sexta-feira, janeiro 25, 2008

Porque Hobbes Não Serve

















Na imagem: O hobbista Carlos II em acção enquanto cultivador de ananases na Velha Albion. Uma das poucas coisas de jeito que fez na vida...

O argumento hobbesiano nunca serviu a monarquia. Serviu o estatismo, serviu os príncipes, serviu os poderosos. Primeiro porque o argumento para um soberano único é bastante débil. É apenas uma asserção de eficácia de unidade do exercício do Poder, que pode servir para justificar o imperialismo bonapartista e que serviu, entre outras coisas, para o centralismo presidencialista do último século.
A relação de Hobbes com a Liberdade e as liberdades políticas é também outro assunto que deveria aterrorizar qualquer pessoa que se reclame da tradição ocidental. Segundo Hobbes a liberdade encontra-se apenas no “medo da morte violenta”, única esfera que o soberano não pode violar, sendo que o soberano tem plenos poderes até para impôr o governo de Satanás na Terra. Desde que o “material” (povo, condições materiais, pressões externas) e a “fortuna” de Maquiavel (a desordenada ordem das coisas do Mundo que leva ao sucesso e insucesso do homem) ajudem, até a realização do mal encarnado é lícita nesta ordem política.
O constitucionalismo contractual de Hobbes é precursor das maleitas que nos afligem no século XX e, consequentemente, anti-tradicional, por preferir uma “psicologia” vinda da experiência pessoal de um autor sobre a natureza humana (o tal medo da morte violenta) que constitui como fundamento de uma contratualização sempre tácita, às estruturas tradicionais organizativas dos povos e às suas orientações espirituais.
Nenhuma tradição política é compatível com esta posição e por isso todos os autores o veêm como um dos pais da Modernidade.
Construir em Hobbes, é construir em areias movediças.

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