segunda-feira, maio 14, 2007

Passagem de Nível





















Quando leio o Miguel é raro não me vir à lembrança Santayana.
Há naquela decadência da Modernidade e na transição para a contemporaneidade, de que Santayana é interessantíssimo expoente, muitos pontos de apoio e tentativas de superação da mecanicidade e agonia modernas. Os diagnósticos são sempre importantes...
Em Santayana e no Miguel há grande apreço pela construção humana, pela estranha relação entre os objectos que permitem que se gerem formas. A estética de Santayana é um hino ao Homem e à capacidade que este possui de conquistar a materialidade, na tradição maquiavélica, mas de subverter essa capacidade humana de conquista, de conduzindo-a para o domínio do imaterial. Santayana era capaz de ver “o sublime”.
Infelizmente, Santayana, partidário de uma “estética católica”, nunca conseguiu estabelecer uma distinção que superasse a mera dialética da construção do “para si” e para o “exterior”. Qualquer elemento ético altruísta que não residisse no “auto-interesse” teria carácter e valor estético, teria a beleza do anómalo.
Concordo, embora considere fundamental acrescentar uma camada. É certo que há muito mais beleza em qualquer templo humilde, que em todas as equações que permitiram domar a energia atómica. Dizendo isto, acho, porém, que só perante o espelho se pode superar. Partir da inclinação e da compreensão quantitativa (do pequeno ao grande, do pouco ao muito), para observar a beleza da sua direccionalidade, é um ponto que já Santayana fez e que o Miguel prossegue. O salto seguinte e libertador, será sempre a compreensão de que essas construções não são apenas feixes do Sublime, mas que correspondem a uma verdadeira arquitectura do Ser. Para tal há que compreender a “norma externa”, mais do que a submissão dos homens a estas (que podem ser hipotéticas ou imaginárias).
É precisa mais realidade ainda.

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