sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Bem Comum

A concepção de Bem Comum não é nada de nebuloso, nada de místico, nada de ilógico, nada de confuso.
A analogia somática de Platão ajuda a perfeita compreensão do conceito.
O objectivo do “corpo humano” é sempre a “saúde”.
Esta asserção não é de forma alguma variável… Poderá o corpo ter como “ideal” uma situação de doença? É óbvio que não… Ninguém pode, no seu perfeito juízo, almejar a obtenção de um corpo débil, de um corpo hemorrágico, de um corpo deformado que não permita ao indivíduo alcançar os seus objectivos de vida.
Esta concepção é evidente e clarificadora.
A medicina nada mais deve ser senão a busca dessa saúde. A filosofia médica, a compreensão do que é essa saúde.
O mesmo se aplica à política…

Nesta analogia ressalta evidentemente o papel de duas coisas.
A Saúde é anterior ao seu postular pelo ser humano… Antes de o Homem pensar a Saúde, já esta existia. É por isso independente da sua articulação pelos seres humanos. Por isso é também independente das suas vontades. A Saúde é um Bem que, como todos os bens superiores, não está dependente das considerações a seu propósito (o mesmo se aplica à Justiça, à Verdade). Não é pela maioria das pessoas acharem que é saudável possuir uma perna amputada, uma gangrena, um tumor, que esta passa a ser um requisito do ser saudável…
No mesmo sentido é fundamental a existência de uma tradição provinda de experiência e teoria, que dota o Homem de capacidade de reflexão sobre a sua própria concepção de saúde, que envolve uma mesma reflexão (a narrativa colectiva de que MacIntyre e nós aqui já muito falámos). Só esta tradição pode formar um ideal a que aspirar. Tradição que é um diálogo histórico constante (poder-se-á dizer que se trata de uma essência) e não uma forma pura, originária e estática. É um conjunto de ideias que perdura no processo dialético… Uma Verdade!

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