Vitimas Weberianas
O Prof. Diogo Pires Aurélio, uma das primeiras pessoas que despertaram em mim o desinteresse em Espinosa, foi a um programa de televisão da pseudo-intelectualidade portuguesa.
A conversa podia ter sido melhor, se o entrevistador Viegas tivesse percebido alguma coisa do livro (impossível, imerso que está nos seus clichés de literato de esquerda).
O fio condutor da obra e a injustificação filosófica da “tolerância” e de seus subprodutos, a “democracia pluralista”, o “multiculturalismo”, e similares.
A conversa não avançou muito mais que o desfilar dos capítulos do livro do professor, pessoa que admiro nas questões e lamento nas respostas.
A ideia principal e de que estas formas políticas são fruto do momento de reforma religiosa, da consequente desagregação existencial e espiritual, e das suas consequências na lealdade política.
Até aqui tudo certo… Um país como Portugal que não passou as provações dessa “confusão” intelectual que foi a Reforma, não teria, de mudar toda a sua forma de existência num constitucionalismo primário, num liberalismo que abriu a porta às modernas doenças da modernidade (socialismo, nazismo, social-democracia).
A necessidade de mudar ou de abrir o regime seria bastante menor. Poder-lo-ia fazer de um modo muito mais controlado, e mantendo a sua identidade moral, como bem viram Acursio das Neves e Gama e Castro.
Mas os intervenientes não quiseram ficar por aí. Passou-se a um “salto de fé” democrático, quando o Senhor Prof., também director da Biblioteca Nacional, disse que a justificação do regime que vivemos se encontra no “consenso generalizado” dos cidadãos. Que a estrutura geral da sociedade, e seus pressupostos, são ditados pelo consenso social! Exemplificava com o racismo: “Tirando sectores, que claramente podemos identificar no espectro social, ninguém concorda com a sua existência”.
Lembrei-me logo das razões pelas quais comecei a ler Ciência Política.
Ainda mais novo, sabia que as sociedades tinham de se fundamentar em algo mais do que a vontade das gentes. Por isso deambulei entre idolatrias, do Estado, da Religião, das Nações. Por isso encontrei em Burke a visão profunda da resistência contra a “ditadura totalitária”, defendida pelos dois intervenientes do diálogo televisivo.
Fico sempre aterrado quando vejo dois sujeitos simpáticos e barbudos, perigosamente néscios das implicações do seu pensamento. Defendem, sob a capa de descontracção esquerdista-porreirista, ideias tão perigosas e tão intimamente ligadas com o nazismo!
Aceitam assim acriticamente a “ditadura do consenso”, o “mundo sem sentido”. Aceitam que a política não é mais do que uma negociação, e a ordem que dela provém não é mais do que um cúmulo desses interesses privados e públicos.
O nazismo defendia o mesmo, sufragado pela democracia…
Não era também uma ideia bastante consensual na Alemanha de Weimar que os judeus eram uma maleita a ser extirpada? Mas havia gente que discordava… Um qualquer Prof. Pires Aurélio desse tempo diria “sim, mas são sectores claramente localizados”.
Poder-se-a arguir que a democracia conhece limites… erradamente! Veja-se o exemplo constitucional português, de uma sequência de revisões a “limites materiais de revisão”, não deixando portanto qualquer reserva ou área inafectada pelo seu Poder.
Se houvesse alguma reserva ao Poder democrático deveria existir um acervo de princípios inquestionáveis e imutáveis. Mas com que base se poderia impor este tipo de legalismo fundamental a uma sociedade que “endeusa” a Revolução como novo Encoberto!
Que pena… Como dizia um grande estadista português do séc. XX “como de pouco valem as qualidades dos homens, vítimas dos erros que se vêm forçados a servir…”.
Pena que estes não compreendam a debilidade dos seus argumentos. Pena que rejeitem o Estado Novo que subordinou o Comunismo a esse mesmo princípio.
Pena que considerem que só os que partilham de suas opiniões possam fazer parte desses “consensos” alargados!
Etiquetas: Modernidade
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