domingo, setembro 30, 2007

O Dilema Moderno de Tocqueville

























"Se o Estado é secular e laico, não há qualquer razão para que se prefira o amor dos filhos, o sofrimento da vida, a uma vida com drogas e envolvida no falso afecto de uma prostituta."

O mui estimado André Azevedo Alves pegou na minha frase e afirmou a sua discordância com a minha posição. É preciso referir alguns pontos.
Primeiro que tudo é preciso que se compreenda o registo em que foi feito. Quando fiz a afirmação, não disse (como parece pela leitura descontextualizada) que as pessoas só podem seguir a lei ditada pelo Estado, como o fazem algumas tendências positivistas no seio da Direita e do pensamento conservador mais germanizado. Pelo contrário... Escrevi várias vezes que ao domínio político não interessa a repressão do pecado (como nas ordenações comunitárias teocráticas), mas a repressão dos erros politicamente relevantes e perigosos. Existem várias razões para orientações morais meramente privadas ou extra-políticas e que em nada respeitam à sociedade, excepto no momento em que estas se transformam em ordenações paralelas. Não me preocupam os que decidem desonrar pai e mãe, os que se decidem por viver de forma homossexual, os que levantam falsos testemunhos, excepto quando decidem incitar à sua forma de viver, em oposição aos sãos fundamentos da sociedade. Creio ser essa a diferença entre uma Comunidade Livre e uma que não o é. Uma sociedade com Liberalidade (uma virtude) e não com Liberalismo (uma ideologia)...
A minha afirmação ia, evidentemente, no sentido de promoção da virtude e da moralidade, sem o qual nenhuma sociedade pode existir. Disto nenhum liberal poderá sequer fugir... Não passa pela cabeça de ninguém que exista uma sociedade liberal onde ninguém faça a apologia da Propriedade e onde esta não se encontre plasmada na lei ou num ideal educativo. Pode-se fechar os olhos e dizer que a maioria da sociedade preferirá sempre um sistema liberal e de propriedade, mas o facto é claramente desmentido pela história ocidental.
A pergunta mantém-se. Num Estado alegadamente desprovido de concepções religiosas ou metafísicas (algo que é manifestamente impossível e falso), em que é que um padre é diferente de um angariador de prostituição ou de um defensor da eutanásia? Não estarão todos a lutar pela sua concepção de “vida boa”? Não merecem todos o mesmo tratamento?
Responda quem quiser, justificando...

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