Assobiar para o Lado
Os Portugueses de Abril não acreditam na Religião, tendo-se livrado de todas as superstições menos da disparatada crença no Inevitável. Era inevitável a perda do Brasil, o abandono do Ultramar, o 25 do A., a absorção de Portugal no Império Franco-Alemão, a construção do Prédio Coutinho... O 25 do A. não foi mais que a sacralização no povo português desse espírito de derrota prévia à batalha, de entreguismo, que começou com a revolta dos “portugueses de cá” contra os custos da manutenção dos “portugueses de lá”, como se as obrigações dos povos pudessem ser escolhidas a todo momento. O que diríamos da nossa geração se se decidisse a abandonar Bragança para não ter de pagar os custos da interioridade? Disfarçar a cobardia com a inevitabilidade histórica é um expediente normal em política. O que não é normal é que a coisa passe por virtude, como se a grande acção política fosse a capacidade de escolher o combate, não pela benignidade da luta, mas pelo exército mais poderoso.
Vejo que Pacheco Pereira se começa a preocupar com a ausência de um projecto e de um interesse nacional no seio da inserção europeia, como já se havia insurgido contra a cultura emergente e com a liberdade de expressão. Mais vale tarde que nunca... Mas o que dirá ele do regime que nos governa? Ele que sempre defendeu a sanção da vontade popular, preferindo o suicídio da comunidade legitimado pelos seus membros à continuidade da comunidade ainda que silenciados os defensores da pressão no gatilho, assobia para o lado. Assim não vale...
O que é que ele vai fazer em relação a isso?
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