Identitários?! Não me parece…
Não são muitos anos de estudo destas matérias, mas pensava que já conhecia a generalidade dos movimentos políticos contemporâneos!
Deparei-me há algum tempo com um conjunto de “sites identitários”. Anteriormente sóo tinha, da pena do Prof. Adelino Maltez, ouvido essa designaçãao como forma de definir a política que se entende como referente à identidade da comunidade, como oposta à política cosmopolita ou a-comunitária!
O conjunto de sites “identitários” que me foram dados a observar, maioritariamente portugueses, fizeram-me deles depreender um ideário. A minhas conclusões não foram as mais positivas… Digo mais, foram profundamente negativas! O movimento enferma de alguns problemas que me parecem fazer perigar a existência de uma direita realmente portuguesa.
Uma das principais enfermidades do discurso identitário é o seu apelo rácico. Que tipo de racismo é este? Devo dizer que tenho incapacidade de compreender qualquer tipo de racismo. Primeiramente porque a rejeição dessas teses é um dos traços mais marcadamente portugueses da política portuguesa dos últimos cinco séeculos.
Provém de um povo que sabe o que vale a cultura… Provém de um povo que ée um conjunto de povos que se fundiram na península e no Império, que sob a Bandeira e a Coroa encontraram uma partilha profunda da sua existêencia! Os Francos não eram uma “Raça”, como os moçarabes portugueses também não, como já os Suevos e Alanos eram um conjunto de vários “sangues”.
Não compreendo como é que ofende ouvir nas nossas ruas música luso-africana, música africana adaptada à existência e cultura portuguesas das últimas décadas, e depois se quer fazer passar a ideia de uma Europa unida em torno de valores… Não é muito mais ofensivo ver a música estrangeira desligada dum conceito existencial e importada como se a música fosse universal, se não fosse um diálogo entre a vida dos povos? Porque é que é incompreensivelmente engraçado ver um conjunto de música tibetana, ou de folclore sueco?… Porque não podemos compreendê-la! Podemos gostar ou não dos ritmos, mas compreender exige uma inserção nesse diálogo histórico, algo que só é possível atravées de anos de vivência e estudo…
Que valores temos nós em comum com os dinamarqueses ou com os suecos?
É divertido observar esta dimensão “historiogenética” da unidade europeia e ocidental!
O nosso Cristianismo é diferente, o nosso culto é profundamente diferente, o nosso sistema cultural é profundamente diferente (é melhor, mais verdadeiro)!
Que compreendem os búlgaros sobre a genética influência franciscana no povo português, da estética árabe e da “saudade” de origens no gnosticismo messianico judaico!
O que é pena é a reduçãao da identidade a uma “forma de vida”, a cultura popular europeia, mais baixa-cultura do que elevar da alma, mais Rousseau do que Sardinha ou Couto Viana.
Qual a diferença entre a mediocritas deste populismo, e a da democracia portuguesa!
Não apresenta soluções. É só uma defesa de alguns lugares comuns, alguns mesmo anti-portugueses.
E quando o povo defender uma forma de vida diferente? Irão atrás do povo? Para isso já temos os Partidos Populares da Europa toda…
A não-existência de um ideário justificado é bem patente pela afirmação da identidade como um conjunto de direitos adquiridos (de que sindicato terá saido esta ideia?), invioláveis pela sociedade, mas que se constituem como verdadeiros “direitos absolutos”, contradizendo a crítica aos “direitos humanos” (a crítica esta lá, mas vão ter que fazer muito mais que isso…).
Talvez a necessidade de existir este movimento esteja no facto de que ele represente mais um desejo de identidade, um desejo de unidade de algo que não existe, do que uma identidade real!
Talvez já não haja uma direita portuguesa, nem ninguém disposto a fazê-la renascer!
O que estes “moços” deveriam estar a fazer era compreender porque é que o Estado e o Povo são desportugalizados. Compreendendo o seu país em vez de importar “a grosso” ideias de domínio estrangeiro, mascaradas por esse falso mito da cultura “o Ocidente”, fazendo uma verdadeira ontologia do “ser Portugal”!
Ilustrativo da subserviência cultural provinciana de que padecem:
“Lisboa é uma cidade Europeia. O nosso modelo é Viena e não Kinshasa.”In Alternativa Identitaria
O meu modelo é mesmo Lisboa!
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