Memória
Olhava incrédulo para a televisão… A minha mãe não percebia, a minha avó não percebia! As lágrimas escorriam-me da cara para o colo! Não conseguia fazer nada. Só soluçar! Fui-me deitar. Quando acordei já era 24. O tempo estava bom e já se sentia o início do Verão naquele Março de 90! Não consegui sair de casa… Estava sem forças! Liguei a televisão para ver o Jornal da Tarde. Já não estava no início, já não mostrava o golo que me fez chorar… O golo de Riykard no Prater!
No meio das notícias viam-se pessoas lamentando o sucedido, as afrontas dos italianos… Um Caixão com o Benfica lá dentro, Panfletos dizendo que iam esmagar o terceiromundista futebol dos portugueses… Ia desligando a televisão!
De repente mostram a noite da zona histórica portuense! No meio de sardinhas e febras e vinho, muito vinho, festejava-se a derrota de Portugueses. Festejou-se a humilhação até às 4 da manhã! As bandeiras do FCP iam saindo de casa em afronta ao Sul, aos Mouros, ao centralismo!
Cada vez que ouço a palavra patriotismo e nacionalismo ligada ao futebol fico mais convencido de que estamos num buraco, escuro e sem saída! A Pátria morta vive por momentos num sentimento de unidade… apenas num discurso oficial! Anti-patriota é quem afirma que no Norte (o que quer que isso seja!) se produz mais e portanto se deveria receber mais dinheiro e meios (pobre interior nunca mais voltaria a ter um liceu sequer!), quem faz discursos a favor da regionalização como se houvesse para ela uma qualquer justificação cultural, que não seja o bairrismo, quem faz dessa luta uma cruzada de libertação (como aquele comício histérico no pavilhão das Antas de Pinto da Costa em que denunciava, nada menos que, O SUL).
O futebol é bonito, as suas instituições são históricas e verdadeiras (os clubes japoneses só dão vontade de rir pela falta de referências, história e cultura clubística), mas o futuro de Portugal nunca será jogado num relvado…
Quem mais fala na necessidade de patriotismo foi quem introduziu esta rivalidade…
Um dia que se torne necessário perdoar fá-lo-ei… mas não posso nunca esquecer os meus onze anos!
<< Home