quinta-feira, janeiro 31, 2008

Os Estranhos da Terra















O Republicanismo entristece-me. Quando um republicano fala da História de Portugal anterior a 1910, não pode falar do “nós”. Fala de gente e de um Estado. De uma gente que lhe é aparentada (como quem tem família estrangeira) e de uma construção política com que nada tem a ver. Quem tem ignorância suficiente para achar que só aquilo que provém da sua vontade o pode representar, não pode rever-se numa comunidade que não se ordena dessa forma. Os feitos dos portugueses (e só existe Portugal pela união de um povo numa ordem política) são para si uma coisa estranha. Para evitar esse vazio, tem de se pôr a inventar republicanismos primordiais e medievais, completamente distintos daquilo que defende, ou pôr-se a identificar quais os pontos da história compatíveis com o seu credo.
Uma das asserções primeiras do “abrilismo” é esta triste ideia de que “todos somos portugueses”, independentemente da capacidade de aceitar a autoridade da comunidade no passado e no presente, ou da aceitação como norma da acção de interesses que não são os da comunidade. E somos governados por esta gente estranha, desinteressada do bem de Portugal e preocupada com a liberalização, os mais pobres, a liberdade de escolha, o consumidor, a construção da Europa...
Em 1910 havia 7% de Republicanos em Portugal. E neste Portugaleco que começa em Castro Verde, quantos portugueses há realmente? Quantos têm essa memória de que aqui houve Portugal?
Encontramo-nos no Terreiro do Paço.

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quarta-feira, janeiro 30, 2008

Em Directo de Castro Verde

Castro Verde em Festa

A CM de Castro Verde vai, como mandam as suas cores, celebrar o homicídio com vivas à República e descerrando uma lápide em favor de um assassino do Rei...
Aqui vai o programa das festas, para todos os que acham que é com diálogo que a coisa marcha.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Atrás da Máscara da “Liberdade”

Há um ano atrás, este blogue recebeu um ataque nojento da parte deste senhor, dizendo que por detrás da Defesa da Vida estavam blogues disseminadores do ódio como este em que vos escrevo. Olhando para trás, o ataque só me poderia deixar orgulhoso por ver como a meia-dúzia de coisas que aqui escrevo, sobretudo sobre temas de filosofia e política, poderia escandalizar tamanhos defensores da liberdade, que encontram neste blogue literatura ofensiva. Há insultos que são medalhas.
À medida que mais nos aproximamos do 1º de Fevereiro, vou vendo as máscaras da Esquerda (há outra que não seja extrema senão pelos ditames da economia e da táctica prudencial?) em queda acentuada. Parece que o momento de iluminação atingiu o máximo e algumas alminhas pedem até estátua para dois defensores do delito comum como arma regular da política (ao bom estilo da Formiga Branca ou de um Miguel Portas e seus Verdes Eufèmios). Se nunca aqui se defendeu a violência excepto para o que se defende de uma ameaça proporcional e ilegítima, é curioso ver como os apóstolos da tolerância e da democracia se apressam a querer fazer de toda a acção criminosa que vai no sentido da sua luta, uma acção benemérita e até um marco da libertação, mesmo quando dirigidas a um Rei que estava nas mãos da elite que viria a desencadear a revolução republicana e que era conhecido por partilhar os seus “valores”.
É claro que a libertação é a que já conhecemos, o fim da imperatividade, nos espíritos e na comunidade, de todos os elementos que nos permitem compreender o que é bom e o que é mau, em favor de uma perspectiva que afirma que tudo é expressão do “eu” sobre o incognoscível. Se o transcendente é incognoscível, não vale a pena resistir aos poderosos e aos “senhores do mundo”.
Era isso que eles queriam, é isso que eles querem agora.

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sexta-feira, janeiro 25, 2008

Porque Hobbes Não Serve

















Na imagem: O hobbista Carlos II em acção enquanto cultivador de ananases na Velha Albion. Uma das poucas coisas de jeito que fez na vida...

O argumento hobbesiano nunca serviu a monarquia. Serviu o estatismo, serviu os príncipes, serviu os poderosos. Primeiro porque o argumento para um soberano único é bastante débil. É apenas uma asserção de eficácia de unidade do exercício do Poder, que pode servir para justificar o imperialismo bonapartista e que serviu, entre outras coisas, para o centralismo presidencialista do último século.
A relação de Hobbes com a Liberdade e as liberdades políticas é também outro assunto que deveria aterrorizar qualquer pessoa que se reclame da tradição ocidental. Segundo Hobbes a liberdade encontra-se apenas no “medo da morte violenta”, única esfera que o soberano não pode violar, sendo que o soberano tem plenos poderes até para impôr o governo de Satanás na Terra. Desde que o “material” (povo, condições materiais, pressões externas) e a “fortuna” de Maquiavel (a desordenada ordem das coisas do Mundo que leva ao sucesso e insucesso do homem) ajudem, até a realização do mal encarnado é lícita nesta ordem política.
O constitucionalismo contractual de Hobbes é precursor das maleitas que nos afligem no século XX e, consequentemente, anti-tradicional, por preferir uma “psicologia” vinda da experiência pessoal de um autor sobre a natureza humana (o tal medo da morte violenta) que constitui como fundamento de uma contratualização sempre tácita, às estruturas tradicionais organizativas dos povos e às suas orientações espirituais.
Nenhuma tradição política é compatível com esta posição e por isso todos os autores o veêm como um dos pais da Modernidade.
Construir em Hobbes, é construir em areias movediças.

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quinta-feira, janeiro 24, 2008

E Hoje, Não Somos Todos Salazaristas?

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A Esterqueira do Bom Senso

Em Portugal há um elemento que determina o fim de qualquer discussão. O apelo ao bom-senso é uma das coisas que mais denuncia um determinado tipo de idiota português, que é sempre um misto de esperteza saloia e de oportunista do presente.
No fim de qualquer conversa sobre filosofia, política ou religião, há sempre um sujeito que, depois de ver as suas posições ou os seus próprios fundamentos absolutamente rebatidos, vem dizer que o importante é o “bom senso” e não os princípios, que colocar os princípios sob escrutínio é um acto de má-fé, que tudo é ridículo quando analisado ao pormenor, ou, melhor ainda, que milhares de pessoas que pensam como ele não podem estar enganadas.
É por isso que não estranho que ande tudo preocupado com o zelo da ASAE e que poucos falem da loucura de um sujeito que considera que as lareiras e os cigarrinhos são perigosos para a saúde, mas que se esquece de mencionar que pior que todas essas ninharias é o sujeito que não tem carro e que é obrigado a respirar o fumo dos escapes automóveis que andam pela cidade. Anda o país em polvorosa com meia-dúzia de crianças que fumam no Dia de Reis, esquecendo-se que um tipo que nunca tenha fumado e viva em Lisboa ou no Porto, tem os pulmões em pior estado que qualquer fumador moderado que viva em Trás-Os-Montes.
É claro que em relação a isto a única resposta é sempre o bom-senso, que é como quem diz, mesmo que não faça sentido há que deixar a máquina funcionar. Ninguém questiona o direito à saúde dos não-fumadores... E dos peões? E dos que têm de viver ao lado de uma fábrica?
Sinceramente já me enoja esta conversa da saúde pública, do “importante são as pessoas”, do direito à saúde, enquanto não se fiscalizam as fábricas poluidoras para não ter de as fechar, enquanto não se proíbem os carros de circular para preservar a saúde dos inocentes que usam a via pública, enquanto houver parques de estacionamento interiores para automóveis nos centros comerciais. É tudo uma mentira que nunca iremos expôr enquanto acharmos que o problema está na aplicação da lei, no “excesso de zelo”, impedindo-nos de compreender o que está por detrás destas leis que não têm qualquer sentido que possa ser pronunciado publicamente pelos serventes do Império que nos vai dominando.
Entretanto podem ir fazer queixinhas ao CDS, partido que admite esta estrutura legislativa em que a discricionaridade governativa e burocrática tem todos os poderes, mas que a quer ver aplicada de mansinho.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Uma Sugestão de um Amigo

"Saint Pie X Et le Duel entre Pensée Moderne et Théologie Catholique", pelo Professor Mateo D'Amico.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Dar voz aos que não têm voz

Relembrado pelo Hélder

“Tradition means giving votes to the most obscure of all classes, our ancestors. It is the democracy of the dead. Tradition refuses to submit to the small and arrogant oligarchy of those who merely happen to be walking about. All democrats object to men being disqualified by the accident of birth; tradition object to their being disqualified by the accident of death. Democracy tells us not to neglect a good man’s opinion, even if he’s our groom; tradition tells us not to neglect a good man’s opinion, even if he’s our father. I, at any rate, cannot separate the two ideas of democracy and tradition; it seems evident to me that they are the same idea. We will have the dead at our councils. The ancient Greeks voted by stones; these shall vote by tombstones. It is all quite regular and official, for most tombstones, like most ballot papers, are marked with a cross.”

G. K. Chesterton - Orthodoxy

sábado, janeiro 19, 2008

As Fezes e as Reses que as Seguem














Diz-se por aí que Nuno da Câmara Pereira vai fazer o lançamento da sua obra “O Usurpador” na véspera do Centenário do Regicídio. Não sei que tipo de interesses se escondem por detrás desta iniciativa, mas não posso deixar de me espantar com a data escolhida para o evento, que mais parece servir os interesses do regime presente, detentor da gamela onde o actual PPM chafurda, do que os interesses da Monarquia, instituição que é superior aos seus detentores e intérpretes de ocasião.

É evidente que o actual PPM e os seus líderes não são mais que uma tentativa de descredibilização por parte do regime, que só ganha em dar tempo de antena a um fadista iletrado e seus acólitos. Quando um “pretendente” incorre no erro de preferir as lealdades políticas e secretas, aos interesses superiores da instituição que diz servir (e que melhor serviço à instituição que unir esforços na memória de um Rei tombado?), percebe-se logo ao que vem e que amo que serve.

Um partido monárquico, que é contra a Monarquia e que tenta servir-se desta para difundir projectos pessoais, é tudo aquilo que a monarquia não deve ser. E, no entanto, são estes os monárquicos a que o regime dá difusão.
Um nojo... feito de encomenda, pois então!

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quarta-feira, janeiro 16, 2008

O Ser Tradicional












O Rafael relembrou Vasquez de Mella na asserção de que a Tradição separa os homens dos animais. Poucas coisas tão certas e tão pouco compreendidas se terão escrito em tão poucas palavras.
O homem realiza-se na sua natureza por ser um ente moral e esta por corresponder a um conjunto de condicionantes no espaço e no tempo, que ditam as acções dos homens. Para tal precisa de uma identidade, de um conjunto de localizações do seu percurso, que o permitam compreender onde está e para onde pode ir. Os três marcos essenciais, pontos de partida, presente e de chegada, não podem ser compreendidos senão por um processo tradicional, ou seja, de aceitação de uma sabedoria que precede o indivíduo e que abarca mais tempo e mais compreensões do que as repousam na percepção individual. Imagine-se o passageiro de um autocarro a tentar compreender o destino do mesmo tendo apenas como base as suas impressões e experiências e sem compreender as razões da existência dessa carreira. Sem compreender as finalidades da acção, nenhuma compreensão seria possível.
As tradições existem por isso mesmo, para dotar os homens de um enquadramento, de uma história que os preenche nas suas identidades, como fotografias da sua vida que fazem parte da sua interpretação de si mesmo.

A Tradição é, porém, algo maior que essas tradições, porque é um conjunto de elementos que as elevam ou fazem cair. Possui por isso um elemento revolucionário (no sentido primordial de reaproximação à natureza do objecto decaído), mas profundamente permanente, porque inspirado pela visão das coisas não perecíveis. (Melhor que a Aliança de Trono e Altar, só mesmo a tensão entre as duas que é a base da verdadeira liberdade)
Como conjunto de princípios e finalidades humanas, a Tradição nunca se deixa absorver pelas tradições, marca dos tempos que vivemos e das suas circunstâncias, mas nunca destas pode prescindir, sob pena de, como algumas ideias políticas modernas, ficar a pairar acima da acção.
Tem razão o Miguel quando critica “as tradições incensadas pela Direita”, porque estas são, pela sua natureza circunstancial, meras cristalizações de práticas do passado, que em muito perderam as finalidades e a veracidade que possuíam. São cultos a deuses mortos que se repetem por prática reiterada por hábito e amor ao antigo e ao passado (ao estilo dos conservadores que escolhem à la carte a parte do passado que mais lhes convém, como bem lembra o Rafael), esquecendo que a parte mais importante do que é transmitido se encontra naquilo que está para além da circunstancialidade e que determina a acção no domínio do contingente. É típico de povos sem futuro este agarrar ao passado... Em vez de discutir quem somos e quais são as nossas finalidades, prescindimos disso, prescindindo do presente e do futuro em prol de um ritualismo morto, rezando a deuses pela simples razão de julgarmos serem os dos nossos antepassados. Estamos mortos, sim senhor!

A quem não acredita no interesse das tradições, proponho que imagine um autocarro em que o destino seria ditado pela vontade do último passageiro.
A quem não acredita na Tradição, proponho que imagine um autocarro onde não é possível pedir ao condutor para se desviar de um buraco, para melhor chegar ao destino.

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terça-feira, janeiro 15, 2008

Ordem no Caos




















“They are ill discoverers that think there is no land, when they can see nothing but sea.”
-Francis Bacon-

O Francisco Múrias pediu-me esclarecimentos sobre a posição da ciência sobre a Ordem e o Caos. Não sabendo a que avanços se refere, menciono apenas as minhas dúvidas sobre a capacidade da ciência moderna proferir qualquer tipo de compreensão sobre ordem e caos. A ciência moderna compõe-se essencialmente de uma formulação supostamente lógica e positiva de categorias que a antecedem. Isso sucede porque quando a ciência moderna profere asserções como a água é H2O se “encosta” a verdades que são tudo menos conclusivas ou objectivas. O poder explicativo (ou a ausência deste) da ciência moderna é bem evidente pela incapacidade deste proceder à própria ordenação de conceitos, ou pela capacidade de, em si, distinguir uma partícula do vazio. A ciência explica as relações entre sujeitos, mas está sempre dependente de conceitos que em muito a ultrapassam.

A ciência é composta de ordens. Onde não exista a crença em regularidades naturais, nenhuma ciência é possível. Imagine-se que os doentes com diagnósticos semelhantes eram tratados de forma diferente, pela incapacidade de compreender as regularidades de que o mundo é composto. A um doente dar-se-iam comprimidos para a dor de cabeça, a outro mandar-se-ia piscar os olhos durante duas horas. Sem regularidades tudo é igual a tudo, porque nem a ordenação dos resultados dos tratamentos seriam possíveis. A sobrevivência ou a morte do paciente seria indiferente, um resultado incompreensível e do acaso.

É na altura de doença que o sofista ou o pós-moderno revelam as suas fraquezas. Quando o infortúnio acontece colocam-se imediatamente nas mãos de um homem de artes e ciências, que lhes irá aplicar uma norma oposta a aquilo que apregoam. Fosse um médico um pós-moderno ou um sofista e iria prescrever um remédio que o satisfizesse no seu “projecto de poder” individual e não em algo que resultasse no benefício do paciente, utilizando conhecimentos sobre a Saúde que não se compadecem com a ideia de que a vontade ordena a realidade.

Em última análise, a ciência não pode explicar a Ordem, mas pode servir para a ilustrar. O que se recusa a ver a Ordem pode sempre dizer que esta é um devaneio da mente humana ou uma criação da mente. Para este não existem galáxias, mas estrelas espaçadas. O próprio não existe, porque é apenas um conjunto de átomos. A ciência moderna nunca lhe conseguirá provar alguma coisa, da mesma forma que não consegue elaborar qualquer pensamento sobre a Saúde que seja decisivo e demonstre porque razão não deve o homem preferir viver numa bolha asséptica para a eternidade a escolher finitude.

Sem outra ciência ordenadora da alma, nenhuma compreensão da Ordem é possível.

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quinta-feira, janeiro 10, 2008

Efemérides Futuras

Ficará o dia de hoje conhecido pela "Vitória dos Camelos"?

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Pôr a Liberdade na Ordem
















(Sobre Helmut Kuhn)

A rejeição da Ordem é uma das mais perenes formas de pensamento ocidental e que se reveste de maior importância num tempo em que qualquer sujeição ou profanação do dogma de que “fora de nós se encontra o vazio ou o incompreensível” preenche com desprezo o que se atreve à blasfémia. Nesta conjuntura de rejeição de qualquer elemento não-humano no mundo, a maior crítica vem sempre na banalidade da igualdade de todos os pensamentos e afirmações. Mas se todas as afirmações são iguais, por que razão nos deveremos ainda dar ao trabalho de discutir?
O problema é complexo, mas é de importância vital no aferimento dos limites da Modernidade e da Pós-Modernidade, não apenas porque as categorias utilizadas pelo pensamento relativista e niilista, são as categorias modernas, mas porque os seus sonhos e objectivos correspondem à mesma tendência.
Um pós-moderno nunca tem uma razão racional para evitar o homicídio, mas possui um conjunto de obsessões modernas (paz, solidariedade, consenso) que o fazem fugir do terrorismo ou da indiferença perante a morte. Tem desejos, que fazem parte da sua narrativa interna, mas que são iguais a quaisquer outros que lhe sejam inversos.

É evidente que este pensamento que não vem ou vai para lado algum apresenta um problema insolúvel. Sem uma análise do lugar do Homem na Criação, sem uma reflexão sobre a transcendência, nada é possível senão o esforço de autonomia individual que conduz à guerra de todos contra todos, seguindo o paradigma Moderno da Natureza Humana, em que o Homem se encontra num mundo onde não pode compreender o seu lugar, mas apenas criar uma situação conveniente. Esta não é, porém, matéria exclusiva do pensamento pós-moderno. Quando Kant afirma a Autonomia como horizonte máximo do elemento humano, está a agir segundo esse paradigma, mas em perfeita consciência de que a sua filosofia roça a Profecia no momento em que identifica este mundo com o Outro. É evidente que a fundamentação de Kant é quase toda metafísica e teológica, bastante semelhante à de um pastor protestante ou de um gnóstico audaz, o que o afasta da intramundanidade pós-moderna. Restará depois compreender se a ordenação metafísica kantiana não é um reflexo da própria rejeição da Ordem, representando um Universo à medida do particular, o que o coloca mais próximo de ser um líder nietzscheano em “punhos de renda” ou um seguidor de Górgias ou Cálicles, do que um profeta revelador.

A rejeição da justificação transcendente da regulação humana cria um problema insolúvel a todos os que pretendem uma ordenação política. Sem uma natureza transcendente e sem uma alma que a possa compreender como elemento da “ordem das coisas”, o Homem não tem qualquer capacidade de ser diferente do seu meio. A própria autonomia humana, o desígnio moderno, torna-se mero retrato do seu meio e perecível a qualquer alteração circunstancial. O Homem de Hegel e Heidegger é esse ser incompreensível e imerso no Mundo, incapaz de olhar para o apelo destruidor que possui como conformidade ou disformidade da Natureza. Não há rejeição ou aceitação. Apenas o mesmo mundo de Prometeu, Trasímaco, Lúcifer e Sarte. Um mundo cheio de vazio.

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Ainda Sobre a Defesa da Civilização Cristã

"Coragem", pelo António Bastos.

Sobre a Manifestação

Na Libertad Digital.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Pela Família Cristã

"No forniquéis con los reyes de la tierra", por Juan Manuel de Prada

A Saúde como Instrumento da Felicidade














O mais repugnante da cultura da Saúde que por aí grassa é a sua incapacidade de compreender o conceito como algo de relacional e indissociavelmente ligado das finalidades do Homem. A saúde do rústico ou do militar não é a mesma que a do homem que se levanta ir para o escritório ou para a biblioteca, porque uns e outros se realizam de formas diferentes. Tal é incompreensível na sociedade moderna e na sua dialética uniformizante de descoberta abstracta do Homem. A saúde para os modernos encontra-se despida da compreensão da dimensão teleológica da Humanidade e é desenhada segundo propostas supostamente neutras, que escondem apenas as neuroses e obsessões dos autores ou a mera utilidade política do ser de “carne e osso”.
Se a Saúde fosse algo possível de diferenciar da Felicidade, poderíamos até acreditar na concepção que nos rodeia. Que não se fume, não se beba, não se coma, para viver dois séculos, ainda que absolutamente desligado de qualquer sentimento verdadeiro ou fechado numa sala sem acesso a qualquer coisa amável. É esse o destino do Homem que tem direito a viver “x” número de anos, assim que forem mais bem estudadas todas as cardiopatias geradas pelo sentimento. Proteja-se o direito abstracto.

Todo o Estado tem de possuír uma concepção de Saúde. O Estado que não o faça é louco ou mentiroso. Mas reduzir a saúde à ausência de doença é o mesmo que afirmar que a paz é a ausência de conflito. Um acto de ingenuidade ou de esperteza saloia...

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Caro Francisco

Nunca levaria as suas palavras como ofensivas, porque de si só tenho tido palavras de estímulo e gentileza. Dito isto e utilizando a sua analogia, relembro as invasões francesas, na forma como apesar da vitória sobre os exércitos invasores, a derrota veio posteriormente, pela derrota dos princípios. É precisamente por isso que me parece mais importante denunciar as ideias do Invasor, do que combater a sua expressão superficial. O problema não está no executor, que esse serve sempre a mão que o alimenta (basta ver como a função pública do Estado Novo se manteve, com honrosas excepções, pronta a servir o regime de Abril). O problema está sempre no sistema de valores que governa e, no Portugal de hoje, centra-se na abjecta sujeição ao interesse individual, ao materialismo tranformado em matéria constitutiva do Homem, na incompreensão de que o desenvolvimento económico que vivemos não é senão o salário pela submissão a interesses que não são os nossos.
É evidente que a ASAE aplica algumas das leis mais abjectas e mais abjectamente legisladas da História de Portugal, mas o que nos deve preocupar mesmo é a injustiça que lhe serve de base e saber o que leva a que o povo só se preocupe com a imoralidade quando esta lhe bate à porta.
A solução parcelar é sempre um paliativo.

sábado, janeiro 05, 2008

A Culpa no Executor










O recente ódio dos portugueses à ASAE é apenas mais um dos episódios tristes das exéquias do país em que vivemos. Criticam-se uns quantos homens encapuzados, meia-duzia de funcionários públicos, umas quantas decisões judiciais mais exigentes. Quanto aos fazedores de lei, aqueles que criaram uma situação em que a legislação das actividades económicas portuguesas se encontra nas mãos de gente remota do meio da Europa e desconhecedora de qualquer realidade local, permanecem beneficiários do voto da população em geral e depositários das esperanças da populaça.
O ódio à ASAE é apenas sintoma de uma revolta mais profunda dos portugueses contra si próprios, contra a esperança de um dia virem a ser europeus como os outros todos e experimentarem uma vida de abundante sensaboria. Como não prescindem do sonho de riqueza, vão lamentando a perda da identidade personalizada pela polícia que impede todas as insalubridades que lhes vão servindo de lembrete de quem são, fingindo ignorar que a ASAE é apenas o executor de legislação europeia que visa destruir as produções locais para as redistribuir por grandes estruturas europeias centralizadas de alocação de lucros. Não querendo ficar de fora da mesa do lucro, lá se vai culpando o Estado e assobiando para o lado, pactuando através do protesto.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

O Totalitarismo dos Bens Individuais














Uma das obsessões do Socialismo é a questão do serviço público. Achar que todo o negócio deve ter uma vocação pública e universal é mais um reflexo dessa obsessão ideológica. Embarcando nesta ideia, um restaurante, uma discoteca, um casino, são mais do que locais onde se pode disfrutar, mediante uma convergência de vontades entre proprietário e consumidor, da obtenção de um bem. Segundo esta concepção o público tem o direito de ser servido, como se aquele bem fosse imprescindível sobrepondo-se à vontade dos intervenientes.
Só assim se justifica que um proprietário não tenha o direito de possibilitar o consumo de um produto legal no seu estabelecimento e que aos consumidores não seja dada a possibilidade de escolher um estabelecimento consoante os produtos que o proprietário tem para oferecer (inclusive uma refeição com fumo).
Mas será que existe um “direito à refeição preparada por outrém” que torne os restaurantes e outros locais de convívio, locais onde a saúde deva ser preservada acima da vontade dos seus proprietários? E se o meu local de trabalho for a minha casa, estando eu a prestar um serviço ao público?
De uma penada passa o Estado a deter direitos absolutos sobre uma actividade perfeitamente legal realizada dentro da minha propriedade...
Digam lá que o Estado não faz um bom negócio, ganhando acesso a fiscalizar os lares em busca de “beatas”...

Quando os indivíduos dão ao Poder o controlo total da sua saúde, submetem-se a uma situação em que este os pode proibir de andar à chuva para não se constiparem. É bom que se perceba esta regra de funcionamento do Estado Social. Considerem-se avisados.

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quinta-feira, janeiro 03, 2008

Grande Novidade

A Taverna do Embuçado

Regresso

Não posso continuar sem agradecer a todos os amigos e leitores que fizeram o favor de me endereçar votos de boas festas. Faço-o com menção especial ao Miguel (pela menção) e ao César Augusto Dragão (pela oferenda, pelo espírito anti-zelota e por ter incluído, sem corar, este vosso amigo na lista dos Sete Magníficos).

Agradeço também ao Vítor Ramalho as sempre simpáticas referências, os mails e a preserverança nesta luta.

A todos os que não tive oportunidade de agradecer directamente e que se lembraram de mim nesta quadra envio daqui um agradecimento e um abraço.