terça-feira, janeiro 15, 2008

Ordem no Caos




















“They are ill discoverers that think there is no land, when they can see nothing but sea.”
-Francis Bacon-

O Francisco Múrias pediu-me esclarecimentos sobre a posição da ciência sobre a Ordem e o Caos. Não sabendo a que avanços se refere, menciono apenas as minhas dúvidas sobre a capacidade da ciência moderna proferir qualquer tipo de compreensão sobre ordem e caos. A ciência moderna compõe-se essencialmente de uma formulação supostamente lógica e positiva de categorias que a antecedem. Isso sucede porque quando a ciência moderna profere asserções como a água é H2O se “encosta” a verdades que são tudo menos conclusivas ou objectivas. O poder explicativo (ou a ausência deste) da ciência moderna é bem evidente pela incapacidade deste proceder à própria ordenação de conceitos, ou pela capacidade de, em si, distinguir uma partícula do vazio. A ciência explica as relações entre sujeitos, mas está sempre dependente de conceitos que em muito a ultrapassam.

A ciência é composta de ordens. Onde não exista a crença em regularidades naturais, nenhuma ciência é possível. Imagine-se que os doentes com diagnósticos semelhantes eram tratados de forma diferente, pela incapacidade de compreender as regularidades de que o mundo é composto. A um doente dar-se-iam comprimidos para a dor de cabeça, a outro mandar-se-ia piscar os olhos durante duas horas. Sem regularidades tudo é igual a tudo, porque nem a ordenação dos resultados dos tratamentos seriam possíveis. A sobrevivência ou a morte do paciente seria indiferente, um resultado incompreensível e do acaso.

É na altura de doença que o sofista ou o pós-moderno revelam as suas fraquezas. Quando o infortúnio acontece colocam-se imediatamente nas mãos de um homem de artes e ciências, que lhes irá aplicar uma norma oposta a aquilo que apregoam. Fosse um médico um pós-moderno ou um sofista e iria prescrever um remédio que o satisfizesse no seu “projecto de poder” individual e não em algo que resultasse no benefício do paciente, utilizando conhecimentos sobre a Saúde que não se compadecem com a ideia de que a vontade ordena a realidade.

Em última análise, a ciência não pode explicar a Ordem, mas pode servir para a ilustrar. O que se recusa a ver a Ordem pode sempre dizer que esta é um devaneio da mente humana ou uma criação da mente. Para este não existem galáxias, mas estrelas espaçadas. O próprio não existe, porque é apenas um conjunto de átomos. A ciência moderna nunca lhe conseguirá provar alguma coisa, da mesma forma que não consegue elaborar qualquer pensamento sobre a Saúde que seja decisivo e demonstre porque razão não deve o homem preferir viver numa bolha asséptica para a eternidade a escolher finitude.

Sem outra ciência ordenadora da alma, nenhuma compreensão da Ordem é possível.

Etiquetas: