domingo, outubro 15, 2006

Uma Apologia das Espanhas (III)

















Sem Futuro

Sem passado as nacionalidades regionais espanholas padecem também da ausência de um projecto de futuro. Centram-se por isso em “ressentimentos” contra o governo central. Curiosamente o mesmo governo central que lhes deu benesses exageradas em acordos parlamentares, trocando apoios governativos por 40% orçamento de Estado (como no caso do primeiro Governo pós-Gonzalez do PP). A cantiga é antiga e habitual em muitos partidos “populistas” que observam a outra parte do todo nacional como “peso morto”, “exploradora do povo trabalhador dessa parte”. Geralmente a cantilena vem acompanhada de uma invenção de um Povo (geralmente “o bom povo trabalhador do norte, contra a exploração e a perguiça das populações do sul, latinas...).
Esta posição é vítima da destruição do constitucionalismo antigo, onde direitos e obrigações de cada comunidade se encontram consagrados na lei, substituído pelo “Estado de indivíduos” típico de uma sociedade de massas, desenquadradas. Nesta situação o desenraizamento permite a criação e invenção de pertenças infra-políticas, remetidas para o domínio político como elementos essenciais.

A questão está que numa sociedade onde o infra-político (os meios culturais referidos no post anterior) substitui o elemento político, a comum aplicação de Justiça. Essa sociedade está condenada a viver como comunidade provisória, esperando apenas uma nova investida da “inveja” contra outra parte da população que verá eternamente como exploradora.

Não partilho da opinião aqui expressa (que me parece não ser precisamente a sua posição) pelo Paulo Cunha Porto de que o Nacionalismo será tendencialmente unitarista. Terá momentos em que o deverá ser e outros em que não, como há momentos em que existe exploração de uma parte da sociedade e momentos em que se acicatam ódios injustos (como é o caso catalão que viveu, e viverá, durante muitos anos de uma chantagem à União das Espanhas). O que não se pode fazer sem erro é fazer essa apologia sem recorrer a uma concepção de Justiça superior. Não me repugnaria nada que uma parte de Espanha se rebelasse para fazer prevalecer os verdadeiros direitos dos povos no seio da União, que se afirmasse tributária desse acervo histórico, e da sua própria cultura regional (por certo), contra a violação dos direitos contratualizados pela história destes povos. Não é, contudo, isso que se passa. Não há um ressuscitar das tradições políticas pré-unificação, há sim a afirmação de uma libertação em nome de concepções insuficientes de vida colectiva.

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