quinta-feira, janeiro 24, 2008

A Esterqueira do Bom Senso

Em Portugal há um elemento que determina o fim de qualquer discussão. O apelo ao bom-senso é uma das coisas que mais denuncia um determinado tipo de idiota português, que é sempre um misto de esperteza saloia e de oportunista do presente.
No fim de qualquer conversa sobre filosofia, política ou religião, há sempre um sujeito que, depois de ver as suas posições ou os seus próprios fundamentos absolutamente rebatidos, vem dizer que o importante é o “bom senso” e não os princípios, que colocar os princípios sob escrutínio é um acto de má-fé, que tudo é ridículo quando analisado ao pormenor, ou, melhor ainda, que milhares de pessoas que pensam como ele não podem estar enganadas.
É por isso que não estranho que ande tudo preocupado com o zelo da ASAE e que poucos falem da loucura de um sujeito que considera que as lareiras e os cigarrinhos são perigosos para a saúde, mas que se esquece de mencionar que pior que todas essas ninharias é o sujeito que não tem carro e que é obrigado a respirar o fumo dos escapes automóveis que andam pela cidade. Anda o país em polvorosa com meia-dúzia de crianças que fumam no Dia de Reis, esquecendo-se que um tipo que nunca tenha fumado e viva em Lisboa ou no Porto, tem os pulmões em pior estado que qualquer fumador moderado que viva em Trás-Os-Montes.
É claro que em relação a isto a única resposta é sempre o bom-senso, que é como quem diz, mesmo que não faça sentido há que deixar a máquina funcionar. Ninguém questiona o direito à saúde dos não-fumadores... E dos peões? E dos que têm de viver ao lado de uma fábrica?
Sinceramente já me enoja esta conversa da saúde pública, do “importante são as pessoas”, do direito à saúde, enquanto não se fiscalizam as fábricas poluidoras para não ter de as fechar, enquanto não se proíbem os carros de circular para preservar a saúde dos inocentes que usam a via pública, enquanto houver parques de estacionamento interiores para automóveis nos centros comerciais. É tudo uma mentira que nunca iremos expôr enquanto acharmos que o problema está na aplicação da lei, no “excesso de zelo”, impedindo-nos de compreender o que está por detrás destas leis que não têm qualquer sentido que possa ser pronunciado publicamente pelos serventes do Império que nos vai dominando.
Entretanto podem ir fazer queixinhas ao CDS, partido que admite esta estrutura legislativa em que a discricionaridade governativa e burocrática tem todos os poderes, mas que a quer ver aplicada de mansinho.