quinta-feira, maio 27, 2004

Só para ver se dá para todos

No dia 27 de Maio de 1975 uma facção do MPLA tentou fazer um golpe de estado, afastando alguns dos membros do governo angolano. A derrota da facção levou a que muitos estudantes e membros do MPLA fossem executados, outros presos, outros afastados do Poder.
Agora, já em Lisboa, no recato da Pátria que traíram, e que foi a sua segurança quando a República Popular de Angola, como era esperado, os perseguiu e torturou por serem “destabilizadores” e “assassinos sanguinários”, criaram uma associação. O seu objectivo é serem ressarcidos pelos agravos sofridos em Angola…
Eles que lutaram pelo comunismo e pelo fim do Portugal Ultramarino deveriam saber melhor que ninguém que Angola não era uma Democracia! Agora não é altura para se queixarem…
Se toda a gente roubou, porque não ressarci-los da parte a que não lhes foi dada possibilidade de roubar!

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sexta-feira, maio 21, 2004

Donoso Cortés

Quando a morte chegou não tinha mais que meia dúzia de camisas rotas, um salário hipotecado, nenhuma dívida! O Marquês de Valdegamas não morreu votado ao desprezo… morreu a defender o que considerava mais sagrado. Morreu na batalha da vida por um mundo cristão, disputada todos os dias no plano da virtude, na virtude suprema humana da Caridade! Quando morreu não deixou legado, não deixou mais que as suas obras, literárias e humanas, o exemplo. Foi esquecido pela Igreja por que tanto lutou, que deixou cair as propostas para sua beatificação!

As remunerações que o cargo de Embaixador em Paris estavam hipotecadas e não deixava que nenhum necessitado se acercasse de si sem levar alguma coisa para seu conforto. Sabia que só a caridade poderia salvar o Homem, que só ela poderia restaurar o espírito da sociedade tradicional, uma sociedade justificada na identidade tradicional na oposição ao socialismo! Disse-o repetidamente! A culpa do socialismo provinha das condições miseráveis em que os aristocratas deixaram os que deveriam cuidar…

Foi este problema que esteve na origem do estado social. Ao negar Deus o Homem considera as suas necessidades e vontades como de suprema importância na ordem política e metafísica, e que alcança o seu apogeu na Crítica ao Programa de Gotha de Karl Marx, onde se consagra o princípio essencial do socialismo, “a cada um segundo as suas necessidades”. A subversão do espiritual ao material.
Como Donoso observou (em 1852!) o socialismo é uma forma de panteísmo pagão! Nós definimos o nosso Deus, que se encontra em tudo o que fazemos e vivemos, em toda e qualquer necessidade que o Homem possua encontra-se aí um direito, passível de satisfação! O Marxismo esqueceu-se simplesmente que os recursos são limitados!

Donoso compreendeu a essência da modernidade num conflito contra a ordem. Numa revolta deste contra o estabelecido por Deus, numa escravatura do Homem pelo Homem, pelo desejo do Homem contra Deus!

Donoso fez a sua parte e juntou-se à sua família!

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quinta-feira, maio 20, 2004

O que fazer?(I)

Não votar esquerda

Pela segunda vez na história da democracia portuguesa encontramo-nos lançados à parede, não tendo qualquer alternativa senão o desastre ou a hecatombe!
O MFA no PREC, bem como o MRPP já haviam utilizado a estratégia de Saramago… O apelo à abstenção ou ao voto nulo e a apropriação desses votos é uma estratéegia abrilina, que desrespeita os doentes, os mortos, ou os que se estão a cagar para a democracia! Apodera-se dessa arma de protesto para a esquerda… Quase todos os livros de história afirmam que a abstenção nas eleições a Constituinte (bonito trabalho que fez!) foi um voto esquerdista contra a Democracia, em prol da democracia popular, outro nome para Ditadura do Proletariado.
A esquerda apoderou-se do protesto… Talvez seja então altura de não protestar!

A obra mais importante da história da Humanidade talvez seja a República de Platão.
Como dizia A.N. Whitehead, toda a história da filosofia são apenas notas de rodapé de Platão.
Tudo está lá. A moral contemporânea está lá retratada num episódio, o episódio da “cidade dos porcos”.
Platão começou a descrever a sua “polis” imaginada. Tem de a munir de elementos de sobrevivência, de víveres, de localização… Quando se concretiza essa faceta da cidade pode afirmar-se que ela está concluída? A cidade é isso? A sobrevivência? Platão responde que essa cidade, a estar concluída, seráa uma cidade animalesca, digna de porcos e não de homens, porque não possui o elemento próprio do homem, a razão que o torna simultaneamente animal (pelas suas necessidades terrenas) e divino (pela capacidade que tem de discernir pelo intelecto o que é bom e mau).
O problema encontra-se no cerne do pensamento político contemporâneo!
O liberalismo, com o seu materialismo (Locke considerava o Estado um artifício para a preservação da propriedade), as leis naturais como uma mera definição de posse. Em vez do humanismo, da reflexão sobre os valores próoprios do Homem, seu destino no mundo, sua relação com o meio físico e metafísico, o debate centra-se na posse de bens materiais… Não é por isso de estranhar que as ideias socialistas tenham surgido inseridas no pensamento britânico, uma derivação do liberalismo, não é de estranhar a importância do pensamento e das estadias britânicas em Marx. Levellers e Diggers, mais ou menos, socialistas e comunistas, afirmam que, se o direito natural é uma forma de preservar os direitos do homem a posse e se o destino do Homem (com ajuda da moralidade puritana protestante, tão bem observada por Voegelin) é ser Livre e Igual aos seus semelhantes então a política só pode ser redistributiva, uma forma de igualdade, tanto de oportunidades e participação, como radical (uniformizando tudo).

Esta moralidade subjaz a todos os partidos de esquerda. Mesmo o PSD, considerado um partido de centro, parte desta ambição redistributiva. A defesa de um estado social é feita nesta base… uma base inaceitável para quem acredita que a Justiça é muito mais do que dar ao Povo o que ele quer, em troca de Poder, Dinheiro ou Paz Social, o que Aristóteles chamava Demagogia, e agora se chama Evolução!

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segunda-feira, maio 17, 2004

Oito Anos

Depois de tanto sofrimento ganhámos… Sofremos pouco! Ontem sofremos pouco, porque o dia 16 de Maio não tinha horas para abarcar oito anos de sofrimento! Por isso estava estranhamente calmo. Com tanto sofrimento, sofrer cinco golos, ser insultado durante noventa minutos, sair cabisbaixo para uma viagem longa até casa, tudo seria pouco, comparado com os anos de auto-mutilação (período Vale Azevedo), de espera pelo Desejado, de sacrifícios para ver o Benfica. São muitos anos a planear a vida, que se suspende quando num qualquer campo se joga o futuro do nosso destino colectivo. As memórias de meu avô estão vivas em mim. São actuais como o golo do Simão, como os golos de Eusébio, como as primeiras jogadas de Cosme Damião! O passado vive em nós e a única coisa que nos cabe é encontrar a melhor forma de o honrar! Viver assim é libertar da morte os que amamos! Viver assim é assumir as dificuldades, saber que não temos outra hipótese senão cumprir o nosso destino, entendendo o que ele significa, sabendo onde o honramos e desonramos!
Por isso é que foi preciso chorar… Precisámos de chorar antes de celebrar! Precisámos de relembrar toda essa nossa existência anterior para celebrar o Presente… Precisámos de lembrar oito anos de sofrimento para agora nos sentirmos reunidos com a glória que sabemos merecer! Por isso é que o Benfica é Portugal, porque só pode ser Saudade!

terça-feira, maio 11, 2004


segunda-feira, maio 10, 2004

Pois é! Depois querem que os estudantes leiam, sejam cultos, debatam problemas...

Fiz um texto para um jornal! Disseram-me que estava muito bom! A direcção não deixou publicar! A justificação que me foi dada foi que os estudantes não tinham capacidade para compreender o que nele estava escrito (já começo a simpatizar com o que Hegel sentia pelos alunos!) só dá vontade de rir! O jornal vai atrás dos jovens, não os quer puxar, levar a compreender, demitindo-se da função própria de um jornal!
Suponho que as rúbricas do Jornal sejam o que os jovens universitários pretendem! Gajas, Álcool e Drogas, Piadas de Mau-gosto! Já me disseram que é verdade e que tem um artigo muito interessante sobre "pedras da calçada"!
Aqui vai o impenetrável texto...

A Democratização Mundial

O argumento americano de imposição da democracia no mundo islâmico não recolhe simpatias na Europa. Desacordo que se deve sobretudo à consciência de que a ordem mundial actual é fruto do projecto americano de hegemonia mundial, na defesa da descolonização mundial, do ensimesmamento económico de uma Europa habituada a ser Mundo.
A criação de soberanias em culturas sem tradição política, prática de interesse público ou experiência de prudência e compromisso, eivadas de ressentimento pelas desigualdades naturais do mundo (tornadas pecado pelo socialismo), criou uma interpretação moderna e internacionalista do Corão, incompatível com a existência do mundo não-islâmico. As monarquias tradicionais perduraram, ainda que protegidas pelas potências coloniais, preservaram-se os modos de vida das populações, a estrutura socio-política antiga, adaptaram-se à ditadura do tempo e da contingência, mas encontram-se cercadas externamente pelos “fundamentalistas” dos direitos humanos (na AR já lhes chamaram “fascistas”). A incompreensão do sistema tradicionalista como único testado pela História, capaz de suportar as crenças islâmicas e um compromisso com o Ocidente “todo-poderoso”, só poderá resultar num “conflito de modernidades” e subsequente destruição cultural do mais fraco.
As políticas descolonizadoras deram Poder a uma voz que não queríamos ter de ouvir. Malhas que o Império teceu!

quarta-feira, maio 05, 2004

Memória

Olhava incrédulo para a televisão… A minha mãe não percebia, a minha avó não percebia! As lágrimas escorriam-me da cara para o colo! Não conseguia fazer nada. Só soluçar! Fui-me deitar. Quando acordei já era 24. O tempo estava bom e já se sentia o início do Verão naquele Março de 90! Não consegui sair de casa… Estava sem forças! Liguei a televisão para ver o Jornal da Tarde. Já não estava no início, já não mostrava o golo que me fez chorar… O golo de Riykard no Prater!
No meio das notícias viam-se pessoas lamentando o sucedido, as afrontas dos italianos… Um Caixão com o Benfica lá dentro, Panfletos dizendo que iam esmagar o terceiromundista futebol dos portugueses… Ia desligando a televisão!
De repente mostram a noite da zona histórica portuense! No meio de sardinhas e febras e vinho, muito vinho, festejava-se a derrota de Portugueses. Festejou-se a humilhação até às 4 da manhã! As bandeiras do FCP iam saindo de casa em afronta ao Sul, aos Mouros, ao centralismo!

Cada vez que ouço a palavra patriotismo e nacionalismo ligada ao futebol fico mais convencido de que estamos num buraco, escuro e sem saída! A Pátria morta vive por momentos num sentimento de unidade… apenas num discurso oficial! Anti-patriota é quem afirma que no Norte (o que quer que isso seja!) se produz mais e portanto se deveria receber mais dinheiro e meios (pobre interior nunca mais voltaria a ter um liceu sequer!), quem faz discursos a favor da regionalização como se houvesse para ela uma qualquer justificação cultural, que não seja o bairrismo, quem faz dessa luta uma cruzada de libertação (como aquele comício histérico no pavilhão das Antas de Pinto da Costa em que denunciava, nada menos que, O SUL).
O futebol é bonito, as suas instituições são históricas e verdadeiras (os clubes japoneses só dão vontade de rir pela falta de referências, história e cultura clubística), mas o futuro de Portugal nunca será jogado num relvado…

Quem mais fala na necessidade de patriotismo foi quem introduziu esta rivalidade…
Um dia que se torne necessário perdoar fá-lo-ei… mas não posso nunca esquecer os meus onze anos!