Pequeno Ensaio Sobre Filosofia Profunda
Hoje é dia de filosofia a sério aqui no Pasquim. Vamos deixar de lado a superficialidade das obras de Voegelin, Strauss e MacIntyre, para embarcar na análise de um profundo pensador português, homem de raciocínio profundo e léxico variado, um dos poucos pensadores portugueses com dimensão internacional...
Já todos adivinharam que estou a falar do único e grande Boaventura De Sousa Santos.
Talvez alguns homens mais simples e embrutecidos não compreendam a importância do “De” neste equilíbrio onomástico... Homens de pouca fé! Mal-aventurados, por certo...
O milagre que é o pensamento pós-moderno está todo concentrado na aventura de Sousa Santos e na da sua preposição.
Aristocratas do proletariado.
Quando lemos Reinventar a Democracia damos conta da nossa ignorância em matérias políticas. Coisas que pareciam adquiridas desvanecem-se perante a luminosidade da bem-aventurança de Boaventura, sejam palavras ou conceitos, até a própria concepção que temos de nós próprios.
Primeiro que tudo a doutrina pós-hegeliana é revisitada pelo autor, na eterna dialética da inclusão e exclusão. Os excluídos da sociedade são vítimas de algo terrivelmente sombrio... Não são excluídos por se encontrarem fora dos sistemas produtivos, por se encontrarem, por seus actos ou fortuna, desprovidos de meios para nele se inserirem. São apenas vítimas de um espírito, de um mal-querer... Já vos digo como se chama esse demónio.
Em segundo lugar há que pensar no Mundo e na forma como as democracias se relacionam externamente. Alguns pensam que as democracias devem aceitar outras formas de vida em sociedade... Errado! As democracias (a la Sousa Santos) não podem permitir a existência de “double standards”. Os Estados que incorrem na humildade de considerar que podem existir outras formas de organização incorrem num pecado... O nome para essa hipocrisia é agora outro (mais actualizado), segundo o autor.
Depois há as relações entre pessoas com poderes desiguais, algo que considerávamos uma inevitabilidade da natureza... Santos denuncia essa mentira com outro nome, descomprometido, com certeza. E quando essas relações têm influência em relações transfronteiriças? Isso então...
E o que dizer de uma sociedade que promove modelos de consumo que subordinam o Homem a papel produtor/consumidor? Julgávamos tratar-se duma sociedade alienante... Mas não!
E o que se chamará a uma pessoa que enriquece contractualmente?
Onde alguns vêm a exclusão e outros (perigosos, por certo) defendem que cada um tem o direito de excluir pessoas com comportamentos que lhe são repugnantes, de Sousa vê o demónio do “Fascismo de Apartheid”.
Onde alguns vêem a existência de uma mente capaz de compreender outros tipos de vida e de organização, de Sousa Santos vê “Fascismo de Estado Paralelo”.
Onde há relações de desigualdade entre contratantes há “Fascismo Contratual” e onde elas ganham dimensão internacional deparamo-nos com um “Fascismo Territorial”.
Aos alienadores e criadores de modelos consumistas devemos chamar em terminologia boaventuriana “Fascismo Populista” (e eu a julgar que era o LePen)!
À especulação cambial e financeira devemos chamar “Agiotagem”! Mentira. Estava a brincar... Devemos chamar “Fascismo Financeiro”.
Podemos mover as críticas que desejarmos à obra de Sousa Santos...
Não poderemos dizer, de forma alguma, que se trata de um autor pouco imagintativo ou obcecado com um conceito. Isso não é lícito, sob pena de incorrer na acusação abundantemente supracitada...
Por outro lado é profundamente democrática, pela forma lauta como distribui os epítetos. Aqui o fascismo não é para alguns! Toda a gente tem direito à sua forma de Fascismo... Durão Barroso, Belmiro de Azevedo, Bill Gates, até o senhor que me vende o Jornal e que quer ver a pedofilia condenada nos tribunais, leva!
É-se sempre o fascista de alguém!
Etiquetas: Comunismo e Socialismo, Modernidade
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