terça-feira, outubro 31, 2006
Forgiving Dr. Mengele
Na questão do Aborto, ao contrário do que muitos querem fazer crer, há apenas uma discussão. Não interessa, por certo, todo o problema económico. O argumento de que se podem dispensar uma quantas vidas humanas para o bem-estar dos restantes é um argumento doentio e que abre caminho para os maravilhosos caminhos da eutanásia e eugenia (consentida ou não). Uma trapalhada de porcos e não de gente...
Só existe necessidade de definir quando a vida humana surge, algo que é impossível sem uma concepção de vida humana. E é certo que a formação desse conceito não pode ser enquadrado sem uma concepção abrangente do Homem que não pode radicar senão na compreensão da Vida.
Dizem os abortistas que um ser que não tem um sistema nervoso consolidado não pode ser uma vida humana. Esta ideia é do domínio do fantástico, porque coloca num sistema do Ser Humano a essência da sua existência e porque coloca num malfuncionamento do sistema nervoso a possibilidade da eliminação de uma vida. Do sistema nervoso a qualquer outra característica física e biológica vai o pequeno passo que dista entre o consultório de um qualquer membro dos Médicos Pela Escolha ao do Dr. Mengele.
Etiquetas: Aborto
domingo, outubro 29, 2006
A Universidade da Caras
Na revista Alameda Digital discutiu-se há tempos a educação. A problemática é extremamente complexa e apaixonante e sê-lo-ia ainda mais, tivessem os nossos amigos da dita publicação registado a emergência de um novo tipo de ensino.
É absolutamente fascinante que a Palestra Lord Acton da UCP este ano tenha sido levada a cabo por Celia Sandys. Notável, não porque a senhora Sandys seja figura reputada da politologia ou do pensamento filosófico, mas porque a dita não apresenta outras credenciais para além de ser neta de Winston Churchill. Diz quem lá esteve que a Palestra versava assuntos de enorme interesse académico como o número de charutos fumados por Churchill, a forma como os insultos que proferia eram demonstrações de um carinho e sensibilidade incomum e a, revolucionária, afirmação de que o Primeiro-Ministro bebia demais!
Esta é a nova Universidade, em que o social é o "cor-de-rosa", a superficialidade da anedota e o culto de personalidades. Agora é o destinatário quem paga a propaganda...
sábado, outubro 28, 2006
Sair da Gaveta
Agradeço todas as mensagens que recebi nos últimos dias. Continuo a achar que é precisa uma nova forma de dizer a mesma Verdade de sempre... Só não sei que forma é essa.
Encontro-me, com o vosso auxílio, com muita vontade de continuar.
Este post do Pedro põe todas as questões importantes e vem do que foi para mim o grande exemplo de como se deve fazer um blogue... um Mestre, mas a sério.
Creio que a única forma de sair da gaveta é, como bem se pode ler neste texto de profunda prudência, partir do real e recuperar o real. E o mais importante nunca é a quantidade, mas a qualidade como o FSantos bem notou. Só os bons têm a capacidade de multiplicar e de criar fascínio e atracção, ou de o fazer no bom sentido. São esses que temos de tocar... São esses, em boa medida, a razão da minha insatisfação.
sexta-feira, outubro 27, 2006
Mais Razões Para Novos Caminhos
Fiquei, como calculam, muito sensibilizado pelas vossas palavras. Acreditem que estes dois anos e tal de blogue (que ocupa muito tempo da minha vida) valem bem pelo que aqui escreveram. É defeito meu... acho sempre que tenho menos amigos do que tenho na realidade! Neste caso leitores (alguns já conto também por amigos). Sinto que este blogue falhou sobretudo porque acabou por ser encaixado numa gaveta. O objectivo não era falar para dentro... Felizmente na blogosfera encontrei gente muito melhor que eu, com ideias mais sólidas e maior talento para as difundir. Não foi nesses filhos dilectos que atentei quando comecei este blogue. Esses não precisam... Pensei sobretudo nos filhos pródigos, nos órfãos de uma direita que já não existe, que agora se vendem às fundações e aos interesses materiais, na esperança de que a força da verdade os fizesse regressar, pelo menos, a um pensamento menos turvo.
Essa vertente, que tentava fazer "pontes", foi um rotundo falhanço.
E tenho a certeza que preciso mais eu de vós...
quarta-feira, outubro 25, 2006
Ciclos
Este é um blogue falhado.
Dir-me-ão alguns que todos o são... Não acredito.
Queria que fizesse a diferença, mas não faz.
Queria que não se dissesse ser apenas mais um blogue "facho". Tê-lo-ei conseguido apenas em relação a um ou dois leitores mais assíduos e atentos.
Sem agenda política e qualquer esperança nos partidos e nos homens, começo a achar este lugar demasiado agradável para que não se torne estéril.
Não cuidem os meus amigos que irei embarcar no "vou, não vou" habitual. Ainda não estou de partida, porque ainda não disse tudo o que desejei no início, mas terei, por certo, de pensar em novas formas de o dizer.
terça-feira, outubro 24, 2006
O Argumento Religioso-Positivista
Um dos argumentos mais lamentáveis da posição pró-abortista é o argumento pseudo-científico. É notável a forma como a ciência, que desde há muito é encarada como mero conjunto de conjecturas e refutações de carácter provisório, agora aparece repleta de dogmas. Nos negros tempos do "obscurantismo-não-sei-quê-e-não-sei-que-mais" a ciência estava repleta de Dogma. Hoje em dia a "ligação do tálamo ao córtex" ganhou o peso de Dogma científico-positivista. Gostaríamos de saber se o conhecimento científico sobre as ligações e o sistema nervoso serão, porventura, imutáveis e se não se poderá qualquer dia e com outros meios de observação, compreender a existência de um sistema infra-nervoso anterior ao definitivo.
O erro está, obviamente, não na ciência, mas no momento em que um saber provisório adquire validade de dogma... Uma ciência que se finge como análise do Ser, para ser apenas reflexo da Vontade de mudança da sociedade.
Não espanta, por isso, o relativismo-historicista dos que, como o Luís Raínha, que criticam os dogmas da sociedade para criarem os seus próprios dogmas (a estratégia de Foucault, tão bem topada por Scruton, que um dia analisaremos)...
Sabem que a Ciência é um conhecimento provisório e que poderão negar o Direito à Vida de milhares de pessoas, mas já estão escudados pela maior trapaça da História. Dirão que era o espírito e a ciência do seu tempo, como as calças à boca de sino ou a terapia de electrochoques... lavando as mãos, como Pilatos, negando sua existência humana.
Etiquetas: Aborto, Comunismo e Socialismo, Modernidade
Notável
Muito bom artigo do Simão Agostinho no Sublime Combate.
Nenhuma cidade vive sem indivíduos, mas nenhuma pode existir sem Justiça.
segunda-feira, outubro 23, 2006
Verticais
Sabem os meus leitores mais assíduos e persistentes que não sou grande apreciador da obra de Julius Evola. Na problemática evoliana acho interessante o discurso sobre a virtude que me parece ser a forma (e não essência) do Homem. Particularmente importante é o exercício da alma, de que o corpo é reflexo material, a educação da virtude através da persistência. Creio que essa é uma vertente um pouco inexplorada da ética da virtude ocidental e que é posta em acção pelos nossos amigos do Horizonte Vertical.
E se em tanto não concordamos (em particular no sincretismo religioso e gnóstico) não posso senão enaltecer a coragem de quem afirma a existência de Valores Universais sem que isso implique qualquer plano cosmopolita.
Que se mantenha o corpo em serviço ao espírito e não o inverso...
domingo, outubro 22, 2006
sábado, outubro 21, 2006
quinta-feira, outubro 19, 2006
Sic Transit
Hoje o CDS mostrou a sua verdadeira face. Demonstrou que aceita que a Democracia submeta os princípios que lhes parecem mais fundamentais. Demonstrou que o medo de que a sociedade os veja como dogmáticos é superior aos valores que defendem. A sua Direcção mostrou fundamentalmente que quer sobreviver após a inevitabilidade do Sim, numa acrobacia que hoje se poderá chamar de Policarpa...
Não sei se, como se apregoa, a direcção do partido é uma secção política da Opus Dei. Percebo, contudo, que incorre nos mesmos erros da dita associação que há muito aceitou a dissociação do Cristianismo com sua existência na sociedade, advogando uma sociedade de cristãos contra a Sociedade Cristã.
Detecto o mesmo erro nesta nota pastoral (que ainda assim é uma melhoria em relação ao Triplo Axel do Patriarcado) que afirma no ponto 5 a dissociação entre as questões políticas e as questões de Direitos Fundamentais. Ao contrário, a política é precisamente essa questão fundamental, o elemento que ordena toda a acção governativa. O resto são, como disse Macintyre, discussões políticas de segundo grau.
Enquanto não houver partidos dispostos a embarcar na discussão de primeiro grau, a criar e a tomar doutrina, a fundamentarem-se com algo mais que os desejos e opiniões dos seus militantes, não haverá qualquer esperança de um debate político sério.
Um debate de princípios, fins e meios.
terça-feira, outubro 17, 2006
A Parte Que Vos Coube da Verdade Que Me Coube Sobre Strauss
É difícil dar sentido à obra de um filósofo. Em grande medida os erros ocorrem pelas interpretações do trabalho ou da acção de outros, uma vez que são raros os filósofos que se aventuram nos domínios da praxis. Da mesma forma que é ridículo falar de Nietzsche como um nazi ou de Rousseau como um jacobino, é também má ideia falar de Leo Strauss como um neoconservador.
É fácil começar uma frase por Strauss é isto e aquilo e acabar a mesma frase falando dos straussianos (esses pérfidos iluminati). É fácil porque assim se poupa a leitura de várias obras fundamentais e de uma reflexão profunda sobre os aspectos mais exóticos da filosofia platónica.
Lamento desapontar todos os fãs do Strauss pronto-a-vestir, mas a compreensão de obra tão profunda não se coaduna com a causa da superficialidade, da mesma forma que o Legado do Cristianismo não pode ser confundido com a sua história.
Este artigo, tão comentado por essa blogosfera, enferma de todos estes problemas e mais alguns. Embrenhados que estão na sofística da teoria política contemporânea torna-se complicado vislumbrar qualquer horizonte superior... Strauss escreveu sobre isso, mas não é isso agora o que mais importa.
Importa compreender que se Strauss é um feroz crítico da Modernidade não é possível retratá-lo como o defensor de uma elite de iluminatti. Se Strauss é forte opositor de uma concepção racionalista-cientifica, também é certo que é defensor de um jusracionalismo antigo, absolutamente oposta a que o conhecimento e a Verdade estejam vedadas por natureza a alguém dotado de racionalidade. É por isso que os filósofos na obra de Strauss não são uma casta. Pelo contrário, é perfeitamente possível (e até mesmo habitual) que um filósofo ou um bom governante deixe de o ser, bastando, para isso que passe a agir segundo os seus interesses (na política ou na obtenção de verdade).
Entra aí o peso da Nobre Mentira que só pode ser entendida como parte de uma Verdade mais vasta. Estas são tão meias-verdades como qualquer linha desenhada. Não havendo verdade nela (nenhuma mão ou instrumento de precisão é infinitamente precisa) é à mente de cada um que cabe compreender a parcela de verdade que tem capacidade. O que significa que cada um pode compreender uma parcela dessa Verdade sem que a linha seja a mais completa mentira.
Isto significa, por conseguinte, que na obra de Strauss o filósofo se encontre vinculado pela Verdade e limitado pela sua existência.
É por isso que, ao contrário do que há tempos nos disse o Manuel Brás, Strauss não é mais um autor da sofística neoconservadora, mas um Novo Conservador (entendendo-se por New Conservative o recrudescimento de uma linha clássica da filosofia política decorrido nos anos 50 do século passado). Opõe-se claramente à linha democratista e ao existencialismo liberal dos neoconservadores, acreditando que a Política deve seguir a Natureza Humana. Não ficaria também muito agradado, também, se observasse que colam a sua mensagem filosófica a uma ideia "democrática" de prosperidade material e individualismo atomístico, que agora tenta ganhar feição global.
Tudo isto é acção de compreensões de Strauss que se abstraem da mais importante parte da sua mensagem.
Retirar a nobreza da Nobre Mentira de Platão.
Etiquetas: Pensamento Tradicional
Esquecimentos Selectivos
E não é que a RTP se esqueceu de que Afonso Costa tinha uma polícia miliciana e secreta que assassinou gente às dúzias... Não estava nada à espera!
Quem não se esqueceu foi o actual Ministro da Defesa que em resposta a pergunta numa palestra que deu o ano passado disse que a Formiga Branca e a Noite Sangrenta foram "males necessários"...
Grandes humanitários!
Etiquetas: Comunismo e Socialismo, Modernidade
Agora que tanto se fala em revistas...
Uma das boas. Talvez a mais teórica das revistas conservadoras.
Alguns artigos estão aqui, juntamento com o arquivo.
O livro comemorativo dos 25 anos da Revista é, sem dúvida, um dos melhores compêndios de pensamento conservador que conheço.
segunda-feira, outubro 16, 2006
O "Totalitarismozinho"
Qualquer Estado tem a necessidade de compreender a Verdade. Seja em matéria criminal, seja por razões de governação, seja porque precisa de sustentar valores que considera essenciais ao seu funcionamento (Deus, a Propriedade, os Direitos Humanos, etc.), o Estado não existe sem tomar posição sobre a realidade e sobre a sua correcta interpretação.
Contudo, se o Estado deve promover a Verdade, só deve punir na medida em que a oposição à sua posição o impossibilita de desenvolver a sua actividade. E ao contrário do que se diz esta diferença não representa a diferença entre o Estado Totalitário e o Estado Autoritário... Esta é a diferença entre um Estado e um Estado Totalitário.
Muitos se apressam a dizer que o Estado nada tem a ver com a Verdade. A oposição que convém à política discricionária, que vê os seus erros desculpados pela crítica, claro está. Mas se não há verdade, como se pode multar alguém por excesso de velocidade, por não pagar os impostos...
Não estranho por isso que a França, a Alemanha, a Áustria, a Turquia sejam Estados Totalitários, onde a existência de uma Verdade oficial é incontestável e não permite contradita.
Não me admiraria se um dia em Portugal fosse proibido afirmar que no pós 25 do 4 havia mais presos políticos do que no Estado Novo, que a Revolução foi realizada para impôr um regime comunista e não uma democracia, que se fez uma descolonização assassina ou que os livros do Costa Pinto e do Rosas são uma bela merda.
Não estranho porque vivemos num totalitarismozinho... O Estado é totalitário, mas percebeu que os suaves meios democráticos são mais doces, que mais facilmente pode manipular um povo embrutecido e glutão se não recorrer ao homicídio, mas dominando as suas vontades pelos vícios da Cobardia (Hobbes), do Egoísmo (Smith e Marx) e da Vaidade (Nietzsche).
Só podiam mesmo branquear os crimes do Comunismo...
Os totalitarismos do século XX foram campos de martírio e dor.
No totalitarismozinho não se sofre... Sente-se apenas uma dor aguda e irritante e o grande silêncio de quem fala uma língua que ninguém mais compreende.
Etiquetas: Modernidade, Pensamento Tradicional
domingo, outubro 15, 2006
Uma Apologia das Espanhas (Epílogo)
Na última sequência de “posts” tentei mostrar como a apologia dos “nacionalismos espanhóis” é uma falsa questão. Primeiro porque o critério da autodeterminação, que hoje ninguém parece disposto a questionar, é um critério superficial de simplificação da realidade. Dir-se-ia que é uma adaptação da complexidade do mundo, à simplicidade das mentalidades demo-liberais. Posteriormente tentei mostrar como os nacionalismos regionais espanhóis são um simulacro de tradição e nada têm a ver com a defesa dos direitos antigos dos povos da Espanha, mas com ideologias e interesses que deles se tentam aproveitar. Por fim tentei demonstrar como estas formas de nacionalismo (e similares como a Lega Nord ou Vlaams Belang) não têm capacidade de sustentação no tempo, pois que ao fazerem a apologia de um elemento de identidade provisório se colocam como ideias políticas a prazo.
Não é difícil perceber a quem convém esta forma provisória de encontrar a nacionalidade...
Etiquetas: Nacionalismo
Uma Apologia das Espanhas (III)
Sem Futuro
Sem passado as nacionalidades regionais espanholas padecem também da ausência de um projecto de futuro. Centram-se por isso em “ressentimentos” contra o governo central. Curiosamente o mesmo governo central que lhes deu benesses exageradas em acordos parlamentares, trocando apoios governativos por 40% orçamento de Estado (como no caso do primeiro Governo pós-Gonzalez do PP). A cantiga é antiga e habitual em muitos partidos “populistas” que observam a outra parte do todo nacional como “peso morto”, “exploradora do povo trabalhador dessa parte”. Geralmente a cantilena vem acompanhada de uma invenção de um Povo (geralmente “o bom povo trabalhador do norte, contra a exploração e a perguiça das populações do sul, latinas...).
Esta posição é vítima da destruição do constitucionalismo antigo, onde direitos e obrigações de cada comunidade se encontram consagrados na lei, substituído pelo “Estado de indivíduos” típico de uma sociedade de massas, desenquadradas. Nesta situação o desenraizamento permite a criação e invenção de pertenças infra-políticas, remetidas para o domínio político como elementos essenciais.
A questão está que numa sociedade onde o infra-político (os meios culturais referidos no post anterior) substitui o elemento político, a comum aplicação de Justiça. Essa sociedade está condenada a viver como comunidade provisória, esperando apenas uma nova investida da “inveja” contra outra parte da população que verá eternamente como exploradora.
Não partilho da opinião aqui expressa (que me parece não ser precisamente a sua posição) pelo Paulo Cunha Porto de que o Nacionalismo será tendencialmente unitarista. Terá momentos em que o deverá ser e outros em que não, como há momentos em que existe exploração de uma parte da sociedade e momentos em que se acicatam ódios injustos (como é o caso catalão que viveu, e viverá, durante muitos anos de uma chantagem à União das Espanhas). O que não se pode fazer sem erro é fazer essa apologia sem recorrer a uma concepção de Justiça superior. Não me repugnaria nada que uma parte de Espanha se rebelasse para fazer prevalecer os verdadeiros direitos dos povos no seio da União, que se afirmasse tributária desse acervo histórico, e da sua própria cultura regional (por certo), contra a violação dos direitos contratualizados pela história destes povos. Não é, contudo, isso que se passa. Não há um ressuscitar das tradições políticas pré-unificação, há sim a afirmação de uma libertação em nome de concepções insuficientes de vida colectiva.
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quinta-feira, outubro 12, 2006
Uma Apologia das Espanhas (II)
O Nacionalismo Vazio
Quando releio as teses dos vários “nacionalismos espanhóis” fico sempre com a certeza de que observo um espectáculo de marionetas. Não há nelas uma linha de originalidade, uma força primeva que ultrapasse sequer tangencialmente qualquer discussão política espanhola. Os “nacionalismos” basco, catalão e galego, são fenómenos espanhóis e não endógenos das ditas comunidades. Não apresentam uma espiritualidade rica e plena de significados partilhados, ou a ideia de essa comunidade se aproxima mais de um qualquer desígnio superior. Pelo contrário… A invenção das nacionalidades subespanholas corresponde a uma profunda limitação do horizonte político, numa mescla de romantismo alemão, marxismo e “pintodacostismo”.
Primeiro é preciso relembrar este a grande maioria destes nacionalismos são “comunidades imaginadas” no sentido de que não são realidades históricas. Realidades históricas foram os dialectos bascos que muitas vezes eram desprovidos de vocabulários comuns e que foram amalgamados num “Esperanto Basco”, demonstração cabal de uma fraude cultural… Uma palavra deste, uma palavra daquele dialecto e fez-se uma língua desprovida de dinâmica interna, e dos significados partilhados contidos na sua dinâmica.
Esta invenção de nacionalidades foi perfeitamente observada pelo Bruno Oliveira Santos e não carece de maior análise.
Este problema releva um dos grandes problemas do Nacionalismo enquanto ideologia.
O Nacionalismo é vazio enquanto elemento explicativo de qualquer coisa do mundo (podendo ser, bem enquadrado numa doutrina sã, um elemento fundamental na estrutura do Homem). A problemática do Nacionalismo ideológico é precisamente essa. Na formulação novecentista alemã a unidade da nação é auto-explicativa e auto-suficiente e qualquer critério que seja tomado para essa unidade se torna um elemento fundamental.
Obviamente que uma língua e uma cultura (conjunto de práticas) são elementos fundamentais numa sociedade, mas não serão nunca mais importantes que o seu significado, que a justiça que a comunidade procura. Uma nação não é o “cimento”, a língua, ou um costume... Isso são os seus meios!
Não há nenhuma razão para que pessoas semelhantes, que falam a mesma língua, ou têm os mesmos costumes, se digam uma Nação. A Nação ou é um elemento mais profundo que esse ou não tem mais relevância política que uma família, um clã, ou uma tribo.
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terça-feira, outubro 10, 2006
Uma Apologia das Espanhas (I)
A Insuficiência da Autodeterminação
Ontem discutia com um amigo a problemática dos nacionalismos espanhóis. Como libertário dizia existir uma regra fundamental no mundo, a supremacia das vontades colectivas, que dispõe da possibilidade de abolir acordos passados, obrigações prévias, direitos e liberdades antigas.
Já alertava Aristóteles para o desprezo pelo Passado das Democracias. Encontrava nestas uma natural predisposição para não se considerarem vinculadas pelos anteriores titulares do poder, encontrando apenas legitimidade numa governação sancionada por todos, como numa legitimidade provinda do número e não da forma da governação.
Curiosamente são os mesmos liberais e libertários que defendem a contratualidade da sociedade quem defende que um mero acto de vontade os pode libertar de uma unidade política. Curiosamente não defendem o mesmo para os indivíduos... Que uma dívida familiar, um contrato de compra e venda, possam ser abolidos pela vontade soberana de uma das partes!
A teoria libertária parece esquecer que há razões para invocar a nulidade ou incumprimento de um acordo, que se encontra numa dinâmica histórica e não numa qualquer concepção abstrata da legitimidade voluntária do Poder. A ausência dessa “perspectiva dinâmica” da concepção de “auto-determinação política” de Mises é ilustrativa de uma concepção que vai contra o legado nozickiano. Se Nozick observou que um determinado “status quo” não pode ser observado senão à luz de uma evolução das coisas até determinada situação (o que refutaria a concepção rawlsiana da sociedade), é sem dúvida estranho que os defensores da brumosa “tese das autodeterminações” ignorem que também os povos têm direitos e deveres que não são reversíveis pela vontade.
A ideia de autodeterminação fixa-se num elemento e concepção superficialista, não analisando as razões de uma problemática, mas dando-lhe uma solução simples e eficaz (quase sempre injusta).
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Uma Apologia das Espanhas
Os seguintes textos dedico-os ao Rafael Castela Santos, amigo que não se esquece e que não nos esquece, que anda sempre com as suas Espanhas na sola dos pés...
Que possa regressar um dia à sua Lusitânia Interior, assistindo ao capítulo que lhe foi dado presenciar na História Eterna de ambos os nossos povos.
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Três Ideias para Portugal (II)
Nobreza
A Justiça consiste em encontrar o que é igual e desigual e retribuir o “ser” ao “dever ser”. A diferença entre as igualdades e desigualdades naturais nem têm a ver com a própria natureza, mas com a forma como estruturam uma comunidade. A igualdade é tão natural quanto a desigualdade, pois nenhuma pode ser observada sem uma concepção superior da ordem das coisas que não radica na observação deste mundo, mas na contemplação do que a deve ordenar.
Por isso existem várias formas de encarar a Nobreza, a mais relevante das desigualdades no plano político. Umas coerentes com a vida livre, outras incompatíveis com tal modo de existência, as várias formas de nobreza são sempre (como tudo) um reflexo dos valores que a norteiam.
Como é óbvio a Nobreza que é defensável terá de ser uma de valores sólidos, fundada na virtude e no serviço ao Bem Comum. Nesse aspecto, como em quase todos, creio mais na solidez das instituições que na fragilidade dos indivíduos. Creio mais numa casa secular que num comendador desenquadrado, promovido por serviços não políticos. Este quadro de direitos e deveres contratualizados e persistentes na História permite possui uma dupla virtude. Demonstra que a concretização da Justiça é sempre limitada a um horizonte concreto. As grandes proclamações abstractas de direitos materiais resultam invariavelmente num despotismo centralizador. Ao lado de um direito abstrato à propriedade vem sempre um aumento de impostos, invariavelmente através do desrespeito pelos direitos e deveres históricos (em prol da igualdade, contra o obscurantismo e o absolutismo) das várias populações que constituem uma Nação.
Por outro lado e por ser uma expressão positiva da organização humana esta encontra-se submetida a princípios essenciais e imutáveis no tempo. Desvirtuando essa essência perderá a sua auctoritas ao tornar-se parcial, quer pelos muitos, pelos poucos ou por um.
O Corporativismo(1) é, assim, elemento fundamental de uma comunidade onde a Constituição não se encontra à mercê da multitude, porque se encontra resguardada pelas liberdades de cada um de seus elementos. Seja nas associações profissionais, em municípios, nas casas senhoriais, nos que se destacaram pela virtude da caridade, pelo engenho ao serviço da causa pátria, pelo serviço, as instituições encontram-se sempre como a única forma de liberdade existente em sociedade, porque lhe fornecem o enquadramento concreto que é necessária a qualquer sociedade onde existe uma concepção de Justiça.
Essa Justiça é a verdadeira Liberdade do Homem, descrita por Burke nas suas Reflections:
“By this means our liberty becomes a noble freedom. It carries an imposing and majestic aspect. It has a pedigree and illustrating ancestors. It has its bearings and its ensigns armorial. It has its gallery of portraits, its monumental inscriptions, its records, evidences, and titles.”
__________________________
(1) Sobre o assunto dos privilégios colectivos escrevi há dois anos o texto "Uma Ideia Para Todos os Séculos".
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segunda-feira, outubro 09, 2006
Queremos Mais
Se alguma vitória senti na blogosfera hoje será dia de a comemorar. Celebram-se dois anos da entrada na blogosfera do FG Santos, de quem fui admirador enquanto comentador, a quem sempre roguei que começasse esta aventura, de quem tenho a felicidade de chamar amigo.
Não vos falarei de nenhum destes pontos que ou já tratei ou não cabem nos assuntos que aqui devem ser tratados.
Penso que o melhor elogio que posso fazer nesta data é à virtude do FSantos, o que lhe encontro de verdadeiramente importante e que se manifesta nos seus blogues, nos seus comentários e no seu modo.
Fala-se muito no nosso tempo de "mentes abertas". Geralmente tais mentes nada são senão "arejadas", porque dispostas a ondular ao sabor do vento, da maré, da conveniência. São mentes vazias e frágeis... É o que se pretende.
O espírito do FSantos escapa a essa lógica de abertura vazia, é precisamente o seu oposto. Boa prova do que digo é a forma como segue com as suas discordâncias sem medo de exclusões, como mantém um conjunto de referências não se preocupando com pureza da fonte (a habitual aclamação da capelinha monárquica, nacionalista ou direitista, que rejeita tantos por insubmissão ou por não beber café na mesma avenida).
Seja em estado Horizonte, Santos da Casa ou qualquer outro, espero que o FSantos nunca deixe de me ler, criticar, apoiar e inspirar.
domingo, outubro 08, 2006
O Direito a Disparar
Quando um indivíduo desobedece às autoridades, coloca em risco a vida de todas as pessoas que circulam na via pública, periga a vida de agentes que tentam preservar a lei, a polícia não tem o direito a disparar... tem o dever!
Resta-nos tentar compreender as razões da ofensiva que as forças policiais estão a sofrer.
Não há nenhuma questão senão a induzida pelos media.
Etiquetas: Modernidade
quarta-feira, outubro 04, 2006
Amanhã
Dia de celebrar Zamora, o início da Dinastia Afonsina, a Paz.
Os canalhas que festejem a "formiga branca"...
Etiquetas: Monarquia
No Demokratia
Um pequeno texto de Maria José Nogueira Pinto que tem mais cultura "de direita" que todos os compromissos atlânticos...
terça-feira, outubro 03, 2006
Desejo de Juventude
Uma das coisas que mais estranho na blogosfera da "direita clássica" é a quase ausência de rapaziada da minha idade. É certo que a minha geração é mais despolitizada, mais dócil em relação ao Poder, mais disposta a aceitar verdades televisivas, mas não é verdade que esteja repleta de esquerdistas ou direita "mainstream". Muitos dos que não se enquadram nessas categorias são gente desiludida. Uns tiveram o azar de militar em juventudes partidárias, outros na causa monárquica... Invariavelmente tomaram asco à política e renunciaram à formação em qualquer matéria política. Tirando alguns livros de Jaime Nogueira Pinto e algumas leituras "da estranja", não há muitos locais onde a direita clássica portuguesa mais jovem possa ganhar os enquadramentos tão necessários a uma solidez do espírito, único caminho para a constância da acção.
O 25 do 4 encarregou-se de remeter a escrita de "direita" (a propriamente dita) nacional para uma posição desconfortável, em que se diz muito pouco, indirectamente, sobre elementos acessórios, na esperança de que alguém apanhe a mensagem na totalidade.
A coisa é grave sobretudo para a minha geração. A turma que ainda não chegou aos trinta não tem maneira de adquirir as ferramentas necessárias para a compreensão da totalidade de uma mensagem "tradicional". Órfãos de movimentos e partidos que prolonguem a tradição de uma "direita portuguesa" refugiamo-nos na História para compreender a essência e os princípios.
Falta o outro lado. Falta a História recente... Faltam lições sobre a "direita enquanto alternativa". Habituados que estamos a olhar a direita como "recta" e a esquerda como "crítica", muitas vezes não conseguimos gerir a realidade de que a tradição é hoje a alternativa e que terá de combater com todas as outras propostas de sociedade por um consenso na sociedade.
Para suprir essa lacuna há uma publicação que me parece ser a mais urgente. Porque poderá criar uma discussão fundamental sobre os limites conceptuais da "direita", porque poderia ser um repositório de experiências políticas de inegável valor teórico (a maior pureza doutrinária encontra-se muitas vezes nas experiências de menor sucesso), porque só através da História se pode fugir aos erros do passado.
Uma "História das Direitas depois de 74" já leva alguns anos de atraso...
Etiquetas: Direita
Referendo ao Aborto
Igreja não vai dar indicação de voto...
E excomunhões?
Etiquetas: Aborto, Modernidade
Alameda Digital
Já saiu o primeiro número da Alameda Digital.
Uma revista que ousa falar da Dimensão Mundial da Pátria, que fala do cinema português do tempo em que era Nacional e Universal, que desmistifica a profundidade e a benignidade de algumas direitas, aborda a hipocrisia, as vivências da cidade, e ainda tem tempo de divulgar os erros de uma Espanha que, mais uma vez, é tubo de ensaio para os futuros conflitos europeus.
Não é pouco...
segunda-feira, outubro 02, 2006
Três Ideias para Portugal (I)
Monarquia
Quando o Miguel (sempre ele) levantou a questão sobre a alternativa à sociedade democrática e capitalista, estranhei. Sabendo-o monárquico empedernido sempre pensei que veria a esperança da restauração. Calculo que a Monarquia proposta pelo Miguel seja mera questão de chefia-de-Estado, deixando a sociedade e a representação democrática individualista como modelo social.
Esse não é, contudo, um modelo de sociedade Monárquica.
Exceptuando nos casos onde a Constituição se encontra blindada e essa inviolabilidade se encontra solidificada numa Instituição, suprema e pessoal, submetida a uma concepção que é a sua fonte de Poder, a Democracia acaba sempre por revelar a sua natureza despótica (a tirania dos muitos). A “democracia como forma existencial” torna-se sempre a mais infeliz, amoral e ditatorial forma de sociedade. Veja-se a questão do aborto. Aceitaria o argumento que dissesse “O Estado Português acha que o ser humano se forma a partir das 10 semanas”. É um argumento errado, mas explicável. O que é inaceitável é dizer que a amoralidade deve reinar, quando se afirma que cada pessoa deve decidir segundo a sua conveniência quando começa uma vida apresentando, ou não, razões para essa apreciação. O que diriam os liberais se os critérios que definem a propriedade passassem a uma “escolha do freguês”?
É por isso que sou monárquico.
Porque uma sociedade livre é necessariamente moral e porque essa moral está representada (uma representação “não-imperativa”, mas “existencial”) numa instituição perene.
A Monarquia é uma garantia contra o poder da turba... ou não existe.
Etiquetas: Monarquia, Pensamento Tradicional