terça-feira, julho 15, 2008

Sexo, Amor e o Fim do Preconceito

Insurge-se o Luís Aguiar Santos contra os preconceitos da sociedade e de algumas tradições religiosas contra a homossexualidade. O argumento é interessante e recorrente no pensamento moderno: se fossem retirados alguns preconceitos da discussão sobre o Amor poder-se-ia criar uma nova interpretação Cristã.
É claro que esse argumento se depara com um conjunto de problemas. Primeiro porque concentra o Cristianismo no fenómeno e não no númeno. Segundo, porque não consegue proceder à compreensão do Cristianismo enquanto experiência histórica.

Quando se fala em dar um sentido novo ao conceito de Amor, que abarca todas as suas formas, é preciso ter consciência de que nenhum sentido existe sem o preconceito. Quando alguém se diz Cristão, inspirado por um conjunto de preceitos que provêm de uma Entidade Divina que se revelou aos homens, não pode prescindir da compreensão dos elementos que fazem parte da interpretação humana desses elementos. Nesse ponto é fundamental perceber que nem toda a ânsia de unidade com um objecto é amor, a não ser que possamos falar de amor ao dinheiro, a animais ou a coisas inanimadas. Caso aceitemos que se possa falar de Amor nestes casos, estamos a utilizar uma palavra para definir algo que na Civilização Cristã tem dois sentidos: Amor e Desejo.

O Desejo no Cristianismo, ao estilo do Eros grego, significa toda a força que impele os seres humanos ao contacto. O Amor, por seu turno, implica a ordenação dessa força vital no sentido do cumprimento de um conjunto de preceitos que correspondem, como já Aristóteles havia compreendido, ao cumprimento da verdadeira natureza humana. Nesses preceitos estão incluídos alguns deveres e a concepção fundamental de que a vida humana é fruto de uma conjugação de duas formas sexuais, duas “naturezas” unidas no mesmo propósito. Tentar eliminar a questão do “género”, uma das mais evidentes realidades humanas, da “equação” sexual implicaria um processo de invalidação de toda a “experiência cristã”. Aceitar-se que toda a relação entre dois seres humanos pode ser de Amor conduz-nos a um mundo em que tudo pode ser amor, mas nada o é. Reinventando-se o significado do amor segundo os termos humanos e da sociedade (dizendo, p.ex., que o Amor é deixar o outro à sua autonomia), poder-se-á citar as Escrituras para defender que a virtude moral se encontra no pai que deixa o filho drogar-se à vontade ou a filha prostituir-se.
Se se podem escolher os significados da Revelação, com base na Razão Humana, resta saber quais os preceitos morais que ficam a salvo desta.

É evidente que aqui estamos a falar de uma Nova Revelação de autoria humana, símbolo de uma vaidade desmedida e que leva o Senhor Arcebispo de Armagh (num texto citado pelo LAS) a declarar “inadequada” a posição de São Paulo sobre a Natureza Humana (quinto parágrafo a contar do fim). Fica apenas por saber o que irá acontecer se, por acaso, o Senhor Arcebispo se lembrar que a Bíblia é constituída por relatos e que muitos poderão estar adulterados pelos homens, encontrando-se ao alcance da sua pena e dos seus desejos alterá-los de forma mais “adequada”...

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