terça-feira, outubro 16, 2007

A Santa Sé Debaixo de Fogo












De tanto tentar negociar com a Modernidade, a Igreja Católica esqueceu-se de que não lhe poderá sobreviver. Relembram os artistas do Diário Ateísta que o Estado do Vaticano é um Estado Totalitário, segundo a concepção democrática. Têm os senhores toda a razão... Um Estado que não é membro da comunidade internacional, que não se considera sujeito aos ditames da ordem internacional terrena (mas ele a própria ordenação e repositório da justiça entre os homens), em que o povo não tem qualquer intervenção no processo legislativo, em que o chefe-de-estado é cooptado e em que as instituições não provêm da escolha popular.
Curiosamente nenhum dos nossos católicos democratíssimos se lembra disso quando profere os credos da sua religião política de eleição, jurando a pés juntos que a decisão da maioria deve ser acatada, que a Constituição de 76 é mais conforme a vida cristã que a de 1933, que a moralidade é algo separado da política e outras alarvidades que aprenderam à pressa nos seus manuais de legitimação política e social. Porque raio é que é tolerada na ordem internacional tal excrescência fundamentalista e anti-democrática? Primeiro há que minar os princípios e a muralha cairá por si...
Vem isto ainda a propósito das afirmações de Mário Soares (e das dúvidas do leitor JV), não rebatidas pela Igreja, de que em Portugal só podem ser toleradas religiões sujeitas aos Direitos Humanos. Tal afirmação é um ataque à própria Igreja, porque a submete à religião política internacionalista, relembrando as ingerências políticas em matéria de fé operadas nos Estados que tentaram tomar conta da Religião (A Primeira República, as vergonhosas ingerências do Parlamento Britânico na religião anglicana contra que Newman se insurgiu, o totalitarismo chinês e a nacionalização da religião). Tolerar aquele que se submete às nossas finalidades não é tolerância, é apropriação e subordinação. Basta relembrar que o “Ensaio Sobre a Tolerância” de John Locke deixava de fora dessa benevolência os católicos e todos os que tivessem uma ordenação moral que não se submetesse caninamente à Corôa e à Constituição.A tolerância religiosa no Estado Moderno é, por isso, um mito. É pura submissão.
Este mito só ainda não foi colocado à prova por uma comédia de enganos e alguma habilidade política, que tem impedido que os Direitos Humanos mostrem a sua verdadeira face. Têm surgido um conjunto de propostas internacionais para que o Direito ao Aborto seja incluído nas cartas internacionais de DH. Nada mais normal para o conjunto de direitos sem fonte, sem norma e inteiramente discricionários, que a Igreja do nosso tempo persiste em apoiar e incentivar, para ter nota máxima em “modernidade”. Aí ficaremos esclarecidos quanto à concepção de Direitos Humanos da Igreja e que mais importante que qualquer direito é a espiritualidade e a concepção de Bem que a infunde. Mais importante que qualquer jogo retórico ou manto pseudo-jurídico...

Adenda: Este sinal de esperança pelo Cardeal Tarcísio Bertone.

Etiquetas: