quinta-feira, maio 20, 2004

O que fazer?(I)

Não votar esquerda

Pela segunda vez na história da democracia portuguesa encontramo-nos lançados à parede, não tendo qualquer alternativa senão o desastre ou a hecatombe!
O MFA no PREC, bem como o MRPP já haviam utilizado a estratégia de Saramago… O apelo à abstenção ou ao voto nulo e a apropriação desses votos é uma estratéegia abrilina, que desrespeita os doentes, os mortos, ou os que se estão a cagar para a democracia! Apodera-se dessa arma de protesto para a esquerda… Quase todos os livros de história afirmam que a abstenção nas eleições a Constituinte (bonito trabalho que fez!) foi um voto esquerdista contra a Democracia, em prol da democracia popular, outro nome para Ditadura do Proletariado.
A esquerda apoderou-se do protesto… Talvez seja então altura de não protestar!

A obra mais importante da história da Humanidade talvez seja a República de Platão.
Como dizia A.N. Whitehead, toda a história da filosofia são apenas notas de rodapé de Platão.
Tudo está lá. A moral contemporânea está lá retratada num episódio, o episódio da “cidade dos porcos”.
Platão começou a descrever a sua “polis” imaginada. Tem de a munir de elementos de sobrevivência, de víveres, de localização… Quando se concretiza essa faceta da cidade pode afirmar-se que ela está concluída? A cidade é isso? A sobrevivência? Platão responde que essa cidade, a estar concluída, seráa uma cidade animalesca, digna de porcos e não de homens, porque não possui o elemento próprio do homem, a razão que o torna simultaneamente animal (pelas suas necessidades terrenas) e divino (pela capacidade que tem de discernir pelo intelecto o que é bom e mau).
O problema encontra-se no cerne do pensamento político contemporâneo!
O liberalismo, com o seu materialismo (Locke considerava o Estado um artifício para a preservação da propriedade), as leis naturais como uma mera definição de posse. Em vez do humanismo, da reflexão sobre os valores próoprios do Homem, seu destino no mundo, sua relação com o meio físico e metafísico, o debate centra-se na posse de bens materiais… Não é por isso de estranhar que as ideias socialistas tenham surgido inseridas no pensamento britânico, uma derivação do liberalismo, não é de estranhar a importância do pensamento e das estadias britânicas em Marx. Levellers e Diggers, mais ou menos, socialistas e comunistas, afirmam que, se o direito natural é uma forma de preservar os direitos do homem a posse e se o destino do Homem (com ajuda da moralidade puritana protestante, tão bem observada por Voegelin) é ser Livre e Igual aos seus semelhantes então a política só pode ser redistributiva, uma forma de igualdade, tanto de oportunidades e participação, como radical (uniformizando tudo).

Esta moralidade subjaz a todos os partidos de esquerda. Mesmo o PSD, considerado um partido de centro, parte desta ambição redistributiva. A defesa de um estado social é feita nesta base… uma base inaceitável para quem acredita que a Justiça é muito mais do que dar ao Povo o que ele quer, em troca de Poder, Dinheiro ou Paz Social, o que Aristóteles chamava Demagogia, e agora se chama Evolução!

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