quarta-feira, outubro 24, 2007

A Máquina de Votos





















Quando ouso escrever alguma coisa aqui ou noutro blogue sobre o Estado Social, chamam-me logo de mau, egoísta, biltre, membro das classes abastadas. Um Cristão tem de ser socialista, dizem eles, como se houvesse alguma ligação entre o socialismo e a virtude da Caridade, ou como se não houvesse contradição entre a imposição da Caridade e a verdadeira Virtude. Um bom Cristão, sensível e meiguinho, não se importa de contribuir com todos os seus lucros para resolver os problemas sociais, para dar dinheiro aos que insistem em reincidir em drogas, sustentar sem-abrigo que decidiram renegar a sua família e as suas obrigações para viverem numa vida viciosa, viver de favores sexuais e construir salas para que as pessoas se suicidem de forma mais asséptica.
É evidente que a Caridade não consiste em dar uma corda a quem se quer enforcar e não pode ser ilimitada, sob pena de destruir a própria sociedade. Caridade ilimitada não é coisa deste mundo, mas um reflexo do Outro. Caridade obrigatória é mais uma expectativa impossível, que trata o sujeito mais banal como se de um santo se tratasse. A velha tentativa comunista de que o mundo seja o mosteiro da Caridade sem Norma, resultou no que todos sabemos.
É evidente que o Estado tem responsabilidades na boa ordenação da sociedade. Deveria promover os contratos que incluíssem maior estabilidade e maiores responsabilidades na vida dos trabalhadores, um pouco à maneira do que faziam as empresas nórdicas do século XIX e as empresas japonesas. Mas o problema, creio, é sobretudo social. Onde no século XIX um dono de uma “sweat shop” era ostracizado pela “boa sociedade”, hoje é elevado como homem de visão e de grande compreensão dos fenómenos de deslocalização mundial.
É evidente também que nem toda a latitude contractual é lícita, tanto por ir contra os interesses da comunidade (venda de armas a um inimigo durante um período de conflito, p.ex.), como por ir contra os pressupostos que esta defende. Mas afirmar que o Estado tem um direito sobre toda a propriedade, com o objectivo de minorar as carências de outros é criar um poço sem fundo em que o erro é sempre pago pelo que não o comete.
Onde é que o socialismo resolveu o problema da pobreza?

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