se como constituídos autonomamente, possuindo uma estrutura própria, desligadas da grande estrutura do Ser.
O problema do cepticismo é que este resvala para o utilitarismo, uma estranha religião do funcional, e toda a estrutura do conservadorismo britânico, que é uma corruptela e uma amputação da obra de Burke, incorre nessa mesma falha. O utilitarismo, é uma auto-racionalidade do político, onde não existe qualquer espaço para o “dever ser”. Na impossibilidade de existência de uma fonte do bem, o que importa é colocar a sociedade em funcionamento. Mas esse funcionamento, uma vez que não está relacionado com uma norma exterior, é deixado em roda livre. É por isso que para Oakeshott não há uma boa razão para abolir a escravatura ou para evitar uma tradição injusta... Porque não existem princípios comunitários e vinculativos para que se defina algo como mau. E se depende apenas das pessoas e das suas concepções privadas a formação da lei, de que forma se pode impedir uma lei que defenda o socialismo, o nazismo, ou outra ideologia qualquer. O imobilismo da “conservative disposition” é um aparato conceptual muito débil.
Oakeshott não é anti-comunidade. É a favor de uma comunidade ilimitada, mas que pela convencionalidade se tornou liberal (há aqui muitas semelhanças com o vitorianismo de Hayek, que funda a sociedade numa convenção sem carácter imperativo). Todas as tradições que não têm uma norma externa por que possam ser analisadas acabam por se tornar totalitárias.
O problema do cepticismo é, em termos voegelinianos, que este é um racionalismo fechado à realidade. Só aceita uma racionalidade que ele próprio induziu e que se funda numa necessidade de prova que é impossível. É uma cegueira auto-induzida, que a ser levada a sério, implicaria a descrença na própria existência humana. Nunca ninguém provou que as imagens que vejo de meus semelhantes corresponde a seres com existência própria semelhante à minha. O que é que acontece se eu deixar de presumir que são meus semelhantes e passar a ser céptico a esse respeito?
O problema de Oakeshott não era ser individualista. O problema é considerar, como Hume, que os fundamentos da sociedade são arbitrários, tanto os de hoje, como os de amanhã. E se não há mais nada a esperar da política para além da convencionalidade, porque é que hei de estar vinculado por algo que não decidi?

PS. No que respeita à citação de Burke ela representa o ódio à ideologia e à forma como as ideias autoinduzidas do transcendente era aplicada pelos “dissenters”. Eles faziam política totalitária ao achar que os princípios religiosos deveriam ser aplicados, sem mais, à política, não compreendendo a existência de duas esferas separadas de uma mesma realidade, com métodos intelectivos e finalidades diferentes.

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A Fotografia Esborratada de Burke





















Hoje uma colega veio falar comigo para me mostrar grande alegria de ter conhecido finalmente a obra de Burke. Desconfiei logo. Numa aula de História do Pensamento Político o professor deu a conhecer a importante obra de Edmund Burke. Esta caracteriza-se pela defesa de que as coisas devem ser como estão.
Notável avanço intelectual. Foi preciso a civilização avançar dois mil anos para que houvesse alguém que defendesse que tudo está bem como está. Este Burke é mesmo importante!
Não percebo como é que esta leitura de Burke pode interessar a alguém, quando houve tantos pensadores e sofistas que defenderam o mesmo em muito menos páginas. Vem a seguir a conversa de que Burke era contra a filosofia, contra a teoria, contra a ideia de que a sociedade deveria perseguir a Verdade, um chorrilho de idiotices e banalidades de quem aprendeu filosofia nas páginas do Expresso ou naquelas revistas para neo-conservadores recém-conversos.

Se Burke era contra a filosofia, porque é que escreveu um tratado filosófico, porque é que considerava os revolucionários sofistas, porque é que citava com profusão Aristóteles?
Se era contra a ideia de Bem como guia da comunidade política, porque é que defendia que a Igreja era um factor imprescindível na constituição, que os crimes possuíam uma origem moral, que toda a sociedade se funda num contracto eterno com o Criador?
Se defendia o situacionismo, porque é que defendia a independência americana, porque é que defendia a restrição dos poderes do Rei, porque é que defendia o comércio livre para Irlanda, o fim das guerras de exploração do povo indiano, os direitos dos animais, o fim da escravatura ou o fim da pena de morte para os homossexuais?

Quando o pensamento político passa à conversa de café, quando é a cultura do colunismo quem mais ordena, quem é que paga as favas? Os desgraçados que pagam todos os meses e vão para casa com mais certezas sobre um assunto que até os professores desconhecem...

É o que temos e para o ano há mais.

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segunda-feira, maio 28, 2007

A Ordem













Até para os liberais...

domingo, maio 27, 2007

Apocalipse



















Vivemos os últimos dias, que ainda podem durar milhares de anos...

Morte aos Pedaços (II)

Dois Ponto Zero
Misantropo Enjaulado
SG Buiça
Geraldo Sem Pavor
Nova Vaga
O Monárquico
A Torre de Ramires

sexta-feira, maio 25, 2007

Restauração Nacional


























Gazeta da Restauração

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quinta-feira, maio 24, 2007

On the Primacy of Experiences and the Egophanic Revolt














"Since my first applications of Gnosticism to modern phenomena in The New Science of Politics and in 1959 in my study on Science, Politics, and Gnosticism , I have had to revise my position. The application of the category of Gnosticisim to modern ideologies, of course, stands. In a more complete analysis, however, there are other factors to be considered in addition.
One of these factors is the metastatic apocalypse. . . forming a permanent strand in Christian sectarian movements right up to the Renaissance. . . . I found, furthermore, that neither the apocalyptic nor the gnostic strand completely accounts for the process of immanentization. This factor has independent origins in the revival of neo-Platonism in Florence in the late fifteenth century[A further factor, magic , is also touched on. fjw]. . . .
Hence, the experiences that result in immanentist constructions had to be explored. . . . Only in recent years have I developed the concept of the “egophanic revolt,” in order to designate the concentration on the epiphany of the ego as the fundamental experience that eclipses the epiphany of God in the structure of Classic and Christian consciousness. . . .the term egophanic revolt , distinguishing this experience of the exuberant ego from the experience of the theophanic constitution of humanity, is the best I can do terminologically at present."


AUTOBIOGRAPHICAL REFLECTIONS Chapter 17, From Political Ideas to Symbols of Experience, pp 66-68.

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Morte aos Pedaços














O meu querido amigo Luís Tirapicos decidiu acabar com o blogue. Compreendo a decisão, sabendo das resmas de trabalho e dos outros projectos que agora tem.
A ideia de montar esta reacionária pasquinada veio de uma conversa de terça à noite com o Luís e a ideia era termos uma casa comum, o que depois não se veio a realizar. Muitos textos, muitas controvérsias, muitas ideias foram aperfeiçoadas nas nossas conversas e ajudaram a sedimentar as minhas convicções, muitas delas comungadas com o Luís.
Ele agora vai embora, mas não sem o suprapostado prémio.
Aguardo regresso num projecto ainda mais forte.

Sugestões

Há uns dois ou três anos comprei na Feira do Livro o "Como se levanta um Estado" do Prof. Salazar, publicado pela Mobilis in Mobile, por 3 Euros. Não sei se há diferenças de uma edição para outra (a da Atomic Books), mas vale a pena a procura na banca dos pequenos editores, para os mais desabonados.

quarta-feira, maio 23, 2007

Momento Erudito do Dia













- Código de Nuno F.-

Da Caixa de O Insurgente:

"Nuno F. diz:

Jesus Cristo também nunca existiu.
(Pelo menos esse Jesus Cristo da bíblia, já que o nome Chrestus era um nome comum na época naquela zona.)
E confesso que me faz bastante espécie que pessoas intelientes e bem informadas ainda engulam esse engodo em pleno século XXI."


Como toda a gente sabe, Jesus era Cristo por parte do Pai e Mendonça da parte da mãe. Há por aí alguns ignorantes que acham que Cristo era uma palavra grega que significa Messias, mas não é verdade! Era um nome (grego) bem comum na Judeia.

Falando a sério, o comentário é demonstrativo de onde pode ir a imaginação para se negar algo de que não se tem ideia nenhuma do que é.

Para Pensar

Se eu mandar o Pires de Lima praticar questões fracturantes com um gajo qualquer, ele não me responde com valores herdeiros do absolutismo do século XIX?

Horrorizados
















Não tenho paciência para o Pires de Lima, mas tenho ainda menos paciência para os que o criticam e depois defendem exactamente a mesma coisa. O homem é infeliz, mais uma daquelas mentes simples que acham que o grande problema do Estado é não ser governado como uma Empresa. Não se percebe, porém, como num partido rendido aos “problemas das pessoas” e restante “banha-da-cobra pragmático-tecnocrática” tal visão pode ser considerada marginal. Sem um ideário como é possível determinar o que é fracturante ou o que não o é? É fracturante, e portanto indesejável, o que emperra a máquina e prejudica a obtenção do bem-estar material das populações? Ou é indesejável o que vai contra as concepções sociais dominantes? Será indesejável uma acção que vá contra os princípios cristãos da sociedade? Ou será que Pires de Lima tem razão e a sociedade pode fazer o que quiser com a sua lei?
No caso da primeira será utilitarista, no caso da segunda será popular, no caso da terceira conservador ou democrata-cristão, e no caso da quarta será liberal.
Será que o CDS é tão nulo que já nem sobre isso tem posição?
Vamos ver quem ganha este concurso de nulidades tecnocráticas, visto que agora até no PSD se fala em “mudanças profundas” para ficar tudo como sempre foi...

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Roteiro para a Inclusão

Só li três ou quatro livros do Tintin.
Ainda recebo a visita do Cavaco...

Muitos Cartazes












































segunda-feira, maio 21, 2007

O Começo da Ordem






















Quando observamos qualquer fenómeno político devemos sempre observá-lo em correlação com as circunstâncias que o rodeiam. No que respeita às formas de organização da comunidade tal lição ainda é mais importante. A monarquia, por exemplo, é um regime superior aos outros, mas não é sempre o melhor. Tem maiores potencialidades de gerar uma sociedade bem ordenada, mas, onde não exista uma legitimidade bem fundada ou uma boa orientação do monarca para a compreensão dos valores da comunidade, pode ser uma fonte de corrupção e de degeneração de todo o sistema.
O mesmo sucede em relação ao Comunismo e à Democracia.
Quando Platão postulou a existência de um sistema comunista não o fez com o intuito de fornecer à cidade uma norma única e generalizada. O Comunismo de Platão, embora A República seja omissa nesse aspecto, funda-se na virtude dos líderes, mas também numa preocupação com a propriedade por parte do estrato produtivo da sociedade, o que indica com alguma certeza, que o sistema comunista não entrava na vida dos cidadãos, mas apenas da classe governante. Tal sistema existiria apenas em duas condições. Onde a virtude ascética o permitisse e fosse necessária e onde outros produzissem o necessário para o sustento da comunidade. O mesmo se aplica ao comunismo da vida monástica, que só é possível quando inserido num sistema produtivo mais amplo e que não se rege pelos mesmos princípios e virtudes. Marx, como homem inteligente que era, contornou o problema ao profetizar o fim da escassez ou o fim dos desejos humanos fora da esfera da comunidade. O universalismo comunista era a vertente utópica de um sistema económico-social que sempre soube não poder ser a norma do todo social. Não admira que tenha sido por essa incapacidade produtiva que o comunismo tenha colapsado como sistema social.
O mesmo sucede com a concepção democrática da sociedade. Ouve-se falar bastante de Democracia e da sua incompatibilidade com alguns princípios das comunidades bem ordenadas. Mais uma vez é preciso distinguir o que é a Democracia como elemento de decisão política e como concepção civilizacional e estruturante da vida humana. A primeira é uma directa decorrência de uma tradição institucional que consagra um direito alargado à participação na decisão política. A segunda corresponde à ideia de que a comunidade e a forma de vida comum são propriedade dos cidadãos e que nada existe acima dessa vontade. A incapacidade dos que perfilham esta segunda concepção em encontrar qualquer norma, ou qualquer justificação, superior à convencionalidade, para justificar a força legítima de que a política não pode prescindir, é a perfeita assumpção da Apatia existencial que preenche o espírito de todos os que vivem no totalitarismo da discricionaridade. E, estranha ironia do destino, quem não compreende isto nasceu para obedecer, encontrando-se escravizado pela sua própria concepção castrada da capacidade de observar para além do sujeito. Sem essa liberdade, sem a qualidade de alma registada por Platão que leva a que um homem, mesmo que sem possibilidade de ser apanhado, não cometa dano aos outros, como pode alguém dizer-se livre o suficiente para governar? Sem essa concepção de justiça superior a única distinção entre o criminoso e o virtuoso é a vontade de terceiros.
É fundamental ordenar o espírito, como ordenar a estrutura da sociedade, como ordenar os valores e os slogans que nos norteiam. Mas tal só é possível onde existe um vislumbre dos fins.

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quinta-feira, maio 17, 2007

Acção Portuguesa









Qualquer Nacionalismo não ideológico significa o regresso à essência da comunidade. Numa comunidade com muitos séculos de história significa conservar as coisas boas e limitar o mal que nelas se encontra. Uma Tradição é sempre a defesa do Bem que se encontra na história e a tentativa de o manter vivo. Reaportuguesar Portugal é o signo desse desígnio e dessa acção.

O grande problema dos tempos que vivemos não se encontra nas contas, nos erros do Modelo Social ou na venda de Portugal ao estrangeiro. O problema está no sistema de valores que permitem todos os erros que sucessivamente têm vindo a afundar Portugal.
O problema é essencialmente moral, porque na nossa sociedade prevalece uma ideia de conflito social propagada por décadas de socialismo, social-progressismo e por muitos anos em que os homens de bem nada fizeram.

Sem uma ordem política e uma nova Constituição, contra as lutas de classe, as ideias de que uns devem sustentar os desejos e os estilos de vida alternativos dos outros, de que tudo é negociável no mercado da democracia, de que a diferença entre a defesa do mal e do bem são meras questões de perspectiva. Tudo isto porque se perdeu o critério e o método de compreender a evolução das sociedades de modo a que se possa encontrar a medida onde a justiça e o interesse comunitário existe.

Nesse ponto os Cristãos têm um papel preponderante, mas não único. Todos os que compreendem a impossibilidade de estruturar uma ordem em algo mais do que a mera funcionalidade (com as catástrofes morais a que esta conduz), a ideia de que a vida comunitária e as leis que as governam devem provir de um diálogo interno sobre os bens e a virtude da comunidade, terão possibilidade de participar nesta reflexão e na regeneração da comunidade política, por compreenderem que a experiência histórica e o saber contido nas tradições de vida comum são um elemento fundamental na compreensão do que é a Justiça.

Começar esse trabalho só pode passar por mostrar as diferenças entre uma sociedade onde não existem normas externas e uma que busca a obtenção de bens que não são materiais. Mostrar o carácter essencial da verdade é só o primeiro passo, mas é o passo decisivo.

A Educação Liberal e o Direito à Opinião
por Olavo de Carvalho

Hoje em dia todo mundo acredita que existe o direito à liberdade de expressão e o direito à liberdade de opinião. Eu não acredito porque, para haver liberdade de opinião é preciso, em primeiro lugar, haver uma opinião. Mas a maioria das pessoas que exercem a liberdade de opinião não tem opinião. Para ter uma opinião, preciso ter prestado atenção em algo. Freqüentemente vemos pessoas que falam durante dez minutos sobre assuntos nos quais não prestaram atenção nem por dois minutos. Então não posso chamar isso de opinião: isto é uma efusão improvisada de palavras que brotam no momento da pessoa, mas sem nenhuma relação com o objeto do qual ela está falando. Então se acreditamos no direito universal à expressão das opiniões, que ele é um dado primeiro e incondicional, significa que todos têm o direito de falar pelo tempo que quiserem e todos têm a obrigação de ouvir. Então lhes pergunto: o que é o direito à liberdade de opinião sem a contra-partida que é o direito de não ouvi-la, o direito de ir embora? Por exemplo, nenhum de vocês está obrigado a ficar sentado aí. Vocês estão porque querem, mas têm o direito de ir embora a qualquer momento.

A própria idéia de direito à liberdade de expressão, à liberdade de opinião está condicionada ao mérito da opinião, ao valor da opinião. E esse valor é condicionado, no mínimo, pelo interesse que o próprio opinante tem no assunto. Imagina que o sujeito não se interessou pelo assunto o suficiente para se informar a respeito dele por cinco minutos que sejam. Por que ele teria o direito de falar sobre o assunto durante seis minutos e teríamos que escutá-lo? A conquista de uma opinião, portanto, é o primeiro passo para o exercício efetivo da liberdade de opinião. É evidente que quando o indivíduo expressa sua opinião numa assembléia, ele está de certa maneira se personificando; está dizendo: este sou eu, sou o camarada que pensa assim e assado. Dali em diante, ele será encarado como representante daquela opinião. Mas, se o sujeito dá uma opinião que pensou na hora e da qual não vai se lembrar nos próximos dez minutos, ele personifica o quê?

É só reparar um pouco nas discussões públicas que acontecem no Brasil e percebemos um fenômeno esquisito. Sabemos que as pessoas lêem pouco; os jornais de grande tiragem vendem hoje cerca de um milhão de exemplares, sendo que vendiam o mesmo na década de cinqüenta. Ou seja, a população cresceu formidavelmente, o número de escolas cresceu mais ainda, e as pessoas continuam lendo a quantidade de jornais que liam na década de cinqüenta. Quanto aos livros, não tenho cálculos mais atualizados, mas na década de noventa havia menos livrarias no Brasil do que na década de cinqüenta. Apesar dessa total falta de interesse em saber das coisas, as pessoas sempre têm interesse em opinar. Dificilmente vemos um repórter perguntar a uma pessoa na rua o que ela acha disso ou daquilo e receber como resposta: não sei, estou por fora do assunto. Nunca vi isso. As pessoas consultadas sempre têm opinião sobre qualquer coisa.
Vendo isso ao longo dos tempos, vi que esse é um traço antropológico muito estranho: uma sociedade onde as pessoas não se interessam pelo assunto, mas têm um interesse brutal em opinar a respeito dele. Não estranhamos isso apenas porque já nos acostumamos, mas essa é uma conduta anormal. É uma anomalia que, repetida ao longo do tempo, acabamos achando que é normal.

Ora, se tentamos convencer as pessoas de que existe um negócio chamado cidadania e que esta inclui o direito de opinar sobre questões públicas - e todos estão persuadidos disso - e ao mesmo tempo não cria a percepção de que para ter uma opinião é necessário ter prestado atenção no assunto, o que estamos fazendo com essa cidadania? A está transformando numa espécie de bolha de sabão, numa fantasia, numa mentira e numa paródia de si mesma. A noção de cidadania e de exercício da cidadania faz sentido a partir do momento em que as pessoas têm realmente opiniões, não confundindo a opinião com uma efusão qualquer de palavras que brota do inconsciente ou que foi ouvida num anúncio de rádio anteontem e o sujeito repete. Esse tipo de falatório é a degradação da liberdade de opinião, ele não é a própria liberdade de opinião. Sobretudo porque se espera que o exercício da liberdade de opinião contenha dentro de si a possibilidade de uma repetição, de uma reiteração e de uma luta pela própria opinião. Supõe-se que a opinião de um indivíduo valha algo para ele e, por isso, ele luta por ela. Mas se o sujeito não precisou pensar no assunto, se a opinião não lhe custou nada, quanto ela vale para ele? E a pergunta fatídica: por que devo prestar atenção à sua opinião por mais tempo que você levou para formulá-la? Se você levou dois minutos pensando no assunto, por que devo ouvi-lo durante três? Quando queremos que os outros façam o que não quisemos fazer, que sejam o que não somos, entramos diretamente no culto à Papai Noel. E chamar isso de formação da cidadania é achar que puerilizar as pessoas é torná-las cidadãos. Um homem que acha que os outros têm obrigação de ouvi-lo só porque ele é bonitinho é exatamente como aquela criança que, quando vem visita em casa, começa a fazer palhaçada e todos têm que achar bonito e passar a mão em sua cabeça. Qualquer cidadão que se atreva a falar em púbico com essa expectativa está se aviltando, está permitindo que a situação lisonjeie seus desejos pueris. Evidentemente não é esse tipo de formação do cidadão a que visamos.

segunda-feira, maio 14, 2007

Passagem de Nível





















Quando leio o Miguel é raro não me vir à lembrança Santayana.
Há naquela decadência da Modernidade e na transição para a contemporaneidade, de que Santayana é interessantíssimo expoente, muitos pontos de apoio e tentativas de superação da mecanicidade e agonia modernas. Os diagnósticos são sempre importantes...
Em Santayana e no Miguel há grande apreço pela construção humana, pela estranha relação entre os objectos que permitem que se gerem formas. A estética de Santayana é um hino ao Homem e à capacidade que este possui de conquistar a materialidade, na tradição maquiavélica, mas de subverter essa capacidade humana de conquista, de conduzindo-a para o domínio do imaterial. Santayana era capaz de ver “o sublime”.
Infelizmente, Santayana, partidário de uma “estética católica”, nunca conseguiu estabelecer uma distinção que superasse a mera dialética da construção do “para si” e para o “exterior”. Qualquer elemento ético altruísta que não residisse no “auto-interesse” teria carácter e valor estético, teria a beleza do anómalo.
Concordo, embora considere fundamental acrescentar uma camada. É certo que há muito mais beleza em qualquer templo humilde, que em todas as equações que permitiram domar a energia atómica. Dizendo isto, acho, porém, que só perante o espelho se pode superar. Partir da inclinação e da compreensão quantitativa (do pequeno ao grande, do pouco ao muito), para observar a beleza da sua direccionalidade, é um ponto que já Santayana fez e que o Miguel prossegue. O salto seguinte e libertador, será sempre a compreensão de que essas construções não são apenas feixes do Sublime, mas que correspondem a uma verdadeira arquitectura do Ser. Para tal há que compreender a “norma externa”, mais do que a submissão dos homens a estas (que podem ser hipotéticas ou imaginárias).
É precisa mais realidade ainda.

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"MEME"

Em resposta à solicitação do César Augusto, deixo aqui uma pequena espécie de saber portátil.
É uma pequena frase que sintetiza a obra de Voegelin.

"Por favor, não imanentizem o eschaton cristão!"

Segundo me dizem até há malta com t-shirts com este anti-moderno dizer.

Peço ao António e à Gazeta, ao cada vez menos blogosférico Manuel e ao ocupado Pedro, o favor de prosseguirem a corrente... E de me perdoarem pelo impingir da escrita.

Outras Fés
















Quando um Padre é entrevistado pela RTP e afirma que o Limbo não existe, porque viola os pressupostos de justiça humana da “presunção de inocência”, o que é que é possível dizer? Não sei que votos é que anda esta gente a fazer e que teologia andam a estudar, mas duvido que tenha qualquer semelhança com a Cristã. É tanta a ignorância e a estupidez deste Padre Anselmo, que me é impossível dizer algo de espirituoso ou analisar a situação. E porque não sei o que é que os seminários andam a fazer, é melhor estar caladinho e pedir...

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Fina Têmpera

De quando em vez alguém atira com a ideia de que a blogosfera está a morrer. Não sei...
Cada vez, porém, que leio um "post" destes, fico com mais vontade de que a coisa não cesse.
Não vejo pensamento nos jornais, nem nas universidades e encontro-o sempre aqui.

sexta-feira, maio 11, 2007

Liga dos Amigos dos Regicidas










Já enviou o seu donativo?

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"Jesus Christ died for us, and all I got was this stupid t-shirt"

Quer queiram, quer não, o Cristianismo é a marca de identidade de Timor Leste. Dito isto, esperava tudo menos ver Ramos Horta com uma t-shirt com a imagem de Cristo no dia das eleições. Nas nossas latitudes tal é visto como um acto populista, a tentativa de utilizar a religião para obter votos, mas em Timor parece-me um acto simbólico da maior importância e significado. Não posso dizer que tenha gostado, porque, vindo de quem vem, é nula a esperança de que seja mais que uma tentativa de santificação do homem e dos seus actos, em vez da correcta subordinação da acção à Sua Norma.
O terreno é perigoso, mas fértil, onde não existindo bons pastores, não há, pelo menos, vergonha de compreender que Deus tem consequências... inclusive políticas.
É bom ver que a Igreja se começa a lembrar disso. Lá virá a nossa comunicação social em breve dizer que a Tradição e Doutrina são de extrema-direita...

quinta-feira, maio 10, 2007

A Seguir às Cinzas
















Sou muito céptico quanto a Nicolas Sarkozy. Tudo me parece perfeitamente plástico e pronto a ser engolido pela prática quotidiana do Poder, pela ascendência do politicamente correcto (a religião oficial dos nossos tempos), pela necessidade acomodatícia das direitas instaladas.
Não sei se o futuro Presidente fará as reformas necessárias e estou quase certo de que o problema da Imigração será um dos primeiros elementos de troca a serem sacrificados. E a moral de Sarkozy, sempre na ponta da sua língua, vai revelar-se elemento inócuo e incapaz de gerar o muito necessário factor aglutinador necessário à reconstrução da Nação e à inserção comunitária dos imigrantes. Não vejo que moral daquelas paragens e compatível com os valores do regime, poderá funcionar como núcleo existencial da nação.
Ou vem nova república ou a coisa não muda...


(outras encarnações...)

quarta-feira, maio 09, 2007

Assassinos no Panteão? Não, Obrigado...

A Direita Marxista
















Não sei de que direita é Paulo Rangel. Não sei, mas não há de ser de nenhuma que me interesse. A ideia de que a direita pretende o mesmo que a esquerda, mas por outros meios, é para mim e para qualquer pessoa que se considere de direita, uma ofensa grave.
A ideia de Rangel é a continuação do que aqui temos vindo a referir. Para esta direita a diferença entre o extremismo e o centro está no método empregue (a força ou o argumento). Esté tudo rendido à ideia de direitos sociais, de que a comunidade serve para satisfazer os “direitos” e os apetites dos indivíduos...
É mentira que direita e esquerda façam a apologia do Bem Comum. O que a esquerda (e pelos vistos a direita que temos) faz é uma apologia do interesse público, das finalidades da comunidade, como mero preenchimento dos desejos e necessidades individuais. O sonho de Marx e dos socialismos está, por isso, perfeitamente vivo nos que se consideram portadores desse desígnio público de satisfação das necessidades privadas. Nada de comum existe, nenhum critério deve reinar, porque os desejos dos indivíduos (o critério marxista da necessidade dos indivíduos) reinam na sociedade. Eu, ignorante, sempre pensei que ser de direita era buscar o critério de justiça, o ponto que permite distinguir entre o que é lícito para o homem pedir à comunidade. Vejo que não. Que o igualitarismo socialista já tomou os que se dizem de direita. Sem pudor, possivelmente, sem consciência e certamente sem justiça.
Há uma reconquista a fazer.

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segunda-feira, maio 07, 2007

Deus Faz Parte da Construção Europeia?


sábado, maio 05, 2007

A Filosofia Contra o Senso





















(na imagem: a tendência para o bem que há em todos nós)


Um dos pontos de partida da obra de Voegelin foi a estranheza que lhe causou a aceitação acrítica e não fundamentada da Democracia pelos seus colegas de todas as ciências (das físicas às sociais). Rapidamente percebeu que o problema estava nos limites da ciência que estes tomavam por certos e dedicou-se à criação de uma “ciência nova” que não operasse a partir da loucura da distinção entre factos e razões.
Uma das primeiras compreensões sobre o assunto foi de que os factos comportam em si toda uma teoria prévia, que lhes permite fazer esses julgamentos. O facto é um mito, como defendeu McIntyre e é sempre observado à luz de racionalidades (o que o escocês chamava “tradições”). Todas os actos humanos estão a elas subordinados e por elas enquadrados.

O mesmo se passa na Política, onde a neutralidade e a ideia de que a acção se sobrepõe às ideias, o legado da Modernidade, esconde uma submersa concepção profunda. Essa neutralidade, ou objectividade, assim como a ideia de que esse enquadramento é um domínio que escapa à ciência ou a uma racionalidade analisável, criou a ideia de que a acção sem uma compreensão da realidade é possível.
Em boa verdade tal situação é possível, mas apenas dentro de um “espírito” ou de um enquadramento em que apenas existe o “caos”. As construções que as permitem não são poucas... O nominalismo e a incompreensibilidade do Bem que reside no Deus de algumas concepções religiosas, a construção do Homem e da Comunidade como possuidores de papéis divinos, a ideia de tudo é divino ou nada é divino, são apenas alguns desses caminhos.

Onde o debate político é exterior, ou não enquadrado pela filosofia, onde a racionalidade não é passível de análise, fica o momento em que a catástrofe está a cada esquina, meramente impedida pelo Bom-Senso. Se não tivesse existido o Século XX poderíamos ainda crer nessa centelha, nesse resíduo do Bem que que se encontra nos homens. Infelizmente os exemplos de maior amoralidade vieram do povo europeu mais repleto de deontologia. Fixado nesse elemento não analisado de senso-comum, o povo alemão permitiu o massacre, o roubo, a substituição do governo humano por um líder semi-divino.
Se nenhum povo existe sem senso-comum, também é verdade que o Bom-Senso só existe onde existe o Bem, e onde o político e o social o fizeram.

O Poder é natural, mas não é natural que seja o fim de si mesmo. Quando a Política é auto-referencial não há esperança. Dizer que um político quer resolver os problemas das pessoas é uma falácia para caçar tolos. O que são problemas para ele? Se eu me queixar de que não sou milionário o político vai resolver o meu problema? E o facto de eu não gostar dos meus vizinhos? E o sujeito que se quer casar com um cão?
É evidente que a própria concepção do que é um problema político e do que não é, já é, em si, uma definição do papel do político, uma concepção moral, um reflexo de uma posição metafísica. Seja nos casos em que o político resolve, como nos casos em que não, a acção política corresponde sempre à atribuição de um valor.
Por que é que o problema do emprego não é resolvido com o extermínio de segmentos da população? Há dúvidas de que tal iria resolver o problema?

A loucura está na não definição do Bem do Senso, na deontologia apriorística que comporta incapacidade de analisar das finalidades da sociedade.
Sem pensar o Bem e sem a ordenação da política com vista a esse fim, viveremos sempre com os pés no abismo.

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quinta-feira, maio 03, 2007

A Bandeira Perdida

















Gostei de ver a bandeira monárquica em Santa Comba. Primeiro porque não é uma bandeira monárquica, mas uma bandeira do Portugal Monárquico e Liberal, que apesar dos seus muitos erros, era uma Pátria Cristã, Universalista e Ultramarina. Logo, faz parte do Portugal essencial... Infelizmente há quem não veja os pontos de contacto e quem veja antinomias onde estas não existem. Na Monarquia como na República o que interessa é Portugal. E se eu acredito que a Monarquia é o único regime que pode ter alguma permanência da essência, não é qualquer Monarquia que o pode fazer. Basta olhar para a espanhola, para a britânica, ou a da AMT... Só quem coloca o regime acima da Nação pode achar que a bandeira lá estava mal. O que não é o caso da muito estimada Gazeta...

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Para um Movimento Conservador (III)














A recepção à apresentação da Alternativa Portugal foi tépida por parte da blogosfera de direita. Não conhecendo as pessoas envolvidas e os seus projectos de actuação não é de estranhar. As pessoas gostam de caras. Essa é uma parte fundamental da política. Parece-me, porém, que existem alguns pontos bastante importantes na dita apresentação e que são de realçar.


A AP defende a existência de um núcleo essencial da Nação que deve estar a salvo dos precários equilíbrios políticos. Consequentemente, a ideia de que só transcendendo Abril será possível preservar o edifício espiritual e material que somos, parece-me pouco discutível. A existência de um pensamento tradicional dentro deste paradigma constitucional é uma impossibilidade lógica. Para além do mais, a ideia de que um Estado precisa de reconhecer realidades sociais e não de as criar como no projecto abrilino, está também na declaração de princípios.


A ideia de Liberdade como concreto e palpável resultado de uma boa ordem e da sua construção histórica (na boa esteira tradicional de Burke e do conservadorismo anglo-saxónico, intocado pela utopia anarquista ou totalitária afrancesada) é também algo a que creio todos os homens e mulheres de direita e de justiça serão sensíveis. Há uma crítica severa à partidocracia e à sua forma de representação. Até há uma vindicação das vítimas de Abril.


Não me parece que não exista matéria suficiente para discussão...

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terça-feira, maio 01, 2007

Um Nacionalismo








A questão do Nacionalismo é bastante simples, ao contrário do que muitas vezes pretendem os defensores de certos ocultismos intelectuais que lhes mantêm a clientela. O Nacionalismo não é, nem pode ser uma ideologia. Tal implica sempre a redução da realidade a uma verdade que provém de um desejo, o que conduz à ideia de que a concepção própria, a nossa, deve governar a vida do mundo e das comunidades que lhe são exteriores. São os nacionalismos ideológicos.que acham que todo o mundo e todas as comunidades deveriam estar unidas nos mesmos laços que elas próprias. Esta redução da realidade a uma verdade induzida é um dos grandes inimigos do Nacionalismo, por criar a ideia de que tal nação só existe quando fundada em critérios e numa lógica pré-determinada e quase sempre superficial (língua, similitude física, história).

O Nacionalismo é tão somente a ideia de que os laços comunitários que englobam a sociedade se sobrepõem no domínio político e moral a outros quaisquer. Esta supremacia do elemento comunitário, que se consubstancia numa “ética de virtude”, oposta ao cosmopolitismo moral ou ao individualismo e atomismo ético-político, postula para o indivíduo um conjunto de obrigações e uma educação propícia à obtenção das disposições da alma no homem que permitem que a comunidade alcance os bens a que se propõe. Esta educação para a virtude é essencial na realização humana que deve ser a política.

Mas para que a Sociedade não se torne auto-referencial, e incorra nos erros da auto-divinização, é fundamental que exista um conjunto de princípios de justiça que não se encontram na sociedade. A verdade não é imposta pelos homens, é lhes imposta pela realidade. Todas as comunidades precisam de se apegar à Verdade e ao Bem e de, com os instrumentos que têm ao seu dispôr, indo revelando através da sua vivência comum as tradições que são compatíveis com essas realidades imprescindíveis. Nesse ponto se distinguem claramente uma qualquer comunidade política, provida de um Bem-Comum, e uma Nação, onde o Bem Comum é mais evidente pela existência de uma cultura e de tradição de vida comum, capaz de fazer compreender os princípios da Vida Boa pela solidariedade natural entre todas as gerações.

Resumindo, uma comunidade política define-se pela existência de um Bem Comum como suprema norma de acção no seio dessa comunidade. E por muito que as ideologias, que muitas vezes falam de Nação quando querem dizer Povo, Raça ou Tribo, defendam que a obediência é devida a mitos, a chefes, a consensos, independentemente do que eles representam, o Nacionalismo ou é a defesa do carácter humanístico e verdadeiramente libertador do Bem Comum ou não é nada.

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