terça-feira, maio 31, 2005

Strauss e os Neos

O Batalha Final apresentou um texto muito interessante sobre o “Neo-Conservadorismo, Neo-Liberalismo e o Lobby Judeu”. Existem porém alguns pontos que será fundamental precisar, particularmente em torno da figura de Leo Strauss e do seu envolvimento com o ideário neo-conservador.

A identificação de Wolfowitz com Strauss é uma identificação manifestamente insuficiente e uma extrapolação desprovida de sentido.
Politologicamente não é possível imaginar duas concepções tão distintas como a posição neo-conservadora e o jusracionalismo político de Strauss. O neo-conservadorismo apresenta-se como uma ideologia provinda do cepticismo e das teorias do conhecimento prático e tácito, muitas vezes mal imputadas a Burke, que provém de Polanyi e da filosofia britânica do séc. XIX, que desembocaram no pragmatismo americano, ideário que faz a ponte filosófica entre o neo-conservadorismo e a esquerda (“liberal” e “democrat”) americana, de que provêm originariamente os “esquerdistas reciclados” que agora se chamam neo-conservadores…
É por demais evidente que a perspectiva racionalista de Strauss é radicalmente incompatível com estas concepções pragmáticas e anti-clássicas. Strauss é talvez o maior ressuscitador da concepção clássica de filosofia, radicalmente oposta ao pragmatismo americano.

Strauss era também um grande opositor do liberalismo. Só desconhecendo a sua obra se poderá considerar o autor alemão um neo-liberal… É patente a visão pós-liberal da obra straussiana, a tentativa de “revolução conservadora” que o identifica como pensador da tradição prática alemã e fervoroso apologeta da tradição clássica da filosofia ocidental.
Nessa medida se inscreveu sempre num combate anti-moderno. Em “The Three Waves of Modernity” diagnostica o erro da Modernidade e o erro de Maquiavel (não era um maquiavélico, deixando esse traço para Harvey Claffin Mansfield, que também não é neo-conservador sendo straussiano), que consiste numa obsessão com a prudência (a “vertú”) que olvida a concepção do Bem. Assim inscreve a sua teoria numa certa forma de aristotelismo renovado. A modernidade é um facto que tem de ser lidado de forma a reconduzir o Homem à “felicidade”.

Esta revitalização da cultura como caminho para a “felicidade” e o “justo” é um traço distintivo da obra de Strauss, que é manifestamente oposta a qualquer concepção liberal que se possa imaginar (conhecerá alguém um liberalismo teleológico?).
A identificação de Strauss com os Neo Cons reside essencialmente no ponto platónico da Nobre Mentira. A reivindicação de Kristol, p.ex., a essa concepção reabilitada por Strauss é em nada identificável com o straussianismo.

A Nobre Mentira de Platão, recuperada por Strauss, reivindica a defesa de uma “verdade insuficiente” como forma de preservar a mais elevada existência dos homens, da sua vida no Bem.
A Nobre Mentira deve estar ao serviço do espírito, algo que é impossível numa oligarquia como a americana.
O ponto que o Rebatet observa como ponto de contacto entre os neo-conservadores e os straussianos é o elitismo. É sem dúvida bem observado, mas também insuficiente, uma vez que o elitismo é, por natureza, transversal a movimentos de esquerda e direita, populares e aristocráticos… O socialismo foi elitista (veja-se a maçonaria socialista em exercício), como o comunismo(veja-se o papel do “intelectual” na teoria de Lenin), o integralismo, o nazismo.
Há variadas teorias que defendem o uso de mentiras e a maior capacidade das elites em prover para a “besta”… A “Razão de Estado”, pós-maquiavélica, é muito mais facilmente adequável a esta perspectiva pragmática, pois inclui uma doutrina anti-clássica que lhe é muito semelhante.

Os neo-conservadores falam de Strauss como os marxistas falam de Jesus…

No restante congratulo-me bastante com o apreço que os Conservadores Tradicionais suscitam ao Rebatet, e solidarizo-me com a preocupação, expressa tantas vezes por Pat Buchanan, com o excessivo poder do lóbi sionista no Governo dos Estados Unidos.