Duas Nações “My country right or wrong is like saying, my mother drunk or sober”
G.K. Chesterton
Ouve-se muito falar de nacionalismo. Quanto mais se fala, menos se percebe do que se está falar. Numa sociedade em que os significados são posteriores aos desejos, todo o conceito está predefinido pela sua aceitação e utilização política.
Se existem muitas formas de Nacionalismo – reais alguns, imaginários muitos – existe por certo uma linha que os divide e atravessa, não deixando espaço para equívocos.
Uns defendem a comunidade nacional como entidade autónoma, possuidora de uma concepção de justiça peculiar e unida por um bem comum, que pretende aproximar o Homem de uma vida mais próxima daquilo que é a sua Natureza. Para estes o laço que une a comunidade política não se encontra nos membros, mas nessa concepção superior e inalienável que consiste na sua própria “constituição”. A virtude do cidadão não consiste apenas na condição política e na sua subordinação às ordens do “domínio”, mas na própria própria “ordem das coisas”. Para esta concepção, a submissão implica uma legitimidade que se funda na Justiça, que se apoia na compreensão da Realidade que só a experiência existencial, a Tradição (verdadeiramente entendida), pode trazer.
Do outro lado temos a concepção voluntarista da Nação, a formulação da comunidade política como resultado das vontades dos indivíduos, que resulta no plebiscito constante defendido por Renan. Esta perspectiva defende que reside na esfera individual a subsistência da comunidade política, podendo, segundo maiorias ou imposição, mudar a sua forma de existir da forma que melhor lhe aprouver. Daqui advém uma concepção ilimitada da política, que determina toda a virtude, sem necessidade de preservação de princípios e valores. Por isso, o Estado de Maquiavel, Bodin e Hobbes apresenta como elemento essencial o seu desprezo por uma justiça mais elevada que as necessidades e desejos da comunidade. O Estado todo-poderoso não se submete a qualquer concepção de justiça, podendo, ele mesmo, decidir-se a cometer a mais gritante injustiça e a legitimá-la. A substituição da Religião, uma estrutura de compreensão do lugar do Homem no Mundo e do devido lugar das coisas, por religiões de Estado e superstições de carácter privado e individualizado, não é senão a consequência dessa absolutização do elemento político.
O Estado Moderno tolera quem lute pelo pão, mas não tolera quem luta por uma concepção de Bem. Esse é o limite de tolerância que se encontra inscrito na sua natureza. A tentativa de representar os católicos como submetidos politicamente aos interesses da Santa Sé é, por isso, uma representação habitual, mas boçal e recorrente. Tal implicaria representar os nossos Reis como agentes políticos de uma potência externa e a subsequente afirmação de que Portugal seria uma ideia do século XIX ou da Primeira República.
Já vai sendo tempo de se perceber que ambas as posições são incompatíveis e de que qualquer defensor da Nação que defenda os valores da Cristandade e se alie aos defensores do Estado ilimitado e do “my country, right or wrong”, não faz parte da solução do problema.
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