quinta-feira, maio 31, 2007

A Um Ignorante Auto-Induzido



“When people stop believing in God,
they don't believe in nothing –
they believe in anything."

G. K. Chesterton






A ignorância do Mundo Moderno vê-se pelo número de certezas que este criou.
Por cansaço, não consigo mais olhar para o lado para as crassas manifestações de ignorância dos que insistem em identificar a religião do materialismo como relação normal do Homem com a Verdade. Este texto impõe-se para que não tenhamos de voltar a explicar tudo de novo, para que possamos voltar a traçar as linhas do conversável e a definir as fronteiras do argumentável.

Surgiu aqui na Gazeta um sujeito que regressa à pergunta de Pilatos, tentando fazer vingar a ideia de que:

- todo o bem é convencional e situado socialmente

- que a Verdade é aquilo que é possível provar materialmente

- que a lógica é uma criação humana

Comecemos por um pormenor de ignorância. Diz o sujeito que não duvida da existência histórica de Cristo ("Eu disse que Cristo nunca existiu, seu mentiroso???"). Ora como Cristo é sinónimo de Messias, ou se acredita em Cristo e se defende o seu carácter divino, ou se acredita na existência de Jesus. São coisas bem diferentes que demonstram a forma como ignorantemente se usam as palavras. Quem depois de tal disparate ainda se alcandora a raciocínios metafísicos e epistemológicos, deve aguardar o tombo seguinte.

Comecemos pela Lógica. Diz o sujeito que tal é apenas produto da criação humana e que é

“Método criado por homens, conforme acharam mais correcto. Nada tem de divino”

para em seguida dizer

“Éu não disse que a lógica é um acto criativo. Eu disse que a lógica é um método que foi criado pelos homens para distinguir os discursos bem enunciados dos mal enunciados. Não há uma lógica por pessoa, mas a lógica que existe foi criada por pessoas.”

Ora aí está um belo exemplar de disparate. Se a lógica fosse matéria empírica, haveria uma capacidade de pensar para além dela. Porque é que não se consegue, então, postular que A maior que B e B maior que C, resulta num C maior que A? Se esta é apenas uma coisa verificável e construída pelos homens, deve haver capacidade de raciocinar de outra forma. Infelizmente ainda ninguém explicou que extra-racionalidade é essa... Continuamos então com a ideia de que na lógica há uma imperatividade que é exterior à vontade humana.

A ideia de que existe um conhecimento científico de que se pode fazer prova é também uma paródia da religião positivista de Comte. Ora diz o desarticulado senhor

“Acho que a astronomia já provou que a Terra gira em torno do sol, a Geografia já provou que depois dos Pirenéus fica a França, a Hitória já demonstrou que o primeiro Rei de Portugal foi D. Afonso Henriques, a Física já concluiu que para cada acção existe uma reacção em sentido contrário: espero não estar a dar-lhe noidade nenhuma...”

Toda esta concepção é uma distorção do que é o conhecimento científico. Quando Newton postulou a lei da Gravidade todos andavam a dizer que aquilo era verdadeiro e apareceu Einstein a demonstrar as insuficiências e a falta de veracidade da teoria. Da mesma forma existem físicos que consideram que a Terra é plana e que são as dimensões paralelas em que o Universo se divide, que criam a uma percepção de circularidade. Ignorar que as verdades da Ciência de há dois séculos já foram todas refutadas é ter muita fé.
Da mesma forma que existem pessoas que afirmam que Jesus nunca existiu, que Afonso Henriques não era de facto o filho do Conde, todo o conhecimento é refutável. E como se prova que não vivemos no Matrix (e existem de facto os Pirinéus e o Marquês de Pombal? e se a convenção decidir que não existem?), onde toda a história nos é induzida? Só há uma forma de o fazer, através da Verdade e da compreensão da realidade como externa ao que é convencional. A verdade que existe na lógica não está apegada à materialidade do que nos rodeia...
Todas essas “evidências” do materialismo, não são senão expressões de uma racionalidade própria, que à partida determina a irracionalidade de tudo o que não obedece a esse método. O Facto é um Mito e dos menos sofisticados...
É curioso como se aceitam as evidências de que Jesus existiu de facto, e depois não se aceitam as que afirmam a sua Divindade. Não preside a essa racionalidade de escolha das fontes uma racionalidade que pressupõe que todas as formas de homem da História, foram meros seres humanos? E não é esse pressuposto uma presunção de materialismo?
Esse materialismo é mais dogmático que qualquer religião, porque pressupõe antes de tudo que não existe mais nada para além do seu horizonte.

Dessa castração espiritual vem a ladaínha habitual de que todos os valores são criados pelo Homem, de que são apenas “costumes”, de que a diferença entre um homicida e um filantropo é mera questão de perspectiva (e avisa-se o dito senhor que a palavra “concedência” não existe). Então porque é que não se pode matar, estropiar? E porque é que se fazem concessões (santa ignorância...) ao fazer o pacto social?
O resultado é evidente... Tudo o que a sociedade convencionou é bom. Como dizia Platão esta é uma cidade de porcos e não de homens.
A estupidez atinge limites quando o dito considera que o facto Deus ser um ente metafísico ou um animal deste mundo é mera construção social. Se a sociedade acha que se devem matar velhos e incapazes, se a sociedade acha que se devem matar comunistas ou nazis, está livre para o fazer. O dito sujeito ainda acha que

“Duvido que as pessoas vissem qualquer utilidade, para a sua satisfação, de um Estado policial, violento, arbitrário”

como se o facto de o tipo não estar a ver a acontecer de novo o que já aconteceu no Reich e na URSS, resolvesse o problema...

Deus não entra na cabeça e no coração dos que não o desejam. Para os que não anseiam por uma Norma que não seja produto humano Deus não interessa. Mas como já Aristóteles descobrira, esses nasceram para a Escravatura. Uns nasceram para servir Normas, servindo assim a Humanidade, outros nasceram para servir Desejos e ao fazê-lo serão Escravos dos outros ou de si próprios.

É só escolher entre filosofia e sofística....

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