O Jornalismo de Agora
Adquiri hoje por cinco euros um pedaço de lixo a que se decidiu chamar Visão História. Os artigos não chegam a ser maus. Temos por exemplo um senhor chamado Filipe Luís que acha que o facto de Salazar ser do signo zodiacal Touro (e de o partilhar com Saddam Hussein e Hitler) é matéria relevante. Calculo que para este senhor as colunas de Maya ou Amarilis Taveira nas “revistas do coração” sejam historiografia fundamental do século XX.
Esta Visão História faz-se também de grandes tiradas como “Se Salazar tivesse feito psicanálise…” ou Salazar era “receoso”, “saloio”, “atrofiado”, que não fazem mais do que demonstrar a pequenez intelectual do sujeito que as profere e que ainda se encontra a ler pela cartilha psicologista da década de setenta, entrecortada com a mentalidade do peri-urbano que se julga um cosmopolita.
No caminho, alguns disparates ridículos como chamar a Salazar um “autocrata”, ignorando que Salazar nunca (ao contrário de outros ditadores do seu tempo ou Napoleão) reclamou a ordem política como emanada da sua pessoa, ou chamar delfim de Salazar a Marcello Caetano.
O melhor de toda a revista é o artigo de Miguel Carvalho. Segundo esta eminência, antes do 25 de Abril “o pão sabe a merda, mas ninguém diz nada”. Claro que ninguém diz nada por causa da repressão. Esta era tão grande que “A PIDE sufocava o choro das mães” na partida dos filhos para África. Falta fazer essa contagem dos mortos...
Ainda do mesmo artista (articulista, leia-se) deve ter-se em atenção a tentação de olhar para o passado com os olhos do presente. A IGAE era a ASAE de então, cheia de capacidade repressiva. As prisões do Estado Novo, que foram alvo de rigorosas inspecções de vários organismos internacionais, são comparadas a Guantanamo (onde os prisioneiros se encontram agrilhoados todo o dia e detidos sem acusação há vários anos).
A falta de imaginação para compreender o passado sem as muletas do presente, sem as “causas” que preenchem o jornalismo dos nossos dias, é bem ilustrativa da destreza mental e escola ideológica do senhor.
Em toda a publicação não há uma novidade, uma ideia original, algo que se destaque.
Fala-se de "pobres e ricos", mas não se fala da vida da gente comum, que habitava a cidade e o campo, tinha trabalho, tinha dinheiro para viver sem luxos, não tinha a vida empenhada ao banco, que estudou e pôs os filhos a estudar para serem os jornalistas de hoje. Esta gente virá toda da Musgueira e não conhecerá outra realidade que não seja a miséria?
Portugal é retratado como um país de patrões e serviçais, esquecendo que havia nesta época maior percentagem de gente a trabalhar por conta própria do que nos dias de hoje.
Fizessem estes senhores psicanálise e veriam, porventura, que o obliterar da sua memória se deve a um esforço sobrehumano de serem bons aprendizes de feiticeiro. Não muito diferentes da rapaziada que enfileirava pela Mocidade e sonhava com outras recompensas...
Etiquetas: Salazar
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