terça-feira, maio 29, 2007

A Fotografia Esborratada de Burke





















Hoje uma colega veio falar comigo para me mostrar grande alegria de ter conhecido finalmente a obra de Burke. Desconfiei logo. Numa aula de História do Pensamento Político o professor deu a conhecer a importante obra de Edmund Burke. Esta caracteriza-se pela defesa de que as coisas devem ser como estão.
Notável avanço intelectual. Foi preciso a civilização avançar dois mil anos para que houvesse alguém que defendesse que tudo está bem como está. Este Burke é mesmo importante!
Não percebo como é que esta leitura de Burke pode interessar a alguém, quando houve tantos pensadores e sofistas que defenderam o mesmo em muito menos páginas. Vem a seguir a conversa de que Burke era contra a filosofia, contra a teoria, contra a ideia de que a sociedade deveria perseguir a Verdade, um chorrilho de idiotices e banalidades de quem aprendeu filosofia nas páginas do Expresso ou naquelas revistas para neo-conservadores recém-conversos.

Se Burke era contra a filosofia, porque é que escreveu um tratado filosófico, porque é que considerava os revolucionários sofistas, porque é que citava com profusão Aristóteles?
Se era contra a ideia de Bem como guia da comunidade política, porque é que defendia que a Igreja era um factor imprescindível na constituição, que os crimes possuíam uma origem moral, que toda a sociedade se funda num contracto eterno com o Criador?
Se defendia o situacionismo, porque é que defendia a independência americana, porque é que defendia a restrição dos poderes do Rei, porque é que defendia o comércio livre para Irlanda, o fim das guerras de exploração do povo indiano, os direitos dos animais, o fim da escravatura ou o fim da pena de morte para os homossexuais?

Quando o pensamento político passa à conversa de café, quando é a cultura do colunismo quem mais ordena, quem é que paga as favas? Os desgraçados que pagam todos os meses e vão para casa com mais certezas sobre um assunto que até os professores desconhecem...

É o que temos e para o ano há mais.

Etiquetas: