segunda-feira, julho 21, 2008

Prudência como Virtude e a Reeducação do Professor Hess
















Talvez a mais importante virtude do recente livro de Pat Buchanan tenha sido o recentramento da discussão da política externa nos aspectos prudenciais. Pode não se concordar que a Churchill deva ser assacada a responsabilidade pela queda do Império Britânico, da mesma forma que se pode criticar algumas insuficiências no tratamento de alguns pontos importantes. O certo é que, exceptuando alguns histerismos, toda a discussão interessante se tem centrado na decisão política, na definição de males maiores e menores, ou seja, naquilo que deve ser a política em sentido puro (definição dos elementos a preservar e ordenação da acção nesse sentido). Essa é já uma grande vitória de Buchanan.

O que Buchanan realizou no seu último livro não foi uma reequação das finalidades da comunidade ou uma interpretação do Ocidente. Buchanan esteve sempre do mesmo lado. Na sua obra, a Civilização Ocidental, composta pela tradição judaico-cristã e por uma estrutura de legalidade e constitucionalidade, é um dado. O que Buchanan questiona é, tão simplesmente, a forma como uma política de absolutos (guerra total, disponibilidade total) gera compromissos absurdos, que servem tudo menos para a prossecução das finalidades da comunidade, dessa forma tentando demonstrar como as políticas de "democratização" e "progressificação" ocidentais conduzem a uma situação insustentável e que periga a justiça interna das comunidades.
Em lado algum se ouviu santificar o comunismo ou o nazismo, da mesma forma que em lado algum se ouve Buchanan reduzir a norma da acção inspirada pela prudência a um mero jogo mecanicista de forma de obtenção de desejos.

Só uma caracterização muito boçal, vinda, por exemplo, de um nazi-arrependido e apostado em ficar nas graças dos poderes que o rodeiam, pode reduzir uma ética de lealdade à institucional e prudência (a tal de Aristóteles, São Tomás de Aquino, Burke…), a uma imoralidade e aceitar como argumento difuso a salvação de vidas para desrespeitar todos os juramentos e obrigações de obediência feitos anteriormente. Imagine-se o que aconteceria se um Primeiro-Ministro, decidido a salvar vidas em África, desviasse a receita pública para o Burundi. Isso é que seria ganhar prémios e comendas dos humanitários de serviço…
A incapacidade de compreender que as questões morais são mais complexas do que a "salvação de vidas", revela uma mentalidade simples, disposta a fazer o “jeitinho” aos detentores do poder. O argumento do esclavagista é sempre “lembra-te de quem te salvou a vida”, como se a vida fosse, em si, o mais elevado dos bens.

É evidente que o argumento de Buchanan não é que “só pode intervir num conflito quem é ameaçado directamente”, como afirma o plagiador-mor da New York Review of Books, – sempre apostado em deformar a realidade para servir os recados que deseja enviar – mas que na altura da intervenção, os custos não podem exceder os benefícios, deitando a perder o “longo prazo” e as finalidades que a comunidade prossegue internamente. Tal descrição é triste imagem de gente que deveria ter a obrigação de interpretar um texto e um argumento (e que parte daí para falar em direitos de ingerência humanitária, imagine-se).
Um retrato bem bonito do nosso país...

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