sábado, setembro 29, 2007

O Amor ao Tirano

















O ódio do Tirano ultrapassa a morte. Não quer impedir o mal, não quer desarmar o agressor, não pretende fazer o necessário para restaurar a Justiça. O Tirano pretende arrancar a alma do inimigo, porque este é a sua razão de viver, porque se alimenta do ódio. O Cristianismo veio mostrar que Creonte era tirano, por tentar aplicar a sua justiça humana à alma de Polínices, ao tentar condenar não a sua vida, mas toda a sua existência. Muitas vezes não conseguiu controlar os cristãos (os homens estão sempre sujeitos à tentação do Pecado), mas foi sempre clara quanto à doutrina e à necessidade de arrependimento perante o Erro. Não há razão para não perdoar o inimigo subjugado ou caído, não há razão para não alimentar os adversários que perderam a capacidade de fazer dano, restituindo a justiça como se de um irmão desavindo se tratasse.
Uma morte é sempre uma morte, mas o homicídio é mais grave quanto maior é a gravidade moral do crime. O condutor negligente não é o mesmo que o que mata os pais para comprar um carro com a herança. O homem que se vinga da alma de um morto comete um crime mais grave, porque deste não vem restituição material que lhe alimente a inveja ou a ganância. O ódio constitui a essência do seu ser, e não espera nada mais que o seu cumprir.
O Tirano sempre se rodeou dos que não acreditam em nada. Para estes a tentativa de “matar a alma” é, ou não, um erro tático, um acto prejudicial que mancha a causa, mas nunca é um mal. Esse é o drama eterno dos que não acreditam em nada, condenados a ver tudo segundo as suas conveniências, preparados para serem mártires das causas de outra convergência de poderes do Tirano, mas sempre na esperança de que o triunfo final seja seu.
Não é verdade que os que partilham o leito com o Tirano sejam incautos. Conhecem-lhe a História e sabem que o que o separa dos crimes e massacres é o tempo e a oportunidade. Dizem que o Tirano nunca matou, sabendo que à primeira oportunidade voltará a fazê-lo, prontos para apanhar as migalhas do saque e, se possível, vencê-lo no seu próprio jogo. Acham-se melhores que ele por receberem os Sacramentos, esquecendo que outros assassinos também os recebem.

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